Ao longo de 2019, Bolsonaro atacou a imprensa pelo menos 116 vezes


Jair Bolsonaro durante coletiva de imprensa em Brasília (DF). (FOTO/ Antonio Cruz/ Agência Brasil).

O ano de 2019 se encerrou com um total de 116 ataques proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra a imprensa. O número equivale a uma média de uma ocorrência a cada três dias no período, ou 9,6 por mês. Organizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o levantamento foi divulgado nessa quinta-feira (2) e considera tanto ofensas a veículos de comunicação quanto à imprensa em geral, do ponto de vista institucional.


Entre as 116 declarações registradas, houve 105 tentativas de descredibilização da imprensa e 11 ataques a jornalistas.

O monitoramento contabiliza exclusivamente pronunciamentos registrados por escrito em canais oficiais do presidente, que são suas contas no Twitter e no Facebook, além do site do Palácio do Planalto, no qual são transcritos entrevistas e discursos do presidente.  

A gente tem certeza de que o número de ataques é muito maior, mas, pra ter uma metodologia que o próprio Planalto não possa contestar, utilizamos as [vias] oficiais”, explica Márcio Garoni, da direção da Fenaj.  

A federação chama a atenção para o caráter violento de determinados ataques e menciona como exemplo o dia 20 de setembro, quando o presidente fez ofensas de caráter “homofóbico e pessoal” a um repórter depois de ter sido questionado sobre denúncias envolvendo sua família.

Como o governo dele passou a ser observado e criticado por veículos de imprensa, coisa que não se deu durante a campanha, a tática do presidente tem sido atacar os veículos e também os jornalistas, quase sempre de forma aleatória e indiscriminada para desacreditar o trabalho jornalístico”, aponta a presidenta da Fenaj, Maria José Braga, acrescentando que, nesse embalo, Bolsonaro estaria em busca também de potencializar a disseminação dos conteúdos e do discurso produzidos pela sua própria equipe. 

Nova fase

Para especialistas da área da comunicação, o ano de 2019 chegou ao fim demarcando uma nova fase da relação entre o ocupante do cargo de chefe do Executivo federal e a imprensa no Brasil pós-ditadura. Esta seria a primeira vez desde o fim do regime militar em que um presidente da República ataca jornalistas de forma sistemática e ultrajante, contribuindo, inclusive, para a criminalização do trabalho da categoria.  

Para Maria José Braga, o contexto atual pede uma postura mais contundente dos veículos de imprensa, que, na avaliação da Fenaj, estariam manifestando uma conduta ainda tímida diante do problema.  

O que se vê é que eles não se opõem e, ao não se oporem de forma contundente a essa tática que o Bolsonaro desenvolveu, contribuem pra que a fórmula dele dê certo. Deveria haver um processo de esclarecimento da população sobre o que significam esses ataques, quais os seus objetivos e o que isso representa para a liberdade de imprensa e a vida democrática no Brasil”, defende. 
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