Zuleide Queiroz: “Mulheres Negras existem e resistem”


Zuleide Queiroz. (FOTO/ Samuel Macedo).

Você sabia que no mês de Julho temos o dia 25 de julho como o dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha?

Foi criado para marcar mais um dia, na história oficial, da luta cotidiana do povo preto, no mundo, e em especial no Brasil. No ano de 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, aconteceu o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e, na ocasião a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. Durante o evento foi aprovada a definição do 25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha.


De 1992 ao ano de 2014, no Brasil, as mulheres travaram toda uma luta, para garantir que, num país, com um histórico de escravização tão grande. “Ao longo de mais de três séculos, navios portugueses ou brasileiros embarcaram escravos em quase 90 portos africanos, fazendo mais de 11,4 mil viagens negreiras. Dessas, 9,2 mil tiveram como destino o Brasil”, afirma Amanda Rossi, no BBC News Brasil (São Paulo, 2018). Segundo Laurentino Gomes: “Os números da escravidão são assustadores. Saíram da África 12,5 milhões de pessoas embarcadas em navios negreiros: 10,7 milhões desembarcaram, e 1,8 milhão morreram na travessia” (EXAME, por AFP, 20/11/2019)


Foi somente em 2014 que conseguimos aprovar a Lei nº 12.987/2014 e passamos a marcar o calendário oficial dos acontecimentos brasileiros com o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A escolha da mulher negra Tereza de Benguela, vem representar e lembrar o nome de todas as nossas ancestrais negras que aqui chegaram escravizadas, vendidas, violentadas.


Quem é Tereza de Benguela? Uma líder quilombola. A história conta que ela viveu durante o século XVIII e que, com a morte do companheiro – José Piolho, Tereza se tornou a rainha do Quilombo do Quariterê, situado entre o rio Guaporé e a atual cidade de Cuiabá, capita de Mato Grosso. E, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão durante muito tempo. Na memória do povo negro e nos registros escritos consta que ela viveu até 1770 e que morreu lutando, pois seu quilombo foi destruído pelas forças do interventor Luiz Pinto de Souza Coutinho.


Neste mês de Julho queremos aqui lembrar outras mulheres que, assim como Tereza são importantes para a nossa história. São elas: Antonieta de Barros, Aqualtune, Theodosina Rosário Ribeiro, Maria Filipa, Maria Conceição Nazaré (Mãe Menininha de Gantois), Luiza Mahin, Lélia Gonzalez, Dandara, Carolina Maria de Jesus e, nos dias atuais Conceição Evaristo, Elza Soares, Mãe Stella de Oxóssi, Sueli Carneiro outras.

É um dia de luta. E porque lutamos? Em defesa da democracia; Pela luta intransigente contra o racismo e a discriminação, independentemente da raça, etnia e/ou nacionalidade; Pelo fim do machismo, do racismo, da lesbofobia, da transfobia, da intolerância religiosa, da xenofobia, e do preconceito e discriminação de qualquer natureza; Pelo fim da pobreza; Contra a retirada de direitos e a precarização ainda maior do trabalho, por mais emprego, melhores salários e igualdade salarial para as mulheres negras; Contra a exploração sexual das crianças e adolescentes; Contra todas as formas de violência, racista e machista e homofóbica: física, verbal e psicológica; Contra o genocídio da juventude negra e periférica; Contra a intolerância religiosa, por respeito e preservação das religiões de matrizes africanas; Pela preservação da biodiversidade e do meio-ambiente, em defesa e reconhecimento da titulação de terras das Quilombolas, das Mulheres do Campo, da Floresta e das Águas; Pela implementação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) alterada pela Lei 10.639/03 (obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no ensino fundamental e médio); Pelo direito à educação pública de qualidade e acesso e permanência na universidade; Pelo direito à saúde e direitos sexuais e reprodutivos (aborto legal, seguro e fim da violência obstétrica); Em defesa da moradia digna, do direito à cidade e à urbanidade; Pela valorização da trabalhadora doméstica (Lei Complementar 150/2015); Pelo empoderamento das mulheres negras, indígenas e afro indígenas; Contra o higienismo social e a gentrificação; Por mais poder político para as mulheres negras, indígenas e afro indígenas, imigrantes e refugiadas; Pelo reconhecimento e preservação dos saberes materiais e imateriais da população de qualquer raça, etnia nacional ou estrangeira no Brasil (cultura, tecnologia, arquitetura, culinária, saúde etc.); Por uma política de Comunicação de enfrentamento ao racismo, com a consolidação de uma mídia igualitária, democrática, não racista e não sexista.

Nossos passos vêm de longe!

Uma sobe e puxa a outra!

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Zuleide Queiroz é Doutora em Educação e pós-doutora. É professora doutora do Departamento de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri (URCA), ativista social por movimentos como o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Frente de mulheres de movimentos do cariri, resistência feminina e diretora regional nordeste do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN). Mas ela mesma se apresenta - “Mulher, negra, professora, feminista e sindicalista...”. Ela é a mais nova colunista do Blog Negro Nicolau

Um comentário:

  1. Professora Zuleide, mulher de uma trajetória de luta e um ser humano de grande valor.

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