Por Alexandre Lucas, Colunista
Consagrar os saberes populares, enaltecer as periferias e defender o mesmo arroz e feijão simbólico para as populações das margens excluídas socialmente das cidades é um atestado de permanência nas relações de exploração e opressão. Se considerarmos que o espaço urbano é produzido a partir da lógica desigual de produção, concentração e circulação do capital, o que inevitavelmente produz estratificação social e espacial, podemos concluir que para reverter essa situação se faz necessário romper com essa estrutura e combater essa permanência.
Essa
compreensão nos coloca diante da necessidade de estabelecer uma relação das
espacialidades marginalizadas com o contexto de infraestrutura da sociedade, ou
seja, com a sua base econômica. É diante desta correlação que podemos
constituir uma narrativa de emancipação humana que atenda aos interesses de
classe, gênero e cor.
Essa
compreensão caminha contrária à lógica de permanência do modo de produção
capitalista, é uma perspectiva anticapitalista. Portanto, reconhece os saberes
populares e as chamadas periferias como ponto de partida para apropriação de
outra realidade e não como narrativa de continuidade.
Não
se trata de negar os saberes populares e o senso comum, mas de reconhecer como
uma negação de direitos.
No campo
das políticas públicas, destinar às populações de espacialidades marginalizadas
um repertório reduzido para apropriação da produção do conhecimento
historicamente produzido pela humanidade, a restrição às inovações tecnológicas
e aos serviços públicos, arquiteturas públicas de baixa de proporção e
urbanizações remendadas, apenas reforça o teor desproporcional da chamada
democracia burguesa e o caráter da luta de classes.
Nas
espacialidades marginalizadas é preciso reconhecer os fazeres e saberes populares
como construtores de paisagens urbanas e culturais e ao mesmo tempo constituir
processos de ampliação da visão social de mundo, a partir da apropriação dos
códigos eruditos e da elevação do poder de consumo social.
Diversas
manifestações culturais, artísticas e esportivas de caráter popular já estão em
áreas marginalizadas, como é o caso dos grupos de capoeira, quadrilhas juninas,
hip hop, artesanato, futebol, grupos da tradição popular e uma infinidade de
outras práticas, essas ações devem continuar acontecendo e serem fomentadas,
porém, não como únicas alternativas. Capoeiristas, rappers, brincantes,
artesãos e toda a população oriunda da classe trabalhadora deve ter o direito
de sonhar e acessar o doutorado, de ocupar os espaços de dirigentes de Estado e
de partilhar de forma justa da economia que é produzida.
A
nossa luta é contra a existência de periferias para a classe trabalhadora, onde
os espaços de poder são periféricos e a democratização da sociedade é
restrita. Ser antiperiférico é compor a
agenda pelo direito à cidade, é reconfigurar a função do popular e
redimensionar a luta anticapitalista de caráter classista.
Muito bom mesmo o texto.
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