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“Por que movimentos negros num pais onde toda a população é mestiça? ”, por Henrique Cunha Junior


Professor Henrique Cunha Júnior.
(FOTO/Reprodução/Facebook).
Pensar um movimento negro efetivo é pensar um movimento capaz de propor e executar planos que efetivamente melhore a s condições de vida da população negra. Um movimento proponha para a sociedade e para o estado ações que modifiquem as relações sociais, políticas,culturais e econômicas em favor da população negra. Coisas que vão muito alem das políticas de ações afirmativas que promoveu as cotas para negras nas universidades publicas brasileiras. 

Analfabetos em Historia Africana são racistas



Analfabetismo é não saber ler e o pior não saber raciocinar sobre a realidade dos fatos históricos, pois os desconhecem em profundidade e ficam difundido as máximas racistas anti a população negra por diversos motivos. Muitos realmente desconhecem e propagam informações erradas que perpetuam os racismos ou que servem de informação para nutrir os racismos contrários ao bem viver e a estabilidade física, psíquica e econômica da população negra. Outros conhecem e subvertem, produzem a divulgação distorcidas dos fatos, produzem analises superficiais e saem falando repetições da superficialidade com a eloquência de quem sabe e anunciam nos meios de comunicação o que sambem que esta errado e que defende os seus interesses passados, presentes e futuros.

Professor Dr. Henrique Cunha.
(Foto: Professora Dra. Cícera Nunes)
Porque estou falando isto? Devido às tramas e marcadores de reorganização das estruturas racistas e dominadoras de grupos de europeus conservadores e de parte dos seus descendentes que em razão dos avanços dos movimentos negros, da visão dos grupos humanitários e democráticos, se organizaram para lutar contra. Dentre as pautas que produziram ganhos para as populações negras como cotas se destacou o processo de revermos as historia da África e dos Africanos. Sim rever em razão que o racismo cientifico tinha introduzido muitas distorções e mentiras que precisavam ser revistas. Diziam que os países Africanos no passado não tinham cultura, não tinham escritas e muito menos civilizações. Tudo erros e mentiras históricas feitas como verdade por uma literatura racista que ate hoje é utilizada e que serve de base para livros errados como Casa Grande e Senzala. Por isto precisamos do passado e devido esse fator existem muitos novos conservadores brasileiros dizendo que precisamos esquecer o passado. Bom que os que têm dito que precisamos esquecer o passado mentem, porque eles mesmo não querem esse esquecimento para si e somente para nós, vejam que as heranças econômicas que eles recebem são as principais lembranças documentais do passado que eles não querem de maneira alguma esquecerem.

A nova estratégia racista tem divulgado a informação de que não é necessário as reparações históricas para os povos africanos, pois os próprios africanos venderam seus pares para os escravistas criminosos. Temos ai uma necessidade de aprofundamento da historia e de não trabalharmos a historia na sua superfície e nem no seu analfabetismo racista.

Vamos aos fatos. Não existe venda sem compra, e não existe produção de decorrências sem uso da compra. Ou seja, mesmo que africanos tenham vendido seus pares, quem comprou e usou a mão de obra africana, produziu o sistema do escravismo criminoso nas Américas e enriqueceu com isto foram os europeus e seus descendentes. As reparações são pelas decorrências dos usos criminosos e das fortunas acumuladas, além dos prejuízos imensos sofridos pelas populações negras no Brasil e nas Américas. A maior divida é sobre os prejuízos acumulados, pela persistência das condições impostas pelo escravismo criminoso. As reparações são uma proposta dos movimentos pan-africanistas, mas elas foram aceitas pela maior parte dos países democráticos em convenções internacionais como legitimas. Portanto os grupos no Brasil conservadores, tanto de esquerda como da direita, e pasmem, mas tem muitos dos membros da esquerda que não querem as reparações históricas, esses grupos estão disseminando uma campanha dizendo que os africanos foram responsáveis por venderem os demais africanos. Devemos ter cuidado com o analfabetismo histórico mesmo de historiadores brasileiros famosos, eles estão reforçando os parâmetros do racismo antinegro e do uso da historia sem profundidade. As pessoas se aproximam de nós com a trama de que eu ouvi dizer, e não de eu quem estou dizendo, sim eles não assumem as precariedades de informação e de formação que estão produzindo. Temos que esquecer o passado é falado em vozes altas mesmo nos corredores das universidades brasileiras, nas reuniões de professores nas escolas que não implantam as leis sobre a historia e a cultura africana e agora nas igrejas evangélicas que operam em favor do racismo religioso antinegro.
Vejamos mais fatos importantes. A venda, a compra, o uso e os benefícios e malefícios do uso. Olha na esquina da minha casa sempre tem alguém vendendo droga. Eu não compro, pois é ilegal, causa sérios prejuízos a saúde e aos sistemas da sociedade. Ponto, não eu não compro. Entretanto tem os que compram. Os que compram e que ficam viciados e destruídos pela compra. E não pesam as consequências para suas famílias e para a sociedade como um todo. Mas quem é estava na esquina vendendo? Não é ele que produziu o sistema do trafico e nem é ele que vai ficar rico vendendo a droga. Quem aparece, vai preso e fica fixado são os que estão nas esquinas vendendo. Os reais usuários dos lucros da droga ficam escondidos. Repito os reais usuários dos lucros e não das drogas são os que são responsáveis pela tragédia. Não que com isto se elimine a culpa dos participantes, entretanto não eles que tem que reparar a sociedade e pagar para reconstrução do que esta sendo destruído de vidas humanas. Assim que é necessário sempre um aprofundamento dos fatos históricos para compreendermos a totalidade dos acontecimentos. Nas economias não existe apenas quem vende. Existe que criou o sistema, existem os mantêm os sistemas e quem fez fortuna como o sistema e é responsável pela reparação. O comercio de africanos foi um fato autorizado pelos papas no século 15, criados pelos invasores do continente africano, e mais que invasores destruidores do continente. Para quem não sabe é bom dizer que os europeus e os turcos criaram ampla rede de fortalezas e prisões em todas as partes do continente para protegerem os seus comércios. Que exércitos foram mantidos e financiados por investidores europeus para as invasões dos países africanas e para exploração do comercio, ou seja, para exploração inclusive do escravismo criminoso. Os invasores, em 4 séculos, destruíram mais de 100 grandes cidades africanas. O sistema europeu impôs as nações e aos reis africanos a participação nesse comercio infame e o mando europeu. Os reinos impérios e cidades que não se submeteram foram simplesmente arrasadas e aniquiladas.

Portanto cuidado com o supostos analfabetos sobre a historia africana eles podem ser difusores de justificativas racistas sobre escravismo criminoso e sobre a não necessidade da reparação histórica. Ações e processo econômicos como forma de reparações já existem em muitos lugares da Europa, como consistentes iniciativas economicamente, infelizmente tais processos consistentes economicamente não existem no Brasil. (Por Henrique Cunha, no facebook).

Artefatos da Cultura Negra é o maior evento de pesquisa sobre população negra do Brasil, diz Henrique Cunha


Artefatos da Cultura Negra no Ceará no Ceará é de fato o maior evento de pesquisa sobre população negra do Brasil. Tivemos uma semana de atividades, nos três períodos dia, em três cidades: Brejo Santo, Juazeiro e Crato, envolvendo as Universidades Federais do Cariri (UFCA), do Ceará (UFC), o Instituto Federal do Ceara – Juazeiro (IFCE) e a Universidade Regional do Cariri (URCA), sendo esta ultima, sede nuclearizadora. Evento organizado com a sociedade civil, os movimentos negros, tendo as economias solidarias, com feira de artesões e vendedores de produtos da nossa cultura. Evento, interdisciplinar, com apresentação de trabalhos, intensa parte cultural e grande conferências. Um evento com 1000 inscrições pagas, em época de crise, não é fácil.

O ônibus de africanos estudantes da UNILAB, com professores fez desta universidade grande parceira sem sermos oficialmente. Eles deram os toques africanos da África presente, nos presenteando pela africana presença. Tudo em tudo estivemos num alto clima de trocas de conhecimentos. As conferencias muito, mas muito boas. Um festival de grandes conferências. Neste ano face às dificuldades conjunturais nacionais somente não tivemos os convidados internacionais. Estou voltando para casa em Fortaleza, no fim de semana próximo volto a Bahia(me despeço em definitivo da Bahia), mas estou feliz pois temos um sonho realizado.

O nosso grande grupo de pesquisa, que se inicia com meus orientados, que cresceu com os orientados de Cicera Nunes, com os orientados dos demais colegas, Sandra Petit e Joselina da Silva, tem uma dimensão maior do que poderíamos imaginar quando fizemos o primeiro Artefatos, que era uma semana de bancas de mestrados e doutoramentos. A nossas bancas de defesa de mestrados e doutoramentos no artefatos não existiu neste ano. A burocracia das nossas instituições não facilita estas realizações (Olha não pedimos dinheiro, apenas autorizações), e mesmo outra dificuldade, temos menos orientados concluindo devido a redução de vagas que tivemos no Programa de Pós-graduação em Educação da UFC.(já tive 12 a agora me obrigam a ficar com 8, quando estava na USP tinham em média 14. todos concluiam no tempo e com acompanhamento integral meu). O problema importante em relatar é os mestrados e doutoramentos foram o eixo do Artefatos no passado. Lembramos que no ano passado tivemos 3 bancas, sendo duas no Crato e uma em Bodoco. Lembrando para quem não lembra uma banca épica foi do doutoramento sobre a Feira de Bodoco-PE, defendido em Bodoco no dia da feira, com a banca indo a feira antes da defesa. Com a sala lotada pela família e pessoas amigas. Estou lembrando isto pois esta é uma ação de integração do nosso eixo de pesquisa com a população, com os sujeitos das teses e da sociedade, que não conta na avaliação da CAPES, mas que conta muitíssimo na abrangência do nosso dever e modo de fazer pesquisa colado na população.

Não falamos de populações negras, vivemos e integramos ao nosso fazer ciência em produzir conhecimento aos cotidianos da população por diversos fatores, sendo o Artefatos da Cultura Negra no Ceara uma parte da nossa avaliação própria do nosso compromisso social, e tenho a certeza, neste momento que estou pensado sobre os fatos desta semana, como agradecendo a todas as pessoas, que temos mais que uma nota 4, 5 ou 6 na CAPES, mas a prova que universidade pode ser pública, negra, popular , inovadora e de excelente qualidade. Isto realmente é mostra de excelências cientifica sem elitização da ciência. Repeito pois a maioria conhece apenas excelência cientifica com elitização, temos excelências negra cientifica, sem elitização branca da ciência, e com a participação indispensável de brancos cientistas preocupados com a mudança da nossa sociedade. Artefatos da Cultura Negra no Ceara, a nossa modesta magna contribuição esta dada, minha alegria e vaidade é esta, não outra. Não produzimos apenas lattes, produzimos ciência, cultura, conhecimento, produzimos alegria, produzimos emoções e propostas de mudanças sociais, praticando mudanças. (Publicado em seu perfil no Facebook).

O VIII Artefatos da Cultura Negra foi realizado entre os dias 25 e 30 de setembro, em Crato, Juazeiro e Brejo Santos.
Foto/ Reprodução/Página do Artefatos da Cultura Negra.

Metodologia da afrodescendência: uma discussão introdutória, por Henrique Cunha*


As ordens de fatores que relacionam a necessidade, a disponibilidade e o interesse pela pesquisa em determinado tema e com enfoque especifico quanto a base teórica, metodologia e caminhos interpretativos e organizativos da produção de conhecimento é um terreno de conflito e que se explicita com grande força quando se trata da pesquisa com opção da metodologia afrodescendente. A principal razão explicita é que ocorre uma ruptura de perspectiva sobre o conhecimento, este elege a população negra como fonte ativa do conhecimento e não como objeto. De maneira subjetiva interfere na relação intima da nossa sociedade sobre os racismos antinegro mentais, a nossa sociedade é perpassada pela ideia da superioridade e de supremacia do pensamento ocidental. Propor o africano e afrodescendente como pensadores ativos fere as ordens mentais instituídas e praticadas. Varias são estas ordens de fatores que relacionam a pessoa do pesquisador, seu coletivo de origem e os temas e posturas sobre os temas e sobre a forma científica de trata-los (questionamentos que eram apenas realizados como uma opção entre o popular e erudito, entre o despossuído e possuidor (despossuído de poder político, cultural e social ou apenas despossuído de poder dos meios de produção), ou entre funcionalismo e marxismo, hoje com a presença dos afrodescendentes falando de conhecimento africano e de populações de origem africana introduz novo e precioso debate na epistemologia das ciências no Brasil. Debate ainda não declarado como existente e necessário, mas em vias de explicitação, explicitação que renasce com a fundação da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e não ganha corpo nacional em razão da timidez de ações realizadas pelos próprios afrodescendente, timidez explicada em face das pressões a que estamos submetidos.

Professor Henrique Cunha, da UFC.
Foto: Rede Social Facebook.
O tema de pesquisa eleito é percebido como estar na ordem das rupturas e das normalidades cientificas, reside no campo da especificidade ou da universalidade do conhecimento, traduz a persistência da pratica sobre a teoria ou da teoria sobre a pratica, ou da alternância entre elas?. A ordem pessoa do pesquisador, sua filiação subjetiva e objetiva com o tema e com a forma da pesquisa.? Trata-se de uma ordem de ser e ter propriedade de dentro ou de fora da porteira do horizonte do tema de pesquisa?. Carrega a ordem de pensar a pesquisa no campo micro complexo e microfacetado ou com parte do campo macro ordenado ( o conflito é parte do macro-ordenamento)?. Poderíamos de forma resumida e pouco explorada sintetizarmos estas ordens nos seguintes grupos de problemas sobre a aquisição do conhecimento e sua sistematização (vejam que a aquisição é diferente de sistematização, conhecer é diferente de dar a saber que conhece, que dar a saber como difunde) como: ordem do conhecimento e a ciência ocidental- universal;ordem da relação sujeito-sujeito ou de sujeito-objeto de pesquisa, melhor dizendo o pesquisador dentro da pesquisa e em transformação ou consolidado e apenas operador do conhecimento, ser operador do conhecimento ou ser parte do conhecimento em processo, ser transformador-transformado; a ordem do ator-pesquisador ou pesquisador o pesquisador, onde mesmo atua inscrevendo os atos ou atua como participante da plateia, a ordem de compreensão dos contextos, tanto da pesquisa como do tema pesquisado. A pesquisa é importante para um movimento da dinâmica social do qual o pesquisador faz parte ou faz parte do interesse pessoal apenas, o que é amplamente legitimo importante e de consequências ambas importantes, mas que de interações com a sociedade e com a sociedade cientifica muito particulares.

A ciência tem as suas normalidades e as rupturas. A normalidade apresenta e representa a aceitação de um determinado estado de coisas. Normalidade foi atingida pelas teorias marxistas embora estejam em contraposição com a organização do estado liberal, com a organização da sociedade capitalista, com o poder econômico, e fale em nome das classes trabalhadoras, estas teorias estão em perfeita conformidade com um campo do conhecimento estabelecido e cristalizado de normalidade quanto a aceitação cientifica dos seus dogmas, princípios e bases teóricas. O marxismo é um modelo consolidado no campo cientifico, faz parte da normalidade e não mais da transformação inovadora em termo de aceitação cientifica. Perdeu seu potencia de introduzir novas ideias de base teóricas e criou um léxico de repetições e recriação das mesmas ideias e não de proposição de novas interpretações da sociedade e da cultura humana. Também representa o predomínio da pesquisa teórica sobre a empírica. Desta em perfeita harmonia estável com as teorias do racionalismo cientifico ocidental. Entrou para parte operante do conhecimento ocidental como forma de dominação sobre os conhecimentos africanos e asiáticos.

Entretanto o pan- africanismo os enfoques do conhecimento tendo como base a cultura africana, os princípios de parte dos conhecimentos Egípcios, Núbios, Etiopês, Bantos e Iorubanos, das concepções do conhecimento africano como fonte importante do conhecimento da humanidade estão ainda sobre forte contestação em relação ao conhecimento ocidental, trata-se de um campo de tensão, de ruptura. A Grécia e o conhecimento gregos não são os pilares do conhecimento ocidental, no entanto uma grande ideologia em torno deste paradigma produziu o ocidente como forma e força política, cultural, científica e econômica. Impõe a ordem de fatores na pesquisa cientifica, de que a teoria precede a pratica, o campo empírico perde seu potencial de fonte e torna-se apenas local de constatação, exemplificação e aplicação da teoria. Condiz com um paradigma cientifico do ocidente que a possibilidade de universalização do conhecimento. Diz que uma teoria pode abarcar todas as situações da vida humana. Aceita a proposição que a teoria é superior a pratica, os teóricos são ilustres os práticos são seus discípulos, portanto pensadores reprodutores e não pensadores instituidores de novos paradigmas e novas ideias.

Principal ordem de fatores é a relação do tema da pesquisa com o conhecimento de vida e envolvimento do pesquisador. A bagagem previa do autor, do pesquisador com tema modifica em muito as capacidades de acesso ao conhecimento e informação ofertado pelo tema pesquisado. Neste sentido a pesquisa afrodescendente é uma metodologia de postura nova, relacionando a ação a pesquisa, procurando uma dialética entre ação – pesquisa-ação , tendo como partida o campo e o conhecimento sobre o campo e procurando a construção explicativa teórica depois como consequência e não como fonte. Esta no campo da discussão da epistemologia das ciências e das rupturas necessárias para integração do continente africano, de africanos e descendentes como produtores de um conhecimento, com base na experiência criadora de populações africanas e negras na diáspora. Implica no caso brasileiro em considerarmos os africanos como colonizadores do Brasil, devido a herança cultural e material, e não os portugueses, como também reconhecer o africano e descendente, como pensador, vindo de comunidades pensantes e realizadores dos ato criador e civilizador também, como todos os outros povos. No campo ético o respeito ao conhecimento pelo nosso próprio conhecimento e protagonismo social. Não se trata de um conhecimento “vindo de baixo” como a historia tem apresentado como visão inovadora, trata-se de conhecimento produzido no fazer social, nas dinâmicas das sociedades.

*Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC)