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Grupo de escritores sai em defesa de Munduruku na ABL

 

Escritor indígena é um dos candidatos à cadeira de número 12 vagada com a morte de Alfredo Bosi, em abril de 2021 | © Luciano Avanço / Divulgação.

No próximo dia 18, a Academia Brasileira de Letras (ABL) realiza mais uma eleição. Desta vez para definir o novo ocupante da cadeira de número 12 vagada com a morte de Alfredo Bosi em abril de 2021. Concorrem o médico Paulo Niemeyer, o poeta e crítico Joaquim Branco e o escritor Daniel Munduruku.

Um grupo de quase 100 escritores divulgou carta de apoio a Munduruku. Se eleito, o escritor será o primeiro indígena a ocupar um assento na ABL. “Daniel Munduruku é um intelectual indígena, foi dos primeiros a escrever histórias inspiradas na mitologia e no modo de vida dos indígenas brasileiros para o público infantil, expandindo a cultura dos povos originários a todas as crianças brasileiras”, descreve a carta, que defende a necessidade de a ABL pensar na diversidade de nossas etnias ao escolher seus imortais.

Entre os signatários está Viviana Bosi, filha do último ocupante da cadeira 12.

Clique aqui e confira a carta em apoio à candidatura do escritor Daniel Munduruku para ABL

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Com informações do Publishnews.

Academia Brasileira de Letras inclui necropolítica, feminicídio e sororidade no vocabulário ortográfico

Academia Brasileira de Letras. (FOTO/ André Bispo).

Desde 2009 sem a inclusão de novas palavras, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) teve atualização divulgada nesta última sexta-feira (23) pela Academia Brasileira de Letras (ABL). A partir de 23/07 necropolítica, feminicídio e sororidade, junto com outras 997 palavras fazem parte do vocabulário da língua portuguesa.

As palavras, que já estão no cotidiano de muitos brasileiros e brasileiras, sabendo eles ou não do seu significado, agora fazem parte da ortografia nacional. Como justificativa de inclusão das novas palavras está a pandemia, além de termos utilizados com frequência pela imprensa e em textos acadêmicos. Além das mil novas palavras incluídas, a atualização contou com outras 382 mil entradas, entre correções, variações e termos estrangeiros.

A palavra Necropolítica é utilizada para quando o Estado define quem pode viver e quem pode morrer. Muito utilizado pelo filósofo e escritor camaronês Achille Mbembe, o termo ficou conhecido no Brasil pela frase: “quando o Estado não mata, ele deixa morrer”.

Feminicídio é o assassinato de uma mulher por um homem e geralmente o crime é realizado pelo companheiro ou ex-companheiro. No Brasil, em 2020, de acordo com o Anuário de Segurança, houve 1.350 feminicídios. Destes, 61,8% foram de mulheres negras com idade entre 18 e 44 anos. No ano anterior, 70,3% dos feminicídios foram de mulheres pretas, tendo uma pequena queda na taxa.

Já a “Sororidade” é a união entre as mulheres para ser alcançado algo. Não julgar outras mulheres pelas suas ações e desconstruir uma rivalidade imposta socialmente, são igualmente a essência deste movimento. Ajudando assim na luta diária de toda sociedade no combate ao machismo, feminicídio e sexismo.

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Com informações do Notícia Preta.

Conceição Evaristo na Academia Brasileira de Letras: um passo para descolonizar o pensamento


A Escritora Conceição Evaristo. (Foto: Reprodução/El País).

Imagino um encontro de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo. Não nos anos de 1960, mas no agora, em meio ao burburinho em torno da candidatura da autora de Olhos d’ água (Prêmio Jabuti 2015), à cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL), cujo resultado será conhecido nesta quinta-feira (30). A autora de Quarto de despejo, é bem provável, se rejubilaria na conquista de Conceição, que transcende o trabalho individual e faz as vezes de caminhada de muitas outras Conceições e Carolinas. A expectativa é que Conceição Evaristo, se eleita for, viva um feito histórico para a literatura brasileira e de forma mais ampla para mulheres negras, cujo lugar da escrita não foi dado como natural, uma vez que jamais está dissociado do poder e, em uma sociedade como a brasileira, a recusa branca à concessão de privilégios é uma pauta permanente. Mas voltemos a cena. Conceição chega à ABL acompanhada por Maria Firmina dos Reis, autora do precursor Úrsula (1859), de Ruth Guimarães, que publica Água funda quase cem anos depois, em 1946, e, como nas narrativas do afrofuturismo, em que passado e presente se combinam em torno de um futuro mais viável, por mais dezenas de jovens escritoras afrodescendentes, que produzem no século XXI narrativas a um passo de descolonizar o nosso pensamento, a começar pela escrita.

Em todo o país, os últimos anos assistiram o surgimento de trabalhos que procuram dar visibilidade à autoria de mulheres negras, resultado de um mundo em que as minorias, percentualmente a maioria no país, reivindicam reparações a direitos históricos, de uma universidade brasileira em que mais negros puderam ter acesso a partir de 2002, e de leitores que desejam se ver finalmente representados nas narrativas. Não me refiro apenas ao trabalho de pesquisa acadêmica que, driblando o racismo institucional, aponta para o crescente interesse pelo espólio de Carolina Maria de Jesus, redescobre a poetisa simbolista Gilka Machado (branca nas imagens de época tal e qual o primeiro presidente da ABL, Machado de Assis, também embranquecido pela história), e faz uma releitura da crítica e da historiografia literária. Editoras de pequeno porte, batalhas nas periferias (e não só nelas!) como os slams, eventos literários, projetos de inserção de escritoras negras, são algumas ações que desenham o panorama de refração do efeito produzido por autoras que furaram o cerco e se estabeleceram no campo literário brasileiro como a mineira Conceição Evaristo, com sete obras publicadas. Em meio a dezenas de iniciativas, o Escritoras Negras da Bahia é um projeto que me chama atenção, não apenas pelo rastreamento de escritoras negras no estado brasileiro onde o Brasil começou, mas sobretudo porque incentiva que as próprias escritoras negras se anunciem neste censo. Em um ano de projeto já foram mapeadas cerca de 50 autoras e o público pode conhecer os perfis de pelo menos 30 delas pelo website da iniciativa, clicando nos nomes das escritoras ou explorando o mapa da Bahia. Para se ter a dimensão do que esse número representa, podemos pensar em outra iniciativa importante, o Panorama editorial da literatura afro-brasileira através dos gêneros romance e conto, dossiê elaborado por Luiz Henrique Silva de Oliveira e Fabiane Cristine Rodrigues. Nele, foram contabilizados 29 autores, entre eles apenas nove mulheres, publicados entre 1859 e 2016, totalizando 61 romances de autoria afro-brasileira. Mas também podemos apelar para uma situação concreta e até individual, parafraseando a provocação que fomenta o projeto baiano: quantas escritoras negras contemporâneas, você, leitor, conhece? Se adaptarmos a pergunta para o contexto baiano, estaremos falando do mesmo local de onde saíram nomes amplamente conhecidos como Castro Alves e Jorge Amado. Como justificar então que não se conheça o trabalho de escritoras negras do estado mais negro do país?

A coordenadora do projeto, jornalista e doutoranda em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), Calila das Mercês, define sua atuação, bem como da equipe que viajou pela Bahia, ministrando oficinas para estabelecer contato com as escritoras de diversos gêneros, tanto escritos quanto orais, como uma espécie de curadoria, sem intenção de eleger bons e maus textos, de dizer quem pode ou não carregar a alcunha de escritora. À equipe cabe o papel de incentivar essas artistas da palavra a compartilharem seus trabalhos, a se sentiram escritoras, feito ainda raro para muitas delas. O grupo, que conta ainda com Kênia Freitas, pesquisadora de cinema negro e afrofuturismo, e Raquel Galvão, doutoranda em Literatura pela Universidade de Campinas (Unicamp), começou as visitas pelo extremo sul da Bahia, não à toa, porque é lá que começam as narrativas sobre o descobrimento. Caravelas, uma das primeiras cidades do território brasileiro, entre outras dos 417 municípios baianos, foi visitada pelo projeto em busca de diálogo com mulheres leitoras e escritoras, cuja ancestralidade é centenas de anos anterior aos movimentos feministas. Em seu primeiro ano, o projeto recebeu apoio do Fundo de Amparo à Cultura do Estado da Bahia, e agora deseja outros voos, como a publicação independente de textos de algumas das autoras mapeadas, porém com trabalhos ainda inéditos ou publicadas por selos de pouca visibilidade.

A jornalista e curadora de eventos literários Jéssica Balbino coordena a partir de São Paulo um trabalho similar, de auto mapeamento autoral, porém voltado para a autoria de mulheres periféricas. Apesar do recorte específico, o projeto Margens também nos ajuda a enxergar a inserção de mulheres negras no campo da escrita em praticamente todas as regiões do país. Outro aspecto a ser notado é que as duas iniciativas se desenrolam em plataformas digitais, de modo a tornar possível a circulação dos nomes dessas autoras, bem como alguns de seus textos, pondo fim a “justificativa” de que não se lê autoras negras porque não são conhecidas ou não se sabe onde elas estão. A professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Fernanda Felisberto da Silva, que realiza ampla pesquisa sobre a presença negra no mercado editorial brasileiro, o que inclui autoras nacionais e estrangeiras traduzidas, chama atenção para o fato do mercado não estar alheio às discussões de raça no país, ao mesmo tempo em que o acolhimento em relação à autoria feminina negra ainda precisa avançar, porque a maior parte dessa autoria continua sendo publicada por editoras de médio e pequeno portes, esbarrando muitas vezes no problema de distribuição dos livros. Diante das dificuldades de infiltração, muitas autoras optam pela estratégia de publicação em coletâneas, equacionando custos, para ver seus textos circularem. Traduzida para o inglês, o francês e o espanhol Conceição Evaristo, por exemplo, é publicada pelas editoras Malê e Pallas, especializada em cultura afro-brasileira. Para Fernanda, a eleição de Conceição abre novos horizontes, em que a autoria negra passa a compor o imaginário simbólico e literário nacional. Mas como será o depois, na prática, é difícil prever.

Até aqui podemos aferir que a opção, seja na obra de comprar ou ler, mais do que nunca, é política e ideológica, e jamais circunstancial. Do mesmo modo que levar autoras negras para a sala de aula é, como sempre foi, uma escolha. No Distrito Federal desde 2014, o projeto Mulheres Inspiradoras leva para escolas públicas de Brasília e seu entorno as experiências de autoras que precisam furar o cerco social, editorial e institucional para serem lidas. A lista de livros não é formada exclusivamente por autoria negra, porém inclui livros poucos previsíveis para um ambiente escolar pensado como branco e mantém Carolina Maria de Jesus como um de seus nomes obrigatórios. Além dela, os alunos do 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio são incentivados a ler as obras das escritoras negras Cristiane Sobral, Meimei Bastos, a ruandesa Scholastique Mukasonga além de Conceição Evaristo e da autora indígena Eliane Potiguara.

Se é consenso não conseguirmos prever o passo após a chegada de Conceição à Academia, também há concordância de que qualquer efeito positivo, seja para o mercado editorial, tornando-o mais empático com a autoria feminina negra, ou para que mais mulheres negras escrevam, não é transitório. A autoria negra não espera ser celebrada apenas em edições temáticas de feiras literárias, muito menos disputa cota quando se é maioria no cerne da questão. Espera-se muito mais que isso. Porque Conceição e tantas escritoras negras não são feitas de matéria passageira, mas de percurso espinhoso, que inclui problemas estruturais e sistêmicos, racismo institucional em meio a resistência, mobilizações e, no caso da postulante à nova vaga entre os imortais, também de trabalho crítico e literário ao mesmo tempo em que denuncia os descalabros sociais da população negra. A ABL tem agora uma chance única de espantar o mofo incrustado. É ela quem sai levando a melhor ao coroar Conceição Evaristo. (Com informações do El Pais e Ceert).

Academia Brasileira de Letras não merece Conceição Evaristo



(Foto: Divulgação/Flip).


Em julho deste ano, Conceição Evaristo, 71 anos, cruzava de barco a Restinga da Marambaia, debaixo de sol, e se embrenhava na mata para ter um encontro com os quilombolas e caiçaras do isolado Quilombo da Marambaia. Pé na terra, abraçou, comeu, ouviu e falou. Viveu.

Nossa literatura acadêmica é composta, basicamente, por brasileiros que não têm o costume de ir ao encontro do mundo. Nossa arte clássica é, em geral, produzida por artistas que nunca saíram da sombra, que pouco saíram de casa, e que baseiam sua vivência de mundo em uma vivência exclusivamente intelectual e elitizada. Não sujam as mãos, não colocam os pés na terra, não vão ao encontro do outro.

Por isso, a Academia Brasileira de Letras não merece Conceição Evaristo.

A ABL é uma instituição que, afinal, só é notícia quando há a morte de um membro e na eleição do substituto.

Uma espécie de involuntário cemitério de elefantes, onde se migra para esperar a visita definitiva da grande senhora. Mais um retiro do que um lugar vivo, que produz, pulsa, compartilha.

Afirmo na condição de autor de “Fé na Estrada” (Ed. Leya/Casa da Palavra), eleito recentemente por voto popular um dos 25 romances mais importantes do século XXI. Entre autores consagrados, quase todos homens brancos. Afirmo em consonância com meu amigo Luís Fernando Veríssimo que, ano após ano, recusa o convite para de candidatar a uma vaga na Academia.

A ABL não está em movimento.

Já Conceição Evaristo está. E, de certa forma, é.

A autora criou o incrível termo Escrevivência – “um jogo acadêmico com o vocabulário e com as ideias de escrever, viver e se ver.” – segundo a autora.

É essa a principal revolução que Conceição Evaristo levaria, se tivesse sido eleita hoje para uma cadeira da ABL que, blindada, casa fechada, não incorporaria.

Conceição Evaristo seria a primeira mulher negra a integrar a ABL. Não foi. Mas isso diz mais à respeito do Brasil, da Academia, e de nossa Cultura, do que sobre a autora.

O movimento não é uma novidade para o negro. O negro está em constante movimento. E, em um momento no qual acontece no Cine Odeon o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe, reunindo centenas de cineastas negros, em que Gilberto Gil palestra sob Inovação e tecnologia, no Teatro Oi Casagrande lotado, as rodas de Slam ocupam praças nas periferias, e uma FLUP (Festa Literária das Periferias) se concentra na região do Cais do Valongo para promover seminários como a “Escrita Preta” e, em parceria com a TV Globo, prepara roteiristas negros de TV, evidencia-se isso.

Hoje, parece que todo o movimento que há na cidade é negro.

E Conceição Evaristo, toda ela movimento e escrevivência, um exemplo já no radar de meninas negras de periferia que desconfiam, com razão, de que sua origem de classe e cor de sua pele as impeçam definitivamente de seguirem a carreira de escritoras.

O movimento de Conceição Evaristo é tão vigoroso que é capaz de colocar em movimento tudo em volta.

Enquanto nossa ABL, distante da vida aqui fora, insiste em ser um jazigo do passado. (Por Dodô Azevedo no G1 e reproduzido no Geledés).

Conceição Evaristo confirma que irá formalizar sua candidatura à Academia Brasileira de Letras


Conceição Evaristo será homenageada no Prêmio Mestre das Periferias e receberá R$ 30 mil.
(Foto: Bárbara Lopes/Agência O Globo).

A escritora Conceição Evaristo confirmou nesta terça-feira que pretende entregar sua carta de candidatura à Academia Brasileira de Letras (ABL) até o fim desta semana. A autora foi anunciada ainda como homenageada do primeiro Prêmio Mestre das Periferias, que acontece em agosto, e vai receber R$ 30 mil.

No último dia 21, Ancelmo Gois já revelava em sua coluna que a escritora pretendia formalizar a candidatura. Uma petição online criada em apoio à eleição da autora para a ABL já ultrapassou as 18 mil assinaturas.

— Essa campanha tem me sustentado e motivado a seguir com a candidatura. Ver essa movimentação me fortalece — disse Conceição.

Para a autora, vencedora do Prêmio Jabuti com o livro "Olhos d'água", postular a cadeira nº 7 da Academia, deixada pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, é mais do que buscar um reconhecimento pela sua obra.

— A ABL congrega e difunde a literatura brasileira, e eu, como escritora negra que representa vários escritores e escritoras negras, acredito que esse é um espaço a ser ocupado. Estamos nos candidatando a um lugar que, como todos os lugares da política e da cultura, são lugares dos negros, que devem estar representados.

Além da coleta de assinaturas, foi criada uma página em apoio à escritora e vão ocorrer "tuitaços" com a hashtag #ConceiçãoEvaristoNaABL nos dias 7 e 20 de junho. A campanha foi criada pelo Observatório de Favelas em parceira com a Redes da Maré e o Instituto Maria e João Aleixo — responsável pelo Prêmio Mestre das Periferias que irá homenagear ainda o ativista indígena Ailton Krenak, o líder quilombola Negro Bispo e, em memória, a vereadora Marielle Franco.

Segundo Piê Garcia, coordenadora de comunicação do Observatório de Favelas, existe uma dívida história em relação aos negros no Brasil, evidentes em espaços como a ABL. Apesar de ter sido criada por um negro, Machado de Assis, a instituição nunca elegeu uma mulher negra como imortal em seus 120 anos de existência.

— Eleger a Conceição, além do reconhecimento de sua obra literária, é uma iniciativa de reparação desse nosso histórico escravocrata numa instituição ocupada massivamente por homens brancos — afirmou Piê — E essa é uma ótima oportunidade de prestigiar alguém com a grandeza que ela tem, além de mostrar o quanto representatividade é algo importante. (Com informações do O Globo).