Quando,
no futuro, escreverem a história desses dias estranhos, um capítulo inteiro –
ou, vá lá, uma nota de pé de página – terá que ser sobre os omissos. Aqueles
que, se esperava, iriam diretamente para a barricada anti-Bolsonaro assim que
se definissem os adversário no segundo turno, e não foram, ou demoraram a ir,
ou se desinteressaram pelo futuro do País e foram cuidar das suas hortas.
Enfim, se omitiram. É claro, nenhum novo apoio declarado ao Haddad no segundo
turno diminuiria a avalanche de votos que elegeu Bolsonaro. Mas os omissos
deveriam ter pensado não na consequência imediata da sua omissão, que era
livrá-los de qualquer suspeita de estarem ajudando (horror!) o PT, mas pensado
em suas biografias. No fim, o ódio ao PT foi maior que o amor pela democracia.
Um
dia, o deputado Jair Bolsonaro lamentou publicamente que a ditadura (que,
segundo ele, nunca existiu, já que o golpe de 64 foi só um movimento de tropas,
como disse, incrivelmente, o ministro Toffoli, presidente, ai de nós, do
Supremo Tribunal Federal), que a ditadura, como eu dizia quando me interrompi
tão rudemente, não tivesse eliminado o Fernando Henrique Cardoso quando podia.
Fernando Henrique, que é um gentleman, nunca respondeu, mas bem que agora
poderia ter dado uma cutucada no capitão, como represália, anunciando seu apoio
a Haddad. Só se manifestou quando chamou de “inacreditável” o discurso de
Bolsonaro no telão da Avenida Paulista, quando este, com a eleição garantida,
anunciou uma faxina no país e o banimento do que chamou de “marginais
vermelhos” do território nacional. A Marina Silva levou 15 dias para decidir
quem apoiava. O Ciro Gomes, em vez de ir para a barricada, foi para a Europa.
Para
não dizerem que estou de má vontade com um governo novo e cheio de planos, dou
minha contribuição. Como será difícil distinguir um marginal vermelho de um
cidadão normal, agora que até a direita usa barba, sugiro que se costure uma
estrela vermelha na roupa dos marginais, para identificá-los. Deu certo em
outros países. (Texto publicado no O
Globo e divulgado na pagina do autor no facebook).