Os reis que não se fala



Que menina nunca sonhou em ser uma bela princesa, morando num castelo medieval de pedra, como os dos contos de fada? E que rapaz nunca almejou ter a força e a coragem de Rei Artur, príncipes e cavaleiros medievais, que arriscam suas vidas em caçadas a dragões e guerras sangrentas? Príncipes e princesas brancos em castelos de pedra? Monstros das neves e dragões no topo de montanhas geladas? Somos criados dentro de um imaginário fantasioso completamente alheio ao nosso Brasil.

O único desenho conhecido de Shaka com a
azagaia é o escudo pesado em 1824, 04 anos
antes de sua morte. Foto/Wikipedia.
Boa parte de nossos heróis e sonhos vem de um contexto muito diferente do nosso: a Europa medieval. Boa aceitação das fábulas de Esopo e contos de fada dos irmãos Grimm? Ou talvez influência de princesas e príncipes da Disney? Aulas e mais aulas sobre a dinastia dos Tudors ou sobre personagens como Pepino, o Breve? São muitas as causas de nossa educação imaginativa e histórica eurocêntrica. Mas seriam esses os únicos reis da história (real ou imaginada) dignos de lembrança?

Na insistente educação brasileira para desconhecermos África, aprendemos a ignorar belas histórias africanas de coragem, honra e bravura, que, na verdade, estão muito mais próximas de nossas raízes brasileiras do que imaginamos. Fechamos os olhos para uma realeza que, inclusive, até hoje está presente no continente africano.

O imperador etíope Menelik II.
Enquanto as meninas eram (e continuam a ser) educadas para serem passivas, fracas e dependentes dos homens – como princesas da Disney e dos contos de fada – uma verdadeira rainha africana poderia ser um exemplo muito mais valioso e poderoso para as crianças brasileiras : Ginga, a incapturável rainha angolana.

Nzinga Mbandi, ou Ginga, foi estrategista política e militar, guerreira e diplomata, e se manteve no poder por mais de 40 anos. Inteligente, forte e carismática, a rainha resistiu fortemente à invasão portuguesa no século XVII, negociou acordos diplomáticos com sabedoria, liderou rebeliões e jamais se entregou ou aceitou a dominação de estrangeiros. Mas a realeza de Ginga não é a única que merecia lugar de destaque em nosso imaginário popular.

Muitos foram os reinados e linhagens reais africanos. Alguns sucumbiram à força militar europeia dos colonizadores, outros foram cooptados pelo regime colonialista e tiveram parte importante na dominação europeia, mas outros resistiram. Líderes como o imperador da Etiópia Menelik II, que impediu com êxito a colonização italiana, e o líder étnico e estrategista militar Shaka Zulu que, mesmo liderando um povo de pouca expressão territorial e populacional, conseguiu, através de táticas militares criativas, conquistar o temor dos colonizadores britânicos, mostram que é preciso muito mais do que riquezas e armas para ser um grande líder e mudar a história.

Rainha Ginga em negociação de paz com o governador português em Luanda,
em 1657.

As consequências de desprezarmos nossas raízes africanas são muito mais amplas do que imaginamos. Histórias, contos, mitos e fábulas moldam todo o caráter de um povo. Ao adotarmos um imaginário cultural estritamente europeu, deixamos de enriquecer as crianças com exemplos de personalidades reais fortes e carismáticas, que poderiam nos descolar da admiração por vencedores pela opressão e nos aproximar daqueles que provam que a verdadeira força não depende do gênero, ou da riqueza material e superioridade militar, mas sim da resiliência, criatividade, coragem e bravura.

Documento inédito demonstra como a ditadura perseguiu militantes negros


Por Marsílea Gombata, no Carta Capital

Documento inédito mostra como a repressão monitorava integrantes do então embrionário movimento negro brasileiro.

Abdias Nascimento, dentre outros integrantes do movimento, foram espionados.
Com medo de que a luta pela igualdade racial crescesse à luz de movimentos internacionais como o Panteras Negras e se voltasse contra a polícia, a ditadura passou a seguir os passos de militantes e reuniões do embrionário movimento negro brasileiro.

Documento de 24 de outubro de 1979 mostra como o IV Exército, no Recife, descrevia um foco de “problemas”. “A partir de 1978 apareceu um novo ponto de interesse da subversão no País, particularmente nos estados do Rio de Janeiro e, com mais ênfase, na Bahia: a exploração do tema racismo, procurando demonstrar a sua existência e colocar o negro brasileiro como motivo de discriminação”, diz o texto de sete páginas.

O relatório nunca antes divulgado revela que o “método” utilizado para a obtenção das informações deu-se pela “infiltração em entidades dedicadas ao estudo da cultura negra, por meio de palestras em reuniões e simpósios”, como a IV Semana de Debate sobre a Problemática do Negro Brasileiro, em abril de 1978 na Bahia. A temática das palestras, segundo os militares, tratava de temas como “a tão falada democracia racial não passa de um mito”, “o racismo no Brasil é pior do que no exterior, porque é sutil e velado”, “a existência da Lei Afonso Arinos, contra o racismo, é prova de que ele existe”, “a Abolição da Escravatura foi imposta pelas necessidades da economia capitalista e não por uma preocupação sincera com a situação do negro”.

O documento havia sido solicitado em 11 de junho, por meio da Lei de Acesso à Informação, ao Comando do Exército, que oito dias depois respondeu não possuir arquivos sobre o monitoramento de ativistas negros. A Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou, no entanto, o relatório no Arquivo Nacional, em Brasília, há duas semanas. Segundo o ouvidor-adjunto da CGU, Gilberto Waller, esta é a primeira vez que se encontra um documento confidencial elaborado exclusivamente para tratar do tema, quando o que se via até então eram trechos e citações a outros textos. “Vemos que o Estado se preocupou com o movimento negro a ponto de ter classificado as informações”, explica. “Na visão da CGU, em termos de acesso à informação, é um grande ganho conseguir algo de valor histórico tão relevante.”

O relatório, cujo rodapé alerta: “Toda e qualquer pessoa que tome conhecimento de assunto sigiloso fica, automaticamente, responsável pela manutenção de seu sigilo. Art. 12 do decreto no 79.099, de 6 de janeiro de 1977”, cita a mobilização nacional em torno da formação do movimento contra a discriminação racial. “Os grupos do Movimento Negro de Salvador são: Ialê, Malê, Zumbi, Ilialê, Cultural Afro-Brasileiro. Esses grupos apresentaram, no dia 8 julho de 1978, ‘moção de solidariedade aos integrantes do movimento paulista contra a discriminação racial, pelo ato público antirracista do Viaduto do Chá’”. 

O objetivo era evitar que a luta pelos direitos civis nos
Estados Unidos alcançasse o pais.
O ato, segundo a socióloga Flavia Rios, autora da tese Elite Política Negra no Brasil: Relação entre movimento social, partidos políticos e estado, diz respeito à marcha que saiu naquele dia do Viaduto do Chá em direção ao Teatro Municipal para a criação do Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, que mais tarde se tornaria o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial. “Ele é formado por ativistas de várias regiões do País, tem essa característica nacional”, conta a também coautora da biografia sobre a militante negra Lélia Gonzalez. “Havia uma preocupação da ditadura de que ideais do movimento armado Panteras Negras, por exemplo, e da luta dos direitos civis americanos pudessem chegar aqui. Por isso, o regime acompanhou vigilantemente manifestações políticas e encontros.”

O informe até pouco considerado inexistente fala ainda sobre uma “campanha artificial contra a discriminação no Brasil” e lembra que, “em virtude das restrições políticas”, o Movimento Negro de Salvador passou a realizar reuniões paralelas e a adotar organizações celulares, com base nos “centros de luta”, compostos de três integrantes. A capital baiana teria sete desses centros, cuja função era “mobilizar, organizar e conscientizar a população negra nas favelas, nas invasões (de terras urbanas), nos alagados, nos conjuntos habitacionais, nas escolas, nos bairros e nos locais de trabalho, visando a formar uma consciência dos valores da raça”.

Além do encontro nacional do Movimento Negro de Salvador, entre 9 e 10 de setembro de 1978, no Rio de Janeiro, os arapongas descrevem a Terceira Assembleia Nacional do Movimento Negro Unificado, em 4 de novembro de 1978, na capital baiana, com militantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Citam o Congresso Internacional da Luta contra a Segregação Racial entre 2 e 3 de dezembro de 1978, em São Paulo.

E relatam o ciclo de palestras do Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, no segundo semestre de 1978 em Salvador, do qual participaram opositores como o deputado federal baiano Marcelo Cordeiro e o paulista Abdias do Nascimento, professor emérito na Universidade de Nova York. Além do acadêmico, são citados militantes monitorados como José Lino Alves de Almeida e Leib Carteado Crescêncio dos Santos, além do senador baiano Rômulo Almeida e “agitadores angolanos no movimento negro, caracterizados como refugiados da guerra civil”.

Em relação ao teor da agenda do Movimento Negro à época, os repressores ressaltam que a pauta era composta de pontos como a necessidade de se contestar o regime, aprofundar o engajamento no movimento pela anistia, projetar no exterior a imagem do “mito da democracia racial brasileira”, escolher o 20 novembro para o Dia Nacional da Consciência Negra, melhorar as condições de emprego da população negra, e buscar dar fim à sua marginalização na sociedade e à maior proporção de negros nas penitenciárias.

Estima-se que 42 dos 434 mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura eram negros.



Uma análise da crise do Brasil: “Um incômodo diagnóstico”, por Carlos Alberto Tolovi*


Atualmente o brasileiro vem sendo provocado a discutir e opinar sobre a situação de crise do nosso país. Em momentos como esse os argumentos da grande maioria da população se constitui por meio das notícias veiculadas pela grande mídia nacional. O problema é que essa mesma mídia não é isenta como parece ser. Ela está envolvida no jogo e nas disputas de poder. Neste momento, o grande desafio consiste em conseguir olhar para além da “nuvem de fumaça” produzida pela grande mídia e reproduzida nas redes sociais e nos bate-papos das ruas, das esquinas, dos botecos, etc..

Na tentativa de identificarmos o contexto da crise a partir de uma visão mais ampla, queremos começar destacando três problemas de fundo:

A vitória da economia sobre a política
A vitória do mercado e do consumo sobre a ética
A vitória da alienação sobre o exercício da cidadania.

No primeiro caso, aquilo que estamos vendo na mídia todos os dias no Brasil é reflexo de um problema mundial que tem como base o sistema capitalista-neoliberal. Se por um lado a política deveria se definir como uma forma de organização e relação de poder tendo em vista o bem comum, por outro, (nesse sistema) a economia de mercado não se preocupa com a desigualdade social. O bem da economia está acima do bem de todos. A saúde da economia está acima da saúde do povo. Uma economia forte é mais importante que um povo forte.

A segunda situação é consequência da primeira. Mesmo porque, nesse sistema nós aprendemos que a medida do consumo é a medida da felicidade. Só quem pode consumir pode ser feliz. Sendo assim, a mercadoria se torna mais importante do que o sujeito que a produz. E, se a ética está situada no campo da reflexão e escolha livre, consciente e coerente, dentro do universo de corresponsabilidade nas relações humanas, nesse sistema ela fica completamente comprometida. Nesse universo, quem não produz e não consome atrapalha os produtores e consumidores. Portanto, poderiam deixar de existir. Não fariam nenhuma falta. Nesse contexto, a vítima é transformada em vilã. Não importa se não recebeu educação adequada, se não teve estrutura familiar, se não recebeu apoio nem oportunidades nos momentos decisivos de escolhas. De qualquer forma será visto como um derrotado e como um “peso morto” que os que produzem e consomem precisam carregar. E a lógica é perversa. O responsável pelas ações sociais que incluem os mais pobres é o Estado. Porém, os capitalistas defendem um “Estado Mínimo”, sem influência no mercado, com economia enxuta. E, para estes, gastar com quem não produz é desperdício de dinheiro e risco para a economia. Um sistema sem coração e sem ética.

Contudo, este sistema só pode se manter se receber uma aceitação coletiva. Mas, como a maioria do povo poderia aceitar um sistema tão perverso, que produz efeitos muito negativos para a maioria da população e para o meio ambiente (como podemos ver no mundo inteiro)? É muito simples: por meio de um processo de alienação. E sobre isso já falamos em outras reflexões. No sistema capitalista orientado pelo mercado a lógica de funcionamento é muito simples: a economia é o Deus. E todos precisam prestar culto à ela. O problema é que esse culto exige sacrifícios. E, problema maior ainda é que esse “Deus” só aceita um tipo de sangue: o humano. Mas ainda com um agravante: não pode ser qualquer humano, e sim aquele tipo que não possui poder de reação. Portanto, em tempos de crise, não se percebe a diminuição dos gastos do Palácio do Planalto, da câmara dos Deputados, do Senado, etc.. Também não se tem coragem de tomar o caminho de “taxar as grandes fortunas”. Aliás, onde foi parar a enorme lista de brasileiros com contas no exterior? Ah, é claro: havia muita gente da Globo nessa lista. Estes sabem como reagir e possuem meios para isso. Então, o que sobra? Cortar gastos da saúde, da educação, dos projetos sociais, etc..

Sendo assim, quem será, de fato, sacrificado? Quem ganha menos e quem consome mesmo. Estes são os que precisam da escola pública, da saúde pública, dos investimentos em projetos sociais.  Porém, o grande problema daqueles que possuem o poder de influenciar a mídia tendo em vista produzir uma imagem distorcida da realidade (ideologia negativa) são os mesmos que não se conformam com o fato de as últimas eleições serem decididas justamente pelos que sempre foram os mais marginalizados. Não porque eles ganharam consciência de cidadania da noite para o dia, mas porque sentiram os efeitos diretos de pequenos investimentos em projetos sociais que, mesmo com grandes problemas e com muitos erros, de certa maneira distribuía renda. Contudo, o mesmo sistema que tirou muita gente da miséria fez aumentar a classe média em nosso país. E essa classe média foi convencida de que o problema da crise está localizado no governo, no Estado e nos “pobres” que precisam dos projetos sociais. Sendo assim, a corrupção é vista apenas como sendo dentro do governo; os gastos desnecessários estão sendo feitos com quem não produz; e o Estado deveria abrir mão das maiores riquezas nacionais para o capital internacional. E nesse contexto a Petrobrás se tornou a grande referência em disputa.

Por outro lado, o governo, sabendo que o “Deus” capital é quem domina todas as formas mais importantes de poder, se corrompe para se manter com seu grupo e seus privilégios. Sendo assim, mesmo um partido popular – como era o PT – achou que deveria prestar culto à Deus e ao Diabo, cultuando “dois senhores”, e pensou que seria possível fazer isso sem ter de assumir as consequências dessa escolha contraditória. Com isso, cooptou as grandes lideranças dos movimentos sociais e sindicais colocando-os dentro do governo. Negociou com a extrema direita e se corrompeu na lógica do mercado dentro de um projeto de continuidade no poder.

E quais seriam as piores consequências desse triste quadro?

Os movimentos sociais e os sindicatos se enfraqueceram, porque passaram a fazer parte de um sistema e mecanismo de poder – ficou comprometida a concepção de “esquerda”.
Aos primeiros sinais de uma crise financeira o governo foi abandonado pelos seus aliados da “direita”. Não só abandonado, mas acusado como o único culpado. Aliás, com a descoberta do maior sistema de corrupção de nossa história, se descobriu também de que forma o governo conseguia vitórias no Congresso em meio à Deputados e Senadores corruptos.

Para sair da crise precisou lançar mão de medidas impopulares. O que facilitou a tarefa da mídia na construção de um “bode expiatório” e de um processo de alienação. Nesse contexto até a vítima ainda não percebeu que ela está sendo conduzida ao “matadouro” oferecendo poder aos que querem um sacrifício ainda maior. E a maioria passou a reproduzir o discurso dos seus “algozes” (carrascos).

Porém, aqueles que nós chamamos de “elite” dentro de um projeto de poder que privilegia apenas o mercado e não as pessoas e nem a ética, estão lutando para destruir o último sustentáculo de um governo que, apesar de cometer erros imperdoáveis, se diferenciou no investimento de projetos sociais: falta apenas sacrificar diretamente os que fizeram a diferença na disputa pelo poder – bolsa família, minha casa-minha vida, PROUNE, FIES, etc., etc..

Diante desse quadro, é praticamente certo um retrocesso do ponto de vista da política, da ética e da justiça social. Já temos um terreno completamente preparado para que o sistema de mercado volte a assumir seu império absoluto. Ao invés de corrigir os erros das estatais, evitando que sejam comandadas por indicações políticas, será melhor privatizá-las. Ao invés de votar a lei que torna crime hediondo a corrupção, é melhor afirmar que ela pertence à um só partido. Ao invés de mudar o sistema tributário, é melhor cobrar mais impostos. Ao invés de diminuir os privilégios dos políticos profissionais, é melhor aumenta-los para garantir a votação das leis necessárias para retomada da economia. Ao invés de diminuir os Ministérios, é melhor mantê-los como instrumento de barganha com os “Partidos aliados”. Ao invés de taxar as grandes fortunas, é melhor apertar o “cinto” dos mais pobres e taxar os setores produtivos. Ao invés de investir em projetos sociais, em saúde e educação, é melhor investir no fortalecimento da economia, levando em conta apenas quem é capaz de “aquecer” o mercado. Nesse sentido, a pergunta mais trágica não é a que a mídia está colocando todos os dias: “quem paga a conta”. A pergunta é: quem será abandonado ou será realmente sacrificado? Quem não paga plano de saúde, quem não tem seus filhos em Escolas particulares e pode pagar faculdade particular, quem não precisa dos benefícios do governo. Aliás, são estes que estão tirando hoje o governo do poder. E a maior acusação são os gastos do Estado e a corrupção da qual eles mesmos fazem parte elegendo e mantendo no poder políticos corruptos. Para se ter uma ideia, aqui em São Paulo, por exemplo, os Malufistas de “carteirinha” se tornaram militantes nas ruas gritando contra a corrupção do PT. E com eles estão os militantes do PSDB, do PMDB, do PPS, do PP, etc..

Bem, mas se hoje a “oposição” ao governo tem a maioria no Congresso, porque já não pediram o empeachment de Dilma?

Por dois motivos básicos – entre outros:

Ainda não “minaram” todas as bases de seu adversário. Não sangraram o suficiente para que ele não se recomponha. Se eles entrarem agora, assumindo o lugar de Dilma, e tiverem de retirar todos os benefícios dos pobres (como eles querem), perderão novamente as eleições no voto. Querem que, antes de sair, o PT mesmo faça a “limpeza étnica” – decrete o abandono aos pobres.

Em segundo lugar porque o argumento legal que pode tirar Dilma do Poder hoje é o uso de dinheiro da corrupção em sua campanha eleitoral. Este fato pode ser provado e já serve de argumento suficiente para caçar o mandato. O problema é o seguinte: qual deles não se utilizou do dinheiro de corrupção para chegar ou manter o poder? Por isso também não mudam a lei.

Bem, mas será que não resta nada de bom nessa história toda?

Penso que algo de bom pode surgir. Aliás, está surgindo. Na semana passada, dialogando com um grande amigo sobre a política nacional, nós chegamos à conclusão que a rotatividade de governos diferentes e o retorno das grandes lideranças dos movimentos sociais e sindicais ao posto de oposição poderá gerar uma dialética saudável ao nosso país. Além disso, problemas que já fazem parte de nossa cultura – como a corrupção, por exemplo – só mudam através de enfrentamentos de grandes crises. O que aconteceu com outros países da Europa após a destruição das grandes guerras mundiais. A nossa esperança é que essa crise possa fazer emergir em nosso país uma nova consciência e postura, principalmente diante da corrupção, que o brasileiro não aguenta mais.


Concluímos então com essa esperança, que pode ser ou não compartilhada por você.

*Doutorando em Ciências das Religiões e professor de filosofia da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Por que muitas das danças africanas são realizadas em círculos?



Por que muitas das danças africanas são realizadas em círculos? Por que na música tradicional os tambores se alternam e se repetem? O que significa o bater contínuo de palmas? Na África, mais do que expressões artísticas, as danças são um poderoso meio de comunicação, que traduzem e refletem suas sociedades. Os sinais cognitivos na coreografia, costumes, instrumentos musicais e a até mesmo disposição dos corpos expressam profundos aspectos culturais. As danças, em todas as suas dimensões, carregam mensagens centrais para o funcionamento e dinamismo de uma sociedade.


Se hoje, a mídia é a formadora de opiniões do mundo contemporâneo, as danças outrora foram encarregadas desse papel, e ainda o são muitas vezes. Elas podem se constituir em uma forma de autocrítica, sendo uma grande ferramenta para dirigir mudanças de comportamento, tendo a vantagem de se comunicar sem esforços, através da edudiversão, explica o historiador zimbabuano Pathisa Nyathi. Nesse conjunto, elas se tornaram uma peça chave na cultura local e seus simbolismos não apenas são contextuais, como representam a visão do mundo e ideologia dos povos que a performam.

Não apenas os tons e as rimas, mas também os trajes, posturas corporais, cores, arranjos, formas e desenhos dos instrumentos musicais compartilham um aspecto em comum: os sentidos da estética africana, expressando a inter-relação entre a humanidade e o meio ambiente. Pathisa explica que são oito os sentidos estéticos da dança, denominados por sentidos Welsh-Asante’s: polirritmia, repetição, qualidade de conversação, policentrismo, sentido curvilíneo, dimensionalidade, memória épica e sentido holístico.

No contexto mais prático, polirritmia refere-se aos ritmos diversos por diferentes instrumentos musicais; repetição é a reiteração de uma nota, frase, sequência, cor, forma, movimento, bater de palmas ou pés, ou mesmo uma dança ou música inteira; e policentrismo é o senso estético que tem a ver com multiplicação de um movimento e/ou som, textura e cor dentro do produto artístico. Já os outros cinco conceitos são mais complexos, tratando-se de perspectivas culturais.

Qualidade de conversação é o sentido que reitera a importância da conversa durante uma performance, podendo significar a simples troca de palavras durante a música cantada até a conversa entre instrumentos como os tambores, que são tocados alternadamente para reproduzir tal efeito. Outro importante aspecto é o sentido curvilíneo, que representado com a forma, figura ou estrutura curva nos produtos artísticos e na posição dos corpos, é diretamente relacionado com os conceitos-guia das sociedades africanas de continuidade e fertilidade.

O sexto conceito é a dimensionalidade, que tem a ver com a impressão e emoção que um participante sente, ouve ou vê através de um produto artístico. Trata-se de uma experiência extrassensorial. É uma dimensão percebida. Já a memória épica tem em si uma grandeza metafísica, tratando-se das memórias e lembranças que são proporcionadas durante uma dança, em que sentimentos, experiências, ethos e pathos são recuperados. Por fim, o sentido holístico, que é o efeito de todo o conjunto da dança. Sons, cores, movimentos: tudo consumido ao mesmo tempo como um todo, formando uma unidade artística.

Na análise da Woso, dança da chuva no Zimbábue, por exemplo, de diversas maneiras os sentidos estéticos são reproduzidos. O batuque simboliza trovões, os chocalhos amarrados nas pernas dos dançarinos criam a ambientação das gotas de chuvas, as roupas são em branco e preto simbolizando as cores das nuvens, os trajes são confeccionados com penas de avestruz também em preto e branco, representando novamente as cores das nuvens, mas também as cores dos pássaros migratórios, símbolos de chuva na cultura local. E a chuva, ou seja, o conjunto simboliza a fertilidade da terra, que em termos culturais, significa a continuidade da espécie humana.

Pathisa explica que não é possível falar da fertilidade do homem sem falar da fertilidade da terra. Só com a chuva, a terra é fértil e só com a terra fértil, o homem subsiste. Nesse contexto, a preocupação no caso da Woso é a ideia de continuidade e preservação da espécie. A dança se torna assim um santuário para a fertilidade. O historiador observa ainda que nas sociedades africanas, a arte tem um propósito, uma função e que a dança, associada tanto a eventos sagrados quanto profanos, desempenha um papel crucial na educação, entretenimento, política e religião. E assim conclui: “A dança é uma explosão da experiência emocional. A dança é um microcosmo de uma sociedade em particular. É a sociedade em movimento. E é lindo”.


ENEM: 2015: Estudante que já fizeram o exame dão dicas a candidatos que têm provas em outubro



A preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entra na reta final. Falta pouco mais de um mês para as provas, que serão aplicadas nos dias 24 e 25 de outubro. Estudantes que enfrentaram a rotina de estudos em edições anteriores do Enem e ingressaram no ensino superior com a nota do exame dão dicas para quem faz as provas este ano.

Alunos da EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova
Olinda (CE). Foto: Arquivo do Blog da Instituição.
Organizar uma rotina de estudo, fazer simulados e passar menos tempo nas redes sociais são algumas das sugestões.

Júlia Galdino Alves, de 19 anos, fez cursinho preparatório para o Enem durante todo o ano de 2014 e conseguiu uma vaga no curso de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela disse que ter um planejamento diário para os estudos é fundamental.

Júlia sugeriu que os candidatos definam um calendário com os horários e as matérias a serem vistas a cada dia e sigam à risca o planejamento para não acumular conteúdo.

Fazer uma pausa para descanso durante os estudos é uma dica de Júlia para evitar o cansaço excessivo. “É importante parar, senão sobrecarrega. Pela tarde eu estudava das 14h às 20h. Nesse meio tempo, fazia um intervalo de uma hora para me distrair. Lanchava ou conversava com alguém.”

Manter distância do celular e das redes sociais é outra sugestão de Júlia para quem está se preparando para o Enem.

Aluno de engenharia mecânica do Cefet-RJ, Antônio Andrade e Mello, de 22 anos, concorda que organizar horários e conteúdos faz diferença para o sucesso do estudo. Participar de simulados e resolver provas anteriores do Enem são sugestões de Antônio para os candidatos se prepararem. Para sair bem na redação, ele afirmou que o treino é fundamental e quanto mais textos o candidato escrever, melhor.

Antônio disse que, nos dias anteriores à prova, não é recomendável estudar “desenfreadamente”. “Para quem teve constância e ritmo, não será numa semana antes que vai aprender tudo”.

Para Antônio Andrade, o Enem é também uma prova de resistência física. Por isso, recomendou que, no dia do exame, o candidato não pode deixar que o nervosismo prejudique seu desempenho. Durante a prova, a dica é ficar atento ao tempo para resolver casa questão e não gastar muito tempo em um único item.

Evite ficar parado em uma questão só. Se não consegue resolver, passe pra próxima e depois volta”, sugeriu Antônio.

A edição de 2015 do Enem terá 7,7 milhões de candidatos. No dia primeiro dia serão aplicadas as provas de ciências humanas, ciências da natureza, com duração de 4h30. No segundo, as provas de linguagens, códigos, redação e matemática, com duração de 5h30.

Carrossel e o racismo - Onde Cirilos são inferiorizados e Marias Joaquinas desfilam "beleza" e “poder”


Por Michel Yakini, no Brasil de Fato

Quem tem um curumim em casa, na faixa dos três aos oito anos, sabe bem qual é a intensidade que nossos miúdos sofrem por conta da telenovela Carrossel do SBT, que atinge picos de audiência e boas doses de racismo.

Carrossel é a versão brasileira de uma novela mexicana exibida no Brasil nos anos 90, e apresenta o cotidiano da Escola Mundial, em que contracenam 16 crianças e alguns adultos. E mesmo sendo fraca de roteiro, trama, atores, de servir como propaganda dos produtos da emissora, confirmar preconceitos e pouco contribuir pra reflexão, a produção brilha aos olhos pequeninos.

É um bombardeio, seja de manhãzinha, com o apresentador-mirim da telenovela, a tarde no programa com o elenco da telenovela, a noite com a telenovela, no cinema da telenovela, no outdoor e na lanchonete com a promoção do filme. Ufa!

Quando Carrossel, na versão brasileira, foi exibida pela primeira vez, minha filha tinha três anos, e foi possível evitar o contato, mas o SBT insiste em formar gerações e me pegou no pulo três anos depois.

Continuo na insistência de apresentar outros repertórios, questionar e não deixar o deslumbre prevalecer, mas no tempo da pequena, na troca, senão, vira o mesmo bombardeio, e aí que mora a sensatez e o perigo.

E dá-lhe estereótipo, preconceito e racismo em HD!

Na Escola Mundial, transitam dezenas de pessoas e somente três são negras: a faxineira Graça (Márcia de Oliveira), que representa uma nordestina caricata, subalterna e atrapalhada; a pequena Laura (Aysha Benelli), ridicularizada por ser gordinha e comilona, que interpreta o estereótipo da negra/boazinha/iludida; e o famoso Cirilo (Jean Paulo Campos), apelido pejorativo de muitos meninos negros, que faz o tipo do negro/inocente/ingênuo.

Cirilo é apaixonado por Maria Joaquina (Larissa Manoela), garota rica, soberba e preconceituosa, e é chamado de “Chocolate” por Paulo (Lucas Santos), menino branco e malicioso. Além disso, Cirilo sempre cai nas armadilhas porque tem o “coração puro” e vê bondade em tudo, como se estivesse num mundo amável e sem conflitos.

Esse tocante poderia ser positivo, já que é uma discussão pertinente no universo infantil, mas o que incomoda é a constância de racismo e estereótipos, confirmando o padrão de comportamento e direcionando o desfecho pra teoria do sangue vermelho. Ou seja, somos ofendidos na telenovela inteira e depois, “deixa pra lá…”, “que besteira…”, “somos todos humanos…”.

Já pesquisei e é assim que a telenovela termina, prevalecendo o discurso da democracia racial, mantendo esse tipo de produção ilesa e ainda ganhando moral por discutir temas tabus na televisão, vai vendo!

E aí mora o desserviço. Assim, não há lei obrigatória pra contribuir na superação do racismo e do preconceito na educação que aguente. Já não basta a escola real, a falta de material, de formação, a meritocracia, o individualismo, a estrutura quadrada, não poder sentar no chão, fazer roda, abrir a boca, e ainda vem esse rolo compressor em HD destruindo qualquer avanço.

Não basta desligar a televisão ou não ter televisão, o bombardeio é extenso e eficaz, pois imagine o racismo diário, com mais de 250 episódios, exibido nacionalmente em horário nobre pra mulecada que só tem como lazer a telinha e sem ninguém em casa pra discutir e dar uma invertida, aí o efeito é voraz.

Lembro bem, já na versão mexicana dos anos 90, o quanto esses apelidos e estereótipos influenciavam na escola, onde Cirilos e Lauras eram inferiorizados e Marias Joaquinas desfilavam beleza e poder, e olha que em casa a gente nem assistia Carrossel, pois meus pais chegavam do trabalho pra jantar, descansar e assistir a outra emissora, no único aparelho da casa.

Preocupante camará! Sou de uma geração formada nesse exemplo e a geração da minha pequena segue os passos. Aqui em casa, a estratégia é mirar as causas e amenizar os efeitos, mas o projeto Carrossel é de massa e contínuo.

Percebi que ficar no silêncio é pior, pois tudo indica que se a gente continuar embarcando nesse Carrossel, o dado da diversidade vai estacionar no “ande uma casa e volte mais dez”, e vai ser difícil nossa mulecada sair ilesa desse atraso.

Há 94 anos nascia para a educação Paulo Freire




Dia 19 de setembro de 1921, nascia em Recife (PE) Paulo Freire, patrono da educação brasileira e um dos pedagogos mais prestigiados do mundo. Apesar do reconhecimento, a vasta obra de Freire ainda é pouco estudada no Brasil. Na data de seu aniversário, o Instituto Paulo Freire - a pedido do Centro de Referências em Educação Integral - selecionou, a partir de seu Acervo, alguns materiais que permitem entrar em contato com a obra do educador. Confira abaixo a seleção de materiais, todos disponíveis online.

Crédito: Acervo/Instituto Paulo Freire
1. "Paulo Freire e todos nós: algumas lembranças sobre sua vida e seu pensamento", Carlos Rodrigues Brandão. Nesse artigo, que leva o subtítulo "Lembranças sobre sua vida e seu pensamento", o professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Carlos Rodrigues Brandão, faz um relato pessoal e afetivo do educador, traçando um perfil de sua personalidade e abordando aspectos importantes de sua obra, como a ideia da consciência humana como uma construção e a centralidade do diálogo em seu método pedagógico.

2. "Freire: tudo sobre o homem e o educador", Maria José Ferreira. Nesse pequeno texto, Maria José faz uma breve resenha do livro Convite à leitura de Paulo Freire, de Moacir Gadotti, um dos grandes parceiros de Freire durante a vida. "Pelos 15 anos de convivência, e possivelmente pela amizade pessoal que os une, temos no livro acima um dos mais completos sobre Paulo Freire", escreve.

3. O Método Paulo Freire e as contribuições político-pedagógicas para a educação brasileira, Margareth Neves Desmarias. A monografia se dedica a analisar as contribuições político-pedagógicas do pernambucano para a educação brasileira, destacando o Método Paulo Freire. O texto descreve suas propostas, traçando as bases nas quais se assentam. A autora também salienta o aspecto revolucionário da concepção metodológica proposta por ele, posto que institui uma nova relação entre educador e educando.

4. Educação e conscientização, Paulo Freire. Trata-se do capítulo IV da obra Educação como prática da liberdade, de 1967. Nele, o autor fundamenta historicamente sua concepção de educação, vista sempre em uma relação indissociável da conscientização política. Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem envolve a transformação de homens e mulheres em sujeitos de transformação social. As pessoas devem saber ler não apenas letras, mas ler o mundo, a partir de uma perspectiva crítica e autônoma.

5. Paulo Freire: uma biobibliografia, Moacir Gadotti (organização). Essa obra reúne diversos estudiosos da obra do educador, bem como dezenas de pessoas que conviveram com ele. A característica do livro é buscar relacionar sua biografia com sua bibliografia, ou seja, descrever as imbricações entre o que Freire escrevia e o que fazia: entre teoria e práxis. Extratos da obra também estão disponíveis em formato audiolivro.

6. Pedagogia do Oprimido (audiolivro), Paulo Freire. Uma das obras mais famosas e traduzidas do educador está disponível no Acervo em formato de audiolivro, lido pelo seu filho, Lutgardes Costa Freire. O livro foi escrito no Chile, em 1968, quando Freire estava no exílio, durante a Ditadura Militar brasileira. No Brasil, foi lançado apenas 6 anos depois. O trabalho é fruto das reflexões e da prática de Freire, a partir de sua experiência com a alfabetização de adultos. O educador escreve sobre a concepção "bancária" da educação como um instrumento da opressão e propõe uma ruptura a partir de um novo modelo, pautado por uma educação conscientizadora e libertadora. Os áudios podem ser baixados separadamente e o livro, inteiro, em formato mp3, aqui.

7. Paulo Freire Contemporâneo, Toni Venturi. O documentário, feito para a TV Escola, é assinado pelo cineasta Toni Ventura, que dirigiu filmes como Cabra Cega, Dia de Festa e Latitude Zero. Em 50 minutos, somos apresentados às ideias, vida e obra do educador pernambucano, por meio de depoimentos de seus familiares, amigos e estudiosos. O filme aborda a perseguição a Freire e ao seu método, no período da ditadura militar, e também resgata experiências contemporâneas herdeiras do pedagogo.
         
        

8. Educar para Transformar, Tânia Quaresma. O vídeo-documentário percorre os cenários urbano e rural, mediante várias linguagens, trazendo a vida e a obrado pedagogo. Usando linguagens como o rap, hip-hop, grafite e cordel, o vídeo reúne ainda depoimentos de familiares, amigos e estudiosos, que ajudam a construir um panorama sobre a história de Paulo Freire, registrando e divulgando um legado expressivo de nossa cultura. O vídeo faz parte de um conjunto de ações do Projeto Memória 2005.

                           

A relação entre o café e o sono, segundo pesquisa


Tomar um copo de café à noite pode te deixar acordado por mais motivos do que você pensava, apontam cientistas.

Um estudo publicado na revista Science Translation Medicine diz que a cafeína é mais do que um estimulante, atuando na verdade de modo a desacelerar o relógio interno do corpo.

Um expresso duplo três horas antes de dormir atrasou a produção de melatonina, o hormônio do sono, em cerca de 40 minutos, dificultando o processo de adormecimento.

Experimentos mostram que a cafeina tem a capacidade de alterar os relógios químicos que atuam em toda célula do corpo.

Como parte do estudo, células cultivadas em laboratório foram expostas à cafeína para verificar como alteravam seu ritmo.

Comprovou-se na ocasião que a droga foi capaz de alterar os relógios químicos que atuam em toda célula do corpo humano.

Um dos pesquisadores, John O'Neill, do Laboratório de Biologia Molecular de Cambridge, na Inglaterra, afirmou à BBC: "Se você estiver cansado e tomar um café à noite para ficar acordado, é uma má ideia, você terá dificuldades para adormecer e dormir o tempo suficiente."

Experimentos à meia luz

Em outra frente de pesquisa, cinco pessoas na Universidade de Colorado Boulder, nos EUA, foram trancadas num laboratório do sono por 50 dias.

E enquanto a exposição à luz é o nosso modo padrão de controle do relógio interno, eles passaram a maior parte do tempo sob uma luz muito suave.

Numa série de experimentos ao longo de um mês e meio, os cientistas mostraram que uma dose noturna de cafeína atrasou o relógio interno do corpo em 40 minutos.

Foi quase o impacto de três horas de luz forte na hora de dormir.

Segundo O'Neill, seria uma "completa especulação" tentar apontar um horário a partir do qual vetar o consumo de cafeína à noite, mas ele, pessoalmente, diz nunca beber café depois das 17h.

O pesquisador afirma que os resultados podem ajudar no tratamento de distúrbios do sono e de pessoas que acordam naturalmente muito cedo, para que mantenham a sincronia com o resto do mundo.

"Isso poderia ser útil em situações de jet lag. Se você estiver voando de leste para oeste, por exemplo, ingerir cafeína na hora certa do dia poderia acelerar o tempo que levamos para superar o jet lag", acrescentou.

Derk-Jan Dijk, da Universidade de Surrey, na Inglaterra, afirmou à BBC: "Indivíduos possuem diferentes níveis de sensibilidade à cafeína, e apreciadores de café com problemas de sono podem tentar evitar a bebida à tarde e à noite."

Ele diz ainda que pessoas "muito frequentemente" pensam ser "escravos" de seus relógios internos e que estão programados para acordar cedo ou tarde de forma definitiva.

"Esse e outros dados indicam claramente que podemos em alguma medida modificar esses ritmos e que parte das razões pelas quais dormimos tão tarde se relaciona a fatores como ingestão de cafeína e exposição à luz artificial durante a noite", afirmou.