O
professor de biologia Luiz Henrique Rosa – da Escola Municipal Herbert Moses,
no Jardim América, Zona Norte do Rio –, incomodado com a quantidade de palavras
preconceituosas utilizadas por seus alunos, pediu para que cada um deles
fizesse uma lista de todos os termos pejorativos que eles usavam. O resultado
foi uma lista com mais de 600 palavras, sendo 360 delas de cunho racista.
Segundo o professor, que consultou 11 turmas com média de 40 alunos cada, a
maior parte dos estudantes da escola é afrodescendente.
"Eles colocaram no papel vários apelidos e eu
fui sistematizar as palavras que eles escreveram. Só quando botei no papel é
que tive a noção da quantidade de termos racistas que eles usavam",
diz. "O mais comum entre os alunos
era 'macaco', em seguida aparecem termos relacionados à inferioridade
intelectual, aos traços físicos e comportamentais, como 'cabelo duro' e 'negro
safado'", explicou Rosa em reportagem para o UOL.
Após
o levantamento o professor e os alunos montaram um painel com todas as
expressões, para discutir em sala de aula o uso dos termos racistas. Dessa
experiência surgiu, no fim de 2009, o projeto "Qual é a graça", que visa também ensinar sobre escravidão no
Brasil, a Revolta das Vassouras (uma rebelião de escravos ocorrida em 1838) e o
seu principal protagonista, Manuel Congo, até então um desconhecido dos alunos.
O
projeto "Qual é a graça" transformou o quintal da escola em uma
homenagem aos 200 escravos que pertenciam ao mesmo dono de Congo – que morreu
enforcado na cidade de Vassouras (RJ) durante a rebelião dos negros. Os nomes
dos personagens da revolta foram gravados em pequenos pedaços de mármore, e
cada um deles foi "apadrinhado" por um aluno. Há outras 40 pedras com
a inscrição "Deus sabe o nome", em referência aos escravos não identificados.
"Também criamos o 'canteiro navio', onde os
alunos plantam e acompanham as espécies por 60 ou 90 dias, que era o tempo que
dois navios negreiros demoravam para chegar ao Brasil e em que os escravos
permaneciam acorrentados", diz o professor. O jardim, antes
abandonado, tem hoje mais de 300 espécies vegetais e é visitado por 20 espécies
de borboletas.
Há plantas relacionadas à história, como a pau-brasil, e à literatura,
como a laranja-lima. Após
mais de quatro anos de projeto, o professor diz que o resultado é perceptível
na comunidade escolar: houve redução do bullying e das brigas entre alunos.
"'O Qual é a graça' vai além da
questão racial, busca o bom convívio e o combate ao preconceito de todas as
formas", afirma Rosa.
O
projeto "Qual é a graça" atende à lei 10.639/03, que trata da
inclusão do ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo escolar.
Professor
carioca cria projeto interdisciplinar contra o preconceito racial
Via Brasil247
Interessante.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
Como temos acesso à lista?