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Não fique no meu túmulo a chorar, eu não estou lá: em memória de Marielle



Esta semana, um aluno, ao se encontrar com um estudante negro, disse: achei um escravo. Marielle foi executada. EXECUTADA, sim. Um professor confessou: odeio pretos!

Nós compartilhamos cada uma dessas notícias. Durante esses dias, nós #FomosTodos: o estudante da FGV, Marielle e a favor da exoneração professor racista. Hoje #TodoSomos.

Nos meses anteriores:

– as cotas em diversas Universidades públicas foi fraudada e você se calou quando houve fraudes no sistema de cotas raciais na sua universidade;

– falou que não acredita que jovens negros morrem mais. Afinal, existem mais negros na periferia, e na periferia as pessoas morrem;

– relativizou quando mulheres negras saíram em defesa dos homens negros que foram achincalhados por mulheres brancas racistas (o caso dos rappers);

– falou que a Taís Araújo estava fantasiando sobre o racismo estrutural do Brasil, quando disse em sua palestra que seu filho tem mais chances de ser parado pela polícia e de ser assassinado.
– usou Fernando Holiday e Luislinda Valois como exemplo para falar sobre questões raciais;

– achou o cúmulo da vitimização uma mulher negra com o cabelo “armado” reclamar que não conseguia emprego por conta do racismo.

Não se engane! O prego que hoje fecha o caixão dos corpos negros recebe uma martelada sua. A indignação seletiva alimenta a estrutura política, social e econômica que permite que essas atrocidades continuem a acontecer.

Não adianta gritar fora golpista neste momento, o genocídio da população negra não começou com o impeachment. Marielle cai como os seus, ao longo dos séculos, vêm caindo. (Por Pâmela Guimarães-Silva , no  Portal Geledés).


(Foto: Reprodução/ Geledés).

Escritora Cidinha da Silva lançará livro “#Parem de nos matar!”


Ela é mineira, formada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e está lançando seu décimo livro. Estamos falando da escritora Cidinha da Silva, que estará em Salvador, na próxima terça-feira (06) para o lançamento de “#Parem de no matar!”. A obra fala sobre o genocídio da juventude negra utilizando crônicas que foram escritas entre os anos de 2012 e 2016. Na oportunidade, a escritora fará o lançamento também de outro livro de poemas seu chamado de “Canções de amor e dengo”. Em entrevista ao repórter Marcelo Nascimento, Cidinha conta um pouco sobre a sensação de participar de mais uma estreia do seu trabalho e ressalta o prazer de estar em companhia de convidados especiais.

Publicado originalmente no Correio Nagô

Correio Nagô: Conte-nos sobre o lançamento do livro “#Parem de nos matar” aqui em Salvador?

Cidinha da Silva: Salvador será a sexta cidade na qual lançarei o livro em 2016. Já o fiz em Santos, São Paulo, Rio de Janeiro, SEABRA e Caetité, as duas últimas na Bahia. A expectativa é muito boa, pois a Katuka Africanidades sempre proporciona momentos de muito calor e alegria no encontro com o público-leitor. Na oportunidade, lançarei também o livro de poemas Canções de amor e dengo e, para dar mais brilho à festa, contaremos com os comentários críticos de Davi Nunes, Denise Carrascoza, Fábio Mandingo, Lindinalva Barbosa, Lívia Natália, Luciana Moreno, Luís Carlos Ferreira, e Vilma Reis.

CN: O que te fez produzir um livro que possui uma temática tão questionada pela comunidade negra?

CS: #Paremdenosmatar  não é um livro que se tenha alegria ao fazer, é o contrário disso, pois fala da morte imposta à população negra no Brasil, na diáspora e em África, tanto pelo extermínio físico, quanto pela morte cultural e simbólica. Mas a Ijumma o fez belo como objeto-livro sonhado e o entregamos muito felizes às mãos leitoras. A obra trata também da resistência em suas 240 páginas, ao longo de 72 crônicas escritas entre 2012 e 2016, pois, insistimos em viver. Trata-se de leitura densa que exige estômago e coragem. É um livro que exige mais do que o desgastado uso do termo “denúncia” para caracterizá-lo. Este #Paremdenosmatar! é testemunha de acusação do genocídio contemporâneo da população negra. É memória viva em transformação que se vale da crônica como suporte.

CN: Qual o sentimento ao ver a grande repercussão da sua nova publicação #Parem de nos matar?

CS: Lançar um livro novo é motivo de grande alegria, sempre. Espero que o livro seja lido e discutido em escolas, bares, saraus, universidades, equipamentos públicos de educação e cultura, festas literárias e por todos os lugares, nos quais mulheres, pessoas trans, crianças, jovens e homens negros estão.

CN: Pode adiantar um pouco do que vai rolar em Salvador?


CS: Sim, estarei presente e, como de hábito, dividirei a cozinha com a Katuka Africanidades. Devo preparar pelo menos um prato para o nosso coquetel. Aproveito para reforçar o convite a todas as leitoras e leitores do Correio Nagô para celebrarmos o nascimento de mais duas obras de literatura negra.

Cidinha da Silva fará lançamento de seu livro #Parem de nos matar" nesta terça-feira(06). Foto: Correio Nagô.

O deus branco que nos perdoe, por Luara Colpa*



Estamos em 2016, 128 anos pós Lei Áurea.

Há alguns meses cinco garotos foram brutalmente fuzilados, o que motivou a escrever este texto. Esta semana um garoto de 10 anos foi assassinado. Todos os dias eles são executados. Todos os dias. E o que tem em comum?

A negritude.
Publicado originalmente no Negro Belchior

Estou a parir meu filho preto.

Na maca onde a enfermeira impaciente empurra minha barriga. Me livro da dor pensando em seu futuro. De uniforme e banho tomado ele desce a ladeira:

– Cuidado ao atravessar a rua! (Ele olha pra trás e sorri)

– Não esquece a merendeira hein filho? – Tá mãe!!

– Esteja bem vestido (para não te confundirem … com ladrão).

– Não erga a cabeça pro polícia.

Vou franzindo a testa e abaixo o tom de voz:

– Ande com carteira de Trabalho no bolso e apresente-a sempre que abordado.

– Se quiser ter o cabelo colorido, será confundido com bandido. Se quiser homenagear seus ancestrais e fazer dreads e penteados, será chamado de vagabundo.

– Você poderá apanhar na cara – Por que mãe? Porque sim, Não revide

– Você sofrerá revistas vexatórias todas as semanas da sua vida. Porque sim.

– Você será chamado de macaco, “esse preto”, “de cor”.

– Não ande em grupos pra não ser confundido com arrastão.

– Estude filho, vão falar que as cotas o salvou, que é incapaz. Não dê ouvidos à eles.

– Se você se esforçar muito no trabalho, será chamado de “moreninho até que esforçado” e mesmo que te explorem e expurguem, e que seu salário seja menor que o de todos – usarão seu exemplo, pra justificar a Meritocracia canalha que nos imputam.

– Em qualquer furto na empresa você é o suspeito, filho. Sim.

– Você será mal visto o resto da sua vida na família da sua namorada branca. Porque sim também…

Sua mãe vai sofrer violência obstétrica no hospital. Porque é preta. Você vai nascer na contramão da vida. Porque alguma igreja um dia disse que não tínhamos alma.

Que nossa cultura era inferior, e mediram nossos dentes e nossas canelas. E nos deram um terço pra tentarmos nos redimir de termos nascido nessa cor.

Quando acharam oportuno, vestiram nossos turbantes e se apropriaram da nossa capoeira. Quando não nos queriam mais, nos forjaram “livres” na Lei do sexagenário. E então fomos expulsos da escravidão para a escravidão real.

Aqui estamos. Somos a história dos centros urbanos, filho. Fomos expulsos do modelo de cidade e do convívio entre pessoas. Nunca fomos pessoas.

Da periferia pra periferia seguimos, expurgados.

Não nos perguntaram onde construímos nossa vida, nossa raiz. Somos sem estória. A cada despejo fomos para a região metropolitana que nos colocavam. Em cada plano de habitação que meia dúzia de engomados brancos escreveram, fomos encaixotados nos predinhos de 40m². Bem longe. Longe dos olhos dos gringos.

Taparam nossas casas com tapumes pra Copa do Mundo. Botaram camburão na nossa quebrada, pra nos lembrar que desde “o fim” da escravidão, não sabem o que fazer pra tampar nossa existência.

Vão te dizer que mesmo em Estado de Sítio, você tem direito à ir e vir no seu país (que seus ascendentes construíram lajota por lajota.. paralelepípedo por paralelepípedo).

Mas você será executado à luz do dia filho. Na porta de casa. E eu vou lavar seu sangue.

Você será metralhado, “confundido”. Você e seus amigos pretos. Porque sim. Porque fazem parte da parcela da população que tem que ter regras pra estar vivo. Que é achincalhado desde o nascimento.

Nos exterminarão todos os dias, todos os dias “um crime isolado”.

E jogarão a culpa no policial noiado, no indivíduo sob pressão, na legítima defesa. A sociedade não reconhecerá que são todos cúmplices da sua morte.

Eles estão certos, agem em “legítima defesa”. Te avisei pra não sair sem a carteira de trabalho filho. Aliás, nem deu tempo de mostrar né? Te avisei pra não encarar o polícia…. Também não precisou. É, não deu tempo.

Vamos entrar pra estatística filho.

Eles só têm a televisão. Só tem a visão longínqua e deturpada do que somos. Eles desligarão a TV quando incomodar. Eles não sabem de mim, nem de você.

Só mais uma mulher sozinha parindo sob violência.

Só mais um preto metralhado. O Deus branco que nos perdoe, somos sem alma.
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Luara Colpa é brasileira, tem 28 anos. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve.

Luara Colpa