185 anos da Cabanagem : A luta de ontem e de hoje, por Fátima Teles


Fátima Teles é escritora, professora, poeta e agora colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).


Nas águas da baía do Guajará nasce Belém, célula embrionária da Amazônia, floresta mãe, habitat dos primeiros filhos de Santa Maria de Belém do Grão Pará, os índios Tupinambás.

A Cabanagem foi uma revolta que aconteceu no Século XIX,  no dia 06 de janeiro de 1835 a 23 de agosto 1840, no período Regencial, considerado o mais conturbado da história política do Brasil, diante a eclosão de grandes movimentos sociais contra o Império e a favor da liberdade e emancipação política.

O Brasil torna-se independente da coroa portuguesa, mas continua sendo politicamente monárquico. As decisões políticas e econômicas favoreciam o Sul e o Sudeste, tanto que a Região Nordeste vivia à margem, convivendo com secas prolongadas e seu povo sobrevivendo às custas da agricultura latifundiária e exploradora.

Na Região Norte onde eclodiu a Cabanagem, o Norte do País vivia excluído das decisões do Rio de Janeiro, Capital do Brasil na época, não tendo participado do processo de independência, só a reconhecendo em 1823...”conforme consta no artigo da Revista Caros Amigos, Coleção Revoltas Populares, Cabanagem, pág. 229.

A exclusão das decisões junto as condições precárias e extrema pobreza que viviam as classes menos favorecidas, formaram o estopim para fazer a Revolta acontecer e tomarem o poder das elites no Grão Pará.

A Cabanagem foi uma Revolta de cunho popular e considerada a mais importante revolta da História brasileira, pois, foi a primeira Revolta popular vitoriosa, dando poder a camada menos favorecida de governar a Província. teve inicio em 06 de Janeiro de 1835 quando os cabanos tomaram o poder das elites e se estendeu até 1840 deixando um rastro de 30 mil mortos.

Dois líderes se destacam na luta dos cinco anos : Félix Clemente Malcher ,mais ligado a elite de pequenos proprietários e comerciantes, classe a qual pertencia e do seringueiro Eduardo Angelim, este mais ligado as camadas populares.

É importante destacar também a luta e contribuição dos insurgentes o negro Manuel Barbeiro, o negro liberto de apelido Patriota e o escravo Joaquim Antônio, que manifestavam ideias de igualdade social, como afirma Castro(2009) no Para Histórico

Segundo a Socióloga Sandra Costa dos santos , em entrevista a Revista Caros Amigos, Coleção Revoltas populares, Cabanagem (pág239), ela faz uma explanação sobre a aproximação dos conceitos propostos por Lênin na Cabanagem:

Trata-se de um momento histórico-político no qual as classes fora do poder tem a possibilidade de obter o controle do poder político através de uma Revolução partindo de uma crise nas elites dirigentes. Aproveitando um momento de crise da direção da Província, uma camada da população que até então estava fora da vida política passou a se organizar em torno de ideias revolucionárias. A cabanagem reunia dois dos três elementos necessários para a tomada do poder, de acordo com Lenin :  A cisão entre as classes dominantes; e o agravamento das condições socioeconômicas das camadas mais baixas e a capacidade de organização delas diante desse tipo de situação.

Infelizmente, o terceiro ponto-chave para a continuidade do movimento foi aquele que mais contribuiu para que não alcançasse sucesso em sua caminhada. Trata-se das condições subjetivas que determinariam o que fazer com o poder conquistado. Os cabanos foram perspicazes na ação denunciadora de seus problemas. Mas não conseguiram o alimento intelectual que os mantivesse no poder.

Os cabanos de hoje estão representados  nos indígenas que lutam no estado pela preservação de sua cultura, de sua identidade e pela conservação do meio ambiente, como os índios do rio Xingu, em Altamira no Estado do Pará, onde foi  construída a Usina hidrelétrica de Belo Monte. Eles não foram reconhecidos em sua cidadania quando da construção da usina, pois não foram consultados uma vez que eram moradores da comunidade onde a usina foi operada .

A luta dos índios e ribeirinhos que vivem próximos a área onde  estava sendo construída a usina no rio Tapajós, no Estado do Pará.

A obra também prejudicará a comunidade ribeirinha e indígena que vive nas proximidades da obra. Dentre os povos indígenas prejudicados estão os Munduruku e os Apiaká. Essas comunidades exigiam que fosse feita a consulta prévia,direito garantido pela Convenção nº 169 da OIT (Ver link aqui).

A luta da etnia negra que ainda vive excluída das decisões políticas, vivendo às margens da sociedade, nos bairros menos favorecidos da metrópole e sendo alvo de assassinatos e violência de toda ordem.

Viva a Cabanagem!
Viva os povos do Pará!
Viva os índios e negros do Pará!

Referências

Coleções Caros Amigos : Revoltas Populares no Brasil: Fascículo 8.Cabanagem/ Inconfidência Mineira.

Seriacopi, Gislane campos Azevedo. História : Volume Único : Livro do Professor / Gislane Campos Azevedo Seriacopi, Reinaldo.—1.ed,--São Paulo : Ática,2005.

Blog Para Histórico.


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Fátima Teles é poeta, escritora com cerca de 5 obras, professora formadora com atuação na Secretaria Municipal de Educação de Brejo Santo, membra da Academia de Letras do Brasil/Seccção Ceará, Instituto Cultural do Cariri(ICC), Instituto Cultural do Vale Caririense ICVC e da Academia Internacional da União Cultural.

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