Mostrando postagens com marcador ancestralidade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ancestralidade. Mostrar todas as postagens

Cabelo é poder! ancestralidade, memória e revolução político-estética

 

(FOTO | Reprodução | YouTube | Canal Preto).

Considerado por muitos e muitas apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além disso. A simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa. Para os negros e negras que, especialmente desde a década de 1950, desfilam com seus Black Power imponentes, o cabelo transcende o campo da beleza e significa um encontro com a identidade, além de uma ferramenta de afirmação. A trajetória do black power tem início ainda nos anos 1920, quando Marcus Garvey (1887-1940), tido como precursor do ativismo negro pan-africanista na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos para, a partir disso, promover o encontro de negros e negras em diáspora com suas raízes africanas.

Livro “Griots e Tecnologias Digitais” traz artigo exclusivo de blogueiras negras

 

(FOTO | Reprodução).

Griots em algumas culturas africanas refere-se às pessoas mais velhas que contam histórias e consequentemente propagam ensinamentos, e é a partir desta perspectiva que o livro “Griots e Tecnologias Digitais” foi concebido. Organizado por Thiane Neves Barros (UFPA) e Tarcízio Silva (UFABC / Mozilla), a obra tem como objetivo contribuir com o resgate de ensinamentos ancestrais nos debates contemporâneos emergentes. Para tanto, os vários artigos que compõem o livro dialogam com as e os intelectuais negros: Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Clóvis Moura, Milton Santos, Cida Bento, Zélia Amador de Deus, Sueli Carneiro, Abdias Nascimento, Nilma Lino Gomes e Antônio Bispo dos Santos.

“Nossa história, nossa ancestralidade”: conheça a história do quilombo Flores

Gerson e Geneci são as lideranças do Quilombo Flores. (FOTO/ Fabiana Reinholz).

 

Em artigo, a escritora mineira Conceição Evaristo afirmou que "é tempo de formar novos quilombos, em qualquer lugar que estejamos, e que venham os dias futuros. A mística quilombola persiste afirmando: ‘a liberdade é uma luta constante". O tempo de se aquilombar está vivo em muitos tempos e espaços.       

Há mais de seis décadas, o Quilombo da Família Flores tem reafirmado a sua ancestralidade e lutado por pertencimento territorial no bairro Glória, Zona Sul de Porto Alegre. Situado na rua Manduca Rodrigues, o quilombo é o sétimo autorreconhecido da capital gaúcha.

Assim como ocorre com outros quilombos, os Flores vêm sofrendo com ações de reintegração de posse. O episódio mais recente aconteceu em 2015, quando a comunidade foi surpreendida pelo esbulho cometido pela Fundação Marista - Unidade Assunção, localizada ao lado do território. Embora alegue ser proprietária do terreno, a entidade não apresentou registro em seu nome até o momento.

O primeiro esbulho foi numa terça-feira. A gente ouviu um barulho de máquina, fomos ver e o maquinário ia entrando. Eu fui lá para tentar dialogar com o pessoal, entre eles estava um representante do Marista. Eu falava e a máquina continuava tocando, e ele não me deu ouvidos. Tive que chamar o meu advogado, que trouxe os papéis do terreno, dizendo que a gente já tinha, há três meses, reaberto uma ação de usucapião. Havia uma ação que estava arquivada, de 1983. Uma prova que o meu pai já tinha tentado, por meio judicial da lei branca, fazer as coisas corretas. E mesmo assim não fomos ouvidos, mesmo assim eles tentaram passar por cima”, relembra Geneci Flores, liderança do território.

Quilombo para mim é onde a pessoa se sente bem, é onde a pessoa possa vir e se sentir livre. Onde ela mostra o que tem de bom, onde se passa a sua cultura. Um quilombo é a nossa terra, a mãe-terra, onde a gente não se vende
 

Desde o começo do processo, o quilombo perdeu dois terços da área. E, segundo a família, a tentativa de remoção tem como objetivo a ampliação do estacionamento do Colégio Marista Assunção.

Estamos na Justiça Federal, na luta até agora”, frisa Geneci. Nesta ocasião, os Maristas construíram um muro no local. Em 2017, a Fundação Cultural Palmares reconheceu a Família Flores como remanescentes de quilombos.

No final de 2019, técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram até o local para dar início à elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). No processo de titulação quilombola, o RTID é uma etapa obrigatória. Na ocasião, Bethânia Zanatta, antropóloga do Incra responsável pela realização do RTID, havia dito que a situação do Quilombo Flores “é urgente em função da expropriação do terreno”, realizada em 2015 a mando da União Sul Brasileira de Educação e Ensino (USBEE), mantenedora do Colégio Marista Assunção. De acordo com Geneci, em 2021, um funcionário do Incra esteve medindo o terreno. A comunidade ainda segue no aguardo.

Início de tudo

Geneci, 44 anos, juntamente com o seu irmão, Gerson Luís Flores da Silva, 45, são as atuais lideranças do quilombo e salvaguardam a história de seus ancestrais. Nascidos e crescidos no território, contam que na infância costumavam brincar em um córrego do Arroio Cascata que passa nos fundos do território. Nesse “riachinho”, como se refere Geneci, ela relembra que sua mãe o usava para lavar roupas.

Antigamente dava pra tomar banho. Nós tomávamos banho, andávamos de cipó e pulávamos na água, mas devido à poluição, não tem como a gente utilizar. As pessoas estão botando o esgoto todo ali”, lamenta. De acordo com o Atlas da Presença Quilombola em Porto Alegre/RS, o Arroio Cascata era ponto de encontro de mulheres negras e libertas do século XX. Ali, elas lavavam juntas as suas roupas.

Foi o pai de Geneci e Gerson que deu início aos vínculos da família no local. Natural da cidade de Bom Retiro do Sul (RS), migrando para a capital na década de 1930, onde se instalou na região da antiga Ilhota. Em 1955, se mudou para o terreno na Glória, onde se casou com a primeira esposa, que trabalhava para a família Azambuja, dona do lugar, que deu permissão para que eles vivessem ali. Contudo tempo depois, segundo relata Geneci, tentaram retirá-los. “Meu pai tinha esse pressentimento, o medo de que no dia que ele se fosse [falecesse], como ele era uma pessoa doente, eles iam tentar fazer isso. Aí ele entrou na justiça com uma ação de usucapião”, conta.

Após o falecimento da primeira esposa, o patriarca Adão Fausto Flores da Silva conheceu Rosalina da Costa Vasconcelos, mãe de Geneci e Gerson. Juntos, continuaram vivendo no local. “Eles se conheceram num terreiro da prima do meu pai, na grutinha da Glória. Ele batia tambores, fazia o canto. Foi ali onde conheceu a minha mãe”, conta Geneci. Quando se conheceram, Adão era viúvo e Rosalina tinha cinco filhos, frutos de seu primeiro casamento. Eles se casaram em 1975, e Rosalina, que até então morava na Estrada dos Alpes, se mudou, junto de seu pai, Eurico Lopes da Costa, e seus filhos para o território onde hoje se localiza o quilombo.

Da união de Adão e Rosalina, 45 famílias se constituíram. “Tenho irmãos que não moram aqui no quilombo, mas eles sabem que independente de onde forem, são do Quilombo Flores. Eles se autodeclaram quilombolas e isso é muito importante, esse reconhecimento de sua origem”, ressalta Geneci. Atualmente, quatro famílias residem no local.

Localizado em uma zona de classe média da capital gaúcha, Geneci comenta que os moradores do entorno já os reconhecem como quilombo e procuram saber sua história. Situação divergente da que passaram seus pais. “Existia um pouco de preconceito da nossa vizinhança, tudo que acontecia de ruim nas esquinas eles apontavam: ‘deve ser aquela família lá’, quando meus irmãos eram adolescentes, ‘ah deve ser aquela negrada lá do canto’. Tudo que acontecia de errado na rua eles apontavam para nós, a ‘negrada’ do canto da rua, sendo que o nosso reconhecimento vinha mesmo através da comunidade, através da periferia”, desabafa.

Agora, afirma a liderança, a nova geração é uma geração que não se deixou abater. “A geração da minha mãe é uma geração que não tinha muita defesa. A nossa geração agora é uma geração que já tem mais estudo, que tem mais convívio com a população”, complementa.

Sob a proteção de Bará e a herança dos pais

Em frente à casa de Gerson, na entrada do quilombo, uma pequena casinha vermelha chama atenção: trata-se da morada do Bará, de quem Gerson é filho espiritual. Para as religiões de matriz africana, o Orixá Bará é o mensageiro divino, guardião dos templos, casas e cidades. É o dono de todas as portas, de todas as chaves e de todos os caminhos.

_____________

Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e leia o texto completo.

Espetáculo Infantojuvenil “NUANG – Caminhos da liberdade” propõe mergulho na ancestralidade

 

Espetáculo "NUANG" - Caminho da liberdade" propõe mergulho na ancestralidade. (FOTO/ Reprodução/ Notícia Preta).

O espetáculo “NUANG – Caminhos da liberdade”, aborda o período colonial sob a perspectiva de uma criança negra que sabe a beleza que é, e que não possui nenhuma vergonha de si. Do livro original de Janine Rodrigues, concepção, texto adaptado e direção de Tatiana Henrique que também compõe o elenco junto com Samara Costa, Hebert, Said, João Zabeti, dando vida a montagem que contará com oito apresentações que serão gratuitas e vão acontecer às sextas-feiras de 12 em março a 30 de abril, às 19 horas, por plataforma online que será divulgada nas redes sociais @obalufonica.