#Altaneira60Anos. Política e Religião se discute sim


Política e religião se discute sim, por Nicolau Neto. (Foto: Lucélia Muniz).

Falar de religião não é muito comum. Falar de política partidária também não é. Como assim? Me perguntaria um falador dos temas em esquinas, nas igrejas, na prefeitura ou na Câmara. É o que mais se discute em minha cidade. Não há assunto que mais saia da boca do povo que não seja política e religião.

De fato, respondia se a me fosse realmente feita essa pergunta. Afinal, o que mais se ouve das bocas das pessoas que frequentam templos religiosos é a bíblia, é jesus, o divino.... Mas, o que eu enquanto líder religioso tenho feito para ajudar o próximo? O que eu enquanto fiel tenho feito para praticar a solidariedade? Enquanto líder e fiel eu visito o meu vizinho, a minha vizinha porque sinto vontade de colocar os papos em dias ou o faço simplesmente quanto tenho a intenção de convencê-la a ir à igreja?

Os discursos mais fortes que pregam os representantes do povo é a melhoria da saúde, da educação, do transporte, incentivar a cultura... A palavra que mais se usa é povo, ou melhor, o “em nome do povo”, “pelo povo”. Mas, o que se tem feito para melhorar a vida do povo? Quais projetos sociais que permitam independência financeira do povo foram ou estão sendo construídos? Eu conheço bem a realidade do povo que tanto uso em discursos? Eu realizo visitas rotineiramente nas casas das pessoas ou simplesmente reconheço um vizinho, um amigo de dois em dois anos nos períodos eleitorais?

Política e Religião são o que mais de discute mesmo. Eu falo muito de religião para dizer que a minha é a correta e a do meu semelhante é a errada. Isso quanto é entre um católico e um protestante. O católico diz que a dele é a certa e o protestante da mesma forma afirma que a dele é a correta. Porque quando o assunto são as religiões africanas, Protestantes e Católicos se unem para se desfazer dessa forma de cultuar o divino. A Umbanda e o Candomblé não são aos olhos de católicos e protestantes – na grande maioria - uma religião, mas algo do mal. Mas eu discuto religião. Eu discuto religião. Vejo um incêndio acontecendo e pessoas aflitas com aquilo, mas eu não me sensibilizo e ainda assim promovo uma missa. Porque no meu entender, adorar a deus é mais importante do que ajudar os aflitos em um incêndio. Rezar e Orar são mais importantes do que ajudar uma criança que passa por necessidades. Mas eu discuto religião e discuto na igreja, na rua, na praça... E quanto ao incêndio? E quanto à criança passando por necessidades? Ah, não se preocupe bôbo. Não ligue para isso bôba. Deus está vendo. O importante é irmos à igreja. O importante eu celebrar a missa, o culto.

Quanto à política partidária...... Essa também não sai de moda. Eu falo dela diariamente. Falo quando digo que fulano foi o melhor prefeito, enquanto que cicrano foi um desastre. Falo assim do fulano mesmo sabendo que não corresponde a verdade dos fatos e continua a dizer que cicrano não realizou o que era esperado mesmo sabendo que não é bem assim. Falo de política quando faço parte de um grupo, luto com ele e depois o descarto pelo simples fato de poder político, de cargo público e de quebra eu ainda uso o nome do povo para justificar a minha desavença política, a minha picuinha política, o meu desejo pelo poder. Falo de política ainda quando aquele grupo que eu odiava, hoje eu o adoro.

Diante disso, cabe uma pergunta. O que religião e política têm em comum? Deus e o Povo. Na religião eu uso o nome de deus para justificar as minhas ações, muitas delas que só prejudica o fiel. Você tem que passar por isso porque deus quer, portanto aceite. Não questione. Na política, eu uso o nome do povo para mudar ou permanecer em um grupo político, e na grande maioria das vezes para financiar o meu projeto de poder.

Por isso, falar de religião e de política não é muito comum.


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Nicolau Neto é professor; palestrante na área da Educação com temas relacionados a história e cultura africana e afrodescendente, desigualdades raciais, preconceito racial, diversidade e relações étnico-raciais; ativista dos direitos civis e humanos das populações negras; membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec); membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe (ALB/Araripe); servidor público no município de Altaneira, diretor vice-presidente da Rádio Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do Blog Negro Nicolau (BNN).

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