A mais nova declaração perigosa do General Mourão


General Mourão. (Foto: Divulgação).

Após as críticas que recebeu por ter declarado, nesta segunda (17), que a partir do momento que a família é dissociada, por ”agendas particulares que tentam impor ao conjunto da sociedade”, ”áreas carentes”, ”onde não há pai e avô”, apenas ”mãe e avó” transformam-se em ”uma fábrica de elementos desajustados” que tendem a ingressar em ”narcoquadrilhas”, o general da reserva Hamilton Mourão afirmou que fez apenas uma ”constatação”. E trouxe mais um preconceito.

Eu deixei claro que esse atingimento da família é muito mais crucial nas nossas comunidades carentes, onde a população masculina, em grande parte, está presa, ligada à criminalidade ou já morreu, e deixa a grande responsabilidade de levar a família à frente nas mãos de mães e avós”, afirmou.

Ou seja, na tentativa de mostrar que foi criticado gratuitamente pela imprensa, o candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro conseguiu acrescentar outro elemento além do machismo, da homofobia e do preconceito contra mulheres pobres presentes na fala de ontem. Pois, de acordo com essa declaração, grande parte dos homens moradores de comunidades pobres são bandidos, pois estão presos ou ligados à criminalidade. A afirmação não é apenas rasa. Parte de uma premissa perigosa que pode justificar tudo. Inclusive a violência policial ou militar indiscriminada contra as mesmas comunidades.

As taxas de resolução de homicídios são muito baixas no Brasil. Ao mesmo tempo, a maioria esmagadora de furtos e assaltos são resolvidos apenas quando há flagrante policial, porque a investigação também é limitada. É possível traçar perfis de quem cumpre pena e medidas socioeducativas, mas não extrapolar para o universo de uma comunidade carente. O perfil da principal vítima de violência, contudo, é facilmente identificável: jovem, negro e pobre.

Talvez esses preconceitos estejam tão enraizados na visão de mundo do general que ele não perceba que a existência desses problemas não está relacionada com o tipo de família estabelecida, o gênero dos envolvidos na educação e no cuidado com as crianças ou mesmo a classe social. Mas a uma série de responsabilidades do poder público, como a criação de oportunidades aos mais jovens, a presença do Estado através de equipamentos de assistência social, educação e saúde de qualidade, a urbanização de bairros pobres, entre outros, tudo discutido em conjunto com a comunidade.

A experiência tem mostrado que mulheres apresentam um posicionamento mais crítico ao discurso da violência do que os homens (discurso promovido, aliás, pelo próprio cabeça da chapa do general) e são mais racionais e estáveis na gestão dos recursos, tanto que em programas de moradia popular ou de transferência de renda, o registro familiar é feito em nome delas e não deles.

Ao mesmo tempo, o mais lucrativo crime organizado não está nas favelas, mas nos bairros ricos onde moram tanto políticos e empresários que sugam bilhões dos cofres públicos quanto grandes traficantes que são responsáveis pelo comércio internacional de psicoativos ilegais.

Nessas horas, talvez falte um amigo honesto que chegue ao ouvido e explique que ele está sendo criticado não por cobrar que o Estado esteja presente através de creches e escolas integrais, como acertadamente afirmou em seus discursos. Mas por destilar preconceitos e nem se atentar disso.

Em tempo: O Ministério Público Militar pode enumerar dezenas de casos de desvios milionários praticados tanto por praças quanto por oficiais de alta patente. Eles vão da cobrança de propina em contratos a roubo de peças de tanques militares. Mais de uma centena de militares já foi condenada por crimes desse tipo entre 2010 e 2017. Sobre isso, vale a pena ler a reportagem de Leandro Prazeres, do UOL.

Diante desses fatos, afirmar que o Exército é tão corrupto quanto qualquer outra instituição da República e que a ausência de comando faz da instituição uma ”fábrica de elementos desajustados” é preconceito ou apenas uma ”constatação”? (Com informações do Pragmatismo Político).

Economista de Bolsonaro quer aumentar imposto dos pobres e reduzir dos ricos


Candidato do PSL não cita o tema em seu programa de governo, mas o economista de sua campanha falou a empresários. (Foto: Reprodução/RBA).

O economista Paulo Guedes, provável ministro da Fazenda em caso de vitória do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), anunciou ontem (18) proposta para aumentar a alíquota do Imposto de Renda (IR) para os mais pobres e reduzir a alíquota dos que ganham mais, criando uma taxa única de 20% para todas as pessoas físicas ou jurídicas. Além disso, seria eliminada a contribuição patronal para a Previdência Social, aplicada sobre a folha de salarial, e que atualmente tem a mesma alíquota de 20%.

Na prática, considerando o sistema atual, seriam extintas as alíquotas de 7,5%, para quem ganha de R$ 1.903,99 até R$ 2.826,65, e de 15% para quem ganha entre R$ 2.826,66 e R$ 3.751,05. Todos passariam a ter 20% de seus salários brutos descontados mensalmente. Da mesma forma, quem ganha salários maiores – e que tem descontado 27,5% a título de imposto de renda – teria a alíquota do imposto reduzida para 20%, inclusive as empresas. Guedes também falou em criar um novo imposto sobre movimentações financeiras, nos moldes da extinta CPMF. Ele apresentou a proposta em encontro de empresários organizado pela GPS Investimentos, especialista em gestão de grandes fortunas. As informações são da coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.

Para o diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Cândido Grzybowski, a proposta vai prejudicar a população de baixa renda em benefício dos mais ricos. “É totalmente injusto. Ela devia ser maior para quem ganha mais. A sociedade não tem o mesmo padrão de renda e está longe de estar próximo. Cobrar a mesma alíquota é penalizar os mais pobres. Como já ocorre com o ICMS, que o ricaço paga o mesmo imposto, na compra de um feijão, por exemplo, que o cara que ganha Bolsa Família”, afirmou.

A proposta não consta do Programa de Governo de Bolsonaro. No documento constam apenas a redução massiva de impostos e, de certa forma, o fim do atual regime de previdência pública, com migração para um sistema de capitalização. Também está presente, de forma superficial, a simplificação dos impostos, aliada a programas não especificados de “desburocratização e privatização”.

O programa de governo do candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, vai à direção oposta. Propõe um reajuste na tabela do Imposto de Renda, com isenção para aqueles que ganham até cinco salários mínimos (R$ 4.770,00), com consequente aumento para os chamados super ricos, que pouco ou nada pagam hoje. A proposta fala sobre a retomada da cobrança de impostos sobre lucros e dividendos, extinta durante o governo FHC, e também prevê a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

Ciro Gomes, candidato pelo PDT, propõe a simplificação dos impostos , com a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que unifica outros tributos. O texto prevê ainda a redução do Imposto de Renda das empresas, com consequente diminuição dos impostos relacionados ao consumo, como PIS/Cofins e ICMS. Por fim, o retorno da taxação de lucros e dividendos e o aumento da cobrança de tributos sobre heranças e doações.

O candidato tucano é um dos que menos fala sobre reforma tributária. Nada diz sobre a necessidade de uma maior justiça fiscal, apenas aponta para a simplificação da arrecadação. “Simplificar o sistema tributário pela substituição de cinco impostos e contribuições por um único tributo: o Imposto sobre Valor Agregado (IVA)”, afirma o texto. (Com informações da RBA).

A luta hoje não é entre PT e PSDB, é democracia contra barbárie', diz Nassif


Formulada na Grécia Antiga, a democracia tem sido o ideal de modelo político desde então. No Brasil, está sob risco.

Jornalista econômico e criador do Jornal GGN, Luis Nassif acredita que a eleição para presidente da República deste ano tem um elemento que a torna mais dramática do que os pleitos anteriores. “Temos uma guerra mundial hoje em torno da barbárie contra a civilização”, afirma.

A observação vem ao encontro de declarações recentes de ex-ministros da França, Espanha, Itália e Alemanha, alguns presentes no seminário Ameaças à Democracia e a Ordem Multipolar, realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) na última sexta-feira (14).

Quando teve a crise de 2008, se teve a abertura do mercado financeiro para os fluxos de capitais, que conviveu com a democracia enquanto se vendia aquele peixe de ‘se sacrificar, se cortar orçamento, se acabar com o Estado de bem-estar social, todos serão mais felizes’. Quando isso falhou, em 2008, esse processo de globalização passou a investir contra aquela ordem internacional que vinha do pós-guerra e que garantia paz, respeito entre as nações, o primado da democracia", explica Nassif, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual. “E a maneira que eles encontraram foi acabar com a política, criminalizar a política e dar espaço pra judicialização da política. Então o que acontece no Brasil é um reflexo do que acontece lá fora.”

No caso do Brasil, o jornalista acredita que desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff o país enveredou por um caminho que hoje o coloca numa encruzilhada. “A partir do momento em que os partidos, PSDB e outros, endossam o golpe nas instituições, tudo passa a ser possível. A luta hoje não é entre PT e PSDB, é democracia contra barbárie”, afirma.

A crise do PSDB – partido que desde 1994 divide a predominância no espectro político nacional com o PT – também colabora para o surgimento de uma candidatura de extrema-direita como a de Jair Bolsonaro (PSL). “Qual era o discurso do PSDB lá atrás? Era uma social-democracia light, com alguma preocupação social, mas sem passar o protagonismo político para o povo”, lembra, observando que atualmente, a legenda descambou para uma radicalização que levou ao poder uma quadrilha e que perdeu relevância para figuras como João Amoedo e Bolsonaro.

Nesse contexto eleitoral entre a vitória da democracia ou da barbárie, representada pela candidatura de Bolsonaro, Nassif enaltece o voto do eleitor nordestino, normalmente alvo de preconceito por parte da população do Sul e Sudeste do Brasil. 

Falam tanto da depreciação do Nordeste, e quando você vê essa luta civilizatória hoje... O primeiro-ministro da Alemanha falava, ‘se cair a democracia no Brasil, cai na Argentina’, o Pierre (Sané), que foi presidente da Anistia Internacional, também falava que cai (a democracia) na África... então o Brasil tem um papel chave, hoje, na democracia mundial. E quem está garantindo isto aqui, é o eleitor nordestino, aquele eleitor de baixa renda que pela primeira vez teve oportunidade, viu o lado benéfico do Estado, pela primeira vez viu a paz social, a luta contra a seca. É interessante isso. E é importante que a população tome consciência do que está em jogo. Está em jogo acabar com as políticas sociais, está em jogo o aumento desmedido da violência. É só ver que todas as manifestações de violência acabam centralizando em eleitores do Bolsonaro. Não vou dizer que todos os apoiadores do Bolsonaro são depravados, mas todos os depravados são apoiadores do Bolsonaro.” (Com informações da RBA).

Pesquisa CNT/MDA mostra Haddad isolado na segunda posição


Bolsonaro, Haddad, Ciro e Alckmin, os quatro primeiros em nova pesquisa da CNT. (Foto: Reprodução/RBA).

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou na manhã desta segunda-feira (17) a 138ª Pesquisa CNT/MDA, realizada entre os dias 12 e 15, que mostra o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, liderando com 28,2%, seguido de Fernando Haddad (PT), que tem 17,6%, isolado no segundo lugar. Na sequência aparecem Ciro Gomes (PDT), com 10,8%, Geraldo Alckmin (PSDB), 6,1%, Marina Silva (Rede), 4,1% e João Amoêdo (Novo), 2,8%.

Na pesquisa espontânea, quando não são apresentados os nomes dos candidatos, Bolsonaro tem 23,7% e Haddad, 9,1%. Entre os entrevistados, 7,5% citaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve sua candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No último levantamento, divulgado em 20 de agosto, Lula tinha 37,3% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 18,8%. Marina tinha 5,6%, Alckmin, 4,9%, e Ciro, 4,1%.

A sondagem traz ainda dados sobre a avaliação do governo Temer. A gestão é considerada positiva por 2,5% dos entrevistados, enquanto 81,5% a avaliam negativamente. Outros 15,2% avaliaram como regular, e 0,8% não souberam opinar. Em termos de aprovação do desempenho pessoal, Temer chega a 7% contra 89,7% de desaprovação.

De acordo com a pesquisa CNT/MDA, 23,7% dos entrevistados se dizem muito interessados na eleição para presidente da República, 26% dizem ter médio interesse e o restante revela ter pouco (24,9%) ou nenhum interesse (24,8%). 0,6% não sabem/não responderam.

A pesquisa ouviu 2.002 pessoas, em 137 municípios. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança. (Com informações da RBA).

Estudante secundarista de Nova Olinda tem trabalho apresentado trabalho no “Curta o Gênero 2018”



O VII Seminário Internacional Gênero, Cultura e Mudança compõe a programação do Curta o Gênero 2018, sendo um espaço de debate e formação que aborda temas relevantes do atual contexto sociopolítico das relações de gênero e sexualidades no Brasil e América Latina. Nesta edição, o Seminário contou com mesas de discussão, oficinas, simpósios temáticos, minicursos e rodas de conversa, trazendo mais uma vez a Fortaleza um conjunto de pesquisadoras(es), escritoras(es), ativistas e artistas de referência nacional e internacional.

O Curta o Gênero é um projeto idealizado e realizado pela Fábrica de Imagens que se caracteriza, sobretudo, como um espaço de convergência de pessoas interessadas em compartilhar seus pensamentos, interpretações, experiências, dúvidas, proposições, performances, percepções e criações artísticas no campo do feminismo, gênero, sexualidade e interseccionalidade. Constitui-se também como um espaço plural de produção de sentidos e de desenvolvimento de diálogos comprometidos com a denúncia das desigualdades, violências e violações de gênero, de construção de outras representações e interpretações simbólicas baseadas na equidade de gênero e na afirmação das sexualidades e de articulação política de diversos campos e sujeitos que se dedicam às questões de gênero e sexualidade.

Alan Cordeiro durante o Curta o Gênero 2018.
(Foto: Reprodução).
Durante os dias 12 e 13 deste mês, o jovem novo-olindense, Alan Cordeiro da Silva, ativista dos direitos humanos, militante do Coletivo Kizomba e estudante secundarista da Escola Padre Luís, esteve apresentando o trabalho intitulado: “Discutindo Gênero e Sexualidade dentro do ambiente escolar: desconstruir em busca de construir uma sociedade mais humana e igualitária”. Este trabalho foi desenvolvido em 2017 sob a orientação da Professora Mestra e Doutoranda Tayane Soares.

Ele que teve seu trabalho submetido a uma aprovação ao inscrevê-lo no Eixo: Gênero, Educação e Comunicação tendo como coordenadora do eixo a Professora Doutora Ana Veloso da Universidade Federal do Pernambuco-UFPE. O mesmo era o único estudante secundarista a ter um trabalho selecionado para o seminário e apresentá-lo dentre graduados e graduandos.

Alan Cordeiro apresentou seu trabalho no Centro Cultural Belchior em Fortaleza-CE e foi acompanhado da Professora Ranielda Bernardes da Escola Padre Luís Filgueiras.

Para o jovem ativista, Alan Cordeiro, foi muito gratificante e relevante para sua formação participar e integrar às atividades que compõe a programação do Curta o Gênero 2018. “Foi uma imensa felicidade e satisfação apresentar um trabalho em um evento importante que é o Curta o Gênero, eu sendo o único estudante de ensino médio/secundarista. Sou grato a todos que contribuíram e me ajudaram”, disse Alan.

O trabalho será publicado nos anais eletrônicos do evento e garante também um certificado pela apresentação dos mesmos. Para o nosso município fica a relevância de se estar incentivando nossos jovens a crescerem em sua formação humana, pessoal e profissional. (Com informações do Ubuntu Notícias).

“Grupo contra Bolsonaro incomoda por causa de seu potencial”, diz antropóloga Rosana Pinheiro


Para antropóloga da Universidade Federal de Santa Maria, no Grupo no Facebook que reunia mais de 1 milhão de mulheres é fenômeno político extraordinário. (Foto: Arquivo Pessoal).

Após sofrer ataques neste fim de semana, o grupo “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” foi retirado temporariamente do ar pelo Facebook. O grupo ganhou repercussão por reunir em poucos dias mais de 1 milhão de mulheres (além de milhares de outras solicitações aguardando aprovação) se opondo à candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência.

Administradoras do grupo afirmaram ao site Catraca Livre que o perfil de uma delas na rede social foi invadido na quinta-feira 13 e seus dados pessoais foram expostos. Outra administradora disse ter sido ameaçada via WhatsApp para que encerrasse o “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, recebendo inclusive uma mensagem com seus dados.

Neste domingo 16, a página está fora do ar. Segundo o jornal El País, o Facebook está trabalhando para “restaurar o grupo às administradoras”.

“O incômodo é porque sabem da potência, da possibilidade desse grupo. Dois milhões de mulheres organizadas, motivadas e discutindo são capazes de mobilizar suas mães, filhas, amigas. Imagina o impacto disso em um país com a quantidade de eleitores como o Brasil”, afirma a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e ex-professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

"Não nos quiseram nas redes, agora terão que nos aguentar na rua", completa.

Clique aqui e confira a entrevista da antropólogo à CartaCapital

Haddad foi interrompido 62 vezes no Jornal Nacional, enquanto Alckmin, 17


(Foto: Reprodução).

O ex-prefeito Fernando Haddad, candidato do PT à presidência, foi entrevistado nesta sexta-feira (14) pelos jornalistas do ‘Jornal Nacional’, da Globo. Apesar de suas respostas incisivas, o petista foi o candidato que mais sofreu interrupções entre todos os candidatos entrevistados por William Bonner e Renata Vasconcellos.

Ao todo, Haddad sofreu 62 interrupções dos jornalistas. Mais que o triplo de interrupções sofridas por Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano teve sua resposta cortada pelos apresentadores 17 vezes.

O segundo mais interrompido depois de Haddad foi Jair Bolsonaro (PSL): foram 36 vezes.
Confira, abaixo, os tempos de fala de cada candidato e o número de interrupções em suas entrevistas no ‘Jornal Nacional’, de acordo com o levantamento feito pela Fórum.

Jair Bolsonaro (PSL) – 36 interrupções e 16 m 47s. de fala
Ciro Gomes (PDT) – 34 interrupções e 15m 20s de fala
Geraldo Alckmin (PSDB) – 17 interrupções e 16m 17s de fala
Marina Silva (Rede) – 20 interrupções e 19m 30s de fala
Fernando Haddad (PT) – 62 interrupções e 16m 05s de fala

(Com informações da Revista Fórum).

Conheça a historiadora Giovana Xavier que irá substituir Djamila Ribeiro no 9º Artefatos da Cultura Negra


Giovana Xavier - professora de história da UFRJ.
(Foto: Robson Maia).
A professora de história da UFRJ Giovana Xavier fala sobre sua trajetória como intelectual negra no Brasil. A carioca Giovana Xavier, de 38 anos, é historiadora, com sólida formação acadêmica em níveis de mestrado, doutorado e pós-doutorado, por UFRJ, UFF, Unicamp e New York University. Atualmente, é professora da Faculdade de Educação da UFRJ. Em 2017, organizou o catálogo  Intelectuais Negras Visíveis”, que elenca 181 profissionais mulheres negras de diversas áreas em todo o Brasil.

Na entrevista abaixo, ela conta sobre sua trajetória como intelectual, fala dos percalços e especificidades da profissão do historiador e, em especial, dos desafios que enfrentou e enfrenta no combate à desigualdade racial brasileira.

1 - Como você chegou a essa carreira? O que te motiva? Por que você a escolheu?

GIOVANA XAVIER - Esta é uma pergunta difícil de responder porque ela é resultado de muitas histórias. Fui criada por uma família de mulheres negras que acreditaram e colocaram em prática o poder da educação como instrumento de liberdade e ascensão social. Minha mãe, Sonia Regina (ancestral) foi a primeira da família a cursar a universidade. Isso revela uma característica típica de famílias negras: o investimento na formação de um indivíduo (geralmente o mais novo) como projeto de liberdade e transformação coletivo. Essa marca, sempre presente nas histórias que hoje escuto meus estudantes pretos contarem, é um saber que temos aprimorado como comunidade negra e que evidencia os limites da meritocracia como conceito que dê conta de explicar as oportunidades desiguais que recebemos a depender de quem somos em termos raciais, de gênero, de classe, sexualidade.

Então posso dizer que o fato de ter sido socializada em um matriarcado que acreditou que eu poderia ser quem eu quisesse, estimulando-me a ler, escrever, aprender outros idiomas, motivou-me a transgredir, indo além do destino esperado para as meninas negras do Brasil: o trabalho doméstico, ramo em que inclusive trabalhei por um tempo, quando fui arrumadeira de pousada na Ilha Grande na adolescência.

Meu primeiro trabalho foi aos 11 anos, entregando panfletos “Vendo Ouro” na ponte do subúrbio do Méier, no Rio de Janeiro, onde fui criada. Até hoje tenho pavor de receber esses papéis, por saber das violências e perversidades que rodeiam a juventude que desde cedo tem de se virar, encarando a rua como local de trabalho. Essas experiências de inserção no mercado informal somadas à oportunidade de ter estudado em uma escola branca de classe média me geraram um ponto de vista denso sobre como estar em dois mundos e, do interior deles, criar o meu próprio. Acho que esta tem sido minha busca pelo “caminho de casa”, para usar a expressão marcante da escritora ganense Yaa Gyasi. Na linha “força, foco e fé”, pergunto-me diariamente: como, na condição de mulheres negras, podemos e devemos reivindicar a intelectualidade, construindo um universo para chamar de nosso, dentro e fora da academia? A história, enquanto matéria dedicada à interpretação de processos sociais e à construção de identidades individuais e coletivas, oferece ferramentas para responder à minha pergunta. Entretanto, estamos falando ao mesmo tempo de uma disciplina que contradiz minha própria motivação se considerarmos que ela foi criada a partir de uma lógica branca, masculina e eurocêntrica. As ferramentas da história e da academia como um todo precisam ser empretecidas na forma de uma ciência para o negro, conforme sinalizado pelo sociólogo Eduardo Oliveira e Oliveira e pela historiadora Beatriz Nascimento nos anos 1980. Entendendo-me como continuidade, essa é minha missão, definida por meus ancestrais. É isso que me motiva a seguir fazendo ciência, diariamente.

2- Como sua formação está presente no trabalho que você faz hoje?

GIOVANA XAVIER - Voltando à minha mãe para responder a pergunta, ela se formou em 1977 na Uerj, que atualmente encontra-se em estado de absoluta precariedade devido à corrupção e ao descaso do Estado com a educação, o que muito me entristece e indigna, sobretudo por saber do pioneirismo que esta universidade ocupa na implantação do sistema de ações afirmativas por raça e classe no Brasil, o que também justifica o desmonte a que está sujeita. Pode parecer que estou fugindo da pergunta, mas refletir sobre minha mãe, a Uerj e a precariedade atual tem a ver com com pensar na minha carreira. Em como me tornei uma professora doutora na maior universidade do Brasil aos 34 anos. Realizei toda a minha formação em história (graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado) em universidades públicas distintas (UFRJ, UFF, Unicamp) e com acesso a todas as modalidades de bolsa de pesquisa (com doutorado sanduiche de um ano na New York University).

O acúmulo dessas vivências torna minha trajetória representativa do poder das transformações sociais que vivenciamos nas duas últimas décadas. Como desdobramento das conquistas, posso dizer que a articulação entre subjetividade e objetividade, presente na autonomeação @pretadotora (minha conta no Instagram e meu blog) dão o tom a tudo que faço hoje. Embora já tenha desistido de enumerar as ações em que estou envolvida (projetos de pesquisa, aulas e orientação na graduação e na pós, produção de textos para revistas científicas, blogs e jornais, conferências, palestras etc.) creio que valha a pena me deter na criação e coordenação do Grupo Intelectuais Negras UFRJ. Trata-se de uma proposta pioneira no Brasil.

A de tecer um espaço acadêmico gerido exclusivamente por mulheres negras e que questione de dentro as estruturas da supremacia branca, estruturas estas que organizam a universidade desde a distribuição de recursos até a produção de currículos e programas de curso, na sua maioria, centrados nas experiências de sujeitos brancos. Assim, eu gosto muito de repassar minha trajetória.

Em um exercício complexo de produção de uma “escrita de mim”, observo que durante 13 anos fui protagonista de um processo de formação conduzido pelo mainstream acadêmico, que, sabemos, é branco. A questão aqui não é sobre individualização e culpa branca. Tenho muitos amigos brancos e alguns deles foram e continuam sendo essenciais para eu estar onde estou. São os casos, por exemplo, da jornalista Josélia Aguiar e da acadêmica Amana Mattos, feministas brancas com quem aprendo muito sobre cuidado, afeto e relações raciais. Mas falo aqui sobre como o racismo é uma estrutura que define lugares.

Ter sido formada no mundo acadêmico branco e, de certa forma, virar o jogo, recusando o posto de negra “brilhante” e “excepcional” como única possibilidade de inserção profissional e, em vez disso, colocando no centro da narrativa os saberes de mulheres negras como determinantes para a formação do Brasil, tem sido minha maior conquista e também meu maior desafio. Desafio porque essa vitória não é permanente. Ela requer muita escuta, observação e habilidade para manutenção e fortalecimento, pois seguimos em minoria nos espaços de prestígio e poder.

Vem daí a importância de termos projetos político acadêmicos individuais e coletivos centrado nas experiências de mulheres negras, sempre bom lembrar, maioria da população brasileira. O Grupo Intelectuais Negras UFRJ, assim como a disciplina homônima que criei e ministro desde 2015 na UFRJ são exemplos bem-sucedidos de criação e manutenção desse tipo de projeto. Professora e estudantes (na sua maioria negros) passam um semestre lendo, debatendo e produzindo única e exclusivamente a partir dos saberes orais e escritos de mulheres negras. Vêm daí ensinamentos muito potentes, como o do reconhecimento de avós, mães, irmãs, tias e vizinhas como intelectuais. Da descoberta do gosto pela escrita, do despertar do desejo de seguir na carreira acadêmica. Protagonizar essa transformação comprova que é possível e necessário produzir conhecimento a partir das nossas histórias pretas e, não menos importante: fazer isso por meio do reconhecimento do amor como ferramenta política de resistência e reinvenção.

É esse sentimento que explica o fato de estarmos aqui até hoje, a despeito de todas as violências e desumanizações que nos são impostas ao longo da história. Como diz a feminista afroamericana bell hooks (que escolhe assinar seu nome assim, com letras minúsculas) e a incrível filósofa e amiga Djamila Ribeiro “o amor cura”. O amor preto cura e reconhecer o papel que a subjetividade do corpo preto desempenha no conhecimento científico que produzimos dentro e fora da academia, na forma de aulas, artigos, livros, palestras, creio, é a maior contribuição que tenho ofertado à minha comunidade nos últimos anos. Trata-se de um retorno do investimento que recebi de Sonia, Leonor, Elenir e do Estado brasileiro democrático.

3 - O que mudou entre a sua expectativa e a realidade?

GIOVANA XAVIER - Essa é uma pergunta boa para ser respondida porque ela aponta numa direção de transgressão, que eu curto muito. Em sendo uma jovem negra trabalhadora que chega na universidade no fim dos anos 1990 (num tempo sem cotas), conciliando estudo e trabalho em um país no qual o fazer intelectual é pensado como privilégio e não como profissão ou trabalho, eu tinha a expectativa de conseguir um “canudo” e me tornar professora de história da educação básica.

Comecei a dar aula aos 17 anos em um projeto social com meninos em cumprimento de medida socioeducativa. Eu tinha uma percepção que meu lugar era e deveria ser a escola pública, a qual aliás já estava bastante familiarizada tanto por minha inserção como pelas memórias de infância. Sou filha de uma professora que dedicou 30 anos de sua vida a educar crianças na Escola Municipal Senador Camará, no bairro da Vila Vintém, o qual frequentei durante toda minha vida.

Ao mesmo tempo que a sala de aula escolar se colocava como destino para pobres que chegam ao ensino superior, eu tive a oportunidade de experimentar um sentido mais literal de universo que a universidade deveria representar para todos e todas que por ela passam. No primeiro ano da graduação, fui convidada para ser bolsista de Iniciação Científica CNPq do professor doutor Carlos Fico. Na mesma época, fui aluna do professor doutor Flavio Gomes, o maior especialista em escravidão e história dos quilombos no Brasil. O fato de Flavio ser um historiador negro com conhecimentos profundos sobre a nossa história mexeu muito comigo.

Sacudiu mais ainda o fato dele ter apostado em mim. Acreditar em uma universidade como a UFRJ significa sentar contigo e te dizer: “olha, graduação é só um momento. Se você investir nas aulas, nas leituras e nos demais recursos que a universidade oferece, você pode fazer um mestrado, um doutorado e se tornar professora universitária como eu”. Flavio talvez não se lembre mais, mas ele, de formas plurais, ao longo de muitos anos como meu grande formador, me disse isso. E o fato de eu ter acreditado nele passa muito por ter sido um professor negro falando com uma aluna negra. Por isso a pauta da representatividade é central na luta contra o racismo.

Em paralelo ao trabalho impecável de Flavio, outras pessoas incríveis na academia apostaram em mim, como minha grande amiga e parceira de trabalho, a professora doutora Martha Abreu, meu amigo professor doutor Álvaro Nascimento e outros como a antropóloga doutora Olívia Cunha e a historiadora doutora Hebe Mattos. Todas essas pessoas me ensinaram a transgredir a expectativa de me tornar professora da educação básica como um limite. Elas foram decisivas para que eu ressignificasse o diploma da graduação como uma etapa inicial rumo à construção de uma carreira acadêmica sólida e respeitada.

Agora, a vida é uma encruzilhada, então não se trata de hierarquizar escola e universidade porque esse, a meu ver, é o maior erro que a academia e muitos de meus colegas cometem, por preconceito e desconhecimento. E eu fui entender isso por meio da minha própria trajetória acadêmica. Em 2012, defendi “Brancas de almas negras? Beleza, cosmética e racialização na imprensa afro-americana (EUA, 1890-1930)”, uma pesquisa inédita sobre a cosmética negra no pós-abolição dos EUA, orientada pelo querido professor doutor Sidney Chalhoub.

De novo, o “destino esperado” era que eu me tornasse professora de história da América. Como dizem os novinhos, “tudo armado”. Mas, como historiadora, eu sei que passado e presente caminham juntos. Assim, em 2013, dei um passo importante na busca pelo meu caminho de casa, fazendo concurso para Faculdade de Educação da UFRJ e tornando-me professora do curso de licenciatura em história. Quero dizer com isso que, de uma maneira não linear, minha expectativa de ser professora da educação básica pública abriu os caminhos para a realidade que hoje me define: uma acadêmica que reforça o compromisso com a educação pública por meio da formação de futuros professores de história e pedagogas.

4 - Qual a maior dificuldade da profissão que você escolheu? E qual o melhor aspecto?

GIOVANA XAVIER - A maior dificuldade de ser historiadora no Brasil passa por tudo escrito acima. Dedicar-se à pesquisa num país em que 19,8 milhões de pessoas vivem a condição da pobreza (com recursos de até R$140) e em que oito pessoas concentram metade da renda de toda a população pobre não é tarefa simples, relacionada apenas a uma ideia universal e falsa da palavra “escolha”. Questões relacionadas às desigualdades raciais e de classe interferem diretamente na ordem do querer. Do que cada pessoa será “quando crescer”. E precisamos encarar isso como uma premissa se quisermos de fato democratizar a produção e o acesso ao conhecimento no país.

A profissão do historiador exige uma disciplina rigorosa de escrita, leitura, pesquisa em arquivos (que, em geral, funcionam em dias e horários restritos), conhecimento de outros idiomas e poder aquisitivo para compra de livros, realização de viagens e outros movimentos intelectuais. Isso não condiz com a realidade da maioria da juventude brasileira, que acaba sendo empurrada para o mercado informal ou para os empregos de bater cartão de ponto.

Diariamente recebo e-mails e escuto histórias de estudantes que desistem de estudar porque “precisam trabalhar”. São arrimos de suas famílias. Esse é o Brasil da casa-grande que é difícil à pampa transgredir. Ao mesmo tempo, essa avaliação macro não é determinante das experiências de todo mundo que ingressa na carreira. As formas de sermos historiadores têm também se ampliado. Falei bastante da sala de aula, tanto na universidade quanto na educação básica, que são as, digamos assim, clássicas formas de inserção na área. Mas há também os centros de pesquisa, de memória, os museus, as empresas de consultoria, o turismo étnico, a televisão. Todos esses são nichos do fazer histórico que têm se fortalecido no Brasil, embora as oportunidades ainda sejam menores do que as demandas.

5 - O que você diria para alguém que está pensando em trabalhar com história?

GIOVANA XAVIER - “Se quer ir rápido vá sozinho, se quer ir longe vá em grupo”. Esse provérbio africano mostra a importância de desde cedo aprendermos a valorizar a construção de redes e as experiências coletivas em nossas formação profissional. No caso da história, isso é muito importante porque infelizmente a cultura hegemônica da academia nos ensina de formas muito perversas que para nos afirmarmos na área científica devemos primar pelo individualismo e pela competitividade.

Nesse sentido, sendo quem sou, proponho que quem pensa em trabalhar com história comece desde cedo a dar vida e alimentar sonhos e projetos de transgressão. Ao chegar à universidade,  invista em criar seus ídolos, suas referências. Para viver no espaço acadêmico precisamos oxigenar nossas mentes com pessoas e projetos que nos inspiram. Se não tudo pode ser muito monótono e traumatizante.

Busque amigos, grupos de pesquisa e disciplinas que estimulem as formas de produção de conhecimento cooperativas. Procure coletivos de estudantes universitários que ofereçam redes de apoio. Elas vão desde receber aquele sorriso, dividir um pacote de biscoito, até escrever e revisar textos em grupo, aprender idiomas, potencializando as habilidades do eu em proveito de uma comunidade.

Ao mesmo tempo, investir na formação individual  é essencial. Reserve no mínimo quatro horas por dia para leituras e registros acerca de textos de diferentes gêneros (acadêmicos, literários, de blogs etc.), visitas a instituições de pesquisa, lugares de memória. Eu sei que vamos cair naquela perguntinha básica: quem pode reservar quatro horas ao dia para ler e investir no trabalho intelectual em nosso país? De fato, não é fácil, eu sei. Mas ninguém disse que seria. Existe o elemento prático do cansaço, quando chegamos à universidade após um dia de trabalho, com fome, sem grana. Mas há também a guerra que precisamos travar contra nós mesmos, reconhecendo a importância de reeducarmos nosso corpo e nossa mente para sermos quem quisermos ser. Isso passa por forjar tempo para leitura e escrita, usando por exemplo os celulares como nossas bibliotecas móveis. As condições nesse caso não são as ideais, mas são as possíveis. Aconteça o que acontecer como seres humanos poderemos sempre nos reinventar, como costumo dizer, transformando margens em centros.

Você pode substituir Mulheres Negras como objeto de estudo por Mulheres Negras contando as suas próprias histórias. (Com informações do Nexo Jornal).