Ambientalista diz que Bolsonaro mente ao falar de apoio a comunidades tradicionais

 

(FOTO/ Greenpeace).

Em discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apresentou algumas informações ambientais incorretas, especialmente ao falar que “o governo federal investe no fortalecimento das ações de apoio às comunidades tradicionais”, o que inclui as populações indígena e quilombola.

A doutora em Ciência Ambiental, Cínthia Leone, assessora do Instituto ClimaInfo, conta que esse apoio não condiz com a verdade. A profissional lembra que Bolsonaro sempre foi transparente quanto ao seu desprezo pelos povos indígenas e quilombolas e que ele ficou em uma “posição desconfortável” ao ser pressionado sobre questões étnico-raciais pelo governo de Joe Biden, presidente norte-americano que convocou o evento na quinta-feira (22).

Os indígenas e quilombolas brasileiros conseguiram dar visibilidade internacional aos ataques de Bolsonaro contra eles e contra as florestas. Essa pressão elevou o custo político para Biden de um acordo entre os dois países enquanto esse contexto se mantiver. Só restou ao Itamaraty orientar o presidente a mudar o tom de seus ataques a esses grupos, mas é tarde”, avalia a doutora, em entrevista à Alma Preta.

O tratado entre Brasil e Estados Unidos é pautado pela promessa de Biden sobre a criação de um fundo internacional de 20 bilhões de dólares para manter a conservação da Amazônia. Na última Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente Bolsonaro negou a existência de incêndios documentados na região. Agora precisa convencer que está comprometido com a conservação ambiental do bioma para conseguir fechar o acordo.

Outras informações incorretas

Cerca de 40 países participaram da reunião e durante os sete minutos de fala Bolsonaro voltou a afirmar que o Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa, informação falsa já apresentada na carta enviada a Biden na semana passada.

Os especialistas ambientais Claudio Angelo, Felipe Werneck, Jaqueline Sordi, Marcela Duarte, Maurício Moraes e Chico Marés, em parceria entre o Fakebook.eco e a Agência Lupa, retificaram algumas informações citadas pelo presidente brasileiro na Cúpula.

De acordo com o grupo de especialistas, quando o presidente diz: “temos orgulho de conservar 84% de nosso bioma amazônico” se trata de um dado exagerado. Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) afirma que o desmatamento atual corresponde, em média, a 20% da floresta.

Isso significa que 80% das árvores permanecem de pé e não 84%. Não se sabe exatamente qual a porcentagem de áreas degradadas, mas um estudo de 2014 indicou que, até 2013, essa área seria de 1,2 milhão de km², o que significa que 40% da Amazônia pode estar sob alguma pressão humana.

Um dado falso citado por Bolsonaro e destacado pelos especialistas é quando ele afirma: “no campo, promovemos uma revolução verde a partir da ciência e inovação. Produzimos mais utilizando menos recursos, o que faz da nossa agricultura uma das mais sustentáveis do planeta”.

Na verdade, o Brasil é o 51° no ranking de agricultura sustentável do Índice de Sustentabilidade Alimentar, desenvolvido pela revista The Economist com o Centro Barilla para Comida e Nutrição. A pesquisa considera indicadores nas categorias água, uso da terra (incluindo biodiversidade e capital humano) e emissões de gases do efeito estufa. O setor agrícola brasileiro apresenta indicadores ruins em agrotóxicos, manejo de fertilizantes, desigualdade e clima.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil é o terceiro país com maior uso de pesticidas no mundo e está entre as 30 nações que mais utilizam agrotóxico por área plantada. Além disso, o Brasil também ocupa a 17ª posição no Índice de Gerenciamento Sustentável de Nitrogênio (SNMI, na sigla em inglês), que é o indicador de eficiência no uso do nitrogênio e o rendimento da colheita, um dos parâmetros do desempenho ambiental da produção agrícola.

Já os dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) mostram que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) rural do Brasil está na faixa de “baixo desenvolvimento humano”, com valor de 0,586, que é 28% inferior ao IDHM encontrado em áreas urbanas do país, que estão na faixa de “alto desenvolvimento humano”, com 0,750, ou seja, em áreas rurais a dimensão social da sustentabilidade é baixa.

Sobre as emissões de gases de efeito estufa, que causam o aquecimento do planeta Terra e a mudança do clima, o Brasil é o quinto maior emissor do mundo. Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima), a atividade agropecuária é a principal fonte de emissões do país.

No mais, os especialistas afirmam que o presidente Bolsonaro também apresentou meias verdades quando ele diz que o Brasil é responsável por apenas 3% das emissões globais anuais, o que de fato é verdade. Contudo, a equipe de ambientalistas pondera que isso não significa que as emissões do país sejam particularmente baixas.

Em um trecho do discurso o presidente diz o seguinte: “como resultado [da redução do desmatamento], somente nos últimos 15 anos, evitamos a emissão de mais de 7,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera”. De acordo com os especialistas isso é verdade, porém com a redução no desmatamento na Amazônia ocorrida a partir do ano de 2006, desde 2013 o ritmo da destruição da floresta voltou a crescer. Em 2019 e 2020, a área desmatada passou dos 10 mil km².

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Com informações do Alma Preta.

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