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Mestre Cicinho e os direitos humanos

 

(FOTO | Reprodução).


Por Karla Alves, Colunista

O artigo 1° da declaração universal dos direitos humanos diz que "todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos". O Reisado Manoel Messias lembrou-se de incluir mulher e criança para que ali se lembrassem que humanidade não se restringe ao homem.

O silêncio como norma de conduta

 

(FOTO | Reprodução | Internet).

Por Karla Alves, Colunista

O silêncio de uma mulher é um eficiente sistema simbólico de reprodução cultural dos estereótipos e preconceitos que sustentam a dominação masculina. Este silêncio faz parte de um sistema de governo da palavra no campo familiar, assim como também ocorre em outras instituições do campo religioso ou político, por exemplo. Isso está relacionado com a forma como a sociedade tem moldado, através da cultura, os espaços de poder de gênero, nos mostrando de maneira evidente que as diferenças de gênero e as desigualdades permanecem em vigor, mantendo intactos os espaços tradicionais de poder cultivados por meio do uso da linguagem.

A linguagem é, portanto, uma das formas de reprodução e perpetuação da dominação masculina onde seus beneficiários se negam a refletir sobre suas práticas impositivas de silenciamento e sobre sua necessidade de anular e/ou invalidar qualquer discurso que o leve a refletir sobre si mesmo e sobre sua constante (consciente ou não) prática de manutenção do seu "direito" de comandar, controlar e oprimir para comandar.

A linguagem possui o poder de construir representações simbólicas do mundo social e é através dela, seja qual for o modo de expressão (linguagem visual, musical, corporal, escrita, falada, etc.), que vamos percebendo e apreendendo as estruturas históricas da ordem vigente. Por isso considerei tão simbólico o fato de eu estar sendo, pela segunda vez, ameaçada de morte por um homem (meu vizinho e parente dos meus filhos) que alegou ter me visto “dando língua” a ele. É pertinente, para este assunto a que venho tratar aqui, destacar o episódio em que este mesmo homem me ameaçou de morte, uma primeira vez, incomodado pelo uso que fiz da minha fala. Nesta segunda vez seu delírio fantasiou a minha imagem lhe destinando a língua, como se eu estivesse a lhe apontar uma arma, o que fez despertar em mim a necessidade de refletir sobre este ato simbólico que está diretamente relacionado à linguagem como mecanismo de dominação que exige o silêncio como forma de se efetivar.

Como parte indissociável da linguagem, o silêncio também comunica e também expressa a estrutura histórica de dominação ao qual está submetido, pois faz parte de um trabalho de socialização que tende a diminuir, invalidar, negar e anular com o objetivo de conduzir a uma "aprendizagem das virtudes negativas da abnegação, da resignação e do silêncio" (BOURDIEU), muitas vezes levando a pessoa silenciada a acreditar que tais virtudes negativas sejam, para ela, positivas.

E por se tratar de uma forma de dominação que se estabelece por meio de vias simbólicas da produção de representações e de imagens, na maior parte das vezes esse tipo de violência passa invisível aos olhos da consciência da própria vítima, já que é levada a perceber a ordem social através de "esquemas inconscientes" de apreciação da estrutura histórica (BOURDIEU) da ordem em vigor, que também é transmitida por herança social, como podemos perceber no caso das mulheres através das imagens e representação da delicadeza, sensibilidade, emotividade exacerbada e sem controle que "dificultariam" sua expressão por meio de uma linguagem racional. Isso tem servido de justificativa para a suposta necessidade de proteção, de tutoria e de um mentor ou porta voz que regule, controle, comande e, portanto, substitua o protagonismo das mulheres sobre sua própria expressividade. Não é que a mulher não possa ser delicada e sensível, a questão é pensar sobre o uso que disso é feito para dar sustentação a um exercício de poder e dominação a partir da interpretação transmitida através das imagens e representações sobre essa delicadeza e essa sensibilidade.

Outro caso de imagens e representações que visam comunicar o silêncio como norma de conduta se refere à população negra, aonde o silêncio como mecanismo de controle vem sendo socialmente herdado desde a escravidão e que por meio do parlamento pré-abolicionista foi muito bem arquitetado para garantir a tutoria sobre suas práticas nas mãos do mesmo senhoril que através da escravização humana exerceram violentas formas de controle para, assim, explorar a população negra e que no pós-abolição controlariam essa mesma população através da "necessidade de proteção aos libertos" (JOSELI NUNES MENDONÇA) para garantir que a população negra liberta permanecesse trabalhando para seus “ex” senhores (e, doravante, para os herdeiros destes “ex” senhores).

Porém, ao invés das imagens representativas de delicadeza, sensibilidade e emotividade relacionada às mulheres, aqui as imagens e representações visam comunicar a ignorância, a incapacidade de dirigir-se, a incapacidade civil, a indolência, a selvageria, o baixo desenvolvimento mental, dentre outras características racialmente atribuídas por uma ideologia racista e dominante, justificando, com isso, a mesma necessidade de proteção, de tutoria e de um mentor ou porta voz que regule, controle, comande e, portanto, substitua o protagonismo desta população quanto a seu modo de ser e de estar no mundo.

Contudo, a proteção aqui mencionada está mais para proteger o restante da sociedade desta possível ameaça que precisa ser vigiada e controlada para não oferecer perigo, não se tratando, portanto, de uma proteção patriarcal que se relaciona mais ao exemplo das mulheres a que me referi acima. Aqui a proteção assume um caráter racista associado à imagem de ameaça a qual a população negra vem sendo representada ao longo da história.

E quando o machismo se une ao racismo articulando uma linguagem que expresse e transmita imagens e representações sobre a mulher preta para uma sociedade submetida a um regime patriarcal e estruturalmente racista, sendo mulher, apenas o atributo relativo ao descontrole emocional lhe acompanha por passar uma ideia que a fará ser vista pela virtude negativa da raiva descontrolada, por exemplo, associando esta mulher preta à imagem e representação da agressividade como algo inato à sua natureza.

Aqui a imagem de “descontrole emocional” atribuído às mulheres assume um caráter racial, criando a representação racista de uma mulher que oferece ameaça. Sendo Preta, a esta mulher serão associadas imagens e representações que visam comunicar a ignorância, a incapacidade de dirigir-se, a incapacidade civil, a indolência, a selvageria, o baixo desenvolvimento mental e outros atributos racistas que servem de justificativa para o domínio público sobre seu corpo e suas ideias (geralmente não conferidas a ela), assim como para destinar a estas mulheres o lugar de servidão na sociedade, não somente para os homens beneficiários do poder hegemônico.

Este lugar de servidão também é destinado às mulheres pretas pelos homens pretos e pelas mulheres brancas e, algumas vezes, pelas próprias mulheres pretas pertencentes a classes sociais mais distantes e acima da pobreza e da miséria, já que a ascensão econômica cria a ilusão de distanciamento das imagens e representações racialmente construídas e transmitidas numa sociedade de classes que é também patriarcal e estruturalmente racista, cuja linguagem articulada entre estes fatores se estabelece como forma de reprodução e perpetuação de dominação.

(FOTO | Reprodução | Internet).


Então, se o sistema de governo da palavra se utiliza do poder que a linguagem possui de construir representações simbólicas do mundo social, através das quais vamos percebendo e apreendendo as estruturas históricas da ordem vigente por meio de "esquemas inconscientes" de apreciação da estrutura histórica, fazendo com que o silêncio de uma mulher se torne um eficiente sistema simbólico de reprodução cultural dos estereótipos e preconceitos que sustentam a dominação masculina por estarmos inseridas num processo de socialização que tende a diminuir, invalidar, negar e anular o poder de fala das mulheres com o objetivo de conduzir a uma "aprendizagem das virtudes negativas da abnegação, da resignação e do silêncio" (BOURDIEU), e se as mulheres pretas sustentam o peso de toda essa estrutura de negação e silenciamento por estarem na extrema ponta contrária de quem ocupa o lugar de poder nessa estrutura de dominação (homens/brancos), consequentemente, se esta mulher preta desobedece ao sistema de governo da palavra que lhe é imposto e que cobra dela a correspondência necessária a manutenção e perpetuação da dominação masculina através de seu absoluto silêncio ela, através de sua voz, será vista como uma enorme ameaça que deve ser contida como a um animal abatido. Sua língua é, portanto, uma arma apontada para o sistema de dominação.

E para que volte ao lugar de servidão que foi destinado a esta mulher preta, ela deverá ser invalidada e controlada, seja por meio da desqualificação verbal, geralmente cometida através da representação simbólica de “doida” ou “louca”, seja através da ameaça física utilizada sempre que o mecanismo simbólico da linguagem não surte o efeito esperado. Assim a violência se faz absolutamente necessária em nossa sociedade, para manter a tradição de dominação prevista pela estrutura histórica que mantém a ordem de dominação social vigente.

O meu silêncio garante a paz injusta dos homens que se beneficiam deste tipo de opressão. O meu silêncio mantém a ordem que beneficia aos dominadores e os mantém confortáveis em seus lugares sociais, ainda que seja numa micro esfera de poder, como o campo familiar. É através desta micro esfera que o poder hegemônico se constitui. E o meu silêncio ajuda a manter viva esta doença no núcleo da célula que compõe o grande organismo chamado sociedade, que permanece doente e delirante no seu desejo sádico de dominação.

É para romper com esta ordem violentamente opressora que se fez a minha língua, o meu corpo, o meu coração, a minha inteligência, a minha coragem, a minha liberdade e a minha voz. Eu sou o elo que quebra essa corrente. Avante Mulheres Pretas.


REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

MENDONÇA, Joseli Nunes. Cenas da abolição: escravos e senhores no Parlamento e na justiça. São Paulo: Fundação Perceu Abramo, 2001.


Quanto vale um Mestre da cultura popular?

 

(FOTO | Reprodução).


Por Karla Alves, Colunista 

Quantos quilos de diplomas da cultura popular são necessários para equivaler a um diploma da cultura erudita universitária? E para um negro morador de periferia, quantas toneladas de diplomas são necessários para lhe garantir RESPEITO e DIGNIDADE?

Mestre Nena, mestre dos bacamarteiros da PAZ reconhecido como Tesouro Vivo da tradição cultural nordestina, foi agredido pela PM com socos, pau e tiro (que graças a Deus não o atingiu), no interior da casa de seu filho onde a PM fazia uma abordagem que é de praxe na periferia: busca por drogas e armas de fogo. Não encontraram NADA além de uma família tentando se proteger dos abusos da autoridade do braço armado do Estado brasileiro. 

A polícia aterroriza a periferia mostrando que vai às ruas proteger aqueles que ELES consideram como cidadãos daqueles que ELES reconhecem como ameaça aos cidadãos. E segundo essa lógica colonial, Pretos estão sempre na mira, sem ter sua cidadania reconhecida desde a abolição da escravidão que não só nos deixou a mercê da nossa própria sorte como também não educou o restante da população para reconhecer a nossa humanidade e até hoje o povo preto sente a ameaça da polícia que trabalha na direção da política higienista brasileira e nos faz viver na busca de provar nossa inocência mesmo que saibamos que somos inocentes, para evitar que sejamos mais uma vitima do genocídio.

Em depoimento ao Jornal "O Povo" mestre Nena (que tem 71 anos de idade) diz que não se intimidou mesmo após um dos policiais disparar a arma contra ele e que foi em frente defender seu filho, quando um dos policiais "veio para me chutar, para pegar no ‘pé da barriga’. Eu fui e pulei para trás um pouco, esguei o corpo e pegou na minha mão. Tô aqui com os três dedos inchados”, relatou. Afirmou ainda que os policiais teriam trancado filhas dele em uma casa para que elas não acompanhassem a abordagem. Seriam três as viaturas policiais que participavam da ação. E além do mestre dois de seus filhos também sofreram agressões dos policiais.

Esse fato ocorreu no bairro João Cabral, periferia de Juazeiro do Norte - Ce, cujo governo municipal tem à frente um inspetor da polícia civil.

Conheça Tia Simoa, mulher negra e símbolo de luta contra a escravidão no Ceará

 



(FOTO/ Reprodução).

Por Karla Alves, Colunista.

A Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”, onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se efetivaria três anos mais tarde. No entanto, apesar de sua importante participação para a mobilização popular que impulsionou os acontecimentos, esta mulher negra teve sua participação invisibilizada na história deste Estado onde, ainda hoje, persiste a falsa premissa da ausência de negros.

As mulheres negras cearenses são comumente indagadas sobre sua origem e constantemente remetidas à Bahia, principalmente se não submetem seus cabelos a processos de alisamento. Esta não aceitação de nossa identidade se deve a cruel associação do negro à condição de escravo, que no caso do estado do Ceará, teve seu processo diferenciado das principais capitanias importadoras de mão de obra escravizada devido a suas condições climáticas e geográficas, o que não significa dizer que aqui não tiveram escravos ou que não existiram negras e negros livres, a exemplo da “Tia Simoa” que, além de liberta lutou pela liberdade de seu povo, evidenciando uma expressiva característica da população negra (escravizada ou liberta) deste período que ultrapassa a visão dicotomizada entre o conformismo e a resistência, pois demonstra “uma experiência construída historicamente pela etnia negra” (FUNES) estabelecida através de sua sociabilidade, engajamento e luta inserida em seu cotidiano.

A ausência desta documentação histórica se repete no tocante as demais lideranças negras que atuaram no restante do país como Luíza Mahin (Ba), Mariana Crioula (Rj), Tereza de Benguela (Mt) dentre tantas outras que poderiam figurar na lista de resistência e resiliência negra feminina mas que são invisíveis na historiografia oficial do país, bem como na história do feminismo brasileiro que desconhece o extenso histórico de enfrentamento político e social da mulher negra no Brasil. A omissão desta representação na história oficial perpetra o imaginário social e destina, controla e manipula a subjetividade desse contingente significativo de mulheres no Ceará, assim como no restante do Brasil que, além de não veem suas demandas específicas inseridas no debate sobre feminismo também não se percebem nos principais embates simbólicos travados no bojo dessa importante organização política.

Atrelando o conceito de gênero ao de “raça”, onde ambos descartam o discurso biologizante das diferenças para se deterem ao campo semântico do conceito abreviado de “mulher negra”, devemos considerar que este é, sobretudo, um conceito determinado pela estrutura da sociedade e pelas relações de poder que a conduzem. Dessa forma, conhecer a história de Simoa, mulher negra cuja história está submersa entre os escombros da memória é, pois, estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social historicamente invisibilizado no estado do Ceará. Ao sabermos da influencia que as representações históricas exercem na organização social poderemos compreender de que forma o discurso, inserido no pensamento social, contribui para a construção das relações que se estabelecem neste meio.

Ao eleger os sujeitos de uma representação histórica, estamos exercendo o que Bourdieu chama de “poder simbólico” (2006, p.14), pois estamos nomeando um objeto constituído na enunciação. Compreendendo o discurso como campo de exercício deste poder e, portanto, como instrumento de dominação, ele assim se efetua ao tomar reconhecimento e se concretiza ao tornar-se uma representação social ideologicamente estruturada, vindo a contribuir significativamente para a construção da realidade.

Com isso quero dizer que, ao buscar conhecer a estrutura socioeconômica dos responsáveis pela produção e reprodução deste discurso, podemos entender como se formaram as configurações ideológicas acerca da imagem da população negra no Ceará, sobretudo no discurso do período pós-abolição, onde se elegeu os sujeitos para representarem o movimento abolicionista ao mesmo tempo em que sepultava a memória dos “atores” esquecidos. É por meio do poder simbólico que a historiografia oficial tende a forjar a “não presença” de negras e negros no estado do Ceará e, assim, a naturalizar essa invisibilidade por meio da reprodução deste discurso no âmbito educacional perpetrando o imaginário social.

É, portanto, percorrendo o itinerário oposto que buscamos desvendar os elementos para compor nossa representação histórica a partir do protagonismo de mulheres negras que tiveram sua participação omitida nos discursos sobre a série de ações de resistência e de enfrentamento à escravidão, como no caso do movimento abolicionista no Ceará que resultou em uma abolição pioneira no Brasil e que este mês completa 130 anos, nos levando, mais uma vez, a refletir sobre os desdobramentos deste processo no bojo dos discursos que se sucederam. Da mesma forma, a omissão sobre o protagonismo de mulheres negras ao longo da história do Brasil se reproduz no tocante a história oficial do feminismo brasileiro.

Ao voltar o olhar para o feminismo brasileiro percebemos as profundas desigualdades que se reproduzem em suas contradições internas, principalmente quando visto a partir da dimensão racial, ao desconhecer e desconsiderar o duro processo de aprendizagem em busca da construção da identidade da mulher negra. É necessário, portanto, avançar diante destas e outras contradições específicas através de um denso questionamento da lógica estrutural da sociedade, onde estará presente o racismo.

É neste sentido que buscamos reescrever nossa história, para que possamos nos reconhecer como sujeitos em nosso próprio discurso e, assim, fortalecer os laços de nossa identidade através da organização coletiva. Pouco sabemos sobre a vida da Preta “Tia Simoa”, que de forma quase que despercebida passa as vistas dos historiadores, constando apenas um minúsculo relato sobre sua participação na Greve dos Jangadeiros de janeiro de 1881 (GIRÂO, 1984, p.104), o que demonstra a dívida histórica deste país para conosco.

Contudo, Simoa representa para nós uma visão alternativa de mundo ao mesmo tempo em que propõe para todos novas discussões acerca das estruturas sociais tradicionais, nos permitindo a reconfiguração de uma realidade social. Em nome dela, saudamos a todas as negras invisíveis na história e nos fortalecemos no eco de suas vozes silenciadas para dizer que aqui estamos e que daqui, do Ceará, falamos em inúmeras primeiras pessoas e dizemos que ainda há muito que se contar. Nossa história apenas começou.

10 anos do Blog Negro Nicolau

 

Por Karla Alves*

Eu gostaria de começar agradecendo por estar fazendo parte deste espaço interativo de informações que, como o próprio nome afirma, demarca um território identitário de informações sobre o povo negro brasileiro, com foco na região do Cariri Cearense.

Entre a cruz e a espada, Napoleão escolheu o mar.

 

Imagem puramente ilustrativa. (FOTO/ Zé Pereira/ Courstesy Photo).

Por Karla Alves, colunista do Blog

"Nossa ancestralidade não pode ser aprisionada em grades curriculares". (Karla Alves)

Napoleão era negro valente. Arrastava facão no chão de faiscar caso percebesse algum desacato. De escravizado virou líder. Sua liberdade não cabia dentro de si, daí o negro liberto a fez transbordar de dentro do peito como se fosse rio se despedindo das margens. Desse dia em diante não podia mais baixar a cabeça, e olhando de cima percebeu que mundo era grande e o horizonte distante.

Juazeiro do Norte: ponto de encruzilhada entre a Beata Maria de Araújo e o poder hegemônico

 

Mapa colhido junto ao livro "Miliagre em Juazeiro ", pg. 29, de Ralph Della Cava.

Por Karla Alves, em sua coluna no Blog

Foi neste lugar, povoado cuja sombra dos pés de Juá no centro do vale do Cariri servia de descanso para viajantes que comercializavam nas feiras das prósperas cidades ao redor, onde o cruzamento de um homem branco com uma mulher Preta provocou um "evento explosivo" (Braudel) capaz de redefinir o curso da história local. Neste lugar, um ano após a abolição da escravidão no Brasil (1889), uma mulher Preta chamada Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo (1862-1914), filha de Ana Josefa do Sacramento e de Antônio da Silva Araújo, seria protagonista de um milagre que veio a santificar o homem branco, padre e catequizador local, que havia lhe ofertado a hóstia em comunhão transformada em sangue na boca da beata Maria Magdalena, conhecida como beata Maria de Araújo. 

Coluna da Karla Alves: Verdade e justiça caminham juntas

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Karla Alves*

Essa constatação (na foto) explica o que significa MACHISMO ESTRUTURAL. Significa que o homem é formatado para praticar o machismo sem reconhecer, pois existem mecanismos (na lei, na família, na escola, nas mídias, religião...) para forçar a naturalização dessas práticas, impedindo que elas sejam reconhecidas por quem pratica e submentendo as vítimas de tais práticas à violenta a aceitação.

O sol nasce para tods, mas é preciso muits queimando para que alguns poucos desfrutem de vastas sombras, por Karla Alves


Karla Alves. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).

Há alguns dias após uma palestra que ministrei numa instituição de ensino para superiores uma mulher branca que também havia proferido uma palestra antes de mim me procura ao final da minha fala pra dizer (com os olhos emocionados) que "não tinha culpa de ser branca". Eu respondi que eu também não tinha culpa dela ser branca, que eu abria mão do legado de opressões destinado à pessoas de minha cor e perguntei se ela estava disposta a abrir mão da herança de privilégios por ela gozados por ter a pele clara. Não houve resposta. Nesse caso (eu disse pra ela), não venha me afirmar que está do mesmo lado que eu nessa luta. Daí pensei sobre a serventia dos discursos que repetimos para nós mesmos e a quem de fato esses discursos acomodam.

Karla Alves: O genocídio negro tem a função de garantir a boa vida da branquitude. Não seja cúmplice do extermínio


Karla Alves é historiadora e colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Faccebook).


A vida as vezes parece um pássaro em que estou montada para tentar voar no imenso céu. Meu pássaro é pequeno e voa rápido, as vezes é muito difícil se equilibrar em cima dele para não cair.

Discurso conveniente adaptado da meritocracia responsabiliza indivíduos por pobreza, por Karla Alves


Karla Alves é historiadora e colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).

Muito conveniente esse discurso adaptado da meritocracia espiritual que responsabiliza ao indivíduo pela escassez de recursos em sua própria vida, como se o morador de rua fosse o único responsável pela miséria que atraiu para si através da energia quântica que emana. Digo "conveniente" porque isenta quaisquer práticas políticas de sua responsabilidade social disfarçando o jogo de poder que envolve causa e consequência, como se privilégios sociais não existissem e não houvesse uma estrutura hierárquica de distribuição desses privilégios.

Abolição no Ceará e a ideologia de dominação, por Karla Alves

Karla Alves. Colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).


Em 25 de março comemora-se o dia da abolição da escravidão no Ceará como o feito de maior orgulho na história deste estado, já que decretou o fim do trabalho escravo quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea de 1888.