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Educação pública me permitiu chegar aqui, diz novo diretor do Banco Central

 

(FOTO | Lula Marques | Agência Brasil).

Um reencontro de gerações despertou a emoção no segundo dia da semana de integração para os alunos que acabaram de ingressar na Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Prestes a aposentar-se no fim do ano, o professor do Departamento de Ciências Contábeis Valdir dos Santos Miranda agradeceu ao ex-aluno mais ilustre da instituição, o recém-empossado diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Ailton de Aquino Santos, primeiro dirigente negro da autarquia.

Parabéns pela posição. Você é um exemplo. Obrigado por representar bem nossa universidade. Estou emocionado desde o momento em que vi sua indicação [para o Banco Central]. Ano que vem, me aposento da universidade com dever cumprido”, diz Valdir emocionado a Aquino, que adiou uma reunião com representantes de bancos para falar por videoconferência direto de São Paulo nessa terça-feira (15).

Manual gratuito orienta escolas para práticas antirracistas

 

(FOTO | Reprodução | Porvir).

Existe muita coisa que não te disseram na escola/Cota não é esmola”, diz um trecho da canção de Bia Ferreira que tomou as caixas de som do Centro Cultural São Paulo nesta quinta-feira (25). Outras músicas, de Elza Soares a Gilberto Gil, com suas letras de resistência, também recepcionaram os convidados para o evento de lançamento do “Manual para escolas antirracistas”. Produzido pela comissão de professoras e professores de referência em relações raciais da Camino School, escola particular e trilíngue em São Paulo, o livro de 97 páginas, disponível gratuitamente para download, compartilha orientações pedagógicas para a construção de uma educação contra o racismo.

Hoje, muito mais do que falar, é essencial promover o antirracismo em todas as esferas, especialmente na esfera educacional. Queremos abrir o diálogo para a educação antirracista e somos ambiciosos: pretendemos levar o debate para o Brasil inteiro”, afirma Leticia Lyle, cofundadora da Camino Education, da plataforma digital de aprendizagem Cloe e diretora da Camino School, escola que conta com um programa de bolsas de estudos para estudantes negros, pardos e indígenas de baixa renda. “O material foi feito com pais, com leitores críticos, para que possamos fazer uma educação que tenha todas as vozes, a fim de gerar e promover consciência de toda a comunidade.”

No glossário, são apresentados conceitos para o letramento racial. O capítulo “Antirracismo na prática escolar” sugere ações voltadas a gestores, docentes, famílias e estudantes. Uma lista com sugestões de livros e um mapa sobre ações antirracistas no Brasil e no mundo também compõem a publicação. “O manual não se encerra em si. Temos um trabalho de casa para fazer, de formação continuada, de trazer pessoas para dialogar constantemente. Um trabalho árduo: sabemos que não vamos acabar com o racismo de uma hora para outra. Mas esperamos que possamos melhorar nossas práticas internas e servir de espelho para que outras escolas pensem em ações antirracistas dentro de seus ambientes”, acredita o professor Leonardo Bento, coordenador do projeto. “Precisamos todos entender que a sociedade é racista e o racismo dá as caras a todo momento”, reforça.

Protagonismo negro

A roda de conversa contou com representantes da Camino: as integrantes do comitê de diversidade racial da escola, Fernanda Cimino (servidora do Tribunal Regional do Trabalho e especialista em direitos humanos) e Adriana Arcebispo (assistente social e digital influencer da página @familiaquilombo), além do professor Rodrigo Bueno.

O manual é capaz de garantir para as pessoas brancas o nível básico de letramento racial, capacidade de transformá-lo em práticas e ações antirracistas, promovendo direitos humanos. Nessa construção coletiva, o papel das pessoas responsáveis por crianças e adolescentes é fundamental”, opina Fernanda. “Pensando no contexto de uma escola particular, majoritariamente branca, uma andorinha só não faz verão. Quanto mais atuação, mais chance de as ações serem efetivas. As pessoas brancas devem tomar frente da luta por uma educação antirracista, respeitando o protagonismo negro”, complementa.

Para o professor Rodrigo, o manual é algo muito necessário, tanto externa quanto internamente. “A questão do lugar de fala apareceu em uma aula minha, no nono ano. Os alunos fizeram uma batalha de SLAM, movimento bastante comum da periferia paulistana, e, no começo do debate, os estudantes brancos disseram que não tinham lugar de fala. Discutimos isso o tempo todo. Achamos a resposta em um discurso da [filósofa e feminista] Djamila Ribeiro: o lugar de fala do branco é o lugar de fala da raça branca, raça minoritária no nosso país que posa de majoritária, mas não é. Isso precisa ser exposto na escola”, comenta. “Fizemos um evento muito legal, que parou a escola toda, com poemas impactantes e conversas sobre política e feminismo”, diz. Nenhuma criança nasce racista, mas a sociedade a transforma, afirma o educador.

Precisamos ver qual é o alimento do racismo e cortá-lo. Um é a ignorância, e falo isso como historiador branco que aprendeu nas universidades. Eu não conhecia nada da história brasileira até fazer uma especialização em relações raciais”, diz Rodrigo. “O Brasil misturou duas coisas cruéis: a sociedade escravista e a sociedade de consumo. Esse racismo vai empurrando o tema para longe dos brancos. E espero que os brancos se incomodem com a minha fala”, complementa o educador, que finalizou a participação com uma frase do ativista afro-americano Malcolm X (1925-1965): “Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor”. O professor aponta que a branquitude está do lado do opressor e isso precisa ser desconstruído.

Práticas antirracistas

Mãe dos alunos Akins (10) e Dandara (6), matriculados na Camino School desde 2018, Adriana usa as redes sociais para falar sobre sua experiência de existência e resistência. Na escola, apoia a promoção de encontros e rodas de conversas entre as famílias. “Ganhamos com a Camino por estarmos nesse espaço, mas a escola também ganha com a nossa presença nesse movimento antirracista. Uma escola diversa ganha com essa valorização”, pontua.

Akins sofreu racismo na escola e Adriana não hesitou em conversar com a direção da Camino para, juntos, pensarem como resolver a situação. Para ela, é fundamental que a escola seja diversa em todas suas esferas, inclusive na coordenação. “Quando chego em um espaço todo tocado por pessoas brancas, esse espaço é opressor para pessoas pretas. Precisamos garantir que dentro da escola as estratégias sejam colocadas em prática, que as crianças e as famílias sejam ouvidas e acolhidas. É preciso contratar pessoas pretas e ter compromisso com isso, para construir o antirracismo.”

Entre as sugestões levantadas pela digital influencer, uma é urgente: implementar e fiscalizar o cumprimento das leis 10.639, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, e 11.645, com a cultura e história indígena em todo o sistema educacional. “Com esse manual, a Camino School fecha um compromisso público com a questão antirracista e suas concretudes”, diz. 

Para Caio Garcez, vice-diretor da Camino School, a proposta é fazer o “Manual para escolas antirracistas” ganhar vida Brasil afora. “Esse é o primeiro, segundo, terceiro passo de uma maratona. Precisamos ganhar fôlego para correr atrás desse movimento. É uma iniciativa que deve ser espalhada”.

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Com informações do Porvir.

Carnaval fora de época, mas dentro do tom

 

"Enquanto houver racismo, não haverá democracia", diz a mensagemm levada pela Beija-Flor de Nilópolis para a Sapucaí Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Depois de um recesso forçado pela pandemia, o Carnaval 2022 sublevou a lógica do calendário gregoriano ao ocorrer depois da Quaresma no Brasil. Porém, ao encarnar uma espécie de imersão espontânea e coletiva da comunidade do samba em suas raízes africanas, a festa não poderia ter se dado mais dentro do tom.

Como antecipei em janeiro no artigo “Hoje cativeiro é favela”, muitos dos enredos do grupo especial do RJ e de SP trouxeram temas relacionados à influência negra na construção da nossa sociedade, exaltando a cultura, o culto aos orixás, a resiliência e o talento herdados dos africanos.

Mazelas decorrentes do racismo institucionalizado desfilaram pelas avenidas: a cor da pele como fator determinante para a prisão de inocentes, os homicídios que vitimam de maneira seletiva e preferencial pretos e pardos e o vandalismo em terreiros de candomblé. Também não faltou exemplo do desleixo com a segurança pública, o que coloca em risco vidas como a da menina negra que perdeu a perna e morreu depois de ser prensada entre um poste e um carro alegórico.

Tudo exposto aos olhos do mundo em forma de espetáculo cênico musical na maior festa popular do país. Uma verdadeira catarse frente a manifestações reiteradas de ódio e ataques às liberdades, às instituições e à democracia. Foi lindo ver a alegria de um povo que subverte a lógica, resiste e insiste em ser feliz.

Para completar, uma coincidência fez com que o período dos desfiles compreendesse o 23 de abril, dia dedicado aos festejos de Ogum, orixá guerreiro, que quebra demandas e abre caminhos, afastando inimigos e injustiças.

Evidente que o Carnaval não é invenção brasileira, mas o espetáculo grandioso dos últimos dias é genuinamente nacional e o surgimento das escolas de samba se deu entre as classes populares, na década de 1920. Num momento turvo, nada mais simbólico do que um desfile essencialmente dedicado a falar de pertencimento, representatividade e respeito à diversidade.

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Por Ana Cristina Rosa, na Folha de São Paulo e reproduzido no Geledés.

Carlos Alberto Tolovi: A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto

 

Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social Podcast).

Em 29 de dezembro de 2018, logo após o processo eleitoral ter chegado ao fim e colocado no poder um representante da extrema direita, o Jair Messias Bolsonaro, o Blog Negro Nicolau (BNN) entrou em contato com o professor da Universidade Regional do Cariri (URCA), o Dr. Carlos Alberto Tolovi.

A entrevista foi uma das mais acessadas do Blog desde o seu lançamento em 2011 e, por isso mesmo, resolvemos republicá-la.

Naquela oportunidade, ressaltamos que o resultado das eleições trouxe a cena uma questão fundamental e com ela outras tantas. Quais os desafios do Brasil pós-eleição? Quais as estratégias que devem ser tomadas para que os a margem do poder não sejam cada vez mais massacrados nesses quatro anos vindouros? Como os movimentos sociais devem se comportar? É possível um diálogo mais eficiente entre partidos de esquerda e os movimentos sociais? Como isso deve ser feito para atingir os menos favorecidos?

Para contribuir com essas e tantas outras questões e desafios, o Blog entrevistou o filósofo, Dr. em Ciências da Religião e autor de dois livros, Carlos Alberto Tolovi. Tolovi afirma que a vitória de Bolsonaro foi uma “tragédia” social no Brasil e que ele representou a “construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente.”

O filósofo, autor dos livros “Mito, Religião e Política. Padre Cícero e Juazeiro do Norte” (Editora Prismas, 2019) e “Moral e Ética nas Relações de Poder” (Editora Brazil Publishing, 2021), ressalta que nas disputas ideológica o campo da educação é o mais importante, sendo a diversidade uma constante ameaça.

Não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo. A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto, disse.

Leia a entrevista concedida por e-mail ao Blog Negro Nicolau (BNN).

Blog Negro Nicolau (BNN). Você é conhecido por ser um professor ligado aos movimentos sociais, inclusive os de linhagem religiosa. No que pese a política partidária usou muito sua rede social facebook para se manifestar contra o candidato eleito Jair Bolsoanro (PSL). A que você credita a vitória de Bolsonaro?

Carlos Alberto Tolovi. Quando um filósofo ou um sociólogo, com bases marxistas como eu, tenta entender o fato de um candidato de extrema direita se eleger com os votos de grande número de trabalhadores, nós corremos o risco de responder dentro de um esquema fechado, que não dá conta do fenômeno ocorrido. Em minha perspectiva, entre os diversos fatores que contribuíram para essa “tragédia” social no Brasil, eu coloco uma questão que se encaixa dentro de um padrão universal: sempre que for possível construir um caos social e a partir do mesmo colocar em destaque uma narrativa ordenadora, que responda aos desejos e necessidades da coletividade, é possível produzir um mito. Porém, esse mito sempre nasce com desejo de sacrifício. E nesse esquema, o sacrificado é sempre aquele que não possui poder de reação. Neste contexto, Bolsonaro não era apenas um candidato. Ele era a construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente. Assim, em nome de um reordenamento por meio de uma moral colonialista, foi possível criar uma “onda devastadora” que diabolizou e condenou todos os focos de resistência das minorias sociais no campo da luta de classes. A partir da diabolização do Partido dos Trabalhadores foi possível rotular de forma condenatória todos os partidos e movimentos de esquerda em nosso país. Paulo Freire já nos alertava que uma das formas de dominação e opressão viria da mitologização da realidade.

BNN. O que esperar de um governo em que o eleito já demonstrou ser contra todos os direitos das maiorias sociais, porém minorias nos espaços de poder?

Tolovi. Hoje é muito comum encontrar pessoas que não votaram em Bolsonaro com o seguinte discurso: “vamos esperar, quem sabe ele não seja tão ruim como nos parece! Quem sabe ele nos surpreende?” Por outro lado, os que contribuíram com a sua eleição afirmam: “ele nem assumiu ainda e vocês já estão condenando!” Em meio a esses discursos, uma coisa já aprendemos nas lições da história: o que vimos de bom especificamente para os mais pobres vindo da classe política denominada como direita? Você poderia destacar uma conquista social, como os direitos da classe trabalhadora, que não veio com suor e sangue de pessoas inseridas nas lutas denominadas como esquerda? Pois é! Se Bolsonaro se elegeu canalizando as energias e investimentos da elite do nosso país, como os banqueiros, os fazendeiros, os médicos, enfim, os que podem ser chamados de burguesia, o que podemos esperar desse governo? Que ele traia a classe que o elegeu ou que ele sacrifique as minorias no campo do poder para saciar a fome dos capitalistas inescrupulosos?

BNN. O presidente eleito irá colocar no Ministério da Educação o professor e filósofo colombiano Ricardo Velez Rodriguez. Ele foi indicado pelo escritor e jornalista Olavo de Carvalho e teve o apoio da bancada evangélica. É possível ter uma educação voltada para o reconhecimento e valorização da diversidade nesse governo?

Tolovi. Bem, se foi indicado por Olavo de Carvalho – um intelectual banal  e “prostituto” da direita; se foi aprovado pela bancada evangélica – tendo como referência Edir Macedo e Silas Malafaia, dois grandes representantes da religião como forma de dominação; e se foi aprovado por Bolsonaro, então, o que esperar desse ministro? Não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo. A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto.

BNN. Houve mudanças no quadro do congresso nacional que foi eleito nessas últimas eleições. Acreditas que essas mudanças se darão também em ações que beneficiem aqueles a margem do poder?

Tolovi. Quando vemos um ator pornô, um palhaço, e tantos outros personagens que chegaram ao poder na “onda do golpe”, desencadeado pelo legislativo, apoiado pelo judiciário e alimentado pela grande mídia, nos perguntamos: o que devemos esperar? Sabemos que na Câmara dos Deputados e no Senado Federal teremos certamente focos de resistência em defesa dos que estão à margem do poder. Contudo, se não ocorrer o fortalecimento e a união dos movimentos sociais, fortalecendo os partidos de esquerda em nosso país, é muito difícil esperar políticas públicas voltadas aos menos favorecidos.

BNN. A grande sacada de Bolsonaro e de seus seguidores eleitos para o campo da educação é o projeto “Escola sem Partido”. Se aprovado, didaticamente falando qual o efeito que ele terá?

Tolovi. Como o campo da educação está em disputa tendo em vista o controle do Estado, precisamos desmontar essa narrativa ideológica. Em primeiro lugar, você conhece alguma “Escola com partido”? Aqueles que sustentam os partidos de direita e extrema direita em nosso país, propõem uma “Escola sem Partido". Mas, estão fazendo essa proposta pensando em todas as escolas? É claro que não! Apenas para as escolas públicas, onde estão as crianças, os adolescentes e jovens dos trabalhadores. Afinal, é nas escolas que estes poderiam despertar, fazendo uma leitura crítica da realidade e não aceitando ser mão de obra barata para o mercado de trabalho. Os dominadores já perceberam que as escolas e Universidades públicas representam focos de resistência diante de suas propostas de “colonização moderna”.

BNN. Certa vez no programa “Esperança do Sertão”, da Rádio Comunitária Altaneira FM, você chegou a afirmar “quer acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação e a cultura". Um seguidor militar de Bolsonaro e que fala sobre educação chegou a dizer que é preciso trazer “a verdade” sobre o período da ditadura civil-miliar no Brasil para os livros escolares. Que efeito prático tem essa frase?

Tolovi. Somente pela educação e pela cultura é possível desencadear um processo de colonialidade – uma forma de colonização da subjetividade. A maneira de fazer o colonizado assumir a visão de mundo e a defesa do colonizador. Sem esquecer que a moral e a religião encontram-se nesse campo cultural. Afinal, são duas dimensões essenciais para fazer o explorado defender o seu próprio explorador, pois o dominado assume os valores morais da classe dominante.

E com relação a afirmação do professor sobre a “verdade da ditadura”, nos serve para refletir sobre esse termo: a verdade. Para um povo que assumiu as verdades dos invasores e colonizadores, denominados como “descobridores”, não é de se estranhar uma afirmação como essas. O estranho foi descobrir nessas últimas eleições a quantidade de professores preconceituosos, machistas e fascistas que temos em nossas escolas. Nos faz refletir sobre os nossos processos formativos em nossas Universidades.

BNN. Bolsonaro já formou seu quadro de ministros que irão exercer suas funções a partir de janeiro. Qual avaliação você faz dessas escolhas?

Tolovi. Sem novidades! Pessoas que desprezam a diversidade, a educação pública, as políticas públicas, as manifestações culturais e as necessidades dos negros e dos índios, etc. etc.. Inclusive com Sergio Mouro, para passar uma imagem de um governo sério. Afinal, se o desejo é o sacrifício dos menos favorecidos para atender à “necessidade” de concentração de renda, é preciso um “Capitão do Mato” para caçar os “escravos rebeldes”. É preciso alguém que ajude a conter os movimentos de esquerda. Por isso tantos militares também no poder.

BNN. A democracia está em risco com o governo Bolsonaro?

Tolovi. Penso que não esteja em risco, mas já profundamente comprometida.

BNN. Fernando Haddad (PT) foi colocado de última hora para disputar a presidência. No fundo, a ala petista ainda acreditaria na soltura do Lula. Chegou no segundo turno, porém não venceu. A escolha do PT em apostar todas suas fichas no Lula foi um erro?

Tolovi. Não creio que o PT acreditava na soltura de Lula. O esquema do golpe foi bem montado e era preciso tirar Lula do caminho para que o mesmo funcionasse até o fim. O que o PT não contava era com a eficiência da estratégia do esquema montado em torno de Bolsonaro. Favorecido pela facada, que justificou a sua ausência nos debates e possibilitou o seu “silêncio”, alimentando a imagem da vítima com poder de reação por meio das redes sociais que alimentou incessantemente o ódio por tudo o que representava a diversidade frente a moral eurocêntrica.

BNN. Tu acreditar que Lula é um preso político?

Tolovi. Certamente! Porque devemos aderir à campanha do “Lula Livre”? Porque a trama que envolve a prisão de Lula faz parte de um golpe ainda em curso, com características de fascismo que, como afirmei anteriormente, compromete a nossa “jovem” democracia.

BNN. Guilherme Boulos (PSOL) é tido como a grande aposta do campo da esquerda para 2022, embora tenha tido uma votação inexpressiva. Qual sua avaliação sobre ele?

Tolovi. Foi o candidato que mais apresentou um plano de governo que serviria de alternativa viável frente ao capitalismo neoliberal. Foi quem mais denunciou de forma competente o sistema hegemônico vigente e quem mais apontou caminhos para a saída desse impasse gerado equivocadamente pela tentativa de “conciliação de classes”. Precisamos de alguém que assuma de fato algumas bandeiras socialistas viáveis nesse momento histórico, e não tenha medo de se assumir representante da Esquerda, voltado para as necessidades dos menos favorecidos.

BNN. O aparecimento de Bolsonaro acabou por acender a chama dos movimentos sociais. Boaventura de Sousa Santos disse em novembro último que os movimentos sociais são a chave para a reinvenção das esquerdas. Você concorda?

Tolovi. Certamente! São os movimentos sociais que alimentam e fortalecem os partidos de esquerda. São os movimentos sociais que são capazes de desencadear uma narrativa desmitologizante. São os movimentos sociais que fomentam o empoderamento das bases, onde se encontram os núcleos de resistência e de luta.

BNN. Que lição se pode tirar dessas eleições?

Tolovi. Um dos maiores erros do PT no poder - entre tantos outros -, foi ter assumido uma roupagem de conciliador. Enquanto incorporou diversas lideranças sociais ao poder executivo, acomodando os movimentos e as organizações de base, ofereceu espaço e tempo para que a elite brasileira formulasse um “golpe fatal”. Diante disso temos de aprender: a luta pela justiça social e equidade vai muito além de uma proposta de igualdade. Exige uma cultura de organização das bases, resistência e mobilizações permanentes.

3 contos indígenas para mostrar outra visão de mundo às crianças

 

Ilustração/ Alarcão.

As lendas indígenas brasileiras são marcadas por histórias que tratam da natureza e da origem das coisas, sempre cercadas de elementos místicos. São contos tão encantadores que até mesmo escritores como Clarice Lispector, Câmara Cascudo e Walcyr Carrasco já se debruçaram sobre eles. Aqui reunimos três fábulas indígenas que trazem essa visão de mundo – e que certamente vão levar muita conversa para dentro da sala de aula. Confira:

O nascimento do mundo

Lenda maori recontada por Maria de la Luz

No início só havia Kore, a energia, vagando na escuridão do espaço infinito. Então, veio a luz e surgiram Ranginui, o Pai Céu, e Papatuanuku, a Mãe Terra. Rangi e Papa tiveram muitos filhos: Tangaroa, deus das águas; Tane, deus das florestas; Tawhirmatea, deus dos ventos; Tumatauenga, deus da guerra, que deu origem aos seres humanos; e Uru, que não era deus de nada.

Rangi e Papa viviam num perpétuo abraço de amantes. Acontece que esse enlace apaixonado não deixava a luz penetrar entre seus corpos, onde ficavam os filhos. Obrigados a viver apertados e sempre no escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação.

– Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles! – disse Tumatauenga.

– Não! – disse Tane. – Vamos apenas separálos, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar.

Todos acharam a ideia excelente.

Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força.

Os pais se separaram, mas – oh, decepção! – só um pouco de luz chegou ao mundo dos filhos. Além disso, Rangi e Papa estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio.

Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da noite.

Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela fez ondular as águas azuis dos mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a povoar o mundo recém-criado.

Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no novo mundo, Ranginui ficou doente de inveja. Sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta.

Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava por não ter sido útil em nada aos pais e aos irmãos. Para que ninguém percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas Tane tudo percebera:

-Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda!

– Nada tenho para dar, você bem sabe!

– Ora, Uru, você tem tantas cestas…

Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou a cabeça: – Não tem nada dentro delas, irmão.

Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados. As lágrimas de Uru haviam se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)!

– Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai… Uru concordou. As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando sobre o manto de Rangi milhares de estrelinhas que riam e piscavam umas para as outras o tempo todo.

Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem numa grande faixa chamada Ikaroa, que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a “cauda” da nossa constelação do Escorpião) no espaço celeste, onde se tornaram os guardiões das estrelas.

A dança do arco-íris

Lenda indígena recontada por João Anzanello Carrascoza

Há muito e muito tempo, vivia sobre uma planície de nuvens uma tribo muito feliz. Como não havia solo para plantar, só um emaranhado de fios branquinhos e fofos como algodão-doce, as pessoas se alimentavam da carne de aves abatidas com flechas, que faziam amarrando em feixe uma porção dos fios que formavam o chão. De vez em quando, o chão dava umas sacudidelas, a planície inteira corcoveava e diminuía de tamanho, como se alguém abocanhasse parte dela.

Certa vez, tentando alvejar uma ave, um caçador errou a pontaria e a flecha se cravou no chão. Ao arrancá-la, ele viu que se abrira uma fenda, através da qual pôde ver que lá embaixo havia outro mundo.

Espantado, o caçador tampou o buraco e foi embora. Não contou sua descoberta a ninguém.

Na manhã seguinte, voltou ao local da passagem, trançou uma longa corda com os fios do chão e desceu até o outro mundo. Foi parar no meio de uma aldeia onde uma linda índia lhe deu as boas-vindas, tão surpresa em vê-lo descer do céu quanto ele de encontrar criatura tão bela e amável. Conversaram longo tempo e o caçador soube que a região onde ele vivia era conhecida por ela e seu povo como “o mundo das nuvens”, formado pelas águas que evaporavam dos rios, lagos e oceanos da terra. As águas caíam de volta como uma cortina líquida, que eles chamavam de chuva. “Vai ver, é por isso que o chão lá de cima treme e encolhe”, ele pensou. Ao fim da tarde, o caçador despediu-se da moça, agarrou-se à corda e subiu de volta para casa. Dali em diante, todos os dias ele escapava para encontrar-se com a jovem. Ela descreveu

para ele os animais ferozes que havia lá embaixo. Ele disse a ela que lá no alto as coisas materiais não tinham valor nenhum.

Um dia, a jovem deu ao caçador um cristal que havia achado perto de uma cachoeira. E pediu para visitar o mundo dele. O rapaz a ajudou a subir pela corda. Mal tinham chegado lá nas alturas, descobriram que haviam sido seguidos pelos parentes dela, curiosos para ver como se vivia tão perto do céu.

Foram todos recebidos com uma grande festa, que selou a amizade entre as duas nações. A partir de então, começou um grande sobe-e-desce entre céu e terra. A corda não resistiu a tanto trânsito e se partiu. Uma larga escada foi então construída e o movimento se tornou ainda mais intenso. O povo lá de baixo, indo a toda a hora divertir-se nas nuvens, deixou de lavrar a terra e de cuidar do gado. Os habitantes lá de cima pararam de caçar pássaros e começaram a se apegar às coisas que as pessoas de baixo lhes levavam de presente ou que eles mesmos desciam para buscar.

Vendo a desarmonia instalar-se entre sua gente, o caçador destruiu a escada e fechou a passagem entre os dois mundos. Aos poucos, as coisas foram voltando ao normal, tanto na terra como nas nuvens. Mas a jovem índia, que ficara lá em cima com seu amado, tinha saudade de sua família e de seu mundo Sem poder vê-los, começou a ficar cada vez mais triste. Aborrecido, o caçador fazia tudo para alegrá-la. Só não concordava em reabrir a comunicação entre os dois mundos: o sobe-e-desce recomeçaria e a sobrevivência de todos estaria ameaçada.

Certa tarde, o caçador brincava com o cristal que ganhara da mulher. As nuvens começaram a sacudir sob seus pés, sinal de que lá embaixo estava chovendo. De repente, um raio de sol passou pelo cristal e se abriu num maravilhoso arco-íris que ligava o céu e a terra. Trocando o cristal de uma mão para outra, o rapaz viu que o arco-íris mudava de lugar.

– Iuupii! – gritou ele. – Descobri a solução para meus problemas!

Daquele dia em diante, quando aparecia o sol depois da chuva, sua jovem mulher escorregava pelo arco-íris abaixo e ia matar a saudade de sua gente. Se alguém lá de baixo se metia a querer visitar o mundo das nuvens, o caçador mudava a posição do cristal e o arco-íris saltava para outro lado. Até hoje, ele só permite a subida de sua amada. Que sempre volta, feliz, para seus braços.

O céu ameaça a terra

Lenda contada por Betty Mindlin

Meninos e meninas do povo ikolen-gavião, de Rondônia, sentam-se à noite ao redor da fogueira e olham o céu estrelado. Estão maravilhados, mas têm medo: um velho pajé acaba de contar como, antigamente, o céu quase esmagou a Terra.

Era muito antes dos avós dos avós dos meninos, era no começo dos tempos. A humanidade esteve por um fio: podia ser o fim do mundo. Nessa época, o céu ficava muito longe da Terra, mal dava para ver seu azul.

Um dia, ouviu-se trovejar, com estrondo ensurdecedor. O céu começou a tremer e, bem devagarinho, foi caindo, caindo. Homens, mulheres e crianças mal conseguiam ficar em pé e fugiam apavorados para debaixo das árvores ou para dentro de tocas. Só coqueiros e mamoeiros seguravam o céu, servindo de esteios, impedindo-o de colar-se à Terra. Talvez as pessoas, apesar do medo, estivessem experimentando tocar o céu com as mãos…

Nisso, um menino de 5 anos pegou algumas penas de nambu, “mawir” na língua tupi-mondé dos índios ikolens, e fez flechas. Crianças dos ikolens não podem comer essa espécie de nambu, senão ficam aleijadas. Era um nambu redondinho, como a abóbada celeste.

O céu era duríssimo, mas o menino esperto atirou suas flechas adornadas com plumas de mawir. Espanto e alívio! A cada flechada do garotinho, o céu subia um bom pedaço. Foram três, até o céu ficar como é hoje.

Em muitos outros povos indígenas, do Brasil e do mundo, há narrativas parecidas ou diferentes sobre o mesmo assunto. Fazem-nos pensar por que céu e Terra estão separados agora… O povo tupari, de Rondônia, por exemplo, conta que era a árvore do amendoim que segurava o céu. (Bem antigamente, dizem, o amendoim crescia em árvore, em vez de ser planta rasteira.)

Antes de o céu subir para bem longe, os ikolens podiam deixar a Terra e ir morar no alto. Iam sempre que ficavam aborrecidos com alguém, ou brigavam entre si, e subiam por uma escada de cipó. Gorá, o criador da humanidade, cansou de ver tanta gente indo embora e cortou o cipó, para a Terra não se esvaziar demais.

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Com informações da Nova Escola.


Tolovi: “A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto”

 

Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social Podcast).

Por Nicolau Neto, editor

Em 2018, o Brasil testemunhava um dos maiores retrocessos desde o projeto português de colonização e que implantou a escravização dos povos originários, inicialmente e, de povos africanos, posteriormente, como a principal ferramenta de sua manutenção. Naquele fatídico dia 28 de outubro, o capitão reformado do exército que desde 1991 estava como deputado federal, mas que pouco aparecia na mídia, não por decisão própria, mas porque nada tinha pra mostrar nesses anos todos como parlamentar, elegeu-se presidente com mais de 57 milhões de votos. 55,1% no segundo turno. Algo inimaginável para um país que carrega na sua trajetória política dois imperadores e dois processos ditatoriais. Estes últimos já no século passado.

Mesmo assim, dois meses depois do resultado das eleições de 18, este Blog entrevistou o professor universitário, filósofo e autor dos livros “Mito, Religião e Politica. Padre Cícero e Juazeiro do Norte” (2019) e Moral e Ética nas Relações de Poder” (2021), o Dr. Carlos Alberto Tolovi. Naquela oportunidade, algumas questões nortearam a entrevista, como por exemplo. Quais os desafios do Brasil pós-eleição? Quais as estratégias que devem ser tomadas para que os a margem do poder não sejam cada vez mais massacrados nesses quatro anos vindouros? Como os movimentos sociais devem se comportar? É possível um diálogo mais eficiente entre partidos de esquerda e os movimentos sociais? Como isso deve ser feito para atingir os menos favorecidos?

Para Tolovi, a vitória de Bolsonaro foi uma “tragédia” social no Brasil e que ele representou a “construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente”.

O professor foi taxativo ao destacar que o processo que culminou na vitória de Bolsonaro representa ações de um movimento fascista e lembrou que “não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo”.

Para complementar, asseverou:

A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto.

2022 chegou e os desafios são enormes, a começar pela retirada da cadeira de presidente daquele que representa um perigo para a já fragilizada democracia; para os menos favorecidos; para negros/as e povos originários; para a comunidade lgbtqia+......

Quer reler essa entrevista? É só clicar aqui.

Mateus Aleluia receberá título de Doutor Honoris Causa por universidade da Bahia

 

(FOTO/ Vinícius Xavier/ Divulgação).

Os anos dedicados à pesquisa antropológica e cultural no Brasil e em África, além de sua contribuição à arte através da música renderão à Mateus Aleluia o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A concessão foi aprovada nesta semana e tem peso simbólico pelo artista ter nascido em Cachoeira e iniciado a sua carreira no Recôncavo, mesma região de onde receberá a honraria.

De acordo com publicação feita pela instituição de ensino, o título foi recomendado por uma comissão formada pelos docentes do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (CECULT), Armando Alexandre Costa de Castro, Mariana Balen Fernandes, Anderson Fabrício Andrade Brasil, Fábio Leão Figueiredo e Mariella Pitombo Vieira.

A universidade ressaltou os feitos do artista,que levaram ao reconhecimento de Doutor. Mateus Aleluia, junto ao amigo Dadinho, foi responsável pelo perfil artístico ideológico dos "Tincoãs", considerado o primeiro grupo vocal a expressar, na história da Música Popular Brasileira, a herança cultural – musical e linguística – de diferentes povos africanos que chegaram ao Brasil. Os dois músicos, a partir de 1983, passaram a viver em Angola. Nas duas décadas que viveram por lá lançaram o último disco dos Tincoãs, mas foi à pesquisa antropológica e cultural que Mateus dedicou grande parte do seu tempo.

Aleluia ainda foi contratado pela Secretaria de Cultura de Estado de Angola, viajou o país ao encontro de mestres e mestras dos mais diversos saberes. No retorno ao Brasil, em continuidade à sua trajetória artística, lançou dois aclamados álbuns, ‘Cinco Sentidos’ e ‘Fogueira Doce’, que junto com a obra dos Tincoãs são referenciados como matrizes culturais afro-brasileiras, trajetória que levou a instituição federal à concessão do título.

Pesquisa musical pan-africana

Mateus Aleluia lançou no dia 30 de novembro o seu novo projeto “Nações do Candomblé”. O trabalho é fruto da pesquisa musical pan-africana do artista no Benin, na África Ocidental, e é dividido em duas produções: o álbum “Afrocanto das Nações - Jêje” e o museu virtual homônimo ao título do projeto “Nações do Candomblé”. Nesta fase, o cantor e compositor apresenta seus estudos mais recentes no âmbito da ancestralidade ritualística.

As conexões entre os cantos, práticas e modos de vida advindas dos cultos pesquisados foram alvo da escuta atenta do cantor que criou um álbum de canções inéditas com a sua leitura das relações entre esses cantos e a relação do homem com o sagrado e um museu virtual que apresenta, através de fotografias, vídeos e textos, o material de pesquisa e todo o processo de composição da obra.

O álbum já está em todas as plataformas digitais e o museu pode ser visitado através do link.

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Com informações do Alma Preta.

Livro que reúne ensaios de mulheres negras nordestinas é lançado neste sábado (20), Dia da Consciência Negra

(FOTO/ Divulgação).

Com textos escritos no contexto da pandemia da Covid-19, o livro “Insubmissão Intelectual de Mulheres Negras Nordestinas”, da editora Diálogos Insubmissos, reúne nove ensaios de mulheres negras dos estados do Nordeste. A publicação será lançada neste sábado (20), Dia da Consciência Negra. A obra marca a estreia da plataforma Diálogos Insubmissos enquanto editora de livros e é fruto de parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo. 

Organizado por Dayse Sacramento (doutoranda, professora e editora), Manoela Barbosa (doutoranda, pesquisadora e consultora) e Nubia Regina (professora e doutora), “Insubmissão Intelectual de Mulheres Negras Nordestinas” é o primeiro livro a ser lançado pelo projeto no formato impresso. A obra já havia sido publicada em E-Book anteriormente. A distribuição será gratuita e uma cota dos exemplares será doada para organizações de mulheres negras e uma escola pública de cada estado indicada pelas autoras do livro. “Nos interessa, com a publicação, romper com os estereótipos regionais e raciais, trazendo para a cena imagens positivadas de pessoas negras, sobretudo de mulheres negras e suas intelectualidades em movimento”, explica Dayse Sacramento, idealizadora do Diálogos Insubmissos.

O livro traz nove ensaios que foram escritos em 2020, no contexto da pandemia de coronavírus. “As narrativas foram escritas na coexistência entre razão e emoção; objetividade e subjetividade; ativismo e academicismo”, explica Núbia Regina no prefácio.

Entre os ensaios que compõem a publicação estão: “Pandemia de Covid-19: entre vidas negras e a morte”, da baiana Joanice Conceição; “Memória como lugar de origem”, da alagoana Kika Sena; “Mulheres negras: tramando resistências e liberdade no Ceará”, da cearense Francisca Maria Rodrigues Sena; “Filha, diga o que vê. Sopro ancestral e escrita feminina afro-brasileira”, da paraibana Danielle de Luna e Silva; “Nordeste maravilha. Recife: coração cultural do Brasil”, da pernambucana Denise ´Ògún Botelho; “A minha história é talvez igual a sua. Viveres de uma mulher negra no Brasil do tempo presente”, da piauiense Iraneide Soares da Silva; “Mulheres afro-potiguares: uma experiência de aquilombamento”, da potiguar Stéphanie Campos Paiva Moreira; “Tempos de atravessar: eu, mulher negra, movo-me sem cessar”, da sergipana Yérsia Souza de Assis e “Futuro possível é a construção de um passado que garante o presente”, da maranhense Zica Pires. Assinam o texto de apresentação do livro Dayse Sacramento e Manoela Barbosa, e o prefácio é de Núbia Regina Moreira. A obra é bilíngue, traduzida para o espanhol pela tradutora Camila Barros.

O evento de lançamento é para convidades e está marcado para o dia 20 de novembro (sábado), às 16h, no Teatro e no pátio do Goethe-Institut, Corredor da Vitória, Salvador (BA). O acesso dos convidados se dará a partir da entrega de um pacote de absorvente, que será doado para pessoas que menstruam, beneficiárias do Corra pro Abraço, programa que tem como objetivo promover cidadania e garantir direitos de pessoas em contextos de vulnerabilidade social.

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Com informações da Revista Afirmativa.

Roda Viva entrevistou 13 convidados negros em quatro anos

(FOTO/ Reprodução/ TV Cultura).

Nesta semana, o programa Roda Viva da TV Cultura completou 35 anos de existência, o que o faz ser considerado o mais antigo do gênero na televisão brasileira. A importância e relevância do programa de entrevistas e debates se mostra histórica ao registrar as ideias, pensamentos e análises de quase 2 mil personalidades das mais diversas áreas de conhecimento que já passaram por ali desde a estreia, em 29 de setembro de 1986. Entretanto, há pouca presença de entrevistados negros na atração, ainda que avanços sejam notados nos últimos anos por conta da cobrança por diversidade.

Segundo levantamento feito pelo Coletivo Lójúkojú, lançado em 2020, o programa Roda Viva teve apenas 13 (6,34%) entrevistados negros no período de 11 de janeiro de 2016 a 22 de junho de 2020, em um total de 205 programas analisados no formato convencional de entrevistas.

Notou-se também uma baixa representatividade, no período analisado, de pessoas indígenas (0,45%) e amarelas (1%), sendo as pessoas brancas 92,21% das sabatinadas pelo programa. Além disso, somente 10% das pessoas entrevistadas eram mulheres, sendo que, destas, 9% eram negras. Apenas 1,5% das pessoas possuíam algum tipo de deficiência.

Nos programas em formato de debate do Roda Viva, ou seja, especiais temáticos com mais de um convidado no centro da roda, somente 12 debatedores (6,48%) eram negros, em um total de 41 programas e 185 convidados.

“A produção do Roda Viva tem procurado aumentar a diversidade de temas e entrevistados, bem como dos entrevistadores já desde o início desta administração, em junho/julho de 2019. Isso se manifesta nas reuniões de pauta e na preocupação de toda a equipe”, explica Leão Serva, diretor de Jornalismo na TV Cultura.

Neste ano, até a última segunda-feira (27), a Alma Preta Jornalismo levantou que 9 pessoas negras passaram pelo centro da roda do programa em um total de 44 convidados, dentre episódios no formato convencional de entrevistas ou de debates. Durante o ano de 2020, foram 8 pessoas negras em um total de 53 sabatinados.

Pressão por avanços em torno da diversidade

De acordo com Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e entrevistada do Roda Viva no programa de maio deste ano, a representatividade negra na mídia aumentou a partir dos anos 2000 como um dos resultados da Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, na África do Sul.

“À medida que há um crescente de mobilização negra, ela se desdobra em maior participação e presença negra na mídia, que não costuma ser sustentável, ou seja, vem em ciclos. Tem mobilização negra, a presença acontece, se a mobilização se torna invisível, a presença desaparece”, destaca.

Atualmente, o Roda Viva é transmitido também pela internet, o que contribui para um contato direto com o posicionamento do público, gerado, principalmente, em redes sociais. Essa interação provoca cobranças por uma maior diversidade no programa, não só em relação aos entrevistados, mas também sobre as pessoas na bancada de entrevistadores.
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Com informações do Alma Preta. Leia o texto completo aqui.

Maria Gal entrevista Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos

Ivanir dos Santos. (FOTO/ Divulgação).

A coluna faz uma reflexão sobre a presença e visibilidade de pessoas negras no audiovisual.

“Tenho a coluna há um tempo na Vogue Gente. E de um tempo para cá optei em fazer também entrevistas na coluna. E pela primeira vez entrevistei o Babalawô e professor Ivanir dos Santos, o que foi uma honra. É muito importante ouvirmos quem veio antes de nós. A troca e aprendizado de poder conversar sobre a presença do negro no audiovisual brasileiro desde o início da TV. Tenho certeza que esta entrevista trará muita reflexão”, atesta Maria Gal.

Para o Prof. Ivanir dos Santos: “Temos muito o que falar, nossa representativa precisa ser contada, mas da forma correta. Com narrativas qualitativas, feitos e pensamentos transformadores para a sociedade”, atestou Ivanir.

A atriz Maria Gal é também apresentadora, palestrante, criadora de conteúdo e produtora. Já se apresentou no Brasil e no exterior, com prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema, em Madrid. Com passagens por diversas emissoras é colunista de diversidade na VOGUE e produz para cinema/TV e mídias digitais conteúdos que têm sinergia com a temática racial e feminina, através de sua produtora "Maria Produtora".

Seu entrevistado, atua há 40 anos em prol das liberdades, dos direitos humanos, das pluralidades contra o racismo e a intolerância religiosa, Ivanir dos Santos recebeu o prêmio International Religious Freedom (IRF), em julho de 2019.

Entregue pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Foi o único líder religioso do Ocidente a ser premiado. Ao olhar para a trajetória de vida e militância, dentro e fora da esfera social, cultural, religiosa, política e acadêmica, o seu nome desponta como uma referência. É interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR). Pós-doutorando em História Comparada pela UFRJ (PPGHC/UFRJ). Coordenador de área de pesquisa no Laboratório de História das Experiências Religiosas da UFRJ (LHER). Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Conselheiro Estratégia do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), entre outros.

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Texto encaminhado ao Blog por Rozângela Silva, Assessora de Imprensa.

Cimi avalia que ‘pelo menos 300 parlamentares são anti-indígenas’

 

Representantes dos povos indígenas se reúnem no Acampamento Levante da Terra, em junho, na luta contra o PL 490. (FOTO/ facebook.com/conselhoindigenistamissionario).

O secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário, Eduardo de Oliveira, cita nomes e números relacionados a deputados e senadores eleitos com financiamento do agronegócio, além de apontar ministros e autoridades que promovem destruição da Amazônia e violências contra povos indígenas do país, representadas na atual conjuntura pela tramitação do Projeto de Lei 490 na Câmara Federal. Aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), esse PL pretende abrir as terras indígenas para exploração econômica predatória e na prática inviabiliza demarcações.

Ilegalmente, integrantes das bancadas da bíblia, bala, mineradoras, empreiteiras e ruralistas estão dispostos a eliminar cláusulas pétreas da Constituição Federal – o termo retira o “poder constituinte reformador”, ou seja, proíbe parlamentares que compõem as sucessivas legislaturas de alterar o que somente poderia ser modificado se fosse promulgada uma nova Constituição – o que inclui direitos indígenas sobre territórios, organização social e tradições.

Sem diálogo

Parlamentares anti-indígenas rechaçam o diálogo com caciques, e responderam à sua presença na Câmara Federal com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha lançadas pela polícia legislativa, em 22 de junho. Expressão de arrogância, autoritarismo e desumanidade em favor da ganância sobre recursos naturais do povo brasileiro. Avançam garimpos, grilagens de terras públicas e ataques de morte contra índios. Presentes em Brasília desde o dia 8, os índios foram intimidados nos dias 8 e 9, pela Polícia Militar do Distrito Federal na tentativa de impedir o Acampamento Levante pela Terra (ALT), que permaneceu por três semanas ao lado do Teatro Nacional.

No dia 16 também enfrentaram policiais armados e bombas quando tentaram negociar com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier. Cerca de 850 homens, mulheres, velhos e crianças resistiram bravamente. Todos os dias cumpriram caminhadas de três quilômetros de ida em sol quente e mais três de volta, até o Congresso Nacional. Tarefa de guerreiros, com seus gritos de guerra, deveriam ser apenas os 70 Guarani e Kaingang chegados da região Sul para os protestos. Mas logo eles tiveram adesões de todas as regiões do país. Hoje, apenas líderes permanecem na capital, mas voltarão em massa em agosto para acompanhar julgamento decisivo que acontecerá no Supremo Tribunal Federal (STF).

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Com informações da RBA. Clique aqui e confira o texto completo.

Fundadora do 1º método de ensino étnico-racial de PE recebe título Notório Saber

 

(FOTO/ Reprodução/ Instagram).

Considerada como a principal liderança afrofuturista dentro da família, Lúcia dos Prazeres - do Quilombo dos Prazeres, que há 100 anos realiza insurgência popular e transformação social - receberá, na próxima quinta-feira (12), um reconhecimento sobre a sua contribuição à formação identitária no estado. A pesquisadora, pedagoga e escritora terá, em mãos, o Título Notório Saber em Cultura Popular, na categoria educação, concedido pela Universidade de Pernambuco (UPE).

A homenageada foi responsável pela criação do primeiro método étnico racial na curricularização escolar no estado e, entre as suas contribuições para academia, o lançamento do livro, em 2019, “Terça Negra no Recife: Narrativas sobre Dança, Música, Espiritualidade e Sagrado”. A obra, resultado do mestrado em Ciências da Religião realizado na Universidade Católica de Pernambuco, serve de coletânea e reúne histórias sobre o fortalecimento da identidade, cultura e espiritualidade da população negra local de acordo com os eventos que aconteciam no Pátio de São Pedro, no Centro do Recife.

Atualmente doutoranda e membra do Observatório das Religiões na mesma instituição que realizou o seu mestrado, a professora ficou conhecida, no Morro da Conceição, por atuar na escola que leva o nome da sua mãe que, em 2020, completa 40 anos. O músico Lucas dos Prazeres, sobrinho de Lúcia, em conversa com a Alma Preta Jornalismo, comemora a conquista compartilhada com a família.

“Fui aluno do Centro Maria da Conceição, onde minha tia Lúcia exercitou a aprendizagem pela prática cultural. Eu, nossa família, alunos e ex-alunos comemoramos esse título, esse reconhecimento público. Ele chega junto com a felicidade de termos o legado centenário deixado pela nossa matriarca maior, que leva o nome do centro, ser levado para frente. Uma famíia de importância contribuição cultural que é reconhecida”, declara Lucas.

A honraria está prevista para acontecer às 9h, presencialmente, dentro da Universidade de Pernambuco. Além de Lúcia dos Prazeres, o título será entregue a 24 mestres selecionados via edital pela instituição. Com a condecoração, a ação acredita que o processo de reconhecimento de lideranças pernambucanas negras e indígenas fortalece a rede de criação e troca, além de visibilizar os seus saberes.

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Com informações do Alma Preta.