Paulo Robson explica como pretende desenvolver seu trabalho como diretor da Escola Santa Tereza em Altaneira



Eleito para o cargo de diretor da Escola Estadual de Ensino Médio Santa Tereza com 93,9% dos aptos a votar no processo eleitoral ocorrido durante todo o dia desta segunda-feira, 26, o professor Paulo Robson falou ao Blog Negro Nicolau (BNN) como pretende desenvolver seu trabalho durante os quatro anos de gestão (2018-2021).

Estavam aptos a votar 396, entre alunos, professores, servidores, pais, mães ou responsáveis pelos estudantes matriculados na respectiva instituição de ensino. Destes, compareceram 328 e depositaram a confiança no professor 308. Brancos e nulos somaram 6%, o que equivale a 20 votantes.

Não houve informações de qualquer anormalidade durante o transcorrer da votação e o professor que era candidato único acompanhou todo o processo que teve início às 09h00 e findou às 21h00.

Ao ser indagado acerca dos motivos que o levaram a se lançar ao cargo de diretor da Escola Santa Tereza, ele afirmou que fica “lisonjeado em hoje estar podendo comemorar essa vitória por que a escola representa muito para mim”. Realçou que deve muito a instituição e que dos 12 anos da educação básica, 08 foram lá.

Paulo Robson é eleito diretor da Escola Santa
Tereza. (Foto: Reprodução/Facebook).
Minha primeira experiência profissional na docência, minha primeira efetivação de concurso, meu trabalho realizado do mestrado, foram as aulas de lá e as experiências que ganhei lá que me ajudaram a passar no concurso da URCA, enfim, devo demais aquela escola. Acredito que quando você se sente capaz de desempenhar um trabalho que possa ajudar a melhorar a comunidade e que possa contribuir de fato com a educação, é nosso dever encarar, ir lá e mostrar serviço, pontuou.

Paulo também afirmou que já vem se programando para o cargo e que o desejo de se tornar um já vem há pelo menos cinco anos, “mas efetivamente que venho me preparando, trabalhando, estudando para na semana que vem assumir esse compromisso já são três anos”, afirmou. E contou que a experiência como coordenador de estágio na Escola de Estadual Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo tem lhe ajudado muito e o transformado como profissional. Destaca que hoje se sente “preparado para encarar esse desafio junto a uma equipe de professores, de servidores, pais de alunos” e que pretende “dar uma nova cara a escola, torna-la um ambiente onde os alunos sintam prazer e vontade de ir não apenas para assistir aula, mas para participar de eventos fora de sala”.

A redação do BNN também quis saber sobre o resultado. Segundo ele, “de certa forma me surpreendeu por que fiquei até um pouco receoso quanto à participação e presença de vários alunos que estavam matriculados, por tanto eleitores que não estavam indo para a aula, mas no momento de votar, de exercer sua cidadania eles estiveram lá” e aproveitou o ensejo para externar sua gratidão aos pais. “Foram mais de cento e dez pais que foram votar. Esperava o comparecimento numa margem de setenta. Foi algo incrível”, frisou.

Ao falar sobre seu plano como diretor, Paulo mencionou que pretende trabalhar sempre em equipe. “Quero dividir responsabilidades. Não fugir das minhas, mas compartilhá-las com todos aqueles que lá já estão”. Destacou, porém, que não vai poder fazer alterações no quadro e que tem que contar com os que já estão lá. E agradeceu a eles, pois percebeu que existe uma preocupação com a educação.

O nosso trabalho”, disse, “será voltado para dar mais vida a escola. Abrir os portões para a comunidade e levar a escola também à comunidade. Acredito que junto com a equipe a gente vai desenvolver uma gestão pautada nos princípios da administração pública e que toda a legislação educacional vamos tentar seguir à risca e que daremos o nosso melhor com transparência e honestidade”.

A redação ainda perguntou qual sua visão no que tange as leis 10.639/03 e 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira e história e cultura indígena, respectivamente, bem como também com relação a temas como racismo, homofobia, machismo e aborto.

Paulo foi elucidativo. “Acredito que a melhor forma de tratar é com diálogo e conversar com alunos e com especialistas”.

O professor mencionou a atuação deste signatário.

Você é uma pessoa que tem contribuído demais com a educação. Com a informação e formação de pessoas nas palestras que tem dado nas escolas, nas participações que tem feito, na luta sempre em defesa da humanidade. Espero muito contar com você como parceiro. Agradeço e fica a escola e a minha pessoa a sua disposição”, finalizou o professor e agora diretor Paulo Robson.







Professor de Santana do Cariri conclama união do poder público e sociedade civil para mudar realidade de juventude



O professor Raimundo Sandro Cidrão promoveu discurso reflexivo na abertura do espetáculo teatral “O Calvário de Jesus”, encenado há duas décadas pela  Sociedade Teatral Santanense.

Sandro Cidrão chamou a atenção para a triste realidade de Santana do Cariri em que adolescentes estão perdendo a vida “de forma banal e precoce”. Ele fez menção aos casos mais recentes. “Estamos perdendo nossa juventude para esta triste estatística dos acidentes fatais com motos, envolvimento com drogas e suicídios”, disse.

Sandro Cidrão. (Foto: Reprodução/ Facebook).
Por isso”, realçou, “nós que formamos esta instituição cultural estamos lançando agora - abrindo a Semana Santa que se aproxima, - a Campanha TODOS PELA VIDA, UNIDOS PELA ARTE (assim mesmo em caixa alta) para que nossas crianças, adolescentes e jovens descubram o sentido sagrado da vida através da Cultura, seja ela teatral, musical, poética, artesanal, esportiva ou outra qualquer”. Mas ele foi elucidativo ao argumentar que se faz necessário outras iniciativas que permitam à comunidade oportunidade de acesso a bens culturais como forma de reverter a situação ora mencionada.

Ao destacar que em menos de dois meses deste ano houve a morte de cinco adolescentes vítimas de acidentes com moto e suicídio, somente em Santana do Cariri, inclusive um aluno da Escola Hermano Chaves Franck (da qual ele é diretor), no sítio Pedra Branca, Sandro foi taxativo ao conclamar a união do poder público e da sociedade civil no sentido de realizar ações concretas que possa mudar essa “dura e triste estatística”.

Que futuro teremos sem a força da juventude? Quem irá nos suceder? Quantos pais vão sofrer ainda a pungente dor da perda precoce de seus filhos? Quantos garotos e garotas ainda vão ter que chorar a perda de seus amigos mais próximos, diante do interrogativo “por quê?”, indagou o professor.

Segundo o professor “O CALVÁRIO DE JESUS”, peça teatral escrita e dirigida por ele, é encenada por pessoas de própria comunidade e o roteiro enfatiza a vida e a morte de JESUS CRISTO.

Abaixo integra da nota que foi publicada em sua conta no facebook:

ABERTURA DO ESPETÁCULO TEATRAL “O CALVÁRIO DE JESUS” EDIÇÃO 2018 – CAMPANHA “TODOS PELA VIDA, UNIDOS PELA ARTE” – SOCIEDADE TEATRAL SANTANENSE.

Sejam todos bem-vindos e bem- vindas ao espetáculo “O CALVÁRIO DE JESUS”, encenado há exatos 20 anos pela Sociedade Teatral Santanense; pioneiramente uma encenação ao ar livre, aqui em nosso torrão natal Santana do Cariri.

Antes, porém de iniciarmos, gostaria de fazer algumas colocações acerca dos nossos adolescentes e jovens, que com tristeza, estão desaparecendo do nosso convívio cada vez mais, e de forma banal e precoce. Constatamos que a cada dia o protagonismo juvenil está desaparecendo. Estamos perdendo nossa juventude para esta triste estatística dos acidentes fatais com motos, envolvimento com drogas e suicídios.

Por isso, nós que formamos esta instituição cultural estamos lançando agora - abrindo a Semana Santa que se aproxima, - a Campanha “TODOS PELA VIDA, UNIDOS PELA ARTE”; para que nossas crianças, adolescentes e jovens descubram o sentido sagrado da vida através da Cultura, seja ela teatral, musical, poética, artesanal, esportiva ou outra qualquer. Para que eles possam expressar seus sentimentos e suas vocações através da Arte, elevando sua autoestima, merecedores de todos os encômios e não de epitáfios; sendo aplaudidos de pé. Precisamos de iniciativas que propiciem à nossa comunidade, oportunidade de acesso a bens culturais para reverter essa situação. Cada um querendo, todos podem.

Aqui conclamo toda comunidade santanense: Poder Público constituído, igrejas, famílias, sociedade civil como um todo, para que nos unamos, reflitamos e façamos alguma ação concreta; uma corrente para mudar essa dura e triste estatística. Neste início de ano, em menos de dois meses, perdemos cinco adolescentes vítimas de acidentes com motos e suicídio, somente em nosso município em Santana do Cariri. Destes, um aluno de nossa escola da Pedra Branca, de apenas 14 anos.

Que futuro teremos sem a força da juventude? Quem irá nos suceder? Quantos pais vão sofrer ainda a pungente dor da perda precoce de seus filhos? Quantos garotos e garotas ainda vão ter que chorar a perda de seus amigos mais próximos, diante do interrogativo “por quê?”

Que as lágrimas derramadas por Nossa Senhora, no encontro com seu filho Jesus, no Calvário, sirvam de lenitivo para aplacar a dor infinda de cada uma dessas mães que perderam seus filhos.

Neste momento, aproveito também para agradecer a todos que colaboraram para que este trabalho fosse feito mais uma vez, direta ou indiretamente, com especialidade aos que assinaram o “livro de ouro”, criado para este fim. A todo o elenco e ao corpo técnico, minha família e meus amigos, meu abraço de gratidão e admiração.

Com vocês “O CALVÁRIO DE JESUS”, peça teatral escrita e dirigida por mim, e encenada por pessoas de nossa comunidade, com muito carinho, especialmente para cada um de vocês aqui presentes. O roteiro enfatiza a vida e a morte de JESUS CRISTO, um homem, cuja história de amor e fé, revolucionou toda a humanidade.

Com muito silêncio e atenção, vejamos a mensagem evangelizadora presente nas entrelinhas do texto escrito com muito amor para esse público maravilhoso aqui presente.

E VIVA O TEATRO!

RAIMUNDO SANDRO CIDRÃO - Diretor

Santana do Cariri, 24 de março de 2018”.



Tia Cida e Paulo Robson. O que eles possuem em comum?



Maria Aparecida Alves de Matos, popularmente conhecida por “Tia Cida", é professora com graduação em Ciências Física e Biológica e especializada em Gestão Escolar pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Minas Gerais. Paulo Robson Leite, professor, graduado em Tecnologia da Construção Civil, especializações em Matemática Aplicada, Matemática e Física e Ensino de Física e Mestrado em Ensino de Física pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Mas o que eles possuem em comum, além da afinidade nas áreas em que são formados? Ambos sempre estudaram em escola pública e nutrem o desejo de serem a partir do dia 05 de abril diretora e diretor de escolas da rede pública estadual de ensino em seus respectivos municípios – a Escola Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda e a Escola Santa Tereza, em Altaneira. Outro ponto em comum é que ambos são candidatos únicos.

O processo de eleição nas duas instituições de ensino está marcado para ter início a partir das 09h00 desta segunda-feira, 26, e se estenderá até as 21h00 devendo participar alunos, professores, servidores e pais, mães ou responsáveis pelos estudantes matriculados nas respectivas instituições de ensino.

A votação é secreta, com o uso de urnas manuais em cada unidade de ensino e será considerado eleito/a como diretora o/a candidato/a escolhido/a pela comunidade escolar que obtiver no mínimo a metade mais um dos votos válidos. A divulgação do resultado do pleito deverá ser feita pela comissão escolar no mesmo dia de conclusão da votação. Os eleitos assumirão o cargo de diretor para um período de quatro anos.

Tia Cida e Paulo Robson. (Foto: Reprodução/Facebook).


O retorno de Geraldo Vandré aos palcos. Reencontro e desencontro com a arte e seu país



O escritor José Lins do Rego, autor de Menino de Engenho, dá nome ao amplo espaço cultural instalado em 1983 no bairro Tambauzinho, em João Pessoa. Lá dentro, uma sala de concertos com capacidade para 570 pessoas lotou em duas noites seguidas, com gente do lado de fora se queixando da falta de ingressos para ver um artista da terra. No palco escolhido por ele, esse artista brasileiro se reencontrou com seu público, depois de tantos desencontros com seu país.

Lá fora, no café do outro lado da rua, Afonso, um catarinense de Chapecó de mão boa para doces, reconheceu o cliente, um senhor, que ainda pela manhã entrou pedindo um café e bolo. Tiraram uma foto juntos, em uma das mesas, com olhares admirados de Edjane, a fazedora de tapioca, e Jucilia.

No mesmo lugar, uma hora antes do início do recital, o secretário estadual da Cultura da Paraíba, Lau Siqueira, conversava com amigos. Estava prestes a concretizar um projeto de anos, que várias vezes esteve ameaçado de não acontecer. "Fizemos história", diria depois. Na segunda noite, o próprio secretário assistiu sentado no chão, como muitos.

Vários não conseguiram, nem no chão e nem em pé. O taxista João Alberto, por exemplo, conta que não tinha como ir retirar os ingressos. Comenta que sua esposa, professora, nascida justamente em 1968, gostaria de assistir ao recital, intitulado Música e Poesia da Capitania de Wanmar. Com a repercussão da primeira apresentação, muita gente ainda foi ao teatro na segunda noite na esperança de conseguir entradas. A organização colocou cadeiras ao lado das poltronas, para acomodar mais pessoas, e muitos ficaram pelo chão.

Morando nas proximidades, Tito, nascido em Santo André, no ABC paulista, há 14 anos na capital paraibana, pôde chegar cedo para conseguir os disputados ingressos gratuitos, que se esgotaram rapidamente. Na noite da segunda apresentação, Tito apareceu de novo, mais informal, de bermuda e camiseta. Desta vez, pretendia ver o recital pelo telão instalado na área externa, outra alternativa encontrada pelo governo para que mais gente pudesse ver.

"Ele é muito inteligente", disse, comparando Vandré ao compositor Chico Buarque, um contemporâneo e "adversário" de festivais de música. "Mas a pessoa tem de gostar", acrescenta, falando de uma possível "dificuldade" para acompanhar o andamento de certas composições, como as peças para piano, compostas em meados dos anos 1980.

A distribuição de ingressos levou não mais do que meia hora. Muitos queriam que a apresentação fosse no Teatro Pedra do Reino, que tem capacidade para 3 mil pessoas, mas o local foi uma escolha do artista: o paraibano Geraldo Vandré, que cantou profissionalmente no Brasil pela última vez em 13 de dezembro de 1968, no ginásio de esportes do Clube Recreativo Anapolino, em Anápolis (GO). 

Foi no mesmo dia do AI-5, que marcou o início do período mais violento da ditadura. Vandré e seu grupo na época, o Quarteto Livre (Franklin da Flauta, Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos e Nelson Ângelo), tinham ainda uma apresentação marcada para Brasília, no dia 14, que obviamente não aconteceu, Desde então, Geraldo Vandré subiu em alguns palcos, mas sem cantar, o que só aconteceu no Paraguai, também na década de 1980.

Às 20h47 da quinta-feira (22), 17 minutos depois do horário previsto, inteiramente de branco e aplaudido de pé, Vandré surge ao lado da cantora e pianista paulista Beatriz Malnic, que desde 1986 mora nos Estados Unidos e é parceira do compositor nas cantilenas interpretadas ao piano. Ele agradece Beatriz. "Suas mãos, seu coração e seu sentimento tornaram possível que eu pudesse assim expressar-me", diz ao público. A mesma pianista, na época com o pseudônimo de Ismaela, dado por Vandré, havia tocado essas mesmas peças na Biblioteca Municipal de São Paulo, em 1987, na presença do compositor.

Mas a primeira da noite é Canta Maltina, uma parceria com Di Melo, gravada pelo pernambucano no álbum Imorrível, de 2015. Uma letra com palavras inventadas, com sonoridade latina, cantada por Vandré e Beatriz.

Vandré, 82 anos, cantou esta e mais três nunca gravadas, em sua voz de timbre preservado, com arranjos de Jorge Ribbas: Fabiana, Mensageira (para a bandeira da Paraíba) e À Minha Pátria, novo nome da canção originalmente conhecida como Pátria Amada, Idolatrada, Salve, Salve, composta por Vandré e Manduka e vencedora do Festival de Água Dulce, no Peru, em fevereiro de 1972, cantada por Manduka e pela venezuelana Soledad Bravo. 

Se é pra dizer adeus
Pra não te ver jamais
Eu, que dos filhos teus,
Fui te querer demais
No verso que hoje chora
Pra te fazer capaz
Da dor que me devora
Quero dizer-te mais
Que além de adeus agora
Eu te prometo em paz
Levar comigo agora
O amor demais
Com a exclusão da emblemática Disparada, apenas uma canção é realmente conhecida do grande público. Mais do que um canção, já chamada de Marselhesa brasileira por Millôr Fernandes e de hino nacional por Mário Pedrosa, atravessou gerações, mentes e corações, com versos imortalizados desde 1968, quando, depois da cantada para uma multidão no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, ganhou as escolas, ruas, campos e construções.

Pra não dizer que não falei de flores (Caminhando) é interpretada pela Orquestra Sinfônica e pelo Coro Sinfônico da Paraíba, regidos pelo maestro Luiz Carlos Durier, que tinha 8 anos quando a canção foi composta por Vandré. No púlpito, ressalta a força da composição, que o tornou uma pessoa "mais politizada". A surpresa e a maior emoção da noite virão em seguida, quando o próprio autor começa a cantar sua obra, acompanhado pelo público. É o primeiro registro de Vandré cantando Caminhando, no Brasil, desde 1968.

O produtor Darlan Ferreira, outro responsável pela empreitada, traz uma bandeira brasileira, que Vandré segura, levanta e exibe ao público, sob aplausos. À distância, nem todos podem ver, mas o pavilhão nacional não traz os dizeres Ordem e Progresso, mas o verso Somos Todos Iguais. Logo depois, surge o inevitável grito "Fora, Temer", presente em todos os shows da atual temporada de Chico Buarque.

Entre os admiradores ou curiosos, contemporâneos de Vandré, familiares – como uma tia de 100 anos – e vários jovens, principalmente na segunda noite. Um grupo deles fica sentado no chão, à beira do palco, tomando vinho em garrafa plástica. Um deles confessa seu espanto com a extensão obra do compositor. "Conforme eu fui vendo, eu falava 'ah, a música é dele', tá ligado?", diz aos colegas, enquanto a apresentação não começa. Desta vez, o espetáculo vai se iniciar às 20h50.

Na primeira noite, na segunda fileira, está o governador Ricardo Coutinho (PSB), que Vandré levará ao palco para agradecer pelo convite feito há quase três anos. Foi em 2015 que a ideia do recital começou a criar forma. Naquele ano, o artista voltou à Paraíba, depois de duas décadas, para ser homenageado no Fest Aruanda, tradicional festival do audiovisual organizado no estado. Ali ele começou a cogitar um retorno definitivo à terra natal – Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nasceu em João Pessoa em 12 de setembro de 1935. Saiu de lá aos 17 anos.

Enquanto Beatriz Malnic toca as peças para piano, Vandré se afasta, olha as páginas do roteiro, senta-se, levanta, posiciona-se à esquerda da intérprete, em pé (gesto que não repetirá na segunda noite), sai durante quase 10 minutos. Na volta, agradece ao secretário Lau Siqueira e sua equipe, "que me cercaram de atenções e amizade". No recital de sexta (24), acrescentará às citações o maestro Durier, o arranjador Ribas, a Sinfônica, o Coro, o produtor Darlan e o violinista Alquimides Daera, outro parceiro.

Na noite de estreia, Vandré fará um agradecimento especial a uma pessoa por quem diz ter amizade extrema: o capitão de mar e guerra Claudio José da Matta, reformado, que viajou de Salvador para prestigiá-lo. Uma pessoa ligada à produção conta que o militar foi consultado informalmente sobre os dizeres da bandeira, que veio de Campina Grande. A saudação a um oficial da Marinha, os versos de Fabiana (em homenagem à Força Aérea) e de Marina Marinheira (para a Marinha) certamente causará mais espanto a quem vê Vandré como um opositor das Forças Armadas. Durante anos, ele tentou várias vezes explicar que sua música mais célebre não era um libelo contra os militares. Definiu-a como uma "crônica da realidade".

Foi um evento cercado de cuidados, para satisfazer as exigências do artista. Na véspera, um apagão que atingiu grande parte da região Nordeste levou os organizadores a arrumar dois geradores para evitar surpresas de última hora. Durante os ensaios dos últimos três meses, por motivos diversos, não foram poucas as vezes em que se temeu pelo cancelamento.

Mas aconteceu, e Vandré voltou a cantar no Brasil, com sorrisos e um pouco de humor. Logo no começo da segunda noite, o microfone falhou e, em seguida, ele acusou a falta do roteiro, sem deixar de ir em frente. "Ninguém tem pressa aqui. Quem tem pressa não pode voar. É desastre na certa."

Na véspera das apresentações, ele até participou de uma entrevista coletiva – disse ter reservas à expressão "canção de protesto", carimbo posto pela mídia e que marcou profundamente a sua trajetória profissional, finda em 1968. Criticou o que considera falta de espaço para a música popular nos meios de comunicação de massa. Em outras conversas, usou expressões mais duras para referir-se à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento de 2015, de liberar as chamadas biografias não autorizadas.

No final da segunda apresentação, ainda mais concorrida que a primeira, houve um incidente, justamente na interpretação de Caminhando. Vandré acaba de agradecer ao secretário da Cultura, ao governador, à familia, "que emprestou-me, como sempre, o seu apoio", e a todos os profissionais responsáveis pelo evento, revelando "orgulho e felicidade deste instante único". De repente, um grupo abre faixa de apoio à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada no último dia 14. O ato surpreende a produção e irrita o artista, que retira os manifestantes e se despede. Sai do palco às 22h25, acenando. A polêmica, um tanto comum quando se fala em Vandré, chega rapidamente às redes sociais.

Na entrevista coletiva, uma das perguntas foi sobre sua tendência política. "Na mão esquerda trago uma certeza. Na mão direita, uma garantia. Atenção: às vezes eu troco de mão."

Ele parece feliz, jovial. Há muitos anos, disse que aqueles que cuidam da beleza têm função secundária na sociedade, mas observou que sem a beleza não existe "o homem feliz".

Depois das apresentações, recebe fãs e amigos no camarim, tirando fotos e dando autógrafos. Em sua João Pessoa, gosta de passar boa parte do tempo olhando para o oceano, sentado diante de teu mar, como diz no poema Isso não muda. No próximo domingo (1º), participará do relançamento de Cantos Intermediários de Benvirá, livro de poesias publicado no Chile em julho de 1973, um mês antes de seu retorno ao Brasil, depois de quatro anos e meio de ausência forçada, período durante o qual andou pela América do Sul, África e Europa, com moradia, principalmente, no Chile e na França.

E agora? Choveram convites para levar o "show" pelo país afora. Os companheiros de projeto se animam. Daera tem expectativa de preparar um CD. "Uma honra e uma alegria muito grande poder contribuir e interagir musicalmente com o filósofo Geraldo Vandré, cuja obra de rara beleza representa um grande amor pela arte musical, pela vida e pela pátria! Que este retorno seja estímulo para que as muitas belas canções, ainda desconhecidas, sejam produzidas e que encantem as novas gerações. Arte sincera em importante momento no nosso país", escreveu Jorge Ribbas.

Mas o artista avisou que sua volta é "circunscrita à Paraíba". Transmitido ao vivo pela Rádio Tabajara, o recital deve virar DVD.

E aos muitos amigos que aqui vão chegar
Procurando abrigo pra continuar,
Digam, sem temores, depois de ajudar
Que um pouco adiante, em qualquer lugar,
Tem calor da gente e amor a esperar
Que eu levei bastante pra sempre plantar.

(Com informações da RBA)

Todo de branco, Vandré se apresentou ao lado da cantora, pianista e parceira Beatriz Malnic. (Foto: SECOM/PB).


Brincadeiras de Caretas em Altaneira e o “privilégio de morar no Nordeste”, por José Evantuil


A brincadeira dos caretas é "o privilégio de morar no Nordeste", disse o professor altaneirense José Evantil.
(Imagem capturada do vídeo publicado no facebook pelo professor).

Foi uma simples visita, ou melhor, uma visita “exótica” e que em nenhum outro lugar há quem a receba. Foi com essa expressão que o professor altaneirense José Evantuil definiu a passagem dos brincantes dos caretas por sua residência.

Segundo Evantuil, esse é o “privilégio de morar no Nordeste”. Ele faz um passeio pelo tempo e remonta o surgimento da brincadeira ao período do medievo, “mas”, disse ele,  é no nordeste que a existência se prolonga e encanta”.

Calcinha é um dos brincantes mais atuante no município.
(Imagem capturada do vídeo).
Andarilhos que são, percorrem muitos quilômetros a pé com a indumentária confeccionada artesanalmente e uma máscara (careta) feia e desconfortável no sol aceleram o coração da criançada, amedrontam a cachoreira num frenesi de gestos estranhos e elegantes. Anunciados pelos pesados chocalhos e ao som de tambores”, descreveu entusiasmado o professor ao cumprimentar o brincante apelidado de “Calcinha”. “Esse é o Calcinha. Hoje não bebeu”, comentou no seu próprio texto ilustrado com um vídeo.

O cara que entra nisso sem saber o que significa né..." .(Pausa). "Ai depois vai..." (mais uma pausa), respondeu o brincante (um dos mais atuantes no município) antes de se retirar.

Ao comparar a brincadeira com o Carnaval, Evantuil diz que “ordas de jovens aproveitam o curto período de farturas e saem pelas vilas, povoados e até no dia da feiras pedindo os "jejuns" a todos os seus padrinhos e madrinhas que ao se dirigirem somos todos nós”.

E foi além ao classificar a brincadeira como “o inverno no sertão”:

Aceitam qualquer "esmolinha" pois o que vale mesmo é a diversão que dá incentivo aos brincantes dessa tradição. Tudo fica mais animado quando se tem açudes cheios, roças de milho e todas as iguarias da roça. Tudo isso tem nome: o inverno no sertão”.
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José Evantuil é professor da rede estadual e municipal de ensino, graduado em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA), vice-presidente do Sindicato dos Servidores de Altaneira (Sinsema) e blogueiro.