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Levantamento indica aumento de 17.000% em processos por intolerância religiosa e racismo

 

(FOTO | Tânia Rego | Agência Brasil).


Um levantamento conduzido pelo JusRacial revela um aumento expressivo no número de processos judiciais relacionados a racismo e intolerância religiosa no Brasil. Só em 2023, a iniciativa contabilizou aproximadamente 176 mil processos em andamento em todas as instâncias da justiça, inclusive os tribunais superiores.

Pastor que associou símbolos religiosos de matriz africana a demônios é condenado pela justiça

 

(FOTO | Reprodução).

O Poder Judiciário de Pernambuco condenou a dois anos e meio de prisão, em primeira instância, o pastor evangélico Aijalon Heleno Berto Florêncio pelo crime de discrimação por religiosa. A decisão é da Vara Criminal da Comarca de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Renafro lança pesquisa sobre intolerância religiosa no Brasil

 

(FOTO/ Reprodução).

A Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro) e o Ilê Omolu Oxum lançam nesta sexta-feira (11), uma pesquisa que irá mapear o racismo religioso no Brasil, a partir dos 53 Núcleos Regionais da rede, situados em todo o território nacional. A ideia é organizar um verdadeiro raio-x sobre a violência contra os povos de religiões de matriz africana, a partir de um formulário dirigido às lideranças religiosas.

Além do objetivo principal, focado no crescente número de casos de intolerância religiosa, será possível também traçar um perfil dos terreiros, suas tradições e relações com a comunidade com esta pesquisa inédita, que só é possível graças ao apoio da organização internacional Raça & Igualdade. De acordo com a Coordenadora Nacional da Renafro e idealizadora do projeto “Respeite o meu terreiro”, Mãe Nilce de Iansã, “é preciso revelar onde e de que formas o racismo religioso se manifesta e fomentar ações protetivas de combate à escalada da violência, contra as religiões de matriz africana”, afirma.

Durante os próximos três meses, as informações coletadas com a pesquisa serão compiladas e analisadas pelo projeto e o seu resultado será entregue ao Ministério Público Federal, Comissão de Direitos Humanos (Senado Federal), Comissão de Direitos Humanos e Minorias (Câmara dos Deputados), Comissão Nacional de Direitos Humanos (OAB), Conselho de Direitos Humanos (ONU), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (ONU) e Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA).

O projeto Respeite o meu terreiro” prevê ainda neste semestre, a realização de capacitação para líderes religiosos sobre direitos dos povos de terreiro, e também para os profissionais da área jurídica, em parceria com o Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro).

O formulário da pesquisa leva em média cinco minutos para ser respondido e estará disponível nas redes sociais da Renafro e Ilê Omolu Oxum, até o dia 30 de maio.

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Com informações do Notícia Preta.

O Leviatã contemporâneo, por Ivanir dos Santos


Ivanir Dos Santos / Arquivo Pessoal. 

A intolerância religiosa não é um fenômeno social e religioso que acontece exclusivamente no Brasil. Um breve panorama histórico sobre a História Mundial nos permite enxergar que a intolerância ainda é um dos maiores desafios para a construção da coexistência pacífica em várias partes do mundo.

Se fossemos fazer a alusão da intolerância a uma representação, talvez a melhor seria a do imenso e destruidor monstro marinho Leviatã, com os seu imensos tentáculos.

Leviatã é descrito em várias mitologias como o monstro destruidor, que ataca ferozmente suas vítimas com os seus imensos oito tentáculos. Na contemporaneidade, o nosso Leviatã, forjado durante séculos e séculos, se chama intolerância e, diferente das mitologias, cada tentáculo tem um nome.

Vejamos quais são: racismo, misoginia, homofobia, transfobia, xenofobia, machismo, desigualdade desrespeito. Juntos, esses tentáculos permeiam nossas relações sociais, políticas e religiosas deixando seus rastros de destruições por onde quer que passem.

E de dentro do nosso Leviatã contemporâneo, entre as intolerâncias, salta a intolerância religiosa, que vem ceifando vidas, deixando vítimas e provocando danos patrimoniais e religiosos.

Ora! Mesmo garantida por lei, a liberdade religiosa não é uma realidade para as religiões em solo brasileiro e para tal averiguação basta deitar nossos olhos sobre dados do relatório sobre os casos de Intolerância Religiosa no Brasil, publicado em 2017 pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, em parceria com o Laboratório de História das Experiências Religiosa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LHER/UFRJ) e, com a editora Klíne.

Obviamente, diante das circunstâncias atuais, tivemos, infelizmente, um crescimento significativo dos casos de intolerância religiosa no Brasil, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.

Segundo as informações apresentadas no relatório, entre abril de 2012 a agosto de 2015 pelo Centro de Promoção da Liberdade Religiosa & Direitos Humanos (Ceplir), houve o registro de 1.014 casos de intolerância religiosa, sendo que 71% dos casos são contra adeptos das religiões afro-brasileiras; 8% dos casos são contra evangélicos; 4% são casos contra católicos, 4% são casos envolvendo judeus.

Ainda segundo a Ceplir, de setembro a dezembro de 2015, 32% dos casos são contra muçulmanos, 6% dos casos são contra indígenas, 3% dos casos são contra kardecistas.

Assim, os dados nos revelam uma nefasta realidade que assola à todas as minorias religiosas representativas no Brasil, que durante muito anos usou o slogan "Somos todos iguais" e é lido no exterior como "o país das igualdades".

Igualdades essas que esbarram nas fronteiras e nos tentáculos de Leviatã! Por isso, precisamos promover a tolerância cotidianamente e não apenas no dia 21 de janeiro. (Por Ivanir dos Santos, no O Dia).

Fundação Palmares lança nota de repúdio a ataque ao terreiro Ylê Axé Oyá Bagan


Hoje (27), por volta das 05h da manhã, o terreiro Ylê Axé Oyá Bagan, dirigido por Mãe Baiana, sofreu um ataque motivado pela intolerância religiosa. A Casa, que fica ao fundo de uma chácara no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá (Paranoá-DF), foi incendiada e as chamas destruíram toda sua estrutura, além dos objetos nela contida, como os igbás (representações dos Orixás).

O Ògan Luiz Alves, bastante emocionado, assim relatou: “Às cinco da manhã, Mãe Baiana acordou com o barracão em chamas. Não sobrou nada, nada. Perda total.”

Imediatamente, foram acionadas a procuradora federal, Lígia Maria da Silva Azevedo Nogueira, e a chefe de gabinete, Márcia Teresinha da Cruz Fernandes, ambas da Fundação Cultural Palmares (FCP), para acompanhar a perícia da polícia civil e prestar as primeiras assistências.

A procuradora Lígia Nogueira comunicou que após o registro junto à polícia civil, irá lavrar a ocorrência na Procuradoria e, em seguida, encaminhá-la para o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, para o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), para a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal e para comissões de direitos humanos do Congresso Nacional e da Câmara Legislativa.

Este é o quinto atentado a templos de religiões afro-brasileiras na região do Distrito Federal e Entorno (GO) num intervalo de três meses. Em setembro, foram registradas ocorrências no Ilê Axé Queiroz, em Santo Antônio do Descoberto; no Ilê de Babá Djair de Logun Edé, em Águas Lindas de Goiás; no Ilê Onibo Aráiko, no Novo Gama; e no Ilê de Pai Ricardo de Omolú, em Valparaíso de Goiás.

De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), entre 2011 e 2014, o Disque 100 – canal de denúncias de violações aos direitos humanos – registrou 462 queixas de casos de intolerância religiosa contra o povo de santo.

Nós, da Fundação Cultural Palmares, demonstramos profunda preocupação perante a recorrência dos casos de intolerância contra as religiões de matriz afro-brasileira e convocamos as autoridades e a sociedade a encarar o problema com a devida atenção e noção de sua gravidade, pois expressa a presença e expansão, em nosso país, do fundamentalismo religioso, que se manifesta, muitas das vezes, sob a forma de atos genuinamente terroristas, pois quando um espaço sagrado é apedrejado, saqueado ou incendiado, seus únicos objetivos são amedrontar, oprimir, discriminar, violentar.

Por meio desta nota, viemos ratificar nosso compromisso irrevogável com o enfrentamento à intolerância religiosa e exigir o respeito às religiões de matriz afro-brasileira. É preciso que se entenda, de uma vez por todas, que o preconceito, discriminação e violência contra os espaços e os adeptos dessas religiões é crime (Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997), e que esses tipos de episódios não são aceitáveis nem condizentes com uma democracia.

Por fim, vale ressaltar uma última coisa em relação à intolerância religiosa: não passará impune!

Mãe Baiana

Mãe Baiana, figura respeitada pelo movimento negro e grande representante da luta contra a intolerância religiosa, assumiu, recentemente, a Coordenação de Comunidades de Matriz Africana de Terreiros, na FCP.

Para ter-se a dimensão do prestígio e importância do Ylê Axé Oyá Bagan, fundado em 2010, no último dia 22, este terreiro sediou a abertura do Festival Internacional de Percussão São Batuque, recebendo apresentações de grupos de maracatu, tambor de crioula, capoeira, afoxé, dentre outros.

Maria Aparecida da Silva Abreu
Presidenta da Fundação Cultural Palmares
Ministério da Cultura

Religiões de matrizes africanas sofrem com a intolerância. Até quando?



Cinco de agosto não sai da memória do babalorixá Babazinho de Oxalá. Enquanto fazia compras no mercado, ele foi avisado pela mulher de uma ligação da vizinha, que dizia: “Volte agora para o terreiro. Mas não venha sozinha, chame a polícia”. Ao chegar lá, a cena era desoladora: a maior parte dos materiais usados nos rituais de candomblé, sua religião, estava destruída, portas e janelas arrombadas e vários objetos de uso da casa haviam sido roubados. “A situação, aqui, era de chorar. Tudo arrombado, furtado, quebrado. Os bens materiais, vamos repor. O que dói é ver o sagrado ser tratado dessa forma.”


Há cinco anos como sacerdote do terreiro, que fica em Santo Antônio do Descoberto, município do Entorno, Babazinho disse que jamais havia sofrido ato de violência religiosa tão extremo. Apesar dos prejuízos financeiros terem ficado próximos dos R$ 30 mil, ele garante que nada se compara a ver sua fé tratada dessa maneira. “Para quem não é do candomblé, o que foi destruído pode não ter valor algum. Para nós, é de muita importância. Isso nos agrediu demais.” Embora a Constituição Federal garanta a liberdade de religião como direito fundamental, o ato não é isolado.

De acordo com Coordenação de Enfrentamento ao Racismo da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Sepir), em 2015, já foram pelo menos 10 crimes contra centros religiosos de matrizes africanas praticados no DF e Entorno. O número pode ser maior, já que episódios dessa natureza são registrados dentro dos crimes comuns, independentemente de onde ocorreram. “Fazer essa classificação desses delitos não é tão simples, pois é preciso exortar a crença do outro. A prática do proselitismo religioso é um acinte, mas não é fácil categorizá-la como violência”, diz Carlos Alberto Santos de Paulo, chefe da coordenação.

O poder das bancadas fundamentalistas nos Legislativos espalhados pelo país tem estimulado discussões sobre a laicidade do Estado. No Distrito Federal, audiência pública, marcada para a próxima quarta-feira, debaterá o tema. De acordo com Patricia Zapponi, diretora da Central Organizada de Matriz Africana (Afrocom), a audiência permitirá que representantes das mais variadas crenças exponham as preocupações acerca do que ela chama de política de ódio, que vem sendo estimulada no DF por um grupo de parlamentares ligados a movimentos religiosos.

Atualmente, há parlamentares querendo equiparar o poder religioso ao político. O Brasil é um país laico, signatário do Tratado da Paz Global da ONU e, desde as Constituições de 1968 e de 1988, o Estado é separado da religião. Por que essa preocupação? Porque o poder político está se confundindo com o religioso.” Patrícia, também candomblecista, explica que os atos de hostilidade não ficam restritos às invasões de terreiros, que são mais de 6 mil em todo o DF. “Um pastor já ficou orando atrás de mim, num dia em que vim trabalhar de torso. Já cantaram hinos de louvor. Está havendo um estreitamento no pensamento das pessoas.”

Terreiro de candomblé Ilê Axé Oloiobá é atacado e destruido



O Escritório Frei Tito de Alencar, órgão de defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, deve reunir, nos próximos dias, materiais para oferecer denúncia pelo ataque sofrido no terreiro de candomblé Ilê Axé Oloiobá, há cerca de duas semanas. O local onde acontecem os encontros religiosos, na Cidade Nova, divisa entre Fortaleza e Maracanaú, teve o prédio completamente destruído durante a madrugada. Cerca de 10 integrantes do grupo recorreu à advogada do escritório, Luanna Marley, que deve pedir apoio à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ao Ministério Público Estadual e à Justiça. A suspeita é que o crime tenha sido motivado por preconceito religioso.

O Terreiro de Candombé Ilê Axé Oloiobá na Cidade Nova, ficou completamente destruído após ataque.
O escritório deve entrar com três ações judiciais. A primeira é de usucapião (já que o terreiro existe, no mesmo local, há mais de 25 anos, mas o dono não tem o documento de propriedade). A segunda é em relação ao crime cometido no local. A terceira é de indenização por danos morais. “Não podemos admitir que crimes dessa natureza permaneçam impunes e os criminosos ajam livremente”, apontou a advogada.

Queremos realizar nossos encontros como sempre ocorreram, com muita fé e segurança”, confirma Marcos da Justa Teixeira, conhecido como Marcos de Oxissi. A ideia de procurar proteção, segundo Marcos, veio após a agressão de uma criança, no Rio de Janeiro, apenas por estar com roupas do candomblé.

Maria Zelma de Araújo Madeira, titular da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Ceará (Ceppir/CE) defende que a questão das minorias, no Ceará, sempre foi levada em segundo plano por conta do machismo. “Combatemos a intolerância religiosa, machismo, homofobia. Lutamos conjuntamente para a transformação social”, confirma.

Intolerância Religiosa. Até quando? Mãos dos Malafaias e dos Felicianos no caso de agressão a menina do Candomblé



Os homens que apedrejaram a menina carioca Kailane Campos, de 11 anos, que saía de uma festa do candomblé têm um segredo. Se não um segredo, algo que preferem fazer longe de olhos curiosos.

Trancados em uma sala, enchem-se de coragem e se entregam a um ritual bem ensaiado.

Sob a liderança de um homem de temperamento febril, exaltam histórias envolvendo crimes violentos, tortura, morte de crianças, escravidão, incesto e banhos de sangue.

Kailane Campos é agredida a pedradas.
Foto: Divulgação.
As histórias são saudadas com urros desumanos. Uma das mais populares é sobre um alguém espancado que sangrou até a morte atado a pedaços de pau.

Olhado assim, um culto baseado na história de Jesus Cristo – seja ele católico, ou protestante, ou de qualquer outra denominação cristã –, não parece ele alguma coisa torpe e repulsiva?

Senão, vejamos. Qual é, então, a diferença entre o que foi dito acima e acompanhar o que prega uma mulher vestida de branco que dança rodando e fumando um charuto e fala com a voz grossa? O charuto que ela fuma durante o culto, talvez.

O que dá o direito a este grupo de pessoas, então, de jogar uma pedra na cabeça de uma criança de 11 anos? A Lei, certamente, não é. Em vigor desde 5 de janeiro de 1989, a lei nº 7.716 considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões no país.

O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a bíblia e chamar todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’”, disse a avó de Kaliane, a mãe de santo Kátia Marinho, de 53 anos.

Kaliane, segundo a avó, foi criada nesta religião e até já frequentou a escola pública com a indumentária típica do candomblé, que usava naquele dia: um pano de cabeça e a saia de ração branca.”Continuo na religião, nunca vou deixá-la. É a minha fé. Mas não saio de mais de branco. Nem no portão eu vou. Estou muito, muito assustada. Tenho medo de morrer. Muito, muito medo”, disse Kaliane.

Como dormir em paz sabendo-se que somos uma sociedade em que um bando de adultos pusilânimes é capaz de atirar pedras na cabeça de uma criança por causa de sua religião?

Que sejam encontrados e punidos. Mas fico pensando: a razão não lhes falta à toa. Ela foi tirada, a golpes de falácia fundamentalista, por pastores que não fazem senão incitar o ódio.

Vou soltar uma frase dita em um culto evangélico e que acabou vazando para a imprensa. Tentem adivinhar o autor.

Eu profetizo a falência do reino das trevas. Profetizo o sepultamento dos pais de santo. Profetizo o fechamento dos terreiros de macumba. Profetizo a glória do Senhor na Terra.”

Nosso deputado federal Marco Feliciano.

O notório pastor Silas Malafaia já ordenou a seus fiéis que boicotassem a novela “Salve Jorge”, de 2012, porque esta seria uma expressão usada para invocar a entidade Ogum, presente em religiões de matriz africana. Disse, na TV, que se um pastor invadisse um centro da macumba, deveria ser metido na cadeia.

No discurso ladino dos pastores milionários, as religiões trazidas pelos escravos são a representação do inimigo, e seus seguidores, perigosos enviados do demônio.

Tal é a situação que quando Malafaia quer bater em Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record, diz que não há diferença entre um templo da IURD e um terreiro de macumba. “Como exemplos, podemos citar a sessão dos descarrego, o culto da rosa branca, os banhos de arruda, a sexta-feira forte, o culto dos empresários, sem contar a utilização do sal grosso”, escreveu Malafaia.

A questão que nos está posta, como sociedade, é uma de responsabilidade. Somos chamados a agir mais.

A mensagem de tolerância, de aceitação do diferente, que está chegando a lugares em que nunca chegou, não pode vir desacompanhada de ação.

Quem é diferente está colocando a cara no sol. A menina Kailane se sentiu segura a ponto de desfilar suas roupas do candomblé na rua. Levou pedradas.

O menino Rafael Barbosa de Melo, de 14 anos, foi espancado até a morte no fim de semana no Espírito Santo porque se vestia com roupas chamativas e tinha trejeitos “diferentes”.

Na medida em que a discussão avança e mais gente aceita a diversidade do mundo, quem toma coragem para se assumir como o que é corre mais perigo na mão de monstros estimulados pela pregação psicopata de malafaias e felicianos.

Enquanto tudo isso acontece, os homens que fazem leis com bíblias debaixo do braço rezam um Pai Nosso contra a parada gay na Câmara de Deputados, uma das mais nobres casas de nosso Estado laico.

E o sangue das crianças escorrendo.

Intolerância Religiosa a todo vapor: Juiz afirma que Candomblé e Umbanda não representam religião


A intolerância religiosa e os preconceitos em relações ao candomblé e à umbanda sempre infiltraram os poderes da República e as instituições do Estado que se pretende laico. E talvez pelo fato de essa infiltração ter sido sempre negligenciada, apesar dos seus efeitos nocivos, ela tenha feito desabar um cômodo do Judiciário: a Justiça Federal do Rio de Janeiro definiu que umbanda e candomblé "não são religiões". Tal definição - que mais se parece com uma confissão pública de ignorância - se deu em resposta a uma decisão em primeira instância do Ministério Público Federal que solicitou a retirada, do Youtube, de vídeos de cultos evangélicos neopentecostais que promovem a discriminação e intolerância contra as religiões de matriz africana e seus adeptos, já que o Código Penal, em seu artigo 208, estabelece como conduta criminosa, “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”.

Adeptos do Candomblé em IV Caminhada contra a
Intolerância Religiosa em Juazeiro do Norte-CE.
Em vez de reconhecer a existência da ofensa - e não há dúvida para qualquer pessoa com um mínimo de discernimento e senso de justiça de que a ofensa existe - a Justiça Federal do Rio de Janeiro desqualificou os ofendidos; considerou que não "há crime se não há religião ofendida". Para tanto, a Justiça Federal do Rio conceituou umbanda e candomblé como cultos a partir de dois motivos absolutamente esdrúxulos (ou seria melhor dizer a partir de dois preconceitos?): 
1) candomblé e umbanda deveriam ter um texto sagrado como fundamento (aqui a Justiça Federal ignora completamente que religiões de matriz africana são fundadas nos princípios da transmissão oral do conhecimento, do tempo circular, e do culto aos ancestrais); e 2) candomblé e umbanda deveriam venerar a uma só divindade suprema e ter uma estrutura hierárquica (aqui a Justiça Federal do Rio atualiza a percepção dos colonizadores do século XVI de que os indígenas e povos africanos não tinham fé, não tinham lei nem tinham rei). Pergunto: Há, na decisão da Justiça Federal, pobreza de repertório cultural, equívoco na interpretação da lei ou cinismo descarado?

A decisão judicial fere claramente dispositivos constitucionais e legais, além de violar tratados internacionais como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica, ratificada pelo Brasil em 1992 e que dispõe sobre a garantia de não discriminação por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões, políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. Esse pacto diz ainda que o direito à liberdade de consciência e de religião implica na garantia de que todos são livres para conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como na liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos afirma que ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações existentes em leis e que se mostrem necessárias à proteção da segurança, da ordem, da saúde ou da liberdade.

Juazeiro foi palco da IV Caminhada Contra
a Intolerância Religiosa.
Ou seja, se há uma liberdade religiosa a ser limitada é a daquelas religiões que usam dos meios de massa para difamar e promover a intolerância contra outras religiões e divulgam práticas que põem em risco a saúde coletiva, como pedir que pessoas abandonem tratamento de câncer ou aids em nome de orações!

Ao ratificar esse Pacto, o Brasil assumiu desde 1992 o papel de um país que tem a obrigação de respeitar direitos. Infelizmente, o Poder Judiciário, que tem a função de "dizer o direito", de aplicar as leis, assim não o fez, simplesmente negando a interpretação dos ditames constitucionais e disposições supranacionais de direitos humanos.

Já foi noticiado que o Ministério Público Federal recorreu dessa decisão, mas precisamos ficar atentos a essas manobras que perseguem, acuam e tentam destruir o que não está de acordo com o que o fundamentalismo religioso determina como correto. E não resta dúvida de que essa decisão judicial é fruto do fundamentalismo religioso que avança sobre os poderes da República. Não podemos nos esquecer de que todos estamos sob a garantia de que podemos promover reuniões livremente para realizar cultos de qualquer denominação - um direito individual e coletivo previsto na Constituição Federal, artigo 5º, inciso VI.

O ataque à umbanda e ao candomblé é também um ataque de viés racista por se tratar de religiões praticadas sobretudo por pobres e negros. Mas é, antes, uma disputa de mercado. O que os fundamentalistas pretendem com os ataques à Umbanda e ao Candomblé é atrair os adeptos - e, logo, o dinheiro deles - para suas igrejas. E como vivemos sob uma cultura cristã hegemônica, que se fez na derrisão e repressão das religiões indígenas e africanas, é óbvio que as igrejas fundamentalistas levam a melhor nessa disputa de mercado e em suas estratégias de difamação.

O que esperamos do Judiciário é o mínimo de justiça que possa colocar freios à intolerância e à ganância dessas igrejas e seus pastores; e possa assegurar a pluralidade religiosa pautada no respeito e sem hierarquias entre as religiões.


A Análise é do Deputado Jean Wyllys e foi publicado originalmente no Carta Capital

Debate entre Ateu, Babalorixá, Protestante e Católico



Padre Jorjão, pastor Silas Malafaia, Ateu Daniel Sotto-Mayor
e o Babalorixá Ivanir dos Santos no programa Na Moral.

Foto: Na Moral/TV Globo.
O programa “Na Moral”, apresentado por Pedro Bial promoveu há dois meses atrás um debate entre Daniel Sotto-Mayor, representante da Associação de Ateus no Brasil, o Babalorixá Ivanir dos Santos, líder e chefe de um terreiro de Candomblé, uma das religiões afro-brasileiras, o padre Jorjão e o pastor Silas Malafaia.

Embora, reconheçamos que o programa seja exibido na globo que tem uma defesa clara do catolicismo, o debate proporcionou um leque interessante de discussão, de variedade de opiniões. Na oportunidade, muitos dos temas já levantado no Informações em Foco foram frisados, como o estado laico e a intolerância religiosa, a apoio da igreja católica a escravidão, a lei 10/639/03, etc. Conseguimos parte do debate.

Vamos ao vídeo

                          

DESABAFO DE UM BABALORIXÁ INDIGNADO: “ISTO É UMA VERGONHA.."



Policiais invadem casa de candomblé e prende o babalorixá
Eu Jorge Kibanazambi, na condição de Babalorixa e Presidente da Associação Beneficente Afro Brasileira São Jeronimo e São Jorge,em representação da mesma, manifestamos nosso repudio a mais esse ato de violência contra a instituição religiosa Tenda de Umbanda Caboclo Pajelança, situada no Municipio Catarinense de Jaguará do Sul,em Santa Catarina,na qual o babalorixá do terreiro, teve sua casa de candomblé invadida por causa da " DENÚNCIA DO SILÊNCIO", e como reagiu, falando da liberdade religiosa, foi preso e saiu algemado de seu terreiro como um bandido!

Eu nunca vi a polícia dentro de uma igreja católica

Eu nunca vi a polícia dentro de uma igreja católica ou mesmo evangélica,[ e olha que o bispo MACEDO já foi filmado até ensinando a roubar os fiéis!] impedindo-os de fazer seus cultos[e tem culto evangélicos que usam instrumentos musicais como um clube e outros que gritam o tempo todo nos seus cultos!] e suas missas .O que eles estão pensando que somos? Caso não saibam temos os mesmos direitos para cultuar e professar nossa fé que qualquer outra pessoa. Chega de intolerância!!!!!!!! Será que não temos os mesmos direitos que constam da constituição que os outros povos de outras religiões tem? Estamos aterrorizados com as atitudes daqueles que deveriam nos proteger, ainda alguns pregam que temos liberdade, cadê? 

Nossa convicção é de que sempre que acontecem violências desse tipo, as autoridades silenciam, seja por vergonha, seja por cumplicidade.

Fonte: Nossa Umbanda