Em Crato, mesa debate os desafios do Ensino de História no Brasil na atualidade


Mesa de Debates Sobre os Desafios do Ensino de História na Atualidade no auditório do Geopark Araripe, em Crato.
(Foto: Enzzo Lima).

Com a participação dos professores André Veloso, Valdênia de Araujo, Lucivânia da Silva e Nicolau Neto e sob a mediação da professora da URCA, Telvira, o auditório do Geopark Araripe sediou na noite da última segunda-feira, 22, uma mesa de debate acerca do Ensino de História.

Os professores focaram suas falas sobre os desafios do ensino de História no Brasil. Para André Veloso, da Escola Wilson Gonçalves, o maior obstáculo dos docentes da área de ciências humanas, principalmente da disciplina de História, é discutir junto ao corpo discente os caminhos e as lutas travadas para a construção do regime democrático de direito diante da onda conservadora e retrógrada pelo qual passa o pais. Veloz ainda fez um relato da trajetória pela qual passou a história enquanto disciplina até a forma que se encontra hoje, como formadora de pensamento crítico e reflexivo.

Lucivânia, vinculada a Escola José Alves de Figueiredo, fez uma exposição relacionada a dados que presencia em sala de aula. “Nunca tive que estudar tanto para dar aula”, frisou ao comentar que tem que lhe dar com pensamentos e questionamentos de estudantes que ousam afirmar que no Brasil nunca houve ditadura civil-miliar. Outros ainda possuem argumentos considerados machistas. “Certa vez estava falando sobre a revolução industrial e frisávamos as dificuldades que as mulheres tinham nas fábricas e que hoje, apesar da lei proibir salários diferenciados para homens e mulheres que exerçam as mesmas funções, na prática não é o que ocorre. As mulheres continuam ganhando menos que homens”, pontuou. “Mas houve um estudante que afirmou que isso nunca existiu e chegou a um ponto de que destacou que tem mulheres que merecem mesmo morrer, pois são provocativas”. Segundo ela, os tempos são difíceis. “Parte de nossos alunos estão deixando de se formarem nas salas de aula para adquirirem dados disponíveis em redes sociais, como WhatsApp e vídeos no Youtube". Essas informações, segunda ela, vem de pessoas sem nenhuma formação na área educacional.

Valdênia de Araujo, da Escola Wilson Gonçalves, destacou aspectos externos que acabam influenciando negativamente no processo de ensino-aprendizagem. Questões como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Reforma do Ensino Médio foram relatadas por ela. “Enquanto estiverem produzindo livros na região sudeste, as outras regiões não serão contempladas da forma que realmente necessita ser”, destacou.

Universitários/as da URCA durante mesa de debates
sobre os desafios do ensino de História.
(Foto: Enzzo Lima).
O professor, membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras pelo Grunec, Nicolau Neto, enveredou, inicialmente, pelos deveres de todos os docentes, com destaque para os de História. Entre eles, Nicolau citou perceber o (a) estudante como sujeito histórico, pois isso contribui de forma decisiva para a construção da identidade; partir do cotidiano dos estudantes para poder dialogar sobre os conteúdos programáticos, uma vez que as realidades trazidas pelos alunos não podem e nem devem ser descartadas, mas aproveitadas; colaborar com a formação do pensamento crítico e reflexivo; educar para a cidadania e educar para a politização. “Tendo esse pensamento em mente e o executando diariamente em sala de aula, fica mais fácil vencer os desafios do ensino-aprendizagem”, disse.

O professor trouxe para o debate a constituição da História enquanto disciplina que se consolidou a partir do século XVIII e no século seguinte passou a sofrer influência do Positivismo e do Marxismo.  Para Nicolau, nesse contexto o ensino de História no Brasil foi colocado, durante grande parte do período republicano, sob uma perspectiva puramente narrativa ao apresentar personalidade (políticas ou ligados a ela), fatos pontuais, heróis ( e não heroínas), características políticas e econômicas de uma determinada sociedade que ia de acordo com o modelo político e público de educação.

Ele ressaltou que durante o século XX e com o advento do século XXI haverá uma série de avanços significativos que colocam o professor, a professora em situações cada vez mais desafiadoras, tais como professor(a) pesquisador; ampliação e difusão do material didático relacionado a História disponível; variedade de publicações, sejam elas impressas ou digitais em formatos de textos, vídeos e imagens ao alcance dos estudantes a qualquer momento. Diante disso, ele indagou: qual o papel do professor, da professora? Como fazer os estudantes a se interessarem por sua aula? Sem ter a intenção de deixar o caso por encerrado, mas tão somente apontar caminhos, Nicolau citou que é necessário romper com o currículo europeizante ainda reinante, fazer valer em sala as leis 10.639/2003 e 11.645/2018 que versam sobre a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira e História e Cultura Indígena, respectivamente. Por fim, mas não menos importante, ele tocou na necessidade da Formação Continuada para professores/as, da participação efetiva do corpo docente nas escolhas dos livros didáticos e, principalmente, que cada professor e professora possa estar cotidianamente conectado com os fatos do presente correlacionando com os conteúdos ministrados em sala de aula. “As escolas e as salas de aulas não podem e nem devem ser um mundo à parte”, frisou. Em um mundo onde as “desinformações advindas de redes sociais valem mais que fatos históricos comprovados e discutidos por professores em sala de aula, nós precisamos estar cada vez mais vigilantes e nos tornarmos além de professores pesquisadores, nos tornarmos de igual modo, professores ativistas e disputarmos narrativas”, concluiu.

A mesa foi uma organização do Núcleo de Apoio Pedagógico e Pesquisa em Ensino de História (Nuapeh), vinculado a Universidade Regional do Cariri (URCA), tendo como público universitários/as da própria instituição.

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