A
representação do PSDB ao Procurador Geral Eleitoral contra blogs que criticam
suas lideranças e agenda partidária, é um pastel revelador. O recheio exala as
prendas do quituteiro; a oleosidade da fritura qualifica o estado geral da
cozinha. Na primeira mordida fica explícito que a referência de 'bom'
jornalismo do PSDB é a revista VEJA, uma ferradura editorial adestrada para
escoicear três dimensões da sociedade: agendas progressistas; lideranças que as
representem; governos que lhes sejam receptivos.
Curto
e grosso, o poder tucano pleiteia a asfixia publicitária - com supressão de
publicidade estatal -de qualquer outra forma de imprensa que não se encaixe no
tripé que o espelha. A singular concepção de pluralidade afronta boa parte dos
sites e blogs alternativos que se reservam o direito de exercer a crítica
política da sociedade e do desenvolvimento de uma perspectiva não conservadora.
'São blogs sujos', fuzila a representação tucana, cuja coerência não pode ser
subestimada. Há esférica sintonia entre a forma como o PSDB se exprime e o
higienismo de uma prática que São Paulo, a 'cidade limpa', tão bem conhece.
O
tema da publicidade estatal mereceria um discernimento mais amplo do que o
reducionismo estreito do interesse eleitoral tucano. O Estado deve se comunicar
com a sociedade. A comunicação deve se pautar pelo interesse público. Campanhas
educativas e institucionais não podem ser confundidas com propaganda
partidária, nem servir aos seus interesses, sejam eles quais forem. Dito isso,
resta o ponto sensível ao PSDB: quem merece veicular tais mensagens de
pertinência pública reconhecida?
O
tucanato e certos 'especialistas em comunicação' parecem convergir, ainda que
por caminhos diversos, a um consenso: a mídia alternativa deve ser alijada
dessa tarefa. O 'Estado anunciante', uma corruptela do cacoete neoliberal
'Estado interventor', teria atingido, asseguram, uma hipertrofia perigosa;
deslizamos a centímetros do abismo anti-democrático. No país que tem um
dispositivo com o poder intromissor da Rede Globo, insinua-se que a principal
ameaça à democracia é o Estado impor seu 'monólogo' à sociedade. Afirma-se isso
com ares de equidistância acadêmica e engajamento liberal,.
Passemos.
Evitar
essa derrocada exigiria um veto cabal a toda e qualquer publicidade oriunda da
esfera pública? Em termos. Na verdade, não seria exatamente essa essa a malha
do coador tucano. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo
esclarecedor no 'Estadão', de 3 de junho último, foi ao ponto: “Será que é
democrático", disse ele, "deixar que os governos abusem nas verbas
publicitárias ou que as empresas estatais, sub-repticiamente, façam coro à
mesma publicidade sob pretexto de estarem concorrendo em mercados que, muitas
vezes, são quase monopólicos? (...) O efeito deletério desse tipo de propaganda
disfarçada não é tão sentido na grande mídia, pois nesta há sempre a
concorrência de mercado que a leva a pesar o interesse e mesmo a voz do
consumidor e do cidadão eleitor. Mas nas mídias locais e regionais o pensamento
único impera sem contraponto.”
É
isso. O grão tucano adiciona nuances na investida contra o Estado anunciante.
Nas páginas de 'Veja', e sucedâneos, não haveria risco de influencia editorial.
Ali a 'voz do consumidor e a concorrência' preservam a 'isenção do jornalismo'.
"Mas nas mídias locais e regionais...' Quais? Sobretudo aquelas que
incomodam ao engenho e à arte tucana de governar e fazer política.
Veja
mais
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!