Eles
frequentemente se autodefinem paladinos da populaão sem especificar exatamente
do que estão falando, a quem se dirigem e o que de fato propõem. Transitam
meses nessa nebulosa. Consolida-se assim uma campanha na flauta das
indefinições, com alguns candidatos embalados na esférica certeza de que as
redações funcionam como um hímen complacente às mais descabidas omissões.
Chega-se
a esse colosso da democracia 'à paulista'. A uma semana do voto, dois dos três
principais postulantes à prefeitura de uma das quatro maiores manchas urbanas
do planeta, não apresentaram até agora uma proposta crível para a cidade que
pretendem administrar.
José
Serra e Celso Russomano desdenham da dimensão mais fundamental de uma campanha,
que consiste em adicionar informação, formação e discernimento ao processo
democrático e ao seu principal protagonista, o eleitor.
Isso
é normal? Não. É o escárnio da democracia. Mas não há holofotes, nem indignação
disponíveis. Foram todos alocados à cobertura do desfrutável Joaquim Barbosa no
julgamento do STF. É lá que se
pretende derrotar o PT. O resto se recheia com 'miolo de pote'. Nada. E toda a
tolerância do mundo, por parte dos 'formadores de opinião'.
Quando
partidos e candidatos se comportam assim, agem como cupins da soberania
popular.
Numa
democracia, a busca pelo voto ancora-se em propostas. Articuladas organicamente
em uma plataforma de governo, expõem o candidato ao escrutínio dos interesses
majoritários da população .
Eleito,
essa será a sua referência de trabalho.
A
sociedade, por sua vez, esclarecida pelo confronto entre as plataformas postulantes,
capacita-se a fiscalizar quem mereceu o apoio vitorioso na urna.
Assim
exercida , a democracia qualifica a gestão pública com maior transparência e
controle da cidadania --algo pelo qual os aficcionados do desfrutável Joaquim
Barbosa dizem se bater.
O
outro caminho consiste em pedir um cheque em branco à população dispensando-se
de qualquer contrapartida programática. O degrau seguinte dessa escalada
dispensa também o voto e o eleitor na travessia para o poder. A isso
frequentemente se dá o nome de ditadura.
O
desdém atual de Serra não é novo. O tucano repete na esfera municipal o mesmo
desleixo pelo debate de projetos verificado na disputa presidencial de 2010. A
exemplo dos coronéis que só entregavam o outro pé da botina depois de eleitos,
afirma agora que só apresentará sua plataforma se for para o 2º turno. Ou seja,
nunca, a julgar pelo Ibope, o Vox Populi e o próprio Datafolha, cuja pesquisa
desta 5ª feira reverte o 'descolamento de seis pontos' dado ao tucano na
anterior e admite a subida de Haddad à segunda colocação.
Russomano
avança algumas jardas na mesma direção da soberba anti-democrática.
O
líder das pesquisas só se sente confortável ao desvincular voto e projeto
público. Ao interesse coletivo, contrapõe uma customização do pleito em
micro-defesa do consumidor, como se a vaga em disputa fosse a direção do
Procon. Numa contradição em seus próprios termos, exige um cheque em branco dos
'consumidores', em troca de uma mercadoria' - seu programa para SP - que só
pretende entregar se e depois de sentar na cadeira de prefeito.
Com democratas assim, quem precisa
de ditadores?
Lançado
publicamente em 13 de agosto, o programa de Fernando Haddad transita na margem
oposta dessa lambança eleitoral sancionada pela imprensa. São 122 páginas de diagnósticos
e propostas para o município construídas com a colaboração de alguns dos
melhores especialistas em cada área, agrupados em comissões temáticas que
trabalharam por mais de cinco meses.
Entre
eles, Amir Khair, Nelson Machado e Luiz Cláudio Marcolino nas proposições
administrativas e econômicas; Nabil Bonduki e Álvaro Puntoni, na área de
urbanismo; Carlos Neder na saúde e Ricardo Musse e Vladimir Safatle na cultura.
Até
pela qualidade dos colaboradores vale a pena ler uma plataforma que irradia
respeito pelo eleitor, consciência em relação aos desafios da metrópole e
coerência de quem se propõe a sintonizar a cidade com um tempo novo para a
cidadania.
Com informações do Carta Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!