Cantor Carlinhos Brown diz que Princesa Isabel libertou os escravos e apanha nas redes sociais


O músico Carlinhos Brown está provocando diversas críticas por conta de uma declaração sua, durante a sua participação do programa The Voice Brasil, da Rede Globo, na última quarta-feira (20). Na ocasião, ao se referir a uma participante refugiada do Congo, de nome Isabel, disse que a Princesa Isabel “trouxe para nós uma liberdade exclusiva. Uma mulher sensível, de pele clara, que libertou os negros da escravidão”.

Da Revista Fórum - O mais curioso é que na sequência de sua fala, se referiu aos negros na terceira pessoa: “Eles que vinham do Congo Brazzaville, eles que vinham de Angola, foram pra Bahia, foram pra Recife, mas vieram muito pra o Rio”.

A cantora e rapper Joyce Fernandes, conhecida como Preta Rara, declarou, através de sua conta no Facebook: "Quanta ingenuidade meu povo, cês esperavam o quê do Carlinhos Brown?

Esse vexame dele é caso antigo, ele é mais um bibelô pra branco dizer que sim somos todos iguais e que racismo não existe”, e acrescentou: “Nem todo preto pessoa pública é militante ou atento para as nossas questões e provavelmente acredita em meritocracia, papai Noel, unicórnio e que a questão é social nunca racial”.

Foto: Reprodução/ TV Globo.


Para quem falam os militares?


Depois da revolução de 1930, nunca os militares ficaram por tantos anos fora da cena política brasileira como a partir de 1985, quando a ditadura militar chegou ao fim com a devolução do poder aos civis na pessoa de Tancredo Neves.  Passados 32 anos, aqui estamos nós, perplexos,  diante dos sinais inequívocos de que há disposição, pelo menos de alguns “bolsões”, para uma nova intervenção na política, destinada a colocar ordem no caos detonado pelo golpe parlamentar de 2016.  Houve a fala do general Mourão, defendendo a intervenção, a do general Augusto Heleno, em seu apoio, e a do comandante do Exército, na entrevista a Pedro Bial, na TV Globo, onde informou que não punirá o subordinado e também admitiu, de forma contraditória, a ação das Forças Armadas em situações excepcionais.  A pergunta que se impõe é esta:  para quem estão falando os militares? Quem são os destinatários do aviso de que eles poderão resolver a crise política se os poderes constituídos não o fizerem?  Talvez o primeiro destinatário seja a Câmara, que em breve julgará a segunda denúncia contra Michel Temer.   Talvez seja a classe política como um todo, o que nos traz a lembrança das listas de cassações, à esquerda e à direita, que vieram depois do golpe de 1964. Temer, comandante em chefe-das-Forças Armadas, segue calado, mas hoje ele volta ao Brasil e terá que se pronunciar, já que o ministro da Defesa deixou a tarefa para o comandante do Exército, que só acentuou a perplexidade.

Por Tereza Cruvinel, no 247 -  Aqui estamos, perplexos, e também divididos.  Um intelectual da envergadura de Moniz Bandeira, de convicções democráticas indiscutíveis, já vinha defendendo a intervenção militar para evitar o desmonte do Estado e a entrega do patrimônio nacional ao capital estrangeiro predador.  A Constituição e o Estado de Direito, vem dizendo ele,  já foram rasgados no ano passado. Houve espanto e reações à esquerda, como a do petista Valter Pomar, que criticou suas “ilusões”, dando ensejo a uma troca de correspondência que merece ser lida, e está toda transcrita no blog de Pomar: http://valterpomar.blogspot.com.br.

A entrevista do comandante do Exército a Pedro Bial não serviu para dissipar, e sim para acentuar a percepção de que a fala do general Mourão não foi uma solilóquio mas a expressão de uma disposição latente no meio militar. Em que extensão é que ninguém sabe.  Tanto é que Mourão recebeu apoio explícito do general Augusto Heleno, uma voz muito respeitada no Exército, principalmente por sua atuação no comando das tropas brasileiras no Haiti.  Não punindo Mourão, justificando sua fala “em ambiente fechado” (como se houvesse licença para isso no regramento militar),   e admitindo que as Forças Armadas podem atuar para conter o caos, o comandante do Exército nada mais fez do que repetir o subordinado.  Há na praça política a interpretação de que ele não o puniu para não criar uma vítima e insuflar ainda mais o ambiente.   Mas ele fez mais que minimizar ou justificar Mourão, ao admitir a possibilidade de intervenção, em respostas contraditórias, em que misturou o emprego das Forças Armadas em situações excepcionais, como ocorre agora mesmo no Rio de Janeiro, com uma intervenção para conter o caos político.

São coisas distintas mas ele as embaralhou ao afirmar que Forças Armadas podem ser empregadas para garantir a lei, a ordem e os poderes constituídos, a pedido de um deles ou por iniciativa própria.  O artigo 142 da Constituição diz que isso só pode ocorrer na primeira hipótese (a pedido de um dos poderes).  Ele acrescentou a segunda. Vale dizer, a iniciativa própria, “quando houver a iminência de um caos”. Esta foi uma interpretação constitucional perigosa, pois na situação atual não se espera de nenhum dos Três Poderes um pedido de intervenção.

Sempre que os militares imiscuíram-se na política, foram tentados pelas “vivandeiras de quartel”, expressão que no passado identificava os políticos que pediam intervenção militar. Quem melhor as definiu foi o general Castelo Branco: “Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar."  Mas hoje não há vivandeiras, não há políticos interessados em perder tetas e mamatas, embora haja setores minoritários da sociedade civil que defendem a solução militar. Ela teria que vir por iniciativa própria das Forças Armadas, tal como disse o general Vilas-Boas.

Muitas vivandeiras se iludiram, em 1964, acreditando que os militares, após derrubar João Goulart, cumpririam o calendário eleitoral com a realização das eleições presidenciais de 1965. Eles ficaram mais 20 anos, ao longo dos quais sabemos o que aconteceu: cassações, inclusive de vivandeiras exaltadas, como Carlos Lacerda,  fechamento do Congresso, liquidação dos partidos, perseguições, torturas, mortes e desaparecimentos.

 Depois da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas com forte e decisivo apoio dos oficiais do “tenentismo”, os militares protagonizaram golpes em 1945, 1954, 1955, 1961 e 1964. Vale recordar o que disse Alfred Stepan, em seu livro “Os militares na política”, em que estudou o caso brasileiro. Os golpes triunfantes, diz ele, foram os de 1945 (que apeou Vargas do poder), o de 1954 (que o levou ao suicídio, no segundo governo), e o de 1964, que derrubou Jango e abriu a porteira para uma longa ditadura. E todos eles ocorreram em situações em que havia baixo grau de legitimidade do Poder Executivo e alto grau de legitimidade dos militares.  Em 1955 (tentativa de impedir a posse de JK) e em 1961 (veto à posse de Jango após a renúncia de Jânio), na ausência destas condições, eles perderam.

Desnecessário falar da baixíssima ou inexistente legitimidade de Michel Temer como chefe do Executivo. Isso porém não garante a legitimidade das Forças Armadas para uma intervenção. Mas eles devem ser ouvidos, por aqueles a quem estão se dirigindo. Por Temer, pelo Congresso, pelo Supremo. Antes que seja tarde.


 
Imagem: Reprodução/ Facebook.

Conselho Federal de Psicologia vai à Justiça contra decisão pela ‘cura gay’



O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vai entrar ainda esta semana com pedido de agravo contra a decisão liminar do juiz federal da 14ª Câmara do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho, que abre brecha para a “cura gay”. Na última sexta-feira, o magistrado concedeu liminar a uma ação movida pela psicóloga evangélica Rozangela Justino, que pretendia suspender a resolução do CFP 01/1999, que estabelece normas para atuação de psicólogos em relação à questão da orientação sexual.

Da RBA - Em sua decisão, Carvalho mantém a resolução, mas determina que o CFP interprete a resolução de modo a não proibir que os profissionais façam atendimento buscando reorientação sexual. Ressalta, ainda, o caráter reservado do atendimento e veda a propaganda e a publicidade.

"O magistrado argumenta que a resolução está mantida, mas que o Conselho deve interpretar de maneira a permitir aos psicólogos a utilização de técnicas de reorientação da sexualidade – o que é o âmago da resolução", disse o presidente do CFP, Rogério Giannini.

Giannini avalia que a decisão, que enfraquece a resolução, está baseada em argumentos equivocados. E que desconsidera a diretriz ética que embasa o documento ao reconhecer como legítimas as orientações sexuais não heteronormativas, que portanto não podem ser criminalizadas ou mesmo patologizadas. "Valendo-se dos manuais psiquiátricos, a decisão do juiz reintroduz a perspectiva patologizante", disse.

Retrocessos

Giannini está confiante de que o desembargador que vier a analisar o caso acolha o recurso do Conselho Federal de Psicologia. “Pelos argumentos que temos e o histórico de vitórias na Justiça, nosso jurídico avalia que temos uma tese sólida, uma defesa embasada e suficiente para ganhar em primeira instância. Se não, recorreremos a todas as instâncias”, disse.

No entanto, entende que o momento exige toda cautela. Ele lembra que avançam propostas que sinalizam retrocessos também na saúde mental. É o caso do Ministério da Saúde, que tem defendido o retorno do modelo manicomial e a expansão do número de leitos em hospitais psiquiátricos – o que vai na contramão de pelo menos três décadas de lutas e conquistas por um cuidado em liberdade.

Para ele, a decisão engrossa o caldo da cultura de arbitrariedade. “Se a orientação sexual torna-se uma doença comportamental, então se caminha para o risco de muitas famílias pressionarem pelo tratamento mental, e até chegar a pedir a interdição de pessoas, que passam a ser consideradas não-aptas para exercer a cidadania. Não me surpreenderia se, a longo prazo, viesse a defesa da internação compulsória dessas pessoas.”

Segundo lembrou Rogério, as técnicas terapêuticas utilizadas na chamada reversão consistem em recursos como a lobotomia, choques, tratamento hormonal, todas elas invasivas, agressivas e violentas. "Não é coisa de sentar para se desabafar. Para mudar a orientação sexual do sujeito, você tem que mudar seus desejos, sua vida sexual ativa. Não é como mudar a alimentação, são técnicas agressivas e invasivas."

Essas terapias, conforme lembrou, são inócuas e causam mais sofrimento. Há percentuais que apontam aumento do quadro de angústia, depressão e tentativas de suicídio que muitas vezes se concretizam. "Fazer isso faz as pessoas serem submetidas a uma terapia que não é reconhecida pelo Conselho, ou seja, não pode ser exercida."

Além disso, ao permitir as terapias de reversão, a liminar contraria determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que excluiu a homossexualidade do rol de doenças.

A maior violência é oferecer a pessoa uma interpretação de sua vida como uma doença. Aquilo que te dá prazer, o relacionamento, passa a ser chamado de doença. Isso é grave, porque desqualifica essa pessoa."

De acordo com Giannini, pessoas que sofrem podem procurar a Psicologia como recurso para o alívio do sofrimento. E o psicólogo tem que atendê-lo. "Às vezes, o sofrimento tem a ver com a sua sexualidade, porque ele sofre pressões sociais. Esses profissionais devem atender o sofrimento, não utilizar o sofrimento para oferecer uma reversão de sexualidade", destacou.

Repúdio
Ontem (20), o Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi) publicou nota de repúdio à liminar. O sindicato relembra que a questão da “cura gay” não é novidade no campo da prática profissional da Psicologia.

A última batalha foi travada há cinco anos, quando a categoria foi convocada a se unir para barrar o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 234, que tinha o mesmo propósito. À época, a questão estava embasada em interesses de grupos religiosos em busca de legitimar sua visão de mundo e de homem, de influenciar diretamente o funcionamento da sociedade, avançando sobre outras instituições, o que provocava uma investida contra a laicidade do estado.

Para o Sinpsi, princípios religiosos não devem se misturar a princípios científicos. "E que orientação sexual não é algo a ser revertido ou curado, simplesmente porque homossexualidade não é doença."


O sindicato reiterou que o psicólogo e a psicóloga devem entender e acolher o sofrimento do paciente que se reconhece homossexual. A informação, se levada a consultório como causadora de sofrimento, deve ser tratada sem qualquer proposta de “cura”. "É preciso intervir sobre as condições que geram o sofrimento. Patologizar uma condição do ser humano só aumenta o ódio e o risco para a comunidade LGBT."


Setembro Amarelo: Prefeitura de Altaneira promove caminhada pela valorização da vida e prevenção do suicídio


A administração do município de Altaneira, por intermédio da Secretaria de Assistência Social (SAS), promoveu na manhã desta quarta-feira, 20, caminhada pelas principais ruas da cidade visando chamar atenção para a valorização da vida.

Segundo informações veiculadas no portal do município, a ação faz parte da campanha “Setembro Amarelo” que objetiva conscientizar, prevenir e alertar quanto realidade assustadora do suicídio. A caminhada partiu da Escola de Ensino Fundamental 18 de Dezembro com destino à sede da secretaria e teve a coordenação de Elanny Cristina e Tatiane Evangelista, Assessora Técnica de Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e Assistente Social, respectivamente.

Durante todo o percurso as organizadoras do ato se revezavam no discurso que iam de encontro as frases expostas em cartazes, a grande maioria nas mãos de estudantes, como “suicídio, será a solução”?; “a cada 40 segundos 1 pessoa morre por suicídio”; “sorrir e falar são as melhores soluções”; “setembro amarelo, eu disponibilizo meu inbox para desabafo, conselhos e conversas”, dentre outras chamadas.

Ainda de acordo com o referido portal, professores (as), representantes políticos, secretários (as) e demais servidores (as) da municipalidade participaram da campanha que, segundo a secretária Lan Alencar, deve ser concluída à tarde com uma palestra acerca da temática.

Caminhada marca campanha do Setembro Amarelo em Altaneira. Foto: João Alves.

Nascido no cárcere da ditadura, Paulo Fonteles Filho escreve carta ao general Mourão


Carta aberta ao general Antonio Hamilton Mourão

Caro general Antonio Mourão, desde sábado (16), é que se multiplicam vossa manifestação nas redes sociais, blogues, sites, portais e afins por conta de tua última palestra, em Brasília, em evento ligado à maçonaria quando, em ameaça velada, falaste abertamente de intervenção militar, como se contasses com o amparo ou chancela de seus companheiros de armas, ou seja, o próprio generalato tupiniquim.

Por Paulo Fonteles Filho, publicado no Viomundo

Na caserna, o tiro saiu pela culatra.

Ao invés de um palavrório decente, apaziguador em momentos de crise democrática – sim, porque a democracia e os direitos do povo foram usurpados por Temer e sua quadrilha – assistimos, atônitos, a antiga cantilena de um militar estreludo, talvez um delfim tardio dos tiranos que ensejaram um golpe militar em 64 e que levaram as forças armadas brasileiras a cometer crimes insidiosos, de lesa-pátria, com torturas, assassinatos, exílios, perseguições, censura e desaparecimentos forçados.

Entre militares decentes deves estar passando vergonha, muita vergonha, general.

Sim, porque quero crer que há militares decentes, gente preocupada com o futuro do país e não somente em fazer verborragia bolsonazi e o discurso do medo, próprio dos fascistas de plantão, ávidos por quarteladas, linchamentos e carne humana violada.

Confesso general, desde ontem estou me remoendo.

O sentimento que nos alcança é de assombro.

Meus amigos, família, pessoas que amo estão intimidadas, sequestradas pelo pavor que tal irresponsabilidade enseja.

Os dias estão muito estranhos e o medo é uma potente arma ideológica, assim foi no Reich de Hitler ou no “Brasil Grande” do Garrastazu.

Sabe general, sou de uma geração de perseguidos políticos.

Meus pais eram estudantes da Universidade de Brasília (UNB), amantes das liberdades, do Chico Buarque e dos Beatles e sem cometer qualquer tipo de crime — a não ser o de opinião — foram presos em outubro de 1971 e submetidos a terríveis torturas, além de condenações pela famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN), dispositivo que transformou o Brasil num purgatório de lobos bem felpudos.

Eu nasci na prisão e tive um irmão gerado no cárcere: o serpentário dizia que “Filho dessa raça não deve nascer” e isso ocorreu dentro das dependências do próprio Ministério do Exército, lugar onde dás expediente como servidor público federal.

Deves saber que no subsolo do teu ganha-pão foi um patíbulo para a infâmia.

Minha mãe, general Mourão, me pariu com 37 quilos, foi cortada e costurada sem anestesia e não disse um ai.

Depois de nascido — entre as feras do PIC — fui sequestrado porque não haviam algemas para os meus pulsos de recém-nascido.

Imagina que um bebê de poucos dias era considerado inimigo do status quo, aliás, muitas crianças assim foram tratadas pelo regime do terror.

Talvez a Hecilda, minha mãe, atual professora da UFPa, tenha sido a única mulher a ter tido dois filhos na prisão, sob peia.

Meu pai foi morto em 1987 e seu assassinato foi organizado por um ex-agente da comunidade de informações, James Vita Lopes.

Paulo Fonteles, pai amoroso de cinco filhos, era advogado e defendia posseiros no Araguaia.

O que o Brasil precisa general, com urgência, é a reconstrução da democracia, um judiciário independente, uma mídia imparcial, um parlamento sensível aos interesses da maioria na forma do respeito ao voto popular, de mais direitos, de Estado Democrático e respeito à soberania nacional, além de uma forte cruzada contra a ignorância, a corrupção, o racismo, a misoginia e a homofobia.

O fascismo levará o país à convulsão, além das vidas de uma geração que tem a responsabilidade com a felicidade coletiva.

É muito doloroso falar sobre isso general Antonio Mourão e lembrar que muitos foram mortos pela histeria malsã que repetes, como um ventríloquo de satanás.

Mas minha tarefa também é a lembrança de que os tumbeiros que mancharam nosso solo de vergonhas, como na escravidão ou na ditadura militar de 64, jamais poderão ficar impunes.

Tenho pena de ti general, estás num quarto escuro e sem janelas, vitima da própria bílis que lanças no ar.


#DitaduraNuncaMais