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Quem tem medo de literatura negra brasileira?

 

Yanaê Lopes dos Santos. (FOTO | Reprodução).

Palavrões, palavras de baixo calão e descrição de cenas sexuais. Qual adolescente brasileiro já teve contato com esse tipo de coisa? (Contém ironia)

Instagram, Geledés, Africanize e Capricho lançam projeto para incentivar a literatura negra entre os jovens

 

(FOTO | Reprodução).


Nesta quinta-feira (16), o Instagram, em parceria com Geledés Instituto da Mulher Negra, Africanize e Capricho, lança o projeto “ReeLeitura: edição autores negros”, uma iniciativa de nove meses que tem o objetivo de debater os temas centrais de obras literárias de autores negros brasileiros por meio de um formato simples e divertido como os Reels do Instagram e do Facebook, com a ideia de que elas alcancem mais pessoas e promovam o interesse de leitura principalmente entre os adolescentes.

Os conteúdos serão publicados nos perfis da @africanizeoficial, @capricho e @portalgeledes no Instagram e Facebook, com a hashtag #ReeLeitura. O primeiro episódio, que estreia hoje em celebração ao mês em que se comemora o “Dia Mundial de Zero Discriminação – 1º de março” e o “Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial – 21 de março”, traz a obra “Sobre-viventes”, da autora Cidinha da Silva (@cidinhadasilvaescritora), comentada pelo professor João Luiz Pedrosa (@joaolpedrosa) e pelo criador de conteúdo Adriel Oliveira (@livrosdodrii).

Mensalmente, até novembro, um novo episódio trará um autor negro e sua obra, uma figura pública e um criador de conteúdo da comunidade negra do Instagram para expor seus pontos de vista sobre o assunto principal do livro em destaque. Além disso, vamos iniciar um movimento a partir de um áudio original inspirador com trecho da obra na voz da figura pública, no formato de mini doc, que é tendência no Instagram. A ideia é que tanto criadores de conteúdo quanto o público participem do movimento usando a ferramenta Modelos e a hashtag #ReeLeitura.

A presença da comunidade literária no Instagram é muito forte e, com o ReeLeitura, queremos nos aproximar ainda mais dela, promovendo conexões por meio da cultura, ao mesmo tempo em que tratamos de temas fundamentais para a formação de nossos jovens e para a sociedade, como racismo, empoderamento negro, inclusão e manifestações afro-brasileiras”, afirma Priscila Pagliuso, gerente de comunicação do Instagram para a América Latina.

Para deixar tudo ainda mais divertido e interativo, e unindo representatividade e inovação, o público também poderá interagir com o efeito de realidade aumentada (AR) “ReeLeitura” que estará disponível por meio do perfil da Capricho no Instagram, desenvolvido exclusivamente para a iniciativa pela Atomcore Studio, que faz parte do programa Realidade Aumentada na Pele (R.A.P), da Meta, oferecendo ao público formas inovadoras de interação com a literatura.

O efeito “ReeLeitura” vai sugerir ao público uma variedade de opções de livros de autores negros, fomentando o acesso à literatura. Algumas das obras são: “Ritmos Negros: Música, Arte e Cultura na Diáspora Negra”, de Amailton Azevedo (@amailtonazevedo); “Mukanda Tiodora”, de Marcelo D’Salete (@marcelo.dsalete); e “Jamais Peço Desculpas por me Derramar”, de Ryane Leão (@ondejazzmeucoracao).

Em breve, a Capricho disponibilizará ainda um chatbot exclusivo no WhatsApp, criado pela plataforma Gupshup, que vai recomendar uma seleção de livros curada especialmente de acordo com os resultados de um rápido teste para descobrir o perfil de leitor de cada pessoa.

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Com informações do Geledés.

Demorou 99 anos, mas UFRJ cria pós-graduação sobre autores negros


Carolina Maria de Jesus é considerada uma das primeiras e mais destacadas
escritoras negras do Brasil. (FOTO/ Divulgação).

Finalmente! Segundo a coluna de Lauro Jardim, de O Globo, a partir de março de 2020 a cadeira de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vai, pela primeira vez em quase cem anos, oferecer um curso de pós-graduação stricto sensu exclusivamente sobre autores e autoras negros brasileiros.

Conceição Evaristo impulsiona para toda uma geração de jovens escritores negros que, como ela, buscam transformar a sociedade


Conceição Evaristo transforma sua trajetória em referência e impulso para toda uma geração de jovens escritores negros que, como ela, buscam transformar a sociedade. (FOTO/Reprodução/Revista Trip).

Aos 72 anos, Conceição Evaristo está escrevendo um rap. A ideia surgiu quando a escritora foi convidada para assinar o prefácio de um livro que traz textos de jovens autoras integrantes do Slam das Minas, um coletivo que recita poesias que tratam especialmente sobre racismo, machismo e desigualdade social. “Quando ficar pronto, quero dar para elas declamarem”, conta, sobre “O rap da experiência”, como ela nomeou. “Ao mesmo tempo que temos uma juventude negra que está sendo dizimada, temos uma outra que tem um papel muito importante na mudança da sociedade brasileira.”

Jarid Arraes: A importância de protagonistas negras na literatura



Desde o lançamento do meu livro “As Lendas de Dandara” no mês de Julho, tenho falado repetidamente sobre a importância de protagonistas negras na literatura e como elas ainda são difíceis de encontrar nas prateleiras das maiores livrarias.

Quando decidi escrever As Lendas de Dandara, eu tinha em mente o tipo de mensagem que gostaria de passar com aquela história. Para qualquer criança, exercer a capacidade imaginativa e conseguir se colocar no lugar dos protagonistas heroicos e aventureiros é algo muito importante e parte fundamental do desenvolvimento. Mas muitas crianças crescem sem personagens como elas – reais ou fictícias – em quem se espelhar. Somente com muita pesquisa é possível encontrar materiais com protagonistas negros separados de estereótipos raciais, pois ainda atualmente há pouquíssima diversidade na literatura, nos filmes e nas histórias infantis.

Para as meninas e mulheres negras, conhecer uma personagem como Dandara dos Palmares poderia fazer uma enorme diferença. Ainda hoje, ouvir falar de mulheres negras como Dandara é quase impossível – nem a mídia e nem as escolas falam sobre sua existência e seus feitos. Ela e outras heroínas negras da história do Brasil ficaram relegadas ao esquecimento.

Quem não tem pais conscientes, cresce sem esses exemplos positivos. E para muita gente isso soa como bobagem, mas os impactos causados na autoestima podem ser muito profundos. No caso da literatura, a ausência de personagens negras que ultrapassam os papéis estereotipados limita as possibilidades imaginativas das crianças e também faz com que elas se tornem adultas sem referências positivas da negritude.

Para aquelas pessoas que convivem com pessoas negras, ainda há esperança, pois o referencial passa a ser os personagens da vida real: a avó inteligente, a mãe corajosa e o pai que é sensível e ajuda as pessoas. Mas para quem não possui essas referências, nunca ver pessoas negras associadas com conquistas positivas, capacidades admiráveis e enredos inspiradores é algo que colabora ainda mais para a internalização e perpetuação do racismo.

Por isso, escrever e ler protagonistas negras é algo que influencia crianças e adultos. Seja porque temos a possibilidade de ver um espelho refletindo nossa aparência e nos dizendo que temos, sim, potencial para realizar feitos significativos, ou porque temos a chance de romper a narrativa racista que ainda domina a sociedade. Em muitos casos, a ficção é a porta de entrada para reflexões imprescindíveis sobre equidade e respeito.

Pode ser um desafio quebrar as barreiras do mercado literário, da mídia e da divulgação. Despertar o interesse das pessoas e ensinar a importância da representatividade e da diversidade é o primeiro passo para que tenhamos livros com mais pluralidade e criatividade. Afinal, falta muita imaginação a quem só consegue enxergar heróis e heroínas com a pele branca e os cabelos lisos.