Herdeira do Itaú coordena programa de Campos e Marina


Considerada a “fada madrinha” de Marina Silva, Neca Setúbal, herdeira do Itaú, vai assumir a coordenação do programa de governo de Eduardo Campos (PSB) pela Rede.


Segundo Vera Magalhães, do Painel, ela foi convidada pela ex-senadora no sábado, em sua festa de aniversário em Itu. O PSB indicará um nome para atuar em parceria com a socióloga.

Filha do falecido dono do Banco Itaú, Olavo Setúbal, ela é a segunda de seis filhos homens – parte de uma família que tem fortuna avaliada em R$ 5 bilhões. Além de amiga de Marina Silva, Neca é responsável pela captação de recursos da Rede.

"A Marina (Silva) fala que nós duas viramos amigas porque fomos contra os nossos destinos. Porque era para a Marina ser uma moça pobre do seringal do Acre e eu, uma moça rica da alta sociedade paulistana. Temos uma amizade muito bonita", diz.

As duas se conheceram em 2007, e a amizade cresceu às vésperas da campanha presidencial de 2010, quando o cineasta Fernando Meirelles convidou a empresária para participar de um vídeo em apoio a Marina.

Ela acompanhou a então candidata do Partido Verde (PV) em viagens pelo Brasil, fez doações para a campanha, elaborou um plano de governo na área de Educação e disse ter ficado cada vez mais "impressionada com o carisma e o carinho que Marina desperta".

Via Brasil 247

Sem conseguir conter protestos, Câmara encerra sessão sobre o golpe de 64


O encerramento precoce da sessão solene promovida pela Câmara dos Deputados para homenagear os civis e militares que resistiram à ditadura militar deixou claro que, 50 anos após o golpe e quase 30 após o início do processo de redemocratização, membros de um dos principais poderes da república ainda não sabem lidar com os limites entre o que é liberdade de expressão e direito à memória, entre o que é democracia e autoritarismo.

A medida conseguiu calar a voz do principal defensor dos militares no parlamento, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), mas também calou a de outros parlamentares reconhecidos pela luta em prol da democracia, além da de convidados ilustres que muito teriam a contribuir com o debate, como Gilney Viana, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, e Iara Xavier, que representava as associações dos familiares de mortos e desaparecidos do período.

O presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB-RN), abriu a sessão prometendo que não iria tolerar, na sua gestão, nenhuma medida que fizesse apologia ao golpe 64. “Em meu mandato como presidente da Câmara, não será admitida nenhuma iniciativa institucional que possa ser interpretada como um gesto de legitimação do período autoritário iniciado com o golpe de Estado de 1964”, afirmou. Na semana anterior, inclusive, ele havia indeferido o pedido de Bolsonaro para fazer uma homenagem aos militares na data.

Exaltando o papel da Câmara como articuladora do debate social, Alves novamente pelo otimismo. “A Câmara é a instituição brasileira que mais representa o ideal de uma sociedade apta a definir seus rumos, com base em debates democráticos entre os representantes de todos os setores sociais relevantes, dentro do marco do Estado de direito”, destacou o presidente antes de saber o que estava por vir. E antes de retirar do plenário para prestigiar a posse do novo ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, no Palácio do Planalto, assinou ato que proclama 2014 o Ano da Democracia, da Memória e da Verdade.

Substituindo Alves na condução da cerimônia, o deputado Amir Lando (PMDB-RO) chamou à tribuna a deputada Luíza Erundina (PSB-SP), autora do requerimento para realização da sessão. Ela fez uma reconstituição das forças que atuaram para a deflagração do golpe, ressaltando o apoio decisivo do empresariado e dos Estados Unidos. Também falou sobre os efeitos da repressão para o país e para a própria Câmara, que teve 173 dos seus deputados cassados. Reiterou sua crítica histórica à Lei da Anistia de 1979, classificada por ela de “aberração jurídica”, por absolver tanto as vítimas quanto seus algozes.

A deputada incitou os colegas a aprovarem o projeto de lei 573/11, de sua autoria, apresentado ao parlamento já pela segunda vez, que reinterpreta a Lei da Anistia de modo a possibilitar a punição dos culpados por torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados. "Sem isso, não haverá justiça de transição e o processo de redemocratização permanecerá inacabado", afirmou. Não conseguiu terminar seu discurso.

A abertura de uma faixa pró-militares, nas galerias da Câmara, provocou tumulto e Lando suspendeu a sessão por 5 minutos. Portada por assessores de Bolsonaro nas galerias, a faixa de 20 metros saudava os responsáveis pelo golpe: “Graças a vocês, o Brasil não é Cuba”. No plenário, a presidenta da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas, Ivone Luzardo, convidada do mesmo Bolsonaro, entrou em confronto com militantes que tentaram lhe tomar um cartaz em que acusava os defensores da democracia de revanchistas.

A sessão só foi retomada após muito esforço da mesa diretora, que ainda conseguiu garantir a 
palavra aos deputados Mauro Benevides (PMDB-CE), Assis do Couto (PT-PR) e Nilson Leitão (PSDB-MT), que explicitaram os diferentes conceitos que seus partidos fazem do que é democracia e de como se deve lutar por ela.

Couto, presidente recém-empossado da Comissão dos Direitos Humanos, relatou os esforços realizados para que o coletivo, que passou 2013 sob a condução do pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), retomasse suas bandeiras históricas. Já Leitão condenou a luta armada e criticou, por exemplo, a desintrusão de duas terras indígenas conduzidas pelo governo Dilma, no Mato Grosso e no Maranhão, do ano passado para cá.

O clima voltou a esquentar quando Lando concedeu a palavra a Bolsonaro. Em protesto, todos os deputados e convidados que acompanhavam a sessão deram as costas a ele e empunharam cartazes com fotos de vítimas da ditadura. O presidente em exercício suspendeu a sessão por mais cinco minutos. Tentou, sem êxito, convencer os colegas a encerrarem o protesto. “Há entendimento firmado que ficar de costas para o orador e para a mesa é desrespeito ao regimento”, argumentou ele, orientado pela mesa diretora.

Impassíveis, os manifestantes cantaram o hino nacional e gritaram palavras de ordem como “abaixo a ditadura”. Bolsonaro tentou convencer a mesa diretora a deixá-lo falar mesmo com o plenário de costas. "Vocês vão ser torturados com algumas verdades aqui. Deixe-os de costas, presidente, por favor", provocou. Lando manteve-se na posição inicial. “Ninguém vai me ensinar o que é democracia. Eu tenho convicções”, afirmou ele, antes de dar a sessão por encerrada. Os convidados, que ainda sequer haviam feito seus pronunciamentos, deixaram a Câmara. Outros seis deputados, além de Bolsonaro, também não puderam usar a palavra.

Via Carta Maior

A verdade enjaulada


A mais brutal de todas as violências é, sem dúvida, a violência da inexistência. Esta é uma forma muito pior de extermínio, pois não se trata apenas da eliminação física. Ela é uma eliminação simbólica, desta que afirma que nada existiu, que a violência não deixou traços e indignação. Neste exato momento, o Brasil é vítima, mais uma vez, dessa forma mais brutal de violência.

Imagem puramente ilustrativa.
Talvez ninguém esperasse que, em 2014, 50 anos após o golpe militar, estaríamos em um embate para saber se, no fim das contas, existiu ou não uma ditadura no País, com todas as suas letras. Era de se esperar que neste momento histórico estivéssemos a ler cartas abertas das Forças Armadas com pedidos de perdão por terem protagonizado um dos momentos mais infames da história brasileira, cartas de desculpas de grupos empresariais que financiaram fartamente casas de torturas e operações de crimes contra a humanidade. Todos esses atores não se veem, no entanto, obrigados a um mínimo mea-culpa.

Há de se perguntar como chegamos a esse ponto. Uma resposta-padrão consiste em dizer que os setores progressistas da sociedade brasileira não tiveram força suficiente para impor aos governos exigências de dever de memória e justiça de transição. A história brasileira recente é, em larga medida, uma história de transformações abortadas.

Já a luta pela anistia foi abortada quando o regime militar conseguiu impor sua própria lei da anistia, que livrava os funcionários de Estado responsáveis por crimes contra a humanidade, isso enquanto ainda deixava na cadeia integrantes da luta armada que participaram de assaltos a bancos e ações com mortes. Àqueles que têm o despudor de afirmar que a lei da anistia foi fruto de acordo nacional, devemos lembrar que a votação que aprovou a referida legislação no Congresso Nacional foi de 206 votos a favor e 201 contrários, sendo os votos favoráveis saídos todos das fileiras do então partido governista (a Arena). Faz parte das ditaduras a criação de uma novilíngua, na qual os termos ganham sentidos contrários. No Brasil, a imposição da sua vontade por meio da coerção é chamada de “acordo”.

Depois, a luta por eleições diretas para presidente da República foi abortada em famosa votação no Congresso, o afastamento de líderes ligados ao regime militar foi abortado com a elevação de José Sarney à Presidência do Brasil, seguido de Fernando Collor. Em todos esses processos não foi a sociedade brasileira que se mostrou fraca, mas o poder que se demonstrou suficientemente astuto para se perpetuar sob o manto da transformação. Falamos de uma ditadura que conseguiu permanecer no governo mesmo depois de seu fim, graças a uma manobra transformista que alçou o então PFL a fiador da República.

Da mesma forma, as Forças Armadas conseguiram criar a ilusão de ser um ator que deveria ser deixado em paz, sob o risco de maiores instabilidades institucionais. Essa lógica levou os primeiros governos realmente pós-ditadura (Fernando Henrique Cardoso e Lula) a nunca adotar uma política efetiva de criminalização da ditadura. Assim, chegamos em 2014 sem um torturador punido, sem um general obrigado a reconhecer a experiência terrível dos anos de chumbo.

Dentro desse quadro desolador, o governo Dilma Rousseff resolveu criar uma Comissão da Verdade, que deve entregar o relatório de suas atividades ainda neste ano. Composta de alguns nomes de inquestionável valor e dedicação, indivíduos com largo histórico de defesa dos direitos humanos e intervenções na mídia em favor de uma política efetiva de memória, a comissão teve condições mínimas de trabalho.

Dos sete integrantes iniciais, ela agora funciona com cinco. Mesmo ao levantar novos dados, principalmente a respeito da repressão no campo e contra indígenas, ela não conseguiu mobilizar a opinião pública, talvez por ter preferido não divulgar parcialmente resultados ou encaminhá-los diretamente às cortes internacionais de Justiça (pois as cortes brasileiras estão açodadas devido à decisão canalha do Supremo Tribunal Federal a respeito da perpetuação das leituras correntes a respeito da lei da anistia). Caso tivesse optado pela ampla divulgação e enviado os resultados às cortes internacionais, uma situação jurídica nova teria sido criada e obrigaria o governo a sair de sua política de minimização de conflitos. Foi graças a uma intervenção exterior, lembremos, que o Chile conseguiu, enfim, começar a enfrentar a brutalidade de seu passado. Se Augusto Pinochet não tivesse sido preso na Inglaterra por causa de um pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón, há de se imaginar que o Chile estaria em situação muito diferente.

A Comissão da Verdade brasileira deveria assumir experiências de outras comissões e, ao menos, desenvolver um procedimento parecido àquele aplicado na África do Sul. Nesse caso, antigos funcionários do apartheid tiveram seus crimes perdoados se os confessassem abertamente diante das vítimas ou familiares das vítimas, pedindo publicamente perdão. Certamente, no Brasil, algo dessa natureza teria, neste momento, grande força, certamente muito maior do que aquela que o procedimento demonstrou na própria África do Sul. Pois, entre nós, o verdadeiro problema é interromper, de uma vez por todas, a violência produzida pela tentativa de jogar o sofrimento social do período militar à condição de inexistência.

Creio ser útil partilhar um fato pessoal. Depois de escrever um artigo a respeito da tendência de negação predominante em parte de nossa historiografia recente, com seu desejo de apagar os traços da ditadura, recebi uma mensagem singela de alguém que dizia que a ditadura não existiu para ele, cidadão ordeiro e trabalhador. Ela existiu apenas para os indivíduos que queriam transformar este país em uma nova União Soviética. Eu diria que ele tem razão. De fato, a ditadura não existiu para ele, pois esse senhor, como vários outros, fez parte da ditadura. Não haveria ditadura sem cidadãos como este, que hoje não temem em demonstrar claramente suas escolhas.

Não há ditadura sem um conjunto de “carrascos voluntários”, que, mesmo não trabalhando diretamente nos aparatos repressivos, atua indiretamente no suporte e na reprodução das justificativas de suas ações. Há de se apontar para os carrascos voluntários da ditadura brasileira. Por isso, o País nunca conseguirá encerrar o legado ditatorial sem um processo de culpabilização coletiva. Quem votou na Arena foi um carrasco voluntário da ditadura e há de se tratar tais indivíduos dessa forma. Muito mais gente deveria estar no banco dos réus. Pois devemos lembrar, mais uma vez: só há perdão quando há, do outro lado, reconhecimento do crime. Você não pode perdoar o que não existiu. Então, se para certas parcelas da população, a ditadura não existiu, não há razão alguma para perdoá-los. O Brasil segue e seguirá em conflito, como quem vive uma história em suspenso.


A análise é de Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP e colunista da Carta Capital

Câmara de Altaneira acena favoravelmente a mudança do dia da feira municipal


O Poder Legislativo do município de Altaneira esteve reunido na tarde desta terça-feira, 01/04, em sessão ordinária e o assunto que ganhou ênfase nas discussões foi à decisão tomada por parte dos comerciantes locais em fechar seus estabelecimentos e solicitarem a mudança da feira que ocorre tradicionalmente aos domingos para o sábado.

Um dos líderes do movimento, Júnior Arrais, da loja Via Center Calçados, se utilizou do plenário da casa para justificar os motivos que os levaram a propor tal embate que já virou um dos temas mais discutidos das duas últimas semanas. Júnior afirmou que o comerciante é uma profissão e como tal os que fazem parte dela necessitam ter lazer e desfrutar de um dia de folga. Nenhum profissional trabalha dia de domingo. Porque só o comerciante tem que trabalhar? Indagou-o. O defensor da proposta utilizou exemplos de outras municipalidades que resolveram implantar mudança do tipo e que tiveram êxito, com crescimento econômico favorável, como Potengi, na região do cariri. 

Vereadores acenam favoravelmente a mudança do dia da feira municipal. Foto: Júnior Carvalho.
Ainda de acordo com Júnior, a possibilidade de transferir a feira do domingo para o sábado não acarretará danos ao agricultor e aos feirantes, uma vez que já havia conversado com algumas pessoas dessas classes e eles teriam afirmado que virão participar caso o fato se concretize.

O vereador Edezyo Jalled, com mandato pelo Solidariedade e líder do bloco da maioria chegou a afirmar que já era favorável a mudança e que depois do pronunciamento do dono da Via Center teve certeza de que era o melhor a se fazer. Toda via, não descartou a possibilidade da realização de uma audiência pública. O discurso favorável a ideia dos comerciantes foi partilhado ainda pelos edis Antonio Leite (Pros), Gilson Cruz (PSL), Genival Ponciano (PTB) e Zuleide Ferreira (PSDB).

Mais incisivo ainda foi o líder da oposição, o vereador professor Adeilton (PP). Para ele, os argumentos dos comerciantes são viáveis e chegou inclusive a eliminar a chance de se ter a audiência pública, pois haveria apenas a repetição dos pontos já elencados e apoiou a proposta do parlamentar Edezyo que afirmou que pode entrar com um Projeto de Lei para regulamentar o caso em debate, mas disse ser interessante ouvir os comerciantes que são contrários a mudança.

É importante destacar que ouvir os comerciantes que não percebem com bons olhos essa ideia é saudável para a democracia, como lhe permite lograr mais êxito se um dos maiores interessados também tiver a oportunidade de expressar suas posições – o agricultor/consumidor. Afinal de contas, mudanças desse tipo não pode ser fruto apenas de uma classe – os comerciantes, tão pouco deve ser originária de uma legislação por parte dos vereadores ou do executivo, mas deve ser fruto de um conjunto da obra – comerciantes, poderes legislativo e executivo e os consumidores/comunidade. Mas é preciso muito cuidado em realizar uma ação pública onde já se tem uma posição.



URCA promove Mesa Redonda e debate sobre o golpe que instaurou a Ditadura Civil-Miliar


A Universidade Regional do Cariri – URCA, através do Laboratório de Imagem, História e Memória - LABIHM do Departamento de História, promoveu nesta segunda-feira, 31, junto a professores e estudantes uma Mesa Redonda intitulada “1964, 50 anos, é preciso falar” com finalidade de discutir os resquícios desse período em que o Brasil esteve mergulhado por mais de duas décadas e que se completa meio século desde sua instauração.

A Mesa foi coordenada pelo professor de História Econômica desta instituição de ensino superior, Carlos Rafael Dias. O evento contou no corpo de expositores com os professores Fábio José Queiroz Cavalcante, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Fernando Anselmo, mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e Sônia Maria de Meneses Silva, doutora pela Universidade Federal Fluminense – UFF, todos do departamento de história da URCA.

Fábio José, Sônia Meneses, Francisca Anselmo e
Carlos Rafael em Mesa Redonda, na URCA.
Foto: Professor Darlan Reis Jr.
O professor Fábio José discorreu sobre os fatores que permitiram a ligação entre as classes dominantes e os militares contribuindo para o período de exceção, além de analisar o revisionismo na historiografia brasileiro que tenta amenizar a ditadura. O professor Adjunto da URCA, Darlan Reis Júnior, doutorando em História Social pela UFC, registrou com precisão o discurso de Fábio.  “Precisão, conhecimento e didática. Abordou a questão da crise orgânica que ocorria e como as classes dominantes perpetraram a ditadura apoiando-se nos militares”, publicou na rede social facebook.

De acordo com publicação no Blog dos Bancários do Cariri, Francisca Anselmo veio a abordar a revisão historiográfica sobre o acontecimento realizada por várias expressões acadêmicas brasileiras, destacando algumas controvérsias teóricas sobre a temática. Já Sônia Meneses falou tendo como enfoque a memória das vítimas da Ditadura. Finalizando, foi instaurado debate com intervenção da audiência, composta por professores e alunos da URCA, além de pessoas da comunidade em geral.

Está programada ainda para o mês de abril a realização de uma mostra fotográfica sobre o golpe de Estado e a ditadura civil-militar que lhe sucedeu.

Cobras Moto Clube, em Altaneira, comemora 11 anos com o “Circuito das Águas”


Inspirados nos extintos “Carcarás do Cariri” (de Juazeiro do Norte) e “Cabras da Peste”, o grupo de motociclistas de Altaneira com o cognome de Cobras Moto Clube foi fundado no ano de 2003 entre profissionais liberais, comerciantes, professores com uma proposta de realizar ao menos uma viagem por ano.

Membros do Cobras Moto Clube e os Trilheiros do Cariri na Av. Santa Tereza em Altaneira. Foto: João Alves.
Um dos líderes do grupo, o jurista e blogueiro Raimundo Soares Filho expôs em seu blog de Altaneira uma síntese da história do grupo. De acordo com ele, os Cobras já passaram pelo Açude Orós, no município de mesmo nome, Pontal, em Santana do Cariri, Várzea Alegre ao visitarem o Açude Piripiri, o açude Várzea dos Bois, no município de Tauá – região dos inhamuns, a Serra da Ibiapaba também foi alvo da trilha, todos no Estado do Ceará. Fora das linhas divisórias cearenses, locais como Paulo Afonso, Barragem do Xingó, Rio São Francisco, Triunfo e Petrolina, percorrendo outros estados da região nordeste como Bahia e Pernambuco.

É digno de registro que ao longo de uma década de existência e contando com mais de 20 membros, os Cobras já ganharam notoriedade não somente a nível municipal, mas regionalmente, inclusive já foi feita uma exposição de fotos em 2010 durante as comemorações do dia do município, contando os principais caminhos já percorridos. Essa década foi comemorada no melhor estilo. Foi programada uma viagem à cidade de Petrolina e no retorno passaram pelo estado do Piaui, vindo percorrer mais de 2 (dois) mil quilômetros. Esse trajeto foi registrado em tempo real através de fotografia por João Alves. Naquela oportunidade foi compartilhada na rede social facebook mais de 2.000 fotos.

Para comemorar os 11 (onze) anos, o grupo organizou neste último domingo, 30, um trilha pelas principais fontes de água do município, ao qual resolveram dar o nome de “Circuito das Águas”. O trajeto começou a ser pensado a partir da Lagoa Santa Tereza. Locais como a Lagoa do Sapo (popularmente conhecida como Barragem), Açude Tabocas, Açude Valério, também conhecido como Pageú, Riacho da Samambaia, Nascente da Vila São Romão e o Sítio Poças foram visitados.

Além dos tradicionais membros do Cobras, a trilha foi feita também por motociclistas dos municípios de Crato e Juazeiro do Norte, além de ter participantes simpatizantes, como Iranildo Lima, do grupo Kalangus Aventureiros (Altaneira). Segundo os organizadores, o evento contou com cerca de 30 (trinta) motociclistas e foi encabeçado pelo vereador Antonio Leite.

Apesar dos pequenos tombos, quebras de correntes e das desistências, nenhum acidente grave foi registrado e todos comemoram o sucesso da trilha com um passeio pelas principais ruas da cidade. Na Chácara de Ariovaldo os motociclistas "mataram" a sede e a fome com um churrasco de carneiro assado pelo mestre Pedro Eufrásio e muita cerveja gelada ofertadas pelo anfitrião”, disse Raimundo Soares Filho, em seu Blog de Altaneira.

Meio Século da Ditadura Civil-Militar: Imprensa – “mais do que aceitou, foi uma arma essencial do regime..”*


Notícia sobre a morte de Msrighella.
Desde fins da década de 1990, parte da historiografia brasileira sublinha que o (equivocado) processo de Anistia cunhou a (errônea) visão de que vivemos envoltos em uma tradição de valores democráticos. A partir das lutas pela Anistia, como sublinha Daniel Aarão Reis, “libera-se” a sociedade brasileira de “repudiar a ditadura, reincorporando sua margem esquerda e reconfortando-se na ideia de que suas opções pela democracia tinham fundas e autênticas raízes históricas”. Nesse momento, plasmou-se a imagem de que a sociedade brasileira viveu a ditadura como um hiato, um instante a ser expurgado. Confrontando-nos à tal memória inventada, há no período republicano longos momentos de exceção – como nos referimos aos regimes ditatoriais.

Se tais premissas correspondessem aos fatos, restaria explicar: por que houve apenas restritos episódios de resistência vinculados igualmente a pequenos grupos? Por que se permitiu aprovar uma Anistia recíproca, que mesmo nestes 50 anos após o golpe civil-militar, ainda é tema espinhoso de revisão?
A luta contra o arbítrio, de forma armada ou não, definitivamente não caiu nas graças do povo deste berço esplêndido. E, certamente, os meios de comunicação de massa – a grande imprensa e posteriormente, a TV – têm um papel preponderante nas escolhas sociais implantadas.

São clássicos os editoriais do Correio da Manhã nas vésperas do 1º de Abril de 1964, clamando por “Basta” e “Fora” a Jango. Igualmente, é emblemática a noção de que este jornal, ao realizar um “mea-culpa” e se colocar em oposição ao novo regime, foi punido com perseguições que levaram a sua falência. Esquecem-se, contudo, os amplos problemas de gerenciamento vividos por Niomar Moniz Sodré.

Ícones de resistência são lembrados, afirmados, expostos e sublinhados maciçamente para ratificar a tradição democrática brasileira, como: a meteorologia para o 14/12/1968, no Jornal do Brasil; as receitas de bolo do Jornal da Tarde; os poemas de Camões no Estadão; os inúmeros jornalistas perseguidos, demitidos, torturados e mortos; etc., que definiriam a grande imprensa brasileira como resistente ao golpe e, posteriormente, ao arbítrio. Mesmo com todo este esforço, o processo ditatorial perdurou por mais de duas décadas.

Meio século depois e com inúmeros textos publicados sobre a mais recente ditadura brasileira, poder-se-ia ressaltar que nunca a grande imprensa brasileira estampou na primeira página dos periódicos um aviso claro afirmando: “Este jornal está sob censura”. As estratégias acima apontadas e outras, que frequentemente voltam à tona para reforçar a ação resistente, contavam com a capacidade do público leitor em decifrar pistas.

O jornalista Oliveiros Ferreira, que por décadas trabalhou no Estadão, narrou as ligações recebidas pela redação indagando que a receita de bolo na primeira página do Jornal da Tarde estava errada. O bolo solava. Ou, como definiu Coriolano de Loyola Cabral Fagundes, censor desde 1961 e que atuou no Estadão, os poemas de Camões foram ali uma concessão. Certamente a censura federal apostava que o leitor não entenderia o seu porquê, ou se tranquilizaria na (efêmera) ilusão que mesmo no arbítrio lhe eram permitidos lampejos de resistência, os quais, efetivamente nada alteravam. Algo semelhante, contudo, não foi autorizado à (antiga) Veja, que, durante a “distensão” do governo Geisel, substitui as matérias censuradas por imagens de diabinhos, já que não se podiam publicar espaços em branco. Advertida, teve que parar, pois certamente o leitor de Veja à época entenderia o recado. Certamente como compreendeu a mensagem da revista quando da morte de Vlado, numa nota pequena de desculpas por não poder nada mais expressar.

Os inúmeros jornalistas perseguidos, demitidos, torturados e mortos sofreram estas horríveis barbáries enquanto atuavam como militantes das esquerdas, em ações armadas ou como simpatizantes, como demonstram os processos que arrolam os seus nomes. Da mesma forma, existiram imposições governamentais de expurgos nas redações. Tais limpezas ocorreram logo depois do golpe e perduraram até e inclusive no governo Geisel, que impunha a bandeira do fim da censura. Muitos jornalistas/militantes poderiam ser citados como vítimas destas ações, já que, como pontuava lúcida e ferinamente Cláudio Abramo, “nas redações não há lugar para lideranças. Os donos dos jornais não sabem lidar com jornalistas influentes que, muitas vezes, se chocam com as diretrizes do comando. O jornalista tem ali uma função, mas ‘ficou forte, eles eliminam’.”

Os meios de comunicação são empresas que buscam o lucro, vendendo a visão particular sobre um fato e, como Abramo por vezes demarcou, um “equívoco que a esquerda geralmente comete é o de que, no Brasil, o Estado desempenha papel de controlador maior das informações. Mas não é só o Estado, é uma conjunção de fatores. O Estado não é capaz de exercer o controle, e sim a classe dominante, os donos. O Estado influi pouco, porque é fraco. Até no caso da censura, ela é dos donos e não do Estado. Não é o governo que manda censurar um artigo, e sim o próprio dono do jornal. Como havia censura prévia durante o regime militar, para muitos jornalistas ingênuos ficou a impressão de que eles e o patrão tinham o mesmo interesse em combater a censura”.

Existiram pouco mais de 220 censores federais, muitos deles com o diploma de jornalista – sendo que o primeiro concurso público para o cargo ocorreu em 1974, quando Geisel prometia o fim da censura. Estas duas centenas de pessoas atuavam reprimindo: cinema, TV, rádio, teatro, jornais, revistas, etc., entre 1964 e 1988, em todo o território nacional. Para que as expectativas governamentais dessem certo, os donos das empresas de comunicação tinham de colaborar – e não resistir.

Inúmeros arquétipos podem corroborar tal ideia, até porque a autocensura não é desconhecida das redações, e não se iniciou no pós-1964 no Brasil. No Jornal do Brasil, por exemplo, editou-se, em 29/12/1969, como me cedeu o seu exemplar o secretário de Redação, José Silveira, uma circular interna de cinco páginas, elaborada pelo diretor do jornal, José Sette Câmara, para o editor chefe, Alberto Dines, denominada “Instruções para o controle de qualidade e problemas políticos (Grifo da Redação do Informações em Foco)”, criada com o objetivo de “instituir na equipe um (...) Controle de Qualidade (...) sob o ponto de vista político”.

Estabelecida dias antes do Decreto-Lei 1.077, de 26/01/1970, que legalizou a censura prévia, e um ano após o AI-5, a diretriz de Sette Câmara pontuava que “não se trata de autocensura, de vez que não há normas governamentais que limitem o exercício da liberdade de expressão, ou que tornem proibitiva a publicação de determinados assuntos. Em teoria há plena liberdade de expressão. Mas na prática o exercício dessa liberdade tem que ser pautado pelo bom senso e pela prudência”, já que “a posição do JB ao proferir que este não é a favor nem contra, (...) não é jornal de situação, nem de oposição. O JB luta pela restauração da plenitude do regime democrático no Brasil, pelo retorno do estado de direito. (...) Enquanto estiver em vigor o regime de exceção, temos que usar todos os nossos recursos de inteligência para defender a linha democrática sem correr os riscos inúteis do desafio quixotesco ao Governo. (…) O JB teve uma parte importante na Revolução de 1964 e continua fiel ao ideário que então pregou. Se alguém mudou foram os líderes da Revolução. [Nesse sentido, o JB deverá] sempre optar pela suspensão de qualquer notícia que possa representar um risco para o jornal. Para bem cumprirmos o nosso maior dever, que é retratar a verdade, é preciso, antes de mais nada, sobreviver”. Sette Câmara termina decretando que, “na dúvida, a decisão deve ser pelo lápis vermelho”.

Em meados da década de 1970, foi a vez da Rede Globo – uma concessão pública – formalmente instituir o “Padrão Globo de Qualidade” (Grifo da Redação do Informações em Foco), ao contratar José Leite Ottati – ex-funcionário do Departamento de Polícia Federal – para realizar a censura interna e evitar prejuízos advindos da proibição de telenovelas. Segundo Walter Clark, a primeira interdição da censura na Globo ocorreu em 1976, na novela Despedida de casado. Para blindar a emissora, o “Padrão Globo de Qualidade” receberia o auxílio de pesquisas de opinião feitas por Homero Icaza Sanchez – o “Bruxo” –, encarregado de identificar as motivações da audiência.

Definindo toda essa tática, Clark explicou que, “(...) enquanto a Censura agia para subjugar e controlar a arte e a cultura do país, perseguindo a inteligência, nós continuávamos trabalhando na Globo para fazer uma televisão com a melhor qualidade possível.” Organizada a autocensura, o “Padrão Globo de Qualidade” teve acrescidos outros ingredientes para o seu sucesso. Em sintonia com a imagem, divulgada pelo governo autoritário, de um “Brasil Grande”, formulou-se também uma “assessoria militar” ou uma “assessoria especial” composta por Edgardo Manoel Ericsen e pelo coronel Paiva Chaves. Segundo Clark, “ambos foram contratados com a função de fazer a ponte entre a emissora e o regime. Tinham boas relações e podiam quebrar os galhos, quando surgissem problemas na área de segurança”.

Esquema semelhante a este foi adotado pela Editora Abril, exposto em uma correspondência de Waldemar de Souza – funcionário da Abril e conhecido como “professor” –, a Edgardo de Silvio Faria – advogado do grupo e genro do sócio minoritário Gordino Rossi –, na qual comunicava o contato tanto com o chefe do Serviço de Censura em São Paulo – o censor de carreira e jornalista José Vieira Madeira –, como com o diretor do Departamento de Censura de Diversões Públicas – Rogério Nunes – para facilitar a aprovação das revistas e a chegada às bancas sem cortes.

Estes vínculos do “professor” com membros do governo são anteriores a esse período e justificam seu potencial de negociação. Desde novembro de 1971 o relações-públicas do DPF, João Madeira – irmão de José Vieira Madeira –, expediu uma carta ao diretor-geral da Editora Abril na qual ratificava o convite do general Nilo Caneppa, na época diretor do DPF, a Waldemar de Souza para que fosse a Brasília ministrar um curso especial aos censores. Em maio de 1972, o próprio general Caneppa enviou a Vitor Civita, diretor-geral da Abril, uma correspondência de agradecimento pelas palestras sobre censura de filmes, que Waldemar de Souza proferiu na Academia Nacional de Polícia. Para continuar colaborando, no ano seguinte, Souza formulou uma brochura intitulada “Segurança Nacional: o que os cineastas franceses esquerdistas já realizaram em países da América do Sul e pretendem repetir aqui no Brasil”. E, em 1974, com o general Antonio Bandeira no comando do DPF, Waldemar de Souza, em caráter confidencial, expôs o porquê de censurar Kung Fu e sua mensagem que “infiltra a revolta na juventude”.

Por fim, mas não menos importante, há a atuação do Grupo Folha da Manhã, proprietário da Folha de S. Paulo e da Folha da Tarde, entre outros, no período. Em dezessete anos, entre 19/10/1967 e 7/5/1984, o país foi dos “anos de chumbo” ao processo das Diretas Já, e a Folha da Tarde vivenciou uma redação tanto de esquerda engajada – até o assassinato de Marighella –, como, a partir daí, de partidários e colaboradores do autoritarismo.

Durante uma década e meia sob o comando de policiais, o jornal adquiriu um apelido: o de “maior tiragem”, já que muitos dos jornalistas que ali trabalharam eram igualmente “tiras” e exerciam cargos na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. A partir deste perfil de funcionários, a Folha da Tarde carrega a acusação de “legalizar” mortes decorrentes de tortura, se tornando conhecido como o Diário Oficial da Oban.

Isto explica o porquê de os carros do Grupo Folha da Manhã serem incendiados por militantes de esquerda, nos dias 21/9/1971 e 25/10/1971. A ação era uma represália, já que o grupo era acusado de ceder automóveis ao Doi-Codi que, com esse disfarce, montava emboscadas, prendendo ativistas.
Nesse momento de ponderações sobre os 50 anos do golpe, recordo-me que, quando dos 30 anos do AI-5, o jornalista Jânio de Freitas publicou na Folha de S. Paulo uma advertência não cumprida por seus pares, inclusive agora, nas reflexões dos periódicos aos 50 anos do golpe civil-militar de 1964. Corroborando com tudo o que foi exposto aqui, Freitas lembrava em 1998 que “a imprensa, embora uma ou outra discordância eventual, mais do que aceitou o regime: foi uma arma essencial da ditadura. Naqueles tempos, e desde 64, o Jornal do Brasil [...] foi o grande propagandista das políticas do regime, das figuras marcantes do regime, dos êxitos verdadeiros ou falsos do regime. (...) Os arquivos guardam coisas hoje inacreditáveis, pelo teor e pela autoria, já que se tornar herói antiditadura tem dependido só de se passar por tal”.

O jornalista ao finalizar, adverte, e peço-lhe licença para me utilizar aqui, de suas conclusões. Trocarei 30 por 50 anos, AI-5 por golpe civil-militar de 1964, e o que estiver entre colchetes é de minha autoria. Assim: precisamos aproveitar os 50 anos do golpe civil-militar de 1964 para mostrar mais como foi o regime que [se instaurou a partir dali], eis uma boa iniciativa. Mas não precisava [como fizeram muitas narrativas recentes] reproduzir também os hábitos de deformação costumeiros naqueles tempos.

A análise é de Beatriz Kushnir, historiadora, doutora em História pela Unicamp, autora, entre outros de, Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988 (Boitempo, 2012) e foi publicado originalmente no Carta Capital