Do
Pretas Simoa
Consideramos
que o processo de mobilização e organização para a Marcha das Mulheres Negras
2015 proporcionou uma massiva visibilização, reconhecimento, propagação e
comunicação entre as diversas organizações de mulheres negras em todo o Brasil.
Tivemos a oportunidade de reconhecermos em nós as especificidades que nos são
comuns, MULHERES NEGRAS das Américas.
Além
de nossas singularidades percebemos também os desafios que nos são peculiares,
como o de superar a preterição por parte do governo, em suas três instâncias.
Ao levantar questões sobre as nossas demandas somos condicionadas a voltar à
estaca zero contando desde o princípio a história das Mulheres Negras neste
país e nas Américas para tentar convencer as autoridades governamentais sobre a
legitimidade da nossa luta, passando por constrangimentos e humilhações que
denunciam a inferioridade com que o Governo trata as nossas especificidades.
Para
que haja um significativo avanço a nossa história precisa se tornar oficial, em
se tratando da história propagada nas escolas, universidades, feminismo,
movimento negro; as nossas demandas inseridas nas agendas do Governo, seja da
direita ou esquerda governista; e o debate sobre essas demandas deve ser
amplamente divulgado para que mais pessoas possam ter acesso e reconhecer a
política que defendemos com urgência.
Podemos
citar como exemplo das nossas diversas pautas a partilha da maternidade das
mulheres pobres (em sua maioria mulheres negras) com o governo, propiciando
assim, o tempo necessário para que estas mulheres possam se dedicar à sua vida
profissional e acadêmica. No Cariri, não temos creche nas universidades e as
municipais não atendem às demandas da população; não temos cotas raciais para o
ingresso nas Universidades e nem para o acesso às bolsas que podem vir a
garantir a permanência da aluna que, quando mãe, precisa garantir o seu próprio
sustento e d@(s) seus/suas filh@s.
Reconhecer
estas e outras necessidades políticas, sociais, econômicas e afetivas entre
nós, MULHERES NEGRAS, foi uma experiência que a Marcha das Mulheres Negras nos
permitiu.
Éramos
milhares de Mulheres Negras de todo o Brasil ocupando as ruas do Distrito
Federal, saudando o sol, o vento e a chuva e, nessa imensa comunhão marchamos
JUNTAS: sim, pois, mesmo sem sabermos os nomes de cada Mulher Negra que lá
estava ou das organizações políticas que estas representavam, MARCHAMOS JUNTAS;
mesmo sem a presença física que por diversos fatores impediram outras milhares
de Mulheres Negras de lá estarem, MARCHAMOS JUNTAS; mesmo sem a presença em
matéria de nossas majestosas ancestrais que lá estavam em força e espírito,
MARCHAMOS JUNTAS; mesmo que antes e depois dali a nossa luta cotidiana siga por
caminhos diversos, naquele dia, 18 de novembro de 2015, nós MARCHAMOS JUNTAS.
As
Mulheres Negras que lá estavam souberam que cada uma de nós representa milhares
de outras. Éramos muitas em cada uma de nós. Eram inúmeros ecos em cada voz.
Éramos nós escrevendo a cada passo, a cada gesto, a cada verbo a nossa própria
história narrada pelas que antes caminharam para que nós ali estivéssemos, as
que seguirão no futuro cada passo ali firmado.
JUNTAS
éramos o passado, o presente e o futuro: gerações de guerreiras anônimas que
resumimos em nossas veias; espelhos em cada face que nos permitem ter orgulho
do nosso próprio reflexo; e armaduras que permitirão às nossas próximas
gerações combaterem o racismo, o machismo e a homofobia com dignidade. E tenham
passos a seguir com respeito.
PRETAS
SIMOA: Grupo de Mulheres Negras do Cariri.