Desde o lançamento do meu livro “As Lendas de Dandara” no mês de Julho, tenho falado repetidamente sobre a importância de protagonistas negras na literatura e como elas ainda são difíceis de encontrar nas prateleiras das maiores livrarias.
Quando
decidi escrever As Lendas de Dandara, eu tinha em mente o tipo de mensagem que
gostaria de passar com aquela história. Para qualquer criança, exercer a
capacidade imaginativa e conseguir se colocar no lugar dos protagonistas
heroicos e aventureiros é algo muito importante e parte fundamental do
desenvolvimento. Mas muitas crianças crescem sem personagens como elas – reais
ou fictícias – em quem se espelhar. Somente com muita pesquisa é possível
encontrar materiais com protagonistas negros separados de estereótipos raciais,
pois ainda atualmente há pouquíssima diversidade na literatura, nos filmes e
nas histórias infantis.
Para
as meninas e mulheres negras, conhecer uma personagem como Dandara dos Palmares
poderia fazer uma enorme diferença. Ainda hoje, ouvir falar de mulheres negras
como Dandara é quase impossível – nem a mídia e nem as escolas falam sobre sua
existência e seus feitos. Ela e outras heroínas negras da história do Brasil
ficaram relegadas ao esquecimento.
Quem
não tem pais conscientes, cresce sem esses exemplos positivos. E para muita
gente isso soa como bobagem, mas os impactos causados na autoestima podem ser
muito profundos. No caso da literatura, a ausência de personagens negras que
ultrapassam os papéis estereotipados limita as possibilidades imaginativas das
crianças e também faz com que elas se tornem adultas sem referências positivas
da negritude.
Para
aquelas pessoas que convivem com pessoas negras, ainda há esperança, pois o
referencial passa a ser os personagens da vida real: a avó inteligente, a mãe
corajosa e o pai que é sensível e ajuda as pessoas. Mas para quem não possui
essas referências, nunca ver pessoas negras associadas com conquistas
positivas, capacidades admiráveis e enredos inspiradores é algo que colabora
ainda mais para a internalização e perpetuação do racismo.
Por
isso, escrever e ler protagonistas negras é algo que influencia crianças e
adultos. Seja porque temos a possibilidade de ver um espelho refletindo nossa
aparência e nos dizendo que temos, sim, potencial para realizar feitos
significativos, ou porque temos a chance de romper a narrativa racista que
ainda domina a sociedade. Em muitos casos, a ficção é a porta de entrada para
reflexões imprescindíveis sobre equidade e respeito.
Pode
ser um desafio quebrar as barreiras do mercado literário, da mídia e da
divulgação. Despertar o interesse das pessoas e ensinar a importância da
representatividade e da diversidade é o primeiro passo para que tenhamos livros
com mais pluralidade e criatividade. Afinal, falta muita imaginação a quem só
consegue enxergar heróis e heroínas com a pele branca e os cabelos lisos.
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