Em
mais uma sessão tumultuada, com denúncias de fraude, tensão e jogo sujo nos
bastidores, o novato Davi Alcolumbre, do DEM, foi eleito presidente do Senado.
Aliado do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o demista obteve 42 votos
após a desistência de seu principal concorrente, o emedebista Renan Calheiros.
Após
a primeira votação ter sido anulada por suspeita de fraude (havia uma cédula a
mais do que o número total de 81 senadores), o emedebista Renan Calheiros, até
então tido como favorito, retirou sua candidatura. O emedebista tentava
comandar a Casa pela quinta vez e criticou a pressão pelo voto aberto, em tese
desfavorável a seus interesses. “É um atentado à democracia. Podem anunciar, eu
retiro a minha candidatura e o Davi Alcolumbre é o novo presidente do Senado”.
O senador também ironizou o jogo pesado para derrotá-lo. “O Davi não é Davi. É Golias”.
Natural
do Amapá, Alcolumbre, de 41 anos, chegou ao Senado em 2015 depois de três
mandatos na Câmara dos Deputados. Parlamentar obscuro, típico integrante do
“baixo clero”, o amapaense empregava em seu gabinete a mulher de Lorenzoni, a
quem Calheiros acusa de interferir na eleição.
Em
seu primeiro pronunciamento, Alcolumbre prometeu respeitar os adversários. “Não
conduzirei um Senado de revanchismo. Precisamos reunificar a Casa, em torno do
que lhe deve ser mais caro: a República e o interesse público”.
O
demista agradou ainda aos articuladores de sua candidatura. “No que depender da
minha atuação”, afirmou, “essa será a
última sessão do segredismo, do conforto do voto secreto. E que o Senado não se
curve à intromissão amesquinhada do Judiciário ou de outro poder”.
Desde
a sexta-feira 1°, Calheiros tentava uma aproximação com Jair Bolsonaro. Os dois
se falaram ao telefone (segundo Calheiros, não trataram de política, mas da
saúde do presidente da República). No discurso de defesa de sua candidatura no
sábado, o senador prometera ser liberal nas reformas econômicas, mas
conservador na defesa da Constituição e dos direitos individuais.
“É
evidente que chegou a hora de reformamos a nossa Previdência. O Brasil não vai
a lugar nenhum se não fizer uma reforma profunda. E qual reforma? Aquela que
combata o privilégio”, afirmou.
E
foi além: “Precisamos ter nesta Casa alguém que, com a maioria, esteja à altura
do enfrentamento institucional que este momento dramático do País nos coloca.
Para fazer as reformas, não só a da Previdência. Este País não cabe mais no seu
PIB”. O aceno não foi suficiente para
esmorecer uma forte oposição a sua candidatura que uniu a base bolsonarista e o
PSDB.
No STF
A
eleição foi parar na Justiça e se estendeu até o fim da tarde do sábado por
conta dos tumultos iniciados na sexta. No dia anterior, os senadores deixaram o
plenário às 10 da noite sem eleger o novo presidente do Congresso. A primeira
votação no dia seguinte, após muito bate-boca, foi anulada sob suspeita de
fraude. A urna continha 82 envelopes, um a mais do que o número total de
votantes (81).
O
episódio reacendeu as críticas ao voto fechado e uniu as forças anti-Calheiros.
Os parlamentares reiniciaram o processo por volta das 17h30.
A
decisão da bancada tucana e de Flávio Bolsonaro de declarar o voto antes de
depositar a cédula na urna, em uma ação contra o regimento, irritou Calheiros,
que subiu ao púlpito encolerizado para anunciar a sua renúncia.
Aliados
de Alcolumbre haviam articulado no dia anterior a aprovação da votação aberta
para o comando da Casa. A proposta foi vitoriosa por 50 votos a 2, mas a
decisão do plenário acabou anulada pelo ministro José Dias Toffoli, presidente
do Supremo Tribunal Federal, na madrugada de sábado. O magistrado determinou
que o regimento interno, que prevê o voto secreto na escolha, fosse cumprido.
Antes
de ser resolvida pelo STF, a manobra esquentou os ânimos entre os
congressistas. No calor dos debates da sexta 1°, Calheiros quase foi às vias de
fato com o tucano Tasso Jereissati, um dos articuladores da candidatura de
Alcolumbre.
Calheiros
chamou Jereissati de “coronel” e ouviu deste que seria preso a qualquer
momento. “Seu merda, venha para a porrada”, reagiu o emedebista, segundo relato
do senador Randolfe Rodrigues, da Rede, postado próximo ao tumulto. Os dois
foram contidos pelo colega Cid Gomes.
Do “baixo clero” para o topo do Senado
Vereador
em Macapá de 2001 a 2002, deputado federal de 2003 a 2014 e senador desde
então, Alcolumbre nunca participou de movimentações políticas relevantes desde
que chegou a Brasília. O maior feito de sua carreira até então foi ter
derrotado nas urnas o candidato Gilvam Borges, aliado do ex-presidente José
Sarney, e conquistado uma vaga ao Senado pelo Amapá.
Em
momentos anteriores, antes de surfar na onda do “novo”, o amapaense agia como a
maioria dos parlamentares do baixo clero. Alcolumbre chegou a retirar sua
assinatura para a criação da CPI dos Correios, em 2005, por pressão do governo,
e de uma comissão que iria investigar contrato do Corinthians com a empresa
MSI, a pedido da Confederação Brasileira de Futebol.
A
vitória do aliado de Lorenzoni não significa, porém, um futuro fácil para os
projetos de interesse do governo Bolsonaro no Senado. Para superar o racha
provocado pela votação deste sábado, o Palácio do Planalto terá de encontrar
excelentes articuladores políticos e torcer para o inexperiente Alcolumbre não
meter os pés pelas mãos. Além disso, ter
Calheiros como adversário, mesmo que fragilizado, nunca é uma boa estratégia.
(Com informações de CartaCapital).
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