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Em vias de preterir Risério, por Alex Ratts

 

Alex Ratts. (FOTO/ Divulgação).

O antropólogo Antônio Risério, do artigo “Racismo contra branco” (Folha, 15/01/21), tinha bastante trânsito com os movimentos negros nos anos 1980 e estava à frente do CERNE (Centro de Referência Negro-Mestiça).  Escreveu alguns livros sobre culturas negras e poéticas africanas. Nos anos 2000, passou a fazer parte do conjunto de personalidades anti-cotas raciais, tendo por alvo a intelectualidade negra.

Desde então, vem requentando suas opiniões de forma desproporcional à dimensão da questão racial, sem diferenciar processos históricos, assim como os racismos, as ideias de raça, arregimentando um ódio indeterminado contra negros e negando, inclusive, parte do que escreveu.

Em tempos da segunda abolição, parafraseando Luiz Gama: [numa instituição que faz ação afirmativa] se uma pessoa branca for preterida por causa de uma pessoa negra, é legítima defesa.

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Publicado originalmente em seu Blog.

A educação Popular não começa com Paulo Freire, diz Alex Ratts


Ironides Rodrigues ministra aula de alfabetização para jovens e adultos
 inscritos no Teatro Experimental do Negro. Rio de Janeiro, 1945.
(FOTO/Reprodução/Alex Ratts).

Texto | Nicolau Neto

No último dia 19 de setembro o Brasil relembrou o nascimento de Paulo Reglus Neves Freire. O pernambucano mais tarde se tornaria o educador mais conhecido e influente no mundo.

Mais além da cota: a onda negro-africana, por Alex Ratts



Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento e Lélia Gonzáles. (da esq. para a
dir.). (FOTO/Reprodução/Blog do Alex Ratts).

Desde o começo dos anos 2000, uma série de demandas, movimentações e políticas contundentes, no campo da educação e também do trabalho, visam ampliar a participação negra nas universidades, na produção do conhecimento e da arte e em inúmeros espaços de decisão e visibilidade. Em geral, as denominamos de ações afirmativas e a modalidade mais mencionada, pouco conhecida e muito confrontada são as cotas, sobretudo as raciais.

Individualidade e coletividade no movimento negro de base acadêmica, por Alex Ratts



Tudo panos, úmido murcho, como corda antes da música. udo uma roupa vasta que a mão separando ajunta. fios de uns e outros misturados, cada um com seus nomes. De rito e de longe, de muito e nenhum recurso. Tudo um risco para quem torce as costas no tanque. Como as letras na impressora antes dos livros. Tudo roupas para um corpo que se expande todo braços, segurando as peças. A quem atenta são páginas de leituras
                                                                                                      
                                                                                                       Edimilson de Almeida Pereira – Nos Varais


A encruzilhada, linha de força, entre individualidade e coletividade, é aqui analisada na constituição do movimento negro contemporâneo, especialmente nos circuitos acadêmicos. Esse aparente antagonismo entre o indivíduo e o coletivo no campo político reside no fato de que o ativismo em movimentos sociais colocou (e talvez ainda coloque) barreiras para a expressão da individualidade se apresentar com agudez posto que elementos da individualidade como o pertencimento racial e/ou de gênero são vistos como obstáculos para a construção da objetividade no pensamento científico.

Foram determinados indivíduos, com suas personalidades, que assumiram certos campos de atuação e temas de estudo. O envolvimento com o movimento negro foi bastante amplo para alguns/umas acadêmicos/as. Questionaram a sociedade, a esquerda, os movimentos sociais de classe e de gênero e o próprio movimento negro. Deram novos sentidos ao fazer político social, racial e/ou de gênero. Sabendo do custo de ser negro no Brasil, tornaram-se negros/as ativistas intelectuais. Romperam com o lugar social subalterno, enfrentaram o racismo e/ou o sexismo.

No entanto, algumas pessoas de referência neste campo tiveram suas trajetórias interrompidas com a morte em plena maturidade.

Escrevo com base em pesquisa individual e em leituras de outros/as pesquisadores/as que tratam de trajetórias de ativistas negros/as, agregando-as para problematizar a relação entre individualidade e coletividade, o que envolve a abordagem de um projeto tanto pessoal quanto político. Centrar-me-ei em alguns indivíduos que emergiram no cenário nacional nos anos 1970 e marcaram indelevelmente o movimento negro contemporâneo e o campo de estudo das relações raciais e/ou de gênero na escolha e no tratamento dos temas do racismo (em correlação com outros sistemas de opressão) e da cultura negra.

Em síntese, trabalho em duas direções: 1. A idéia de um movimento negro de base acadêmica com um projeto político; 2. Os dilemas entre individualidade e coletividade, recolocados em outras aparentes contradições, para intelectuais ativistas negros/as. Olhando para as décadas de 1970 a 1980, destacam-se as figuras exemplares de Eduardo Oliveira e Oliveira, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento e Hamilton Cardoso. Eventualmente menciono outros/as que alcançaram visibilidade pública no mesmo período ou em décadas anteriores, e que também compuseram esse cenário.

Seus percursos indicam a existência de dilemas entre: militância e academia; política e cultura; racismo, sexismo e classismo; movimentos negros e movimentos de base classista ou de gênero; e, de certa maneira, entre vida e morte conquanto se confrontaram com sistemas de interrupção da existência humana que vão desde a desumanização até a eliminação sumária (de indivíduos e coletividades inteiras). Alguns/umas vieram a morrer antes dos 60 anos de idade, por motivo de doença grave, assassinato ou suicídio.

A trajetória de intelectuais críticos de seu tempo e de seus contextos de vida indica questões específicas que podem ser compreendidas igualmente em sentidos coletivos.

No caso da formação de “intelectuais negros/as insurgentes” (hooks & WEST, 1991), especialmente aqueles/as vinculados/as ao movimento negro, há questões ligadas à construção de sua individualidade, à opção pela militância, à sua ligação com as comunidades e culturas negras, e, à continuidade de suas trajetórias enquanto acadêmicos/as e intelectuais. Coloca-se a questão da formulação e veiculação de um discurso, enquanto “vontade de verdade” (FOUCAULT, 1999), sendo o/a intelectual aquele “que procura, incansavelmente, a verdade, mas não apenas para festejar intimamente, dizê-la, escrevê-la e sustentá-la publicamente” (SANTOS, 2001). Com um “intelecto inquiridor e profundamente confrontador” (SAID, 2003: p. 29) e portadores de “saberes sujeitados” (FOULCAULT, 2005: p. 11) esses/as intelectuais se confrontaram com encruzilhadas e superaram muitas delas “ em movimento”, mas nem sempre em consonância com o movimento negro.


O nome do corpo, por Alex Ratts*


Quem sabe do corpo partido. da cabeça. do cérebro. dos neurônios. dos dreads. das voltas dos cabelos. do nervo ocular. da córnea. da íris. dos lábios. das narinas. da traqueia. da laringe. das orelhas. dos tímpanos. dos dentes. das próteses. dos pelos. dos óculos. dos brincos. das escarificações. dos adornos labiais. das miçangas. da roupa.

Quem sabe do corpo partido. dos ossos. das cartilagens. das tatuagens. das pinturas. do pescoço. dos ombros. dos cotovelos. das palmas das mãos. dos peitos. do sexo. de outras próteses. das cavidades. do coração. do estômago. dos intestinos. da coluna vertebral. dos joelhos. dos calcanhares. das coxas. das palmas dos pés.

Quem cuida do corpo partido. das veias. do sangue. na hora boa. na hora da ira. na hora triste. na fronteira. no muro. na cerca. na margem. no limite de cada movimento. das marcas do tempo de criança. dos ferimentos à bala. na esquina. no beco. na viela. no semáforo. na enfermaria.

Quem cuida do corpo partido. seccionado. descrito. inscrito. quem cuida de cada parte. quem escolhe. recolhe. toca. estende. descreve. inscreve. retrata. canta. redime. sob a folha. sobre a palha. sob o algodão. sobre o linho. quem sabe do bálsamo. quem embalsama e quem perfuma. quem cuida de quem cuida e de quem cura. quem leva.

Quem vê o corpo partido. quem o vê somente em partes. quem duvida. quem rotula. quem soterra. quem despreza. quem tortura. quem corta. quem expõe. quem exaspera. quem inspeciona. quem esconde. quem mente. quem lembra o nome do corpo inteiro. quem guarda o nome. quem dá o nome que faz sentido.

[referido ao estandarte “Eu preciso destas palavras” de Arthur Bispo do Rosário, às canções “Ain’t got / I got life” do musical Hair e do repertório de Nina Simone e ao poema de Ricardo Aleixo]

Acesse o texto na íntegra clicando aqui

*Arquiteto, geógrafo, antropólogo e poeta. Estuda e escreve acerca de raça, etnia, gênero, sexualidade e espaço.