Ex-herói
do moralismo pátrio, o ministro aposentado Joaquim Barbosa, ex-presidente do
STF, dá uma entrevista bombástica hoje, a Monica Bergamo, na Folha.
Publicado
no Tijolaço
Sobre o impeachment:
“O que houve foi que um grupo de políticos
que supostamente davam apoio ao governo num determinado momento decidiu que
iriam destituir a presidente. O resto foi pura encenação. Os argumentos da
defesa não eram levados em consideração, nada era pesado e examinado sob uma
ótica dialética.”(…)
Era um grupo de líderes em manobras
parlamentares que têm um modo de agir sorrateiro. Agem às sobras. E num
determinado momento decidiram [derrubar Dilma].
Acuados por acusações graves, eles
tinham uma motivação espúria: impedir a investigação de crimes por eles
praticados. Essa encenação toda foi um véu que se criou para encobrir a real
motivação, que continua válida.
Golpe ou não?
Não digo que foi um golpe. Eu digo
que as formalidades externas foram observadas –mas eram só formalidades.
O pato golpista
A partir de um determinado momento,
sob o pretexto de se trazer estabilidade, a elite econômica passou a apoiar,
aderiu. Mas a motivação inicial é muito clara.
É tão artificial essa situação criada
pelo impeachment que eu acho, sinceramente, que esse governo não resistiria a
uma série de grandes manifestações.(…)Ele [Temer] acha que vai se legitimar.
Mas não vai. Não vai. Esse malaise [mal estar] institucional vai perdurar
durante os próximos dois anos.
As “medidas” e o Congresso:
A lógica é a seguinte: se eu posso
derrubar um chefe de Estado, por que não posso intimidar e encurralar juízes?
Poucos intuíram –ou fingiram não intuir– que o que ocorreu no Brasil de abril a
agosto de 2016 resultaria no deslocamento do centro de gravidade da política
nacional, isto é, na emasculação da presidência da República e do Poder
Judiciário e no artificial robustecimento dos membros do Legislativo.
A falta de oportunidade:
Eu tenho resistência a algumas das
propostas, como legitimação de provas obtidas ilegalmente. E o momento [de
apresentá-las] foi inoportuno. Deu oportunidade a esse grupo hegemônico de
motivação espúria de tentar introduzir [na proposta] medidas que o
beneficiassem.
A prisão de Lula:
Sei que há uma mobilização, um
desejo, uma fúria para ver o Lula condenado e preso antes de ser sequer
julgado. E há uma repercussão clara disso nos meios de comunicação. Há um
esforço nesse sentido. Mas isso não me impressiona. Há um olhar muito negativo do
mundo sobre o Brasil hoje. Uma prisão sem fundamento de um ex-presidente com o
peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais negativo. Teria que
ser algo incontestável.
A “bananização” do Brasil:
(…) As instituições democráticas
vinham se fortalecendo de maneira consistente nos últimos 30 anos. O Brasil
nunca tinha vivido um período tão longo de estabilidade.
E houve uma interrupção brutal desse
processo virtuoso. Essa é a grande perda. O Brasil de certa forma entra num
processo de “rebananização”. É como se o país estivesse reatando com um passado
no qual éramos considerados uma República de Bananas. Isso é muito claro. Basta
ver o olhar que o mundo lança sobre o Brasil hoje.
É um olhar de desdém. Os países
centrais olham para as instituições brasileiras com suspeição. Os países em
desenvolvimento, se não hostilizam, querem certa distância. O Brasil se tornou
um anão político na sua região, onde deveria exercer liderança. É esse trunfo
que o país está perdendo.
O silêncio em que se mantinha e a
falta dos holofotes parece ter feito muito bem ao raciocínio do Dr. Joaquim
Barbosa.
A realidade, porém, é o maior
ingrediente desta reflexão. O processo de destruição do Brasil é tão grande que
até ele o vê, mesmo tendo sido parte de suas origens, como primeiro a levar o
Judiciário ao estrelato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!