Política Partidária venceu as ruas



Já era previsível que, entregue ao comando de Michel Temer e José Eduardo Cardozo, a proposta de plebiscito para Reforma Política fosse derrotada.

Travar uma batalha com dois “generais” não apenas temerosos como, no fundo, aliados do adversário não pode, nunca, resultar em vitória.

A presidenta Dilma Rousseff, desde o primeiro momento, tendeu a seguir a inspiração democrática de seu pensamento. Jamais tratou como “inimigas” as manifestações de rua.  Ao contrário, não apenas as entendeu  expressão democrática da população como, também, enxergou-as como um potencial motor das transformações de que o país precisa.
Dilma quis, com o plebiscito da Reforma Política, tentar sanear o pântano da politicagem e do corporativismo dos políticos e dos partidos, no qual sente seu governo e o próprio projeto de desenvolvimento com justiça social do país, atolar-se.

Não há hoje, no Brasil, dois maiores freios ao progresso econômico e à distribuição equitativa da renda do que a chamada “classe política” e a mídia. A primeira cobra, pelo seu indispensável apoio parlamentar e eleitoral, o preço de um fisiologismo imobilizante.  Exige do governo nacos da administração, no que não haveria problemas se esta ocupação fosse solidária no projeto do Brasil que emergiu das urnas.  Mas não é: trata-se da pior tradição das oligarquias políticas brasileira, a de adonarem-se dos cargos como “propriedades privadas”, convenientes à sua engorda político-eleitoral, e , algumas vezes, patrimonial.

A mídia, por sua vez, não consegue entender qualquer tipo de governante que não seja dócil ao modelo colonial de nossa economia; que não zele, prioritariamente, pela drenagem da riqueza nacional e dos frutos do trabalho do povo brasileiro. Não conseguem conceber senão uma nação inviável nos tempos modernos, irremediavelmente dividida entre uma elite esnobe e perdulária e uma massa popular desprovida de tudo, desde que essa esteja distante dos seus olhos.

O plebiscito proposto pela presidenta Dilma Rousseff caiu diante dessas forças, com o auxílio institucional de parte “nobreza” administrativa para qual tudo que se refere ao povo não é prioridade nem justifica esforço ou abandono de privilégios .

Claro que isso não exime o governo e a própria Presidenta da República dos erros políticos na condução dessa proposta.

Não basta ter ideias generosas, é preciso ter a forma adequada e disposição indispensável para implementá-las.

Se a presidente formulou e decidiu praticamente só por este apelo à cidadania para transformar as instituições políticas, não poderia, ainda que também só, deixar de se dirigir ao povo brasileiro, de forma direta e clara. A população, na sua sabedoria inata, sentiu que o plebiscito era sua chance de reformar a política nesse país. Tanto é assim que, mesmo sem o esclarecimento das lideranças, nas quais confia e às quais apoia, que emprestou o apoio de quase 70% à tese plebiscitária.

Se houvesse a comunicação direta entre a presidenta e essa população sequiosa por mudanças, políticos e mídia não teriam chance de retalhá-la e, finalmente, destrui-la.

Reforma Política, se vier, agora será aquilo que já se previu aqui. Um nada e um nunca.
Essa derrota não é o fim do governo Dilma, nem de sua reeleição e muito menos do projeto político de transformação desse país.

Mas é o epílogo inglório da ideia de que podemos mudar o Brasil apoiados numa geleia amorfa de sustentação política, num saco de gatos (e ratos) onde nada pode prosperar sem ser mutilado, emasculado e moído em uma máquina de preservar privilégios e atraso político.

Lula, há alguns anos, percebeu que precisava, sem lançar fora as suas composições conservadoras, dar prioridade a sua comunicação direta com o povo brasileiro, e nele sente e entende  a corporificação dos seus anseios e direitos. Falem o que falarem os teóricos petistas, é assim que os povos transformam os líderes em suas lanças, como fizeram os brasileiros, 60 anos atrás, com Getúlio Vargas.

E não há, em nossa história, nenhum líder que tão próximo tenha chegado da figura getuliana do que Luís Inácio Lula da Silva.

Dilma, enfraquecida, não terá – se desejar ser o que sempre foi e continuar a ser presidenta do Brasil – outra alternativa se não a de buscar o diálogo pessoal com o povo brasileiro. As estruturas políticas de articulação do seu governo estão anuladas ou, pior, apodrecidas. Precisa, indispensavelmente, mudar o seu ministério e a sua comunicação. Sem demérito pessoal para quem quer que seja, pontos vitais de sua administração estão ocupados por pessoas que não apenas perderam a combatividade como, diversas delas, se entregaram ideologicamente à elite conservadora brasileira.

O povo deste país vive uma intensa decepção. Assim como entendeu que o plebiscito era o seu caminho, sabe também instintivamente que esta porta lhe foi fechada, praticamente sem resistência daquela que a abriu.

A força do povo porém, para o desespero da direita, é como rio que, quando lhes fecham os canais, se acumula, e leva , se avoluma para, cedo ou tarde, transbordar ruidosamente, como fez no mês passado.

Quem tem a ilusão de que possa ser diferente, deveria lembrar-se que já agora escapou com a água pelo pescoço.

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Via Tijolaço

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