Lélia
Gonzalez nasceu em Belo Horizonte em 1º de fevereiro de 1935 e faleceu no Rio
de Janeiro no dia 11 de julho de 1994. Professora e antropóloga, dedicou sua
vida a lutar contra o racismo no país, se tornado ícone da luta antirracista e
feminista no Brasil.
Instituições
como o Movimento Negro Unificado (MNU), o Instituto de Pesquisas das Culturas
Negras (IPCN), o Coletivo de Mulheres Negras N'Zinga e o Olodum tiveram sua
participação direta, sendo, pois foi uma das responsáveis por suas fundações. Lélia
também levou seu ativismo para o campo da política partidária vindo a se eleger
deputada estadual pelo PDT em 1986 e se reelegendo na eleição seguinte.
Neste
dia 1º de fevereiro Lélia faria 84 anos. Para relembrar a sua história de luta,
o Blog Negro Nicolau recorre a biografia feita pelo amigo e antropólogo Alex
Ratts e pela socióloga Flavia Rios, publicada pela Selo Negro/Summus, em 2010. Douglas Belchior também deu
publicidade em seu blog.
Confira abaixo a biografia de Lélia Gonzalez,
por Alex Ratts e Flavia Rios
Em
tempos de intensos protestos e mobilização por todo o país, é necessário trazer
à tona a referência de uma grande personagem, que esteve no furacão das lutas
pela democratização do Brasil. Intelectual, feminista e militante do movimento
negro brasileiro, Lélia Gonzalez (1935-1994) nos legou vários dos temas que
ainda agitam as reivindicações políticas brasileiras e levam milhares de
pessoas às ruas.
Lélia
de Almeida nasceu em primeiro de fevereiro de 1935 em Belo Horizonte e ainda
criança migrou com a extensa família para o Rio de Janeiro, então capital do
país, sob a proteção financeira do irmão mais velho, Jorge, jogador do time do
Flamengo. Fez duas graduações na Universidade da Guanabara e tornou-se
professora secundária, posteriormente seguiu a carreira docente, ocupando
cadeiras em importantes estabelecimentos de ensino superior fluminenses, a
exemplo da PUC/Rio e UERJ.
Como
estudante e professora experimentou ascensão social via formas expressas de
embranquecimento: realizou um casamento inter-racial, do qual vem o sobrenome
Gonzalez; na escola aprendeu os gostos das classes médias e seu estilo de vida;
fez amigos no seio do estrato médio carioca e adotou sua forma de viver, como o
gosto pela bossa nova, a preferência por roupas e cortes de cabelo à moda “dos
anos dourados”, incluindo o alisamento capilar e o uso de perucas. Era uma
forte candidata ao ingresso no “mundo dos brancos” – parafraseando Florestan
Fernandes.
Defrontada
com a recusa e a rejeição ao seu matrimônio, sua experiência pessoal com o
preconceito e a discriminação e a aproximação com a militância negra que se
reorganizava no Rio de Janeiro pode ser entendida como parte das motivações que
a levaram a ingressar na luta política. Em que pesem essas dimensões subjetivas
para o seu engajamento político, o pensamento da autora é devedor, sobretudo,
da rede de movimentos sociais em que se engajou em meados dos anos de 1970, época
em que Lélia Gonzalez iniciou seus primeiros escritos. Ao lado de Abdias
Nascimento e em paralelo com Beatriz Nascimento dentre outros(as) intelectuais
ativistas negros(as), Lélia Gonzalez teve uma atuação nacional e internacional
passando por países africanos, europeus e pelos Estados Unidos.
O
racismo foi, pois, uma experiência que a enegreceu, ou, como ela gostava de
dizer acerca das relações raciais em seu país natal: não se nasce negro,
torna-se: “a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha dentre outras,
mas tornar-se negra é uma conquista”. Ao parafrasear Simone de Beauvoir, antes
recriada por Neuza Santos Sousa no livro “Tornar-se negro”, Gonzalez a um só
tempo nos propõe uma versão não essencialista da raça − mostrando a
possibilidade de reclassificação social − e revela a dificuldade de se tornar e
ser negro(a) num país que apregoa a democracia racial, ao mesmo tempo em que
propaga o branqueamento social e estabelece lugares sociais segregados com base
em atributos adscritos por cor, sexo e condição de classe.
Seu
trabalho intelectual foi marcado pela produção sobre a mulher negra, no qual
conseguia explorar os significados sociais, ocupacionais e culturais relativos
à naturalização das relações entre classe, raça, gênero e espaço. Por outro
lado, Gonzalez não se cansou de denunciar as experiências diferenciadas de
racismo por gênero e apontou a discriminação vivenciada pelos homens negros,
apreendidos por lógicas de controle e dominação social, que envolvem desde
violenta repressão policial até o extermínio físico.
Foi
justamente essa postura de desnaturalização que tornou seu discurso e suas
práticas irreverentes até mesmo para os círculos políticos mais progressistas
que frequentava, especialmente a imprensa alternativa, os movimentos feminista,
negro, de mulheres negras e homossexual. Nesse sentido, a trajetória e
pensamento de Lélia Gonzalez têm muito a dizer sobre a perspectiva
contra-hegemônica que ajudou a construir no Brasil.
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