Mais
de 600 pessoas acompanharam na manhã desta quinta-feira, 8, pela tevêFPA, o
debate sobre Classes Sociais com a filósofa e professora aposentada da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Marilena
Chaui. Coordenado pelo diretor da Fundação Perseu Abramo (FPA), Joaquim
Soriano, o debate contou também com a participação de internautas, que
interagiram enviando perguntas.
Este
debate, que reabriu o segundo ciclo da série Classes Sociais, em parceria com a
Fundação Friedrich Ebert (FES), foi realizado no auditório da FPA, em São
Paulo. Marilena abriu sua fala analisando o perfil da nova classe trabalhadora,
tema do estudo de sua autoria - “Nova classe trabalhadora: enigmas?”. Somado à
reflexão de representantes da juventude, movimento feminista, sociólogos e
estudiosos da política internacional, que estiveram presentes no evento de mais
de duas horas, Chaui provocou questionamentos acerca das redes sociais, o papel
do Partido dos Trabalhadores nas manifestações de junho, e sobre a classe que
surge no esteio dos dez anos de governos petistas no Planalto.
Ao
falar sobre organização de movimentos pela internet, Chaui não demonstrou
simpatia pela ideia de que as redes sociais substituem a organização
partidária: “tenho ojeriza da afirmação de que as redes sociais são
libertárias”. Segundo a professora da USP, “é uma irresponsabilidade política
transformar a internet em solução para tudo”. Chaui defendeu ainda que se
retome a história do partido como organizador, pois o que se viu nas ruas foi
uma classe média que não tinha palavras de ordem. “Adotou as da esquerda e depois as da mídia”,
concluiu.
A
postura da classe média conservador brasileira, que não aceita as políticas de
inclusão promovidas pelo PT nos últimos dez anos, também foi criticada pela
professora: “não acho que chegamos ao fim de um ciclo, acho sim que há um furor
da classe média contra as políticas de inclusão”. Nesse sentido, ela refuta a
ideia de que as manifestações são uma demonstração de que o chão da fábrica foi
substituído pela cidade. “A cidade não substituiu o chão de fábrica, mas
retomou a ideia de Polis, espaço pra política”. E acrescentou: “construção de uma
sociedade democrática só pode ser a práxis da classe trabalhadora”.
“O
que se vê é o crescimento da classe trabalhadora e não o surgimento de uma
suposta classe média”, acrescentou Chaui. Ela também alertou que é preciso que
a “classe trabalhadora entenda a manipulação dos símbolos do capitalismo”,
referindo-se ao foco das manifestações que não têm direção. “Vale a pena
pesquisar o uso da prensa em processos revolucionários e o que houve no Brasil
ou Egito”, sugeriu.
Segundo ela, é comovente a ingenuidade da juventude com relação aos poderes que precisam enfrentar. Embora se reivindique pouco otimista com a pseudo ascensão de mobilizações a partir da internet, Marilena aposta: “nossos valores são mais fortes que as desigualdades”.
Acesse
aqui a contribuição da filósofa: "Nova classe trabalhadora: enigmas?"
Debates anteriores
A
primeira etapa de debates sobre as Classes Sociais recebeu as contribuições do
cientista político, professor da Universidade de São Paulo (USP) e jornalista
Andre Singer, comentando o fenômeno Lulismo e seus aspectos para o
desenvolvimento das classes sociais no Brasil; e Jessé de Souza, professor da
Universidade Federal de Juiz de Fora, abordando Os batalhadores brasileiros:
nova classe média ou nova classe trabalhadora?, publicação de sua autoria que
debate as transformações na sociedade brasileira dos últimos dez anos.
Gustavo
Venturi e Vilma Bokany, do Núcleo de Estudos e Opinião Pública da FPA, também
participaram do ciclo apresentando a pesquisa sobre as novas classes trabalhadoras.
Giuseppe Cocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, encerrou o primeiro
ciclo de debates do primeiro semestre com o tema de “A nova composição do
trabalho metropolitano”.
Via
Portal da Fundação Perseu Abramo/Luiz Muller
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