Defender "intervenção militar" é ver em Bolsonaro um líder fraco e incapaz, diz Leonardo Sakamoto


Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em ato em frente em quartel-general  do Exército,
em Brasília. (FOTO/ Pedro Ladeira/ Folhapress).

Cerca de 100 seguidores de Jair Bolsonaro fizeram uma manifestação, neste domingo (28), pedindo golpe em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. "Nós exigimos intervenção militar já com Bolsonaro no poder", "Tribunal militar para julgar e prender todos os comunistas", "Intervenção militar para Bolsonaro governar".

Sabemos que o presidente da República vê esse tipo de apoio com bons olhos, tendo já discursado em atos que demandavam um novo Ato Institucional número 5 (aquele que, em dezembro de 1968, deu poder para a ditadura fechar o Congresso, estabelecer censura, cacetar geral) e a prisão de membros do Supremo Tribunal Federal.

Acuado pela investigação sobre Fabrício Queiroz e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, por roubo de dinheiro público, e também pelo inquérito sobre a rede de fake news que atingiu seus aliados próximos, o presidente interrompeu suas participações nos atos. Por enquanto.

Os seguidores acreditam que Bolsonaro não consegue cumprir suas promessas de campanha por conta de uma suposta interferência dos Poderes Legislativo e Judiciário e da sociedade civil - vistos por eles, de forma psicodélica, como um antro de comunistas. Mas, de forma colateral, os cartazes reconhecem a incompetência de seu líder para avançar em suas pautas.

O presidente não consegue avançar, em parte, porque as promessas ferem a Constituição e a dignidade de uma parcela dos cidadãos e, com isso, é democraticamente contido (às vezes, só às vezes) pelas regras do jogo. Mas também porque não sabe governar.

Se fosse alguém mais equilibrado emocionalmente e competente politicamente, uma parcela maior dos direitos obtidos desde a redemocratização já teria ido para o vinagre. Por que uma parte do poder econômico elegeu Bolsonaro pouco se importando se o presidente implementaria uma ideologia de extrema-direita, excludente e violenta, desde que lucrasse com sua gestão. Tanto que, durante a pandemia, não foram poucos os empresários que deram declarações eugenistas sobre a morte de pobres e o coronavírus.

Quando fãs de Bolsonaro defendem que ele vire a mesa no meio do jogo para facilitar a vida do seu líder, acabam passando a mensagem de um presidente incapaz de encontrar o caminho do governo dentro das regras do jogo. Regras que ele aceitou ao concorrer para o cargo que hoje ocupa.

Precisar da interferência de alguém armado para fazer valer sua vontade fora das regras do jogo é coisa de fracote. Precisar da ajuda de "juristas" que fazem contorcionismo técnico e moral para defender que a interferência de alguém armado faz parte da regra do jogo é ser duplamente fracote.

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Publicado originalmente em seu Blog

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