Após
lançar a proposta de base curricular comum para o ensino básico, o Ministério
da Educação (MEC) já discute o documento que norteará os currículos de todos os
cursos de licenciatura e de Pedagogia do País. Esse texto deve ir a consulta
pública até o fim do ano que vem. A pasta também retoma a discussão sobre criar
uma residência para os professores, nos moldes do que existe na área médica.
Um
dos principais objetivos é tornar os programas das graduações mais próximos da
realidade de sala de aula. "Muitos
cursos são mais voltados à formação científica do que à formação docente",
disse à reportagem o secretário de Educação Básica do MEC, Manuel Palácios.
Na
proposta de currículo do ensino básico, ainda em consulta pública, a opção do
MEC foi de apresentar só objetivos de aprendizagem, e não como ensinar. No novo
documento, haverá indicações sobre métodos.
"O diagnóstico é de que o espaço para
questões didáticas é pequeno na formação de professores", explicou
Palácios. "E mais importante do que selecionar um ou outro método, é que
aqueles reconhecidos como válidos em cada área sejam objeto de discussão nos
cursos."
No
próximo mês, uma comissão de especialistas deve divulgar um roteiro de trabalho
para o debate. Ao longo de 2016, universidades e organizações do setor também
poderão contribuir. O processo começa agora, mas deve ganhar força no segundo
semestre do ano que vem, quando o currículo do ensino básico estará pronto.
"O formato final deve atender às expectativas
geradas pela base (curricular do ensino básico)", disse Palácios. A má
qualidade na formação docente é considerada entrave para a adoção prática do
currículo único.
Bernadete
Gatti, especialista em formação docente, foi convidada para coordenar o grupo.
Segundo ela, servirão de ponto de partida as diretrizes do Conselho Nacional de
Educação, de julho, que elevam o conteúdo prático e a carga horária das
licenciaturas. "Com isso, não dá
mais para condensar, compactar (os cursos), como vem sendo feito",
afirma.
Para
cada disciplina, o documento do MEC terá uma seção separada. Também haverá
sugestões para as licenciaturas interdisciplinares. Ao fim do debate, o
documento deve tornar-se uma resolução. Com a reforma, a expectativa é reduzir
a evasão em carreiras como Matemática e Física, maiores que 60%.
Helena
Freitas, da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais de Educação,
defende participação mais ampla no processo. Outro problema é a baixa
atratividade da carreira. "Investimos
na formação de jovens que depois não vão para a escola pública",
critica.
Residência
A
criação de uma residência docente também está na agenda do ministério. Proposta
semelhante já tramita no Congresso desde 2012.
A
ideia, segundo Palácios, é o governo federal dar bolsas para recém-formados
trabalharem por um ou dois anos nas redes municipais e estaduais. Assim, o
professor chegaria "com experiência de ensino mais expressiva".
O
modelo já é adotado por algumas universidades em parceria com as redes. "Esse candidato a professor teria condições
de trabalhar na escola e, ao mesmo tempo, ter um suporte universitário",
diz. A reforma curricular das licenciaturas e o reforço de estratégias de
formação à docência estão previstos no Plano Nacional de Educação. Já a antiga
a ideia do MEC de instituir uma prova nacional docente, que serviria para
ingresso na carreira em todo o País, não está na pauta no momento, segundo o
secretário.