“Se o racismo não dá trégua, a luta também não”, diz ex-ministra da Igualdade Racial

 

Matilde Ribeiro. (FOTO/ Pedro Borges/ Alma Preta).

Nada de nós, sem nós”. É a partir dessa máxima que Matilde Ribeiro, ministra-chefe da extinta Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), pensa o desenvolvimento de políticas públicas contra o racismo e ecoa as múltiplas vozes do movimento negro.

Frente a pasta criada no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a atuação da assistente social e mestra em Psicologia Social fez com que a luta pela igualdade racial ganhasse mais destaque no Palácio do Planalto no início dos anos 2000.

Foi a partir da criação da Seppir, desmantelada após o impeachment de Dilma Rousseff, que as demandas do movimento negro ocuparam a agenda do governo de uma forma inédita até então.

Ao relembrar da imensa lista de reivindicações, ela orgulha-se das conquistas que continuam a gerar frutos em todo país. Entre elas a priorização de políticas voltadas para comunidades remanescentes de quilombos e a implementação de cotas raciais nas universidades públicas.

Hoje, entretanto, o cenário é completamente diferente. Em entrevista ao Brasil de Fato, Ribeiro avalia que há um notório retrocesso da pauta racial no governo Bolsonaro, onde não existe nenhum órgão voltado exclusivamente para o desenvolvimento de políticas antirracistas.

É fundamental que o principal gestor, que é o presidente da República, esteja convencido da importância dessas políticas serem executadas. Enquanto não há credibilidade por parte do gestor, perde-se o direcionamento positivo dessas políticas”, afirma a ex-ministra.

Ele [Bolsonaro] diz asneiras e insultos e ao mesmo tempo desdiz como se nada tivesse acontecendo. Como se não bastasse, também, há outras áreas dentro do governo que a gestão se vê prejudicada, como a Fundação Palmares, em que o principal dirigente não valoriza o que é a função do órgão. E demoniza o movimento negro, por exemplo”, critica.

Para ela, o Brasil vive as consequências do fortalecimento de setores conservadores que nunca se conformaram com a ascensão de políticas de promoção da igualdade racial.

Estamos sob perigo e é preciso uma reação a isso. E a reação só se dá com o enfrentamento do movimento negro e pelos setores democráticos da sociedade”, convoca.

Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, Ribeiro comemora avanços conquistados a partir da articulação do movimento negro, como a distribuição de forma  proporcional do dinheiro do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral para candidaturas negras, e o própria eleição de alguma dessas candidaturas no último pleito.

Ainda assim, ela ressalta que o combate ininterrupto ao racismo, principalmente em meio a governos conservadores, não deve arrefecer.

Não é porque estamos com algumas ações em curso que o racismo deixou de existir. Se o racismo não dá trégua, a luta também não. É importante que os processos de luta e de reinvindicações para alterar essa realidade façam parte do cotidiano da sociedade. Não se pode cochilar.”

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Com informações do Brasil de Fato.

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