A
história do Brasil mostra que sempre que governos populares ousam reduzir a
vergonhosa desigualdade social brasileira a mídia não mede esforços para
desgastá-los e, se possível, derrubá-los, recorrendo a campanhas sistemáticas
para tachá-los de corruptos. Foi assim com o "mar de lama" que levou
Vargas a dar um tiro no peito. Foi assim na campanha para impedir a posse de
Jango, em 1961. Foi assim no golpe civil-militar de 1964. Foi assim com Lula.
Tem sido assim com Dilma. Só que esse moralismo udenista é seletivo. Só serve
como instrumento de luta política contra a esquerda e seus aliados. Já em
relação a denúncias envolvendo políticos e partidos de sua preferência, os
barões da mídia se calam, como no escândalo do metrô e dos trens de São Paulo.
E por que o monopólio midiático se opõe à reforma política, mesmo sabendo
tratar-se do remédio mais eficaz para combater a corrupção ?
Todos
se lembram que, no auge das manifestações de junho do ano passado, a presidenta
Dilma enviou à Câmara dos Deputados um projeto de reforma política, com
plebiscito e Constituinte exclusiva. Rapidamente a aliança entre a maioria
conservadora do Congresso Nacional e o PIG cuidou de sepultar a mensagem da
presidenta. Os deputados deixaram claro que até aceitavam, num futuro incerto e
não sabido, examinar um projeto de reforma política. Desde que sob o controle
absoluto deles e, sobretudo, sem participação popular, sem povo.
Mas
a mídia corporativa foi além. Simplesmente passou a atacar todo e qualquer
projeto de reforma política para, em seguida, sumir com o assunto do
noticiário. Vale salientar que sempre que vem à tona a necessidade imperiosa de
o país fazer a reforma política, para dar um grande passo republicano e mudar o
jeito de se fazer política no país, o mundo conservador entra em pânico. E isso
acontece por três motivos básicos : 1) Constituinte exclusiva e plebiscito
darão ao povo brasileiro a condição de protagonista do processo da reforma; 2)
O financiamento público em muito contribuirá para reduzir a influência do poder
econômico nas eleições, permitindo que candidatos oriundos das camadas mais
pobres concorram com mais chances; 3) O voto em lista fechada favorece partidos
mais organizados e programáticos como o PT e seus aliados no campo da esquerda.
Até
o STF percebeu o quanto as eleições brasileiras vêm sendo deformadas pelo
financiamento privado de candidatos e partidos por parte dos grandes
empresários e do capital financeiro. Tanto que chegou, há alguns meses, a
constituir maioria esmagadora de votos para acabar com o financiamento privado.
Temendo que a medida viesse a valer já nas eleições deste ano, o que fez o
ministro Gilmar Mendes ? Pediu vistas do processo, sem prazo para apresentar
seu voto. Não por acaso nunca foi cobrado por nenhum colunista ou articulista
da velha mídia. Esse silêncio cúmplice garantiu a realização de mais uma
eleição na qual, certamente, correrá solto o dinheiro dos grupos econômicos.
Caso
se pautasse pelo interesse público e o cinismo não fosse uma das suas
características mais marcantes, a mídia teria a obrigação de mostrar à
sociedade que na raiz de grande parte dos esquemas de corrupção está o
toma-lá-dá-cá propiciado pelo financiamento privado. O capitalista que financia
um candidato é o mesmo que logo lhe apresenta a fatura, exigindo seu dinheiro
de volta com margens exorbitantes de lucro às custas da sangria dos cofres
públicos.
A
verdade nua e crua é que a mídia brasileira não se incomoda com a corrupção e a
malversação do dinheiro público, como tentar fazer crer em seus editoriais
falsamente indignados e suas manchetes levianas e sensacionalistas. Se
considerasse verdadeiramente a corrupção um mal a ser combatido, cobraria
punição dos endinheirados corruptores. Caso seu moralismo fosse sincero, e não
mirasse apenas seus adversários políticos, a campanha dos movimentos sociais,
centrais sindicais e entidades da sociedade pela reforma política, com
Constituinte exclusiva, não seria vista como uma "ameaça à
democracia".
Contudo,
com diz o Igor Felipe, do Brasil de Fato, em artigo publicado recentemente no
Blog Escrevinhador, a oposição feroz da mídia à reforma política só mostra que
estamos no caminho certo.
Publicado
originalmente no Blog do Pepe
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