“Escravizar, nem de brincadeira”, diz Elza Soares sobre diretora da Vogue


Donatta Meirelles cercada por mucamas no aniversário. (Foto: divulgação).

Uma nova polêmica tomou o espaço da internet nesse fim de semana: a festa de aniversário da diretora de estilo da Vogue, Donata Meirelles com fotos mostrando uma decoração racista vitalizaram nas redes sociais e despertaram a revolta de diversas pessoas, sobretudo artistas, ativistas e estudiosos acadêmicos. A cantora Elza Soares, que é bisneta de escrava e neta de escrava forra, publicou ontem (10) duas fotos em seu perfil no instagram protestando pelo ocorrido e dizendo:


Hoje li sobre mais uma ‘cutucada’ na ferida aberta do Brasil Colônia. Não faço juízo de valor sobre quem errou ou se teve intenção de errar. Faço um alerta! Quer ser elegante? Pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para “enfeitar” um momento feliz da vida. Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. O limite é tênue. Elegância é ponderar, por mais inocente que sua ação pareça. […] Escravizar, nem de brincadeira.”

Meirelles, por sua vez, já havia se pronunciado no sábado (09) alegando que fez referências ao candomblé e pediu desculpas pelo mal entendido: “mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir”. Contudo, o que ela chama de “erro” também pode ser considerado crime pela lei 7.716/1989.

Suponho que uma diretora da maior revista de moda do país deva ter, no mínimo, cuidados com a estética visual de uma festa que organiza. Nada é por acaso ou coincidência. Para Renato Noguera, filósofo e professor, a ideia de escravidão moderna existe através de um mercado que sustenta o racismo e práticas coloniais com novas faces camufladas por um discurso de liberdade.

Mas não precisa ser especialista em conflitos raciais para compreender que vestir mulheres negras de mucamas e usar um traje elegante dentro de um palácio faz parte de alguma temática. Muitas pessoas associaram a decoração do evento ao Brasil escravocrata, época que durou 388 anos, o país foi inclusive o último entre os ocidentais a ser abolicionista.

A tal liberdade de escolha na decoração também pode ser explicada pela naturalização estruturalmente enraizada. Em um país marcado por um racismo velado, que é escondido e destilado em altas proporções simultâneas, atitudes como estas, nas quais racistas são instantaneamente defendidos por grande parte da população, são comuns.

Segundo o Atlas de Violência 2018, a taxa de homicídios de negros é mais que o dobro da de brancos e cresceu 23,1% no período de 2006 a 2016. Apesar disso, muitos negligenciam e desacreditam da gravidade do racismo brasileiro. (Por Marina Souza, no Blog Negro Belchior)

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