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Carlos Alberto Tolovi: A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto

 

Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social Podcast).

Em 29 de dezembro de 2018, logo após o processo eleitoral ter chegado ao fim e colocado no poder um representante da extrema direita, o Jair Messias Bolsonaro, o Blog Negro Nicolau (BNN) entrou em contato com o professor da Universidade Regional do Cariri (URCA), o Dr. Carlos Alberto Tolovi.

A entrevista foi uma das mais acessadas do Blog desde o seu lançamento em 2011 e, por isso mesmo, resolvemos republicá-la.

Naquela oportunidade, ressaltamos que o resultado das eleições trouxe a cena uma questão fundamental e com ela outras tantas. Quais os desafios do Brasil pós-eleição? Quais as estratégias que devem ser tomadas para que os a margem do poder não sejam cada vez mais massacrados nesses quatro anos vindouros? Como os movimentos sociais devem se comportar? É possível um diálogo mais eficiente entre partidos de esquerda e os movimentos sociais? Como isso deve ser feito para atingir os menos favorecidos?

Para contribuir com essas e tantas outras questões e desafios, o Blog entrevistou o filósofo, Dr. em Ciências da Religião e autor de dois livros, Carlos Alberto Tolovi. Tolovi afirma que a vitória de Bolsonaro foi uma “tragédia” social no Brasil e que ele representou a “construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente.”

O filósofo, autor dos livros “Mito, Religião e Política. Padre Cícero e Juazeiro do Norte” (Editora Prismas, 2019) e “Moral e Ética nas Relações de Poder” (Editora Brazil Publishing, 2021), ressalta que nas disputas ideológica o campo da educação é o mais importante, sendo a diversidade uma constante ameaça.

Não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo. A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto, disse.

Leia a entrevista concedida por e-mail ao Blog Negro Nicolau (BNN).

Blog Negro Nicolau (BNN). Você é conhecido por ser um professor ligado aos movimentos sociais, inclusive os de linhagem religiosa. No que pese a política partidária usou muito sua rede social facebook para se manifestar contra o candidato eleito Jair Bolsoanro (PSL). A que você credita a vitória de Bolsonaro?

Carlos Alberto Tolovi. Quando um filósofo ou um sociólogo, com bases marxistas como eu, tenta entender o fato de um candidato de extrema direita se eleger com os votos de grande número de trabalhadores, nós corremos o risco de responder dentro de um esquema fechado, que não dá conta do fenômeno ocorrido. Em minha perspectiva, entre os diversos fatores que contribuíram para essa “tragédia” social no Brasil, eu coloco uma questão que se encaixa dentro de um padrão universal: sempre que for possível construir um caos social e a partir do mesmo colocar em destaque uma narrativa ordenadora, que responda aos desejos e necessidades da coletividade, é possível produzir um mito. Porém, esse mito sempre nasce com desejo de sacrifício. E nesse esquema, o sacrificado é sempre aquele que não possui poder de reação. Neste contexto, Bolsonaro não era apenas um candidato. Ele era a construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente. Assim, em nome de um reordenamento por meio de uma moral colonialista, foi possível criar uma “onda devastadora” que diabolizou e condenou todos os focos de resistência das minorias sociais no campo da luta de classes. A partir da diabolização do Partido dos Trabalhadores foi possível rotular de forma condenatória todos os partidos e movimentos de esquerda em nosso país. Paulo Freire já nos alertava que uma das formas de dominação e opressão viria da mitologização da realidade.

BNN. O que esperar de um governo em que o eleito já demonstrou ser contra todos os direitos das maiorias sociais, porém minorias nos espaços de poder?

Tolovi. Hoje é muito comum encontrar pessoas que não votaram em Bolsonaro com o seguinte discurso: “vamos esperar, quem sabe ele não seja tão ruim como nos parece! Quem sabe ele nos surpreende?” Por outro lado, os que contribuíram com a sua eleição afirmam: “ele nem assumiu ainda e vocês já estão condenando!” Em meio a esses discursos, uma coisa já aprendemos nas lições da história: o que vimos de bom especificamente para os mais pobres vindo da classe política denominada como direita? Você poderia destacar uma conquista social, como os direitos da classe trabalhadora, que não veio com suor e sangue de pessoas inseridas nas lutas denominadas como esquerda? Pois é! Se Bolsonaro se elegeu canalizando as energias e investimentos da elite do nosso país, como os banqueiros, os fazendeiros, os médicos, enfim, os que podem ser chamados de burguesia, o que podemos esperar desse governo? Que ele traia a classe que o elegeu ou que ele sacrifique as minorias no campo do poder para saciar a fome dos capitalistas inescrupulosos?

BNN. O presidente eleito irá colocar no Ministério da Educação o professor e filósofo colombiano Ricardo Velez Rodriguez. Ele foi indicado pelo escritor e jornalista Olavo de Carvalho e teve o apoio da bancada evangélica. É possível ter uma educação voltada para o reconhecimento e valorização da diversidade nesse governo?

Tolovi. Bem, se foi indicado por Olavo de Carvalho – um intelectual banal  e “prostituto” da direita; se foi aprovado pela bancada evangélica – tendo como referência Edir Macedo e Silas Malafaia, dois grandes representantes da religião como forma de dominação; e se foi aprovado por Bolsonaro, então, o que esperar desse ministro? Não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo. A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto.

BNN. Houve mudanças no quadro do congresso nacional que foi eleito nessas últimas eleições. Acreditas que essas mudanças se darão também em ações que beneficiem aqueles a margem do poder?

Tolovi. Quando vemos um ator pornô, um palhaço, e tantos outros personagens que chegaram ao poder na “onda do golpe”, desencadeado pelo legislativo, apoiado pelo judiciário e alimentado pela grande mídia, nos perguntamos: o que devemos esperar? Sabemos que na Câmara dos Deputados e no Senado Federal teremos certamente focos de resistência em defesa dos que estão à margem do poder. Contudo, se não ocorrer o fortalecimento e a união dos movimentos sociais, fortalecendo os partidos de esquerda em nosso país, é muito difícil esperar políticas públicas voltadas aos menos favorecidos.

BNN. A grande sacada de Bolsonaro e de seus seguidores eleitos para o campo da educação é o projeto “Escola sem Partido”. Se aprovado, didaticamente falando qual o efeito que ele terá?

Tolovi. Como o campo da educação está em disputa tendo em vista o controle do Estado, precisamos desmontar essa narrativa ideológica. Em primeiro lugar, você conhece alguma “Escola com partido”? Aqueles que sustentam os partidos de direita e extrema direita em nosso país, propõem uma “Escola sem Partido". Mas, estão fazendo essa proposta pensando em todas as escolas? É claro que não! Apenas para as escolas públicas, onde estão as crianças, os adolescentes e jovens dos trabalhadores. Afinal, é nas escolas que estes poderiam despertar, fazendo uma leitura crítica da realidade e não aceitando ser mão de obra barata para o mercado de trabalho. Os dominadores já perceberam que as escolas e Universidades públicas representam focos de resistência diante de suas propostas de “colonização moderna”.

BNN. Certa vez no programa “Esperança do Sertão”, da Rádio Comunitária Altaneira FM, você chegou a afirmar “quer acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação e a cultura". Um seguidor militar de Bolsonaro e que fala sobre educação chegou a dizer que é preciso trazer “a verdade” sobre o período da ditadura civil-miliar no Brasil para os livros escolares. Que efeito prático tem essa frase?

Tolovi. Somente pela educação e pela cultura é possível desencadear um processo de colonialidade – uma forma de colonização da subjetividade. A maneira de fazer o colonizado assumir a visão de mundo e a defesa do colonizador. Sem esquecer que a moral e a religião encontram-se nesse campo cultural. Afinal, são duas dimensões essenciais para fazer o explorado defender o seu próprio explorador, pois o dominado assume os valores morais da classe dominante.

E com relação a afirmação do professor sobre a “verdade da ditadura”, nos serve para refletir sobre esse termo: a verdade. Para um povo que assumiu as verdades dos invasores e colonizadores, denominados como “descobridores”, não é de se estranhar uma afirmação como essas. O estranho foi descobrir nessas últimas eleições a quantidade de professores preconceituosos, machistas e fascistas que temos em nossas escolas. Nos faz refletir sobre os nossos processos formativos em nossas Universidades.

BNN. Bolsonaro já formou seu quadro de ministros que irão exercer suas funções a partir de janeiro. Qual avaliação você faz dessas escolhas?

Tolovi. Sem novidades! Pessoas que desprezam a diversidade, a educação pública, as políticas públicas, as manifestações culturais e as necessidades dos negros e dos índios, etc. etc.. Inclusive com Sergio Mouro, para passar uma imagem de um governo sério. Afinal, se o desejo é o sacrifício dos menos favorecidos para atender à “necessidade” de concentração de renda, é preciso um “Capitão do Mato” para caçar os “escravos rebeldes”. É preciso alguém que ajude a conter os movimentos de esquerda. Por isso tantos militares também no poder.

BNN. A democracia está em risco com o governo Bolsonaro?

Tolovi. Penso que não esteja em risco, mas já profundamente comprometida.

BNN. Fernando Haddad (PT) foi colocado de última hora para disputar a presidência. No fundo, a ala petista ainda acreditaria na soltura do Lula. Chegou no segundo turno, porém não venceu. A escolha do PT em apostar todas suas fichas no Lula foi um erro?

Tolovi. Não creio que o PT acreditava na soltura de Lula. O esquema do golpe foi bem montado e era preciso tirar Lula do caminho para que o mesmo funcionasse até o fim. O que o PT não contava era com a eficiência da estratégia do esquema montado em torno de Bolsonaro. Favorecido pela facada, que justificou a sua ausência nos debates e possibilitou o seu “silêncio”, alimentando a imagem da vítima com poder de reação por meio das redes sociais que alimentou incessantemente o ódio por tudo o que representava a diversidade frente a moral eurocêntrica.

BNN. Tu acreditar que Lula é um preso político?

Tolovi. Certamente! Porque devemos aderir à campanha do “Lula Livre”? Porque a trama que envolve a prisão de Lula faz parte de um golpe ainda em curso, com características de fascismo que, como afirmei anteriormente, compromete a nossa “jovem” democracia.

BNN. Guilherme Boulos (PSOL) é tido como a grande aposta do campo da esquerda para 2022, embora tenha tido uma votação inexpressiva. Qual sua avaliação sobre ele?

Tolovi. Foi o candidato que mais apresentou um plano de governo que serviria de alternativa viável frente ao capitalismo neoliberal. Foi quem mais denunciou de forma competente o sistema hegemônico vigente e quem mais apontou caminhos para a saída desse impasse gerado equivocadamente pela tentativa de “conciliação de classes”. Precisamos de alguém que assuma de fato algumas bandeiras socialistas viáveis nesse momento histórico, e não tenha medo de se assumir representante da Esquerda, voltado para as necessidades dos menos favorecidos.

BNN. O aparecimento de Bolsonaro acabou por acender a chama dos movimentos sociais. Boaventura de Sousa Santos disse em novembro último que os movimentos sociais são a chave para a reinvenção das esquerdas. Você concorda?

Tolovi. Certamente! São os movimentos sociais que alimentam e fortalecem os partidos de esquerda. São os movimentos sociais que são capazes de desencadear uma narrativa desmitologizante. São os movimentos sociais que fomentam o empoderamento das bases, onde se encontram os núcleos de resistência e de luta.

BNN. Que lição se pode tirar dessas eleições?

Tolovi. Um dos maiores erros do PT no poder - entre tantos outros -, foi ter assumido uma roupagem de conciliador. Enquanto incorporou diversas lideranças sociais ao poder executivo, acomodando os movimentos e as organizações de base, ofereceu espaço e tempo para que a elite brasileira formulasse um “golpe fatal”. Diante disso temos de aprender: a luta pela justiça social e equidade vai muito além de uma proposta de igualdade. Exige uma cultura de organização das bases, resistência e mobilizações permanentes.

Tolovi: “A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto”

 

Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social Podcast).

Por Nicolau Neto, editor

Em 2018, o Brasil testemunhava um dos maiores retrocessos desde o projeto português de colonização e que implantou a escravização dos povos originários, inicialmente e, de povos africanos, posteriormente, como a principal ferramenta de sua manutenção. Naquele fatídico dia 28 de outubro, o capitão reformado do exército que desde 1991 estava como deputado federal, mas que pouco aparecia na mídia, não por decisão própria, mas porque nada tinha pra mostrar nesses anos todos como parlamentar, elegeu-se presidente com mais de 57 milhões de votos. 55,1% no segundo turno. Algo inimaginável para um país que carrega na sua trajetória política dois imperadores e dois processos ditatoriais. Estes últimos já no século passado.

Mesmo assim, dois meses depois do resultado das eleições de 18, este Blog entrevistou o professor universitário, filósofo e autor dos livros “Mito, Religião e Politica. Padre Cícero e Juazeiro do Norte” (2019) e Moral e Ética nas Relações de Poder” (2021), o Dr. Carlos Alberto Tolovi. Naquela oportunidade, algumas questões nortearam a entrevista, como por exemplo. Quais os desafios do Brasil pós-eleição? Quais as estratégias que devem ser tomadas para que os a margem do poder não sejam cada vez mais massacrados nesses quatro anos vindouros? Como os movimentos sociais devem se comportar? É possível um diálogo mais eficiente entre partidos de esquerda e os movimentos sociais? Como isso deve ser feito para atingir os menos favorecidos?

Para Tolovi, a vitória de Bolsonaro foi uma “tragédia” social no Brasil e que ele representou a “construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente”.

O professor foi taxativo ao destacar que o processo que culminou na vitória de Bolsonaro representa ações de um movimento fascista e lembrou que “não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo”.

Para complementar, asseverou:

A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto.

2022 chegou e os desafios são enormes, a começar pela retirada da cadeira de presidente daquele que representa um perigo para a já fragilizada democracia; para os menos favorecidos; para negros/as e povos originários; para a comunidade lgbtqia+......

Quer reler essa entrevista? É só clicar aqui.

Carlos Alberto Tolovi divulga seu novo livro: “Moral e Ética nas Relações de Poder”

 

Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social Podcast).

Por Nicolau Neto, editor

O professor da Universidade Regional do Cariri (URCA) e um dos fundadores do Projeto ARCA em Altaneira, Carlos Alberto Tolovi, divulgou na manhã desta quinta-feira (09), seu mais novo livro. A obra é intitulada “Moral e Ética nas Relações de Poder”, e foi publicada pela editora Brazil Publishing.

No livro, conforme informações do site da Brazil Publishing, Tolovi afirma que “a pandemia que atinge hoje toda a humanidade não é apenas um problema sanitário, mas o resultado e a consequência de um posicionamento ético”.

As relações de poder que produzem e sustentam as desigualdades sociais estão gerando, também, o desequilíbrio ecológico e vital em nosso planeta, diz Tolovi.

Ao problematizar a pandemia pelo viés da ética, o professor questiona: “se pensarmos em vacinas como a solução para o retorno à normalidade, temos de perguntar: o que definimos como normal? A estratificação e a desigualdade social; o racismo e o machismo estruturais; a destruição dos nossos ecossistemas, de nossas reservas naturais – poderíamos encarar tudo isto como normal, ou natural? O que estaria na base destes problemas, que comprometem a vida em nosso globo terrestre?”

O autor destaca, ainda em conformidade com a Brazil Publishing, que defende no livro que a grande questão está no campo da valoração, pois “a nossa visão de mundo – comprometida pela colonialidade e norteada por valores morais (os quais são materializados em nossas relações sociais) – precisa ser problematizada”, diz e complementa descrevendo que está “propondo reflexão e debate em torno da moral e da ética, a partir de uma questão fundamental: até que ponto os valores influenciariam as relações de poder que definem o campo da política? Como pensar as semelhanças e as diferenças destas relações, a partir destes dois campos?”.

Tolovi também é autor do livro “Mito, Religião e Politica. Padre Cícero e Juazeiro do Norte” que foi lançado em 2019. Nas redes sociais, o professor afirmou que sua mais nova obra já deve está em diversas livrarias.

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Discurso de Bolsonaro não tem nada de inocente, por Carlos Alberto Tolovi*


Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Arquivo do Blog).

Entendo que seu discurso não tem nada de insanidade. Carrega uma estratégia traçada pelos grandes empresários do país que o pressiona, respaldado por 30% de aprovação que ele ainda possui nas pesquisas. 

Um dos maiores fracassos do cristianismo foi ter transformado o sujeito histórico Jesus em um mito, diz professor Tolovi



O Blog Negro Nicolau (BNN) reproduziu na manhã desta terça-feira, 03/04, artigo do frade italiano Alberto Maggi, um dos os maiores biblistas vivos acerca da morte de Jesus Cristo, símbolo da religiosidade cristã.

No texto que teve a tradução do biblista brasileiro padre Francisco Cornélio, Maggi demole duas ideias que estão na base do cristianismo falsificado que os integristas sustentam há séculos, a saber: I - Jesus teria sido morto “pelos nossos pecados” e II - essa seria “a vontade de Deus” e tendo por base essas possibilidades que, para a grande maioria dos fieis passou a ter status de dogmas, o frade italiano propõe, ao analisar o próprio texto bíblico que não morreu pelos “nossos pecados” e sim por enfrentar o sistema e reitera ao argumentar “que Jesus morreu porque confrontou o Templo, um sistema de dominação e exploração dos pobres de Israel”.

Clique aqui e confira as ideias de Alberto Maggi que foi publicado em primeira mão no site Outras Palavras.

Vinicius Freire. (Foto: Nicolau Neto).
A redação do BNN entrou em contato com três especialistas no assunto – os professores Carlos Alberto Tolovi, Jair Rodrigues e Vinícius Freire – para saber suas versões sobre o posicionamento em destaque.

Vinícius Freire, que também é líder do Ministério Nissi em Altaneira, realçou que o tema é complexo, porém concordou em partes com as colocações de Maggi. Segundo ele, “Jesus foi perseguido por combater todo um sistema que existia na época” e que o texto “não tem a intenção de negar o sacrifício de cristo, mas sim, de combater a religiosidade, sobretudo os lucros que a religião gera”. Mas o líder nissiano também não nega que Cristo tenha morrido “pelos nossos pecados”.

Negar que Jesus morreu pelos pecados é negar toda a bíblia, desde as profecias do antigo testamento, até a pregação apostólica contida no novo e também os evangelhos, uma vez que o próprio Jesus faz menção à sua morte em passagens dos mesmos, mas entendo que o texto contextualiza a perseguição farisaica contra Jesus, a partir do momento em que a pregação dEle confrontava os fariseus e toda a estrutura religiosa e até social da época”, pontuou Vinícius.

Já o professor da URCA Carlos Tolovi foi enfático. “Texto muito bem elaborado. Com o qual concordo plenamente”, disse inicialmente. E aprofundou as ideias do frade ao mencionar que “um dos maiores fracassos do cristianismo do ponto de vista de sua contribuição para a construção de um mundo mais justo e solidário foi ter transformado o sujeito histórico Jesus, um sábio revolucionário, em um mito, para dar sustentação à uma moral colonialista”.

Tolovi - que é doutor em Ciências da Religião pela PUC – SP -, explica como se deu o que ele chama de “o mito do CRISTO”:

Professor Tolovi. (Foto: Reprodução/ WhatsApp).
Aquele que foi crucificado por vontade de Deus e por necessidade dos homens e mulheres em sua busca da salvação”, realça. Ele argumenta que essa narrativa não tem fundamentação ética, mas possui sustentação moral.

Para ele, essa é “uma forma de os seres humanos se utilizarem de um evento histórico revolucionário para elaborarem uma narrativa que sustenta a submissão e legitimação de relações de dominação em nome de Deus. Com isso o cristianismo, em grande parte, passou a adorar o 'deus da moral' constituída pelos valores dos colonizadores”.

Ainda no campo da moral e da ética, o professor universitário ressaltou que “dizer que Jesus sabia que deveria morrer daquela forma por vontade de Deus é tirar do mesmo a dimensão da ética”.  Afinal, ele não teria escolha e, portanto, mérito algum”, frisou.

Para Tolovi, é preciso entender Jesus pelo lado social e como personagem histórico que não só lutou contra um sistema de opressão, mas que buscou a transformação da realidade. “Ignorar que Jesus foi assassinado em nome de um deus que legitimava um sistema de dominação é querer desvincular Jesus dos movimentos revolucionários que buscam a transformação da realidade tendo em vista uma relação de equidade”, finalizou.

Até o fechamento deste artigo o professor e psicólogo juazeirense Jair Rodrigues ainda não havia se manifestado.
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Vinícius Freire tem graduação com licenciatura plena em História pela URCA (2011), servidor público no município de Altaneira e líder do Ministério Nissi.

Carlos Alberto Tolovi Possui graduação em Filosofia pela Universidade São Francisco - USF (1991), graduação em Teologia pelo Instituto Teológico São Paulo - ITESP (1995) e mestrado em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC (1998). Doutor em Ciências da Religião pela PUC - SP (2016). É professor de Filosofia na Universidade Regional do Cariri - URCA - CE, lotado no Departamento de Ciências Sociais. É diretor presidente da Fundação Arca e coordena o programa de extensão firmado entre a URCA e a ARCA (em Altaneira - CE). Autor do livro: "Mito, Religião e Política - Padre Cícero e Juazeiro do Norte". (Informações colhidas junto ao Lattes).


Esperança do Sertão, da Altaneira FM, promove bate-papo político


Depois de 5 anos este blogueiro voltou aos estúdios da Rádio Comunitária Altaneira FM. Durante o programa "Esperança do Sertão" da manhã deste sábado, 14, tivemos um bate-papo com o professor de Filosofia da Universidade Regional do Cariri (URCA) Carlos Alberto Tolovi. Falamos sobre a nova conjuntura política com enfoque na reforma ministerial do presidente interino Michel Temer (PMDB) que trará um impacto negativo para a população, especialmente aos menos favorecidos.

Tratamos sobre o Ministério da Educação (MEC) que será um desastre, pois está sendo ocupado por um dos partidos mais conservadores do país (DEM) e que foi contra a todas as políticas públicas que trouxe avanço significativo nesse setor, com destaque para o FIES, o ProUni, 50% do Fundo do Pré-sal para a educação, 75% dos royalities para essa área e os 10 do PIB destinados à educação, dentre outros...  O Ministério da Educação e Cultura será comandado por Mendonça Filho.

A Cultura também mereceu destaque. Tolovi destacou que a extinção do MinC demostra bem para que veio esse grupo político liderado por Michel Temer e com anuência de vários partidos de direita e apoio da mídia. Vieram para demonstrar o que tem de mais conservador e retrógrado e disse "quer acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação e a cultura". E é exatamente isso o que eles estão fazendo, concluiu. Fizemos questão de lembrar que a cultura é símbolo do processo de redemocratização do pais, pois ganhou status de ministério em 1985.

Foi alvo das nossas reflexões ainda a extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, o que para nós vem a reforçar a política elitista, racista e machista desse governo interino e ilegítimo. Reforçamos aqui o papel omisso da grande mídia que em nenhum momento teceu crítica a essa penosa reforma para as minorias (que na verdade são maioria, pois mulheres e negros representam mais da metade da nossa população). Não se pode conter despesas excluindo mulheres e negros de participação efetiva nos cargos e espaços de poder.

Mereceu destaque ainda no bate-papo político o que tem de mais contraditória na política desse (des)governo: o Ministério da Justiça e da cidadania que abrigará ainda a secretaria das mulheres, da igualdade racial e dos direitos humanos que será comandado por um sujeito chamado Alexandre Morais que em suas atitudes já demonstrou que não sabe o que é direitos humanos.

Por fim, mas não menos importante, frisamos também a falácia que foi dita pelos construtores do golpe e reproduzido pela grande mídia: o combate a corrupção. Foi consenso entre nós a ideia de que há uma correlação muito grande entre o golpe de 1964 e o de 2016. Naquele período a elite política e a mídia falaram em salvar o Brasil do comunismo e da corrupção e para isso a igreja católica ajudou. 

Hoje, esses mesmos setores e com o mesmo apoio de protestantes e católicos (na sua grande maioria) afirmaram que o Brasil precisa ser salvo da corrupção, mas o que se viu? Uma seletividade nas investigações e um único partido sendo o bode expiatório e causador de todo mal. Quando o presidente interino chegou ao poder nomeou 23 ministros, sendo que deste número 7 são alvos de investigações na lava jato e inclusive o próprio presidente lidera o grupo sendo o primeiro chefe do executivo federal ficha suja e já inelegível por 8 anos conforme apontou o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo no último dia 3 de maio.

Este blogueiro de volta aos estúdios da Rádio Comunitária Altaneira FM como um dos comunicadores do programa "Esperança do Sertão" ao lado do professor e comunicador Carlos Alberto Tolovi. Montagem da Foto: Nicolau Neto.

Uma análise da crise do Brasil: “Um incômodo diagnóstico”, por Carlos Alberto Tolovi*


Atualmente o brasileiro vem sendo provocado a discutir e opinar sobre a situação de crise do nosso país. Em momentos como esse os argumentos da grande maioria da população se constitui por meio das notícias veiculadas pela grande mídia nacional. O problema é que essa mesma mídia não é isenta como parece ser. Ela está envolvida no jogo e nas disputas de poder. Neste momento, o grande desafio consiste em conseguir olhar para além da “nuvem de fumaça” produzida pela grande mídia e reproduzida nas redes sociais e nos bate-papos das ruas, das esquinas, dos botecos, etc..

Na tentativa de identificarmos o contexto da crise a partir de uma visão mais ampla, queremos começar destacando três problemas de fundo:

A vitória da economia sobre a política
A vitória do mercado e do consumo sobre a ética
A vitória da alienação sobre o exercício da cidadania.

No primeiro caso, aquilo que estamos vendo na mídia todos os dias no Brasil é reflexo de um problema mundial que tem como base o sistema capitalista-neoliberal. Se por um lado a política deveria se definir como uma forma de organização e relação de poder tendo em vista o bem comum, por outro, (nesse sistema) a economia de mercado não se preocupa com a desigualdade social. O bem da economia está acima do bem de todos. A saúde da economia está acima da saúde do povo. Uma economia forte é mais importante que um povo forte.

A segunda situação é consequência da primeira. Mesmo porque, nesse sistema nós aprendemos que a medida do consumo é a medida da felicidade. Só quem pode consumir pode ser feliz. Sendo assim, a mercadoria se torna mais importante do que o sujeito que a produz. E, se a ética está situada no campo da reflexão e escolha livre, consciente e coerente, dentro do universo de corresponsabilidade nas relações humanas, nesse sistema ela fica completamente comprometida. Nesse universo, quem não produz e não consome atrapalha os produtores e consumidores. Portanto, poderiam deixar de existir. Não fariam nenhuma falta. Nesse contexto, a vítima é transformada em vilã. Não importa se não recebeu educação adequada, se não teve estrutura familiar, se não recebeu apoio nem oportunidades nos momentos decisivos de escolhas. De qualquer forma será visto como um derrotado e como um “peso morto” que os que produzem e consomem precisam carregar. E a lógica é perversa. O responsável pelas ações sociais que incluem os mais pobres é o Estado. Porém, os capitalistas defendem um “Estado Mínimo”, sem influência no mercado, com economia enxuta. E, para estes, gastar com quem não produz é desperdício de dinheiro e risco para a economia. Um sistema sem coração e sem ética.

Contudo, este sistema só pode se manter se receber uma aceitação coletiva. Mas, como a maioria do povo poderia aceitar um sistema tão perverso, que produz efeitos muito negativos para a maioria da população e para o meio ambiente (como podemos ver no mundo inteiro)? É muito simples: por meio de um processo de alienação. E sobre isso já falamos em outras reflexões. No sistema capitalista orientado pelo mercado a lógica de funcionamento é muito simples: a economia é o Deus. E todos precisam prestar culto à ela. O problema é que esse culto exige sacrifícios. E, problema maior ainda é que esse “Deus” só aceita um tipo de sangue: o humano. Mas ainda com um agravante: não pode ser qualquer humano, e sim aquele tipo que não possui poder de reação. Portanto, em tempos de crise, não se percebe a diminuição dos gastos do Palácio do Planalto, da câmara dos Deputados, do Senado, etc.. Também não se tem coragem de tomar o caminho de “taxar as grandes fortunas”. Aliás, onde foi parar a enorme lista de brasileiros com contas no exterior? Ah, é claro: havia muita gente da Globo nessa lista. Estes sabem como reagir e possuem meios para isso. Então, o que sobra? Cortar gastos da saúde, da educação, dos projetos sociais, etc..

Sendo assim, quem será, de fato, sacrificado? Quem ganha menos e quem consome mesmo. Estes são os que precisam da escola pública, da saúde pública, dos investimentos em projetos sociais.  Porém, o grande problema daqueles que possuem o poder de influenciar a mídia tendo em vista produzir uma imagem distorcida da realidade (ideologia negativa) são os mesmos que não se conformam com o fato de as últimas eleições serem decididas justamente pelos que sempre foram os mais marginalizados. Não porque eles ganharam consciência de cidadania da noite para o dia, mas porque sentiram os efeitos diretos de pequenos investimentos em projetos sociais que, mesmo com grandes problemas e com muitos erros, de certa maneira distribuía renda. Contudo, o mesmo sistema que tirou muita gente da miséria fez aumentar a classe média em nosso país. E essa classe média foi convencida de que o problema da crise está localizado no governo, no Estado e nos “pobres” que precisam dos projetos sociais. Sendo assim, a corrupção é vista apenas como sendo dentro do governo; os gastos desnecessários estão sendo feitos com quem não produz; e o Estado deveria abrir mão das maiores riquezas nacionais para o capital internacional. E nesse contexto a Petrobrás se tornou a grande referência em disputa.

Por outro lado, o governo, sabendo que o “Deus” capital é quem domina todas as formas mais importantes de poder, se corrompe para se manter com seu grupo e seus privilégios. Sendo assim, mesmo um partido popular – como era o PT – achou que deveria prestar culto à Deus e ao Diabo, cultuando “dois senhores”, e pensou que seria possível fazer isso sem ter de assumir as consequências dessa escolha contraditória. Com isso, cooptou as grandes lideranças dos movimentos sociais e sindicais colocando-os dentro do governo. Negociou com a extrema direita e se corrompeu na lógica do mercado dentro de um projeto de continuidade no poder.

E quais seriam as piores consequências desse triste quadro?

Os movimentos sociais e os sindicatos se enfraqueceram, porque passaram a fazer parte de um sistema e mecanismo de poder – ficou comprometida a concepção de “esquerda”.
Aos primeiros sinais de uma crise financeira o governo foi abandonado pelos seus aliados da “direita”. Não só abandonado, mas acusado como o único culpado. Aliás, com a descoberta do maior sistema de corrupção de nossa história, se descobriu também de que forma o governo conseguia vitórias no Congresso em meio à Deputados e Senadores corruptos.

Para sair da crise precisou lançar mão de medidas impopulares. O que facilitou a tarefa da mídia na construção de um “bode expiatório” e de um processo de alienação. Nesse contexto até a vítima ainda não percebeu que ela está sendo conduzida ao “matadouro” oferecendo poder aos que querem um sacrifício ainda maior. E a maioria passou a reproduzir o discurso dos seus “algozes” (carrascos).

Porém, aqueles que nós chamamos de “elite” dentro de um projeto de poder que privilegia apenas o mercado e não as pessoas e nem a ética, estão lutando para destruir o último sustentáculo de um governo que, apesar de cometer erros imperdoáveis, se diferenciou no investimento de projetos sociais: falta apenas sacrificar diretamente os que fizeram a diferença na disputa pelo poder – bolsa família, minha casa-minha vida, PROUNE, FIES, etc., etc..

Diante desse quadro, é praticamente certo um retrocesso do ponto de vista da política, da ética e da justiça social. Já temos um terreno completamente preparado para que o sistema de mercado volte a assumir seu império absoluto. Ao invés de corrigir os erros das estatais, evitando que sejam comandadas por indicações políticas, será melhor privatizá-las. Ao invés de votar a lei que torna crime hediondo a corrupção, é melhor afirmar que ela pertence à um só partido. Ao invés de mudar o sistema tributário, é melhor cobrar mais impostos. Ao invés de diminuir os privilégios dos políticos profissionais, é melhor aumenta-los para garantir a votação das leis necessárias para retomada da economia. Ao invés de diminuir os Ministérios, é melhor mantê-los como instrumento de barganha com os “Partidos aliados”. Ao invés de taxar as grandes fortunas, é melhor apertar o “cinto” dos mais pobres e taxar os setores produtivos. Ao invés de investir em projetos sociais, em saúde e educação, é melhor investir no fortalecimento da economia, levando em conta apenas quem é capaz de “aquecer” o mercado. Nesse sentido, a pergunta mais trágica não é a que a mídia está colocando todos os dias: “quem paga a conta”. A pergunta é: quem será abandonado ou será realmente sacrificado? Quem não paga plano de saúde, quem não tem seus filhos em Escolas particulares e pode pagar faculdade particular, quem não precisa dos benefícios do governo. Aliás, são estes que estão tirando hoje o governo do poder. E a maior acusação são os gastos do Estado e a corrupção da qual eles mesmos fazem parte elegendo e mantendo no poder políticos corruptos. Para se ter uma ideia, aqui em São Paulo, por exemplo, os Malufistas de “carteirinha” se tornaram militantes nas ruas gritando contra a corrupção do PT. E com eles estão os militantes do PSDB, do PMDB, do PPS, do PP, etc..

Bem, mas se hoje a “oposição” ao governo tem a maioria no Congresso, porque já não pediram o empeachment de Dilma?

Por dois motivos básicos – entre outros:

Ainda não “minaram” todas as bases de seu adversário. Não sangraram o suficiente para que ele não se recomponha. Se eles entrarem agora, assumindo o lugar de Dilma, e tiverem de retirar todos os benefícios dos pobres (como eles querem), perderão novamente as eleições no voto. Querem que, antes de sair, o PT mesmo faça a “limpeza étnica” – decrete o abandono aos pobres.

Em segundo lugar porque o argumento legal que pode tirar Dilma do Poder hoje é o uso de dinheiro da corrupção em sua campanha eleitoral. Este fato pode ser provado e já serve de argumento suficiente para caçar o mandato. O problema é o seguinte: qual deles não se utilizou do dinheiro de corrupção para chegar ou manter o poder? Por isso também não mudam a lei.

Bem, mas será que não resta nada de bom nessa história toda?

Penso que algo de bom pode surgir. Aliás, está surgindo. Na semana passada, dialogando com um grande amigo sobre a política nacional, nós chegamos à conclusão que a rotatividade de governos diferentes e o retorno das grandes lideranças dos movimentos sociais e sindicais ao posto de oposição poderá gerar uma dialética saudável ao nosso país. Além disso, problemas que já fazem parte de nossa cultura – como a corrupção, por exemplo – só mudam através de enfrentamentos de grandes crises. O que aconteceu com outros países da Europa após a destruição das grandes guerras mundiais. A nossa esperança é que essa crise possa fazer emergir em nosso país uma nova consciência e postura, principalmente diante da corrupção, que o brasileiro não aguenta mais.


Concluímos então com essa esperança, que pode ser ou não compartilhada por você.

*Doutorando em Ciências das Religiões e professor de filosofia da Universidade Regional do Cariri (URCA)

“TERCEIRA VIA: SERIA VIÁVEL?”, por Carlos Alberto Tolovi


O Blog Informações em Foco publicou no último dia 30 de setembro artigo em que cita a indignação do altaneirense Erisvan Demones, conhecido popularmente como Bilica, graduado em Educação Física e que ora atua como professor dessa disciplina na Escola de Ensino Fundamental e Médio César Cals de Oliveira Filho, no município de Quixadá, no que toca aos últimos debates travados na rede social facebook, tendo como ambiente de discussão o grupo “Altaneira-Ceará”.

Em comentário reproduzido neste portal, Bilica classificou as discussões como intolerantes e ignorantes e se questionou se os debates podem levar a alguma coisa construtiva.

Tão logo o artigo foi publicizado na rede social facebook, alguns navegantes teceram comentários. As discussões giraram em torno das prestações de contas das entidades Associação e Fundação ARCA, como também da Associação Beneficente de Altaneira –ABA, órgão mantenedor da Rádio Comunitária Altaneira FM. O advogado Raimundo Soares Filho, do “Blog de Altaneira” e o Assessor de Comunicação do Legislativo Municipal Júnior Carvalho, do Blog “A Pedreira” afirmam que falta transparência nas entidades supracitadas, pois estas não dão publicidades das prestações de contas nas redes sociais.

Membros da ARCA e ABA defendem que inexiste falta de transparência, uma vez que mensalmente essa é feita junto aos participantes e que ainda há publicidade na Rádio Altaneira Fm.

O professor e Vereador Adeilton entrou no calor do debate a arguiu “porque essas cobranças agora? Lembro que há algum tempo atrás os senhores defendiam a ARCA e o próprio Professor Tolovi a todo custo. Agora acompanhamos numa série de cobranças e perseguições as instituições públicas que nunca fora feita. Qual é, de fato, o objetivo disso tudo? Será que estão temerosos com os trabalhos desenvolvidos eles se tornem forte politicamente e se tornem uma ameaça para o poder? Vai entender. No mais, o Bilica é um grande cidadão e motivo de orgulho pra todos nós”.

O Secretário da Educação, Deza Soares foi enfático e discorreu que as inquietações de Adeilton não procedem. “Pelo o que tenho acompanhado nessas discussões, ocorreram apenas cobranças quanto a transparência das entidades no sentido de externarem as contas publicamente, o que não deve ser nenhum desafio ou constrangimento para quem prega transparência. Cobrar transparência é bem diferente de acusar, como fez o Vereador Adeilton, no plenário da Camara Municipal de Altaneira, se referindo ao Professor Carlos Alberto Tolovi”.

O caso de temer perca de poder foi rebatido por Raimundo Soares. “As cobranças se deram de forma natural, as defesas que fiz do professor Carlos Alberto Tolovi, continuo a fazer se forem necessárias, não vejo perseguição alguma a entidades se essas ocorreram foram em tempos passados.

Também não vejo ameaças ao projeto de poder em Altaneira, pois Tolovi é radicalmente contra uma terceira via e ele jamais se aliaria ao grupo destronado, destarte este tese é furada”.

Na manhã desta quinta-feira, 02, a redação do Informações em Foco recebeu e-mail do Professor Carlos Alberto Tolovi dissertando sobre a Terceira Via.

Vamos ao Texto

TERCEIRA VIA: SERIA VIÁVEL?

Não somente viável, mas também saudável para a política de Altaneira!

Mas, o que seria uma terceira via?

Seria um terceiro caminho!

Mas, como definir os dois primeiros caminhos já trilhados no campo da política partidária de Altaneira?

A primeira grande e prolongada experiência se constitui com os mandatos de Sr. Ivã Alcântara e Dorival. Incluindo a “grande família”, os amigos e os cúmplices. E ninguém pode negar que, do seu jeito, com sua metodologia, apesar de todos os erros cometidos, esse grupo deu a sua contribuição.

A segunda experiência é mais recente: se constitui com a família Soares – incluindo os “amigos” e os cúmplices. Este grupo também está dando a sua contribuição. Mais como forma de continuidade do mesmo sistema político, com os mesmo erros, com a mesma metodologia.

Estes dois grupos marcaram e ainda marcam a história e a cultura altaneirense. Nunca será possível relatar a história de Altaneira sem mencionar o polarizado conflito político entre estes dois grupos em disputa pelo poder nas últimas décadas.

Mas, o que estes dois momentos  nos revelaram?

Algo muito interessante: o quanto os maiores inimigos, no campo da política partidária altaneirense, possuem em comum. Os dois grupos são formados por pessoas de boa índole e pessoas de índole má. Possuem gente competente e trabalhadora, assim como incompetente, mas útil ao sistema de manutenção do poder. Possuem visão administrativa baseada em “mendicância” junto aos governos estadual e federal, em função de obras que não geram empregos, não geram fontes de renda permanentes, não cuidam do meio ambiente e não melhoram a qualidade de vida das pessoas. Se agarram ao poder em uma disputa que chega ser irracional. Alimentam a dependência como forma de “controle social”. Enfim, jogam o “xadrez da política” nos limites do mesmo “tabuleiro”.

Mas, como poderia nascer uma terceira via?

Na verdade ela já foi gestada e está nascendo. Contudo, os dois grupos não perceberam isso.

Assim como o movimento social fortaleceu a oposição ao primeiro grupo, colaborando para a derrota do mesmo (o que foi historicamente muito importante e positivo para o fortalecimento da dialética democrática na política), este mesmo movimento está fazendo nascer uma terceira via. Com a mudança de governo municipal o processo de conscientização não foi interrompido.

Mas, de onde nasceria esta terceira via?

Principalmente de uma juventude independente, autônoma, crítica e criativa. E aqui eu poderia citar dezenas de jovens com este perfil e que possuem liderança. Mas, para não correr o risco de deixar alguém de fora, deixo ao leitor a tentativa de identifica-los.

Mas, o que deveria caracterizar esta terceira via, este terceiro caminho?

A mobilização social e a coerência ética. A prioridade não  deverá ser  o cuidado com as pedras dos calçamentos e as paredes das grandes construções, mas com as pessoas e o meio ambiente. O poder não será um fim em si mesmo, mas um meio para o bem de todos. Os cidadãos não serão objetos, mas sujeitos participativos e atuantes. As parcerias não serão eleitoreiras, mas continuadas, em função do bem comum.

Mas, será este um caminho perfeito?

É claro que não. Certamente muitos que estarão optando por este caminho também só revelarão o que realmente são depois de estarem assumindo cargos de poder. Mesmo porque, neste campo da política, somente o poder tem a capacidade de revelar o opressor que está adormecido dentro do oprimido (como falava o grande Paulo Freire e que foi possível constatar recentemente).

Mas , quando é que esta terceira via poderia ser constituída?

Bem, o processo já está em andamento. Esta administração atual criou um clima favorável pela decepção que causou nas pessoas de luta e que não aceitaram os métodos utilizados. No entanto, o desencadeamento de tudo isso ainda está indefinido. Mas o importante é que a comunidade altaneirense já comece a amadurecer esta ideia. Se queremos realmente apostar em algo diferente no campo da política partidária em Altaneira, então precisamos investir e arriscar em uma terceira via, tomando outro caminho.

O que teríamos a perder?

Pense nisso!”

(Carlos Alberto Tolovi)