Em
novembro de 2015, em Brasil acontecerá a Marcha das Mulheres Negras contra o
racismo, a violência e o bem viver. Diversas atividades estão acontecendo no
País inteiro com o objetivo de dar visibilidade aos problemas enfrentados pelas
mulheres negras. Mas por que marcham as mulheres negras?
Marchamos
para dar cor e visibilidade a um lugar de inferioridade, imposto a 49 milhões
de mulheres, lugar desde sempre naturalizado e considerado como normal,
incorporado em mentes, corações, oportunidades e impossibilidades mil. Um lugar
de silêncio e dor partilhado em coletivo, desde os navios negreiros, nas
senzalas, nas plantações, na casa grande, em alcovas de violações, nas
separações dos queridos, filhos, pai, mãe, irmãos e amados.
Somos
uma maioria das mulheres que vivem em condições de moradias indignas, em
favelas, onde o perfil dos domicílios brasileiros aponta para o abismo social
que ainda persiste entre brancos e negros no Brasil. Dois terços das casas
presentes nestas regiões são chefiadas por homens ou mulheres negros; desses, a
maioria são de mulheres sem cônjuges e com filhos.
Enquanto o desemprego atinge 5,3% dos homens brancos, entre os negros, o índice chega a 6,6%. Entre as mulheres, a diferença é ainda maior. Entre as brancas, o desemprego é de 9,2%; entre as mulheres negras, ultrapassa os 12%.
A
violência se perpetua fazendo com que hoje sejam as mulheres negras, aquelas
que mais sentem inseguras. Dados do IBGE que mostram que as mulheres negras,
quando comparadas com outros segmentos da população, são as que se sentem mais
inseguras em todos os ambientes, até em suas casas. A população negra é vítima
de agressão em maior proporção que a população branca – seja homem ou mulher.
Marchamos
contra as condições desiguais herdadas, contra a falta de políticas de saúde
que, por razões sociais e de descriminação, faz com que sejam as mulheres
negras as que menos acessam aos serviços de saúde de qualidade, a atenção
ginecológica, obstétrica, têm mais riscos de contrair e morrer de determinadas
doenças.
São
tantas as razões para marchar que é preciso começar de algum lugar e podemos
dizer que começamos desde muitos anos, desde as lutas mais antigas, desde as
resistências mais diversas, da afirmação das crenças, das sabedorias milenares,
da fé e religião muitas vezes escondida e negada, das intelectuais negras que
não aparecem nas referências bibliográficas, das atrizes de papéis secundários,
das grandes escritoras desconhecidas, das poetas e cantoras negras que
denunciam com seu canto a luta de tantas outras.
Por
isso, em novembro, quando realizarmos a Marcha Nacional das Mulheres Negras,
apenas se estará dando cor e corpo a uma marcha que começou há mais de 300 anos
contra o racismo, a violência e pelo viver.
*Integrante
do Comitê Ceará da Marcha das Mulheres Negras
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!