Desqualificação das Políticas Afirmativas: Governo Temer adota medidas para dificultar negros em concursos




O governo ilegítimo de Michel Temer publicou mais uma medida antipovo. Desta vez, a ação atinge em cheio a população negra. Os ministérios do Planejamento e da Justiça anunciaram, em portaria conjunta publicada nesta terça-feira (27) no Diário Oficial da União, que será criado um grupo de trabalho (GT) para verificar a veracidade da autodeclaração de cotistas negros em concursos públicos.
Do CEERT


Para a presidenta da Unegro do Distrito Federal e secretária de Mulher da Unegro nacional, Santa Alves, a medida sinaliza para o fim das políticas afirmativas. “A medida busca desqualificar as políticas afirmativas e acabar com elas, barrando o ingresso de negros no serviço público”, avalia, afirmando que a desconfiança explicitada na medida governamental é a prova da existência do racismo institucional.

Segundo ela ainda, “ao adotar uma medida baseada na desconfiança da população negra, esse governo golpista prova que privilegia os brancos, que formam sua equipe – homens e brancos”, destaca Santa.

O grupo vai apresentar os critérios que o Ministério do Planejamento deve adotar para regulamentar os procedimentos de verificação da autodeclaração.

A primeira reunião do GT deve ocorrer dentro de 30 dias. As atividades devem ser concluídas em até seis meses após a primeira reunião, sendo prorrogável uma única vez pelo prazo de três meses. Ao final do prazo, deverá ser apresentado relatório com as conclusões dos trabalhos.

A lei que reserva 20% das vagas nos concursos públicos federais para candidatos negros entrou em vigor em junho de 2014, com duração prevista de 10 anos. Podem concorrer a essas vagas aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso.

A reserva abrange as vagas oferecidas para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União.

Governo Temer adota medidas para dificultar negros em concursos./ Imagem: Nação Z

Delírio: Temer diz que sonha ser reconhecido como “o maior presidente nordestino” do Brasil


O presidente Michel Temer afirmou nesta terça-feira (27), em Maceió, que, ao final de seu mandato, gostaria de ser conhecido como o "maior presidente nordestino" da história, apesar de ser paulista. "Meu objetivo e o meu sonho é que, ao final do meu mandato, vocês possam dizer, embora sendo eu de São Paulo: 'Esse foi o maior presidente nordestino que passou pelo Brasil", disse.
Do Uol

A declaração de Temer foi dada durante cerimônia de divulgação do repasse de verbas no valor de R$ 1,02 bilhão para obras de combate à seca e de acesso à água em 15 Estados das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe.

Temer, que assumiu o governo este ano após o impeachment de Dilma Rousseff tem mandato até o fim de 2018. Ele já disse publicamente que não quer tentar a reeleição, embora aliados defendam sua candidatura.

Segundo pesquisa Datafolha do começo do mês, 51% dos brasileiros consideram a gestão de Temer ruim ou péssima. Índice que sobe para 60% no Nordeste.

Em seu discurso, ele enfatizou que está tentando ampliar o diálogo entre os Poderes e unidades federativas. "A primeira palavra que mobiliza esse governo é o diálogo. Conversamos com o Congresso porque na democracia é assim, não se governa sozinho. E graças a Deus, contamos com compreensão do Congresso, as medidas que temos mandado tem sido rapidamente aprovadas com índice superior a 88%. É o maior índice de apoio que um governo teve ao longo dos tempos", disse.

"A União só será forte se os Estados e os municípios forem fortes", afirmou o presidente, em referência à Lei da Repatriação, que pretende incentivar o retorno aos cofres públicos de valores, obtidos de forma lícita, de pessoas físicas e empresas que desejam resolver as pendências com o fisco e obter desconto na multa. A lei permitiu recuperar parte das verbas a serem usadas nas medidas antisseca anunciadas nesta terça.

Para a visita de Temer a Maceió, foi montado um grande esquema de segurança, com participação do grupo Antibomba, militares do Exército e até uma delegacia móvel. Um protesto contra o governo federal, na porta do Centro de Convenções, reuniu cerca de 150 pessoas faixas e cartazes, mas não houve incidentes.

Combate à seca

O governo vai investir R$ 755 milhões na construção de 133 mil cisternas, microaçudes e programas de acesso à água, sendo 76 mil serão para consumo de famílias. A medida deve beneficiar mais de 1 milhão de pessoas em 759 municípios, além de 7 mil escolas públicas na região do semiárido, segundo o governo.

Do total investido, R$ 250 milhões são recursos repatriados pelo governo graças à Lei da Repatriação. Outros R$ 255 milhões são procedentes da reativação de 40 convênios entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), Estados e municípios. Os contratos venceriam no dia 31 de dezembro. O restante --R$ 250 milhões-- está previsto na Lei Orçamentária Anual de 2017.


A cerimônia contou com a participação de governadores e vice-governadores dos Estados beneficiados, e dos ministros Osmar Terra (Desenvolvimento Social), Marx Beltrão (Turismo) e Hélder Barbalho (Integração).

Temer durante viagem a Maceió

É fácil entender por que não há panelaço contra Michel Temer, explica Paulo Nogueira



Uma das queixas mais frequentes entre os simpatizantes de Dilma é esta: onde foram parar as panelas?

No DCM

A cada denúncia de corrupção, a questão reaparece nas redes sociais: e aquele pessoal que batia panela o tempo todo?

Pois bem.

Houve nas redes sociais registros de panelas no pronunciamento de Temer no Natal.

Mas nada comparável aos panelaços de antigamente.
Que houve com elas, as panelas? O fato é que elas já não são as mesmas.

Os panelaços eram não exatamente contra a corrupção. Eram contra o PT e Dilma. Por isso sumiram.

Qualquer coisa servia de pretexto para ir para a janela do apartamento com uma panela. Os tolos estavam sendo manipulados, mas pensavam estar fazendo história.

Era uma atitude que para sempre estará vinculada a uma classe média reacionária e visceralmente analfabeta política.

É um tipo de gente que aceita corrupção nos outros, e até em si própria. Mas no PT qualquer boato, qualquer suspeita de corrupção é um horror de proporções ciclópicas.

Outra diferença vital entre as panelas está na mídia.

A imprensa decide a repercussão que vai dar a qualquer manifestação. O jornalismo de guerra dá volume máximo para protestos contra o PT, e mínimo ou nenhum para os outros.

Ainda que houvesse uma adesão maciça às panelas na fala televisiva de Temer, isto não teria sido notícia.

Há panelas e há panelas. Aquelas que vinham envoltas em xingamentos contra Dilma e o PT só sairão das cozinhas quando — e se — o PT voltar ao poder.

Até lá, pode esquecer.


Juazeiro do Norte promoverá o I Seminário de Políticas Públicas para Mestres e Brincantes



O município de Juazeiro do Norte será palco entre os dias 04, 05 e 06 de janeiro próximo do I Seminário de Políticas Públicas para Mestres e Brincantes da Tradição. Segundo os organizadores, o encontro visa debater as políticas públicas existentes para os Mestres e Brincantes da Tradição Cultural da Região do Cariri, bem como pensar parcerias institucionais que viabilizem mais espaços para a apresentação e transmissão de seus saberes a partir das necessidades apontadas pelos integrantes dos grupos.

A Tradição Cultural é entendida e compreendida “enquanto patrimônio imaterial, fonte de identidade que carrega a sua própria história constituindo, a partir da pluralidade de sua linguagem, o fundamento da vida comunitária, buscamos discutir propostas que garantam a manutenção desses grupos a partir da comunicação inter-geracional entre Mestres e brincantes que vêm surgindo em nossa região valorizando as comunidades nas quais estão inseridos", frisa seus organizadores na descrição do evento criado na rede social facebook.

O seminário contará com uma programação diversificada conforme abaixo discriminado:

04/ 01/ 17

17h00min - Mesa Redonda: Alemberg Quindins – Diretor da Fundação Casa Grande, Joziel Bernardo (SESC), Ricardo Pinto (Banco do Nordeste), Robson Almeida (Pro-reitor PROCULT UFCA), Mestre Stênio Diniz (xilógrafo). Local: Teatro Patativa do Assaré/ Sesc Juazeiro.

20h00min – Apresentação do Reisado São Luiz de Juazeiro do Norte. Local: Terreiro da Mestra Margarida/ Sesc Juazeiro.

05/01/17

17h00min – Mesa Redonda: Renato Dantas (Territórios Criativos), Padre Cicero (Basílica Nossa Senhora das Dores), Fabiano Piúba (SECULT), Mestre Expedito (Banda Cabaçal Padre Cicero), Mestra Marinês (Coco Frei Damião). Local: Teatro Patativa do Assaré/ Sesc Juazeiro.

19h00min – Show com Geraldo Junior. Local: Terreiro da Mestra Margarida/ Sesc Juazeiro.

06/ 01/ 17

16h00min – Cortejo cultural com grupos de Reisado de Juazeiro do Norte com saída da Praça da Prefeitura – Juazeiro do Norte – em direção à Praça do Socorro;

17h00min - Missa campal de Reis: Benção dos Mestres e Brincantes da Tradição. Local: Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Juazeiro do Norte/CE.

17h30min – Apresentação dos Grupos de Reisado e Lapinha no Terreiro da Mestra Margarida/ Sesc Juazeiro.


A saga do negro


Com desafios tamanhos, a inteligência europeia decidiu-se por importar elementos para o trabalho escravo, para isso contratando mercenários a soldo e acenando com a possibilidade de carradas de ouro.

A descoberta do “Mundo Novo” além-mares alvoroçou o continente europeu, que se inflou de entusiasmo ante a perspectiva de ampliação dos domínios territoriais e dos patrimônios financeiros. Desde então incursões foram promovidas visando se apossar das terras selvagens e tudo o que nelas constasse.
Por José Periandro Marques, no O Povo

Assenhorear-se da e povoar a imensidão que se descortinava, tarefa hercúlea a exigir soluções adequadas. Promover o progresso nos moldes tradicionais representaria agir com rigor, audácia, insistência e persistência em um meio desconhecido e sujeito a toda sorte de intempéries, além dos indígenas, os verdadeiros donos das terras.

Os aventureiros ansiosos pela cobiça e a nobreza acostumada a ser regiamente servida não formavam braços suficientes para modificar a paisagem e a captura dos índios para os labores necessários, tentativa inócua, posto que nômades e livres, não se adaptaram a trabalhos rudes e sedentários.

Com desafios tamanhos, a inteligência europeia decidiu-se por importar elementos para o trabalho escravo, para isso contratando mercenários a soldo e acenando com a possibilidade de carradas de ouro. Para concretização do intento, nada mais prático que adquiri-los em terras africanas, entre tribos desprovidas de conhecimento e capacidade bélicos para enfrentar o armamentismo branco. A ambição, servidão, dominação, extermínio e invasão constituíram um dos capítulos mais vergonhosos da história humana. E entre homens livres, que subitamente foram contidos, reis, rainhas, príncipes e princesas, chefes festejados e toda a sorte de gentes com emoções e sentimentos idênticos aos dos dominadores.

Ao pisarem as naus escravocratas os prisioneiros perdiam suas identidades, viravam coisas, não possuíam almas, não dispunham de vontades. As viagens ao desconhecido eram realizadas sem mínimas condições higiênicas; amontoados em porões, executando tarefas desgastantes, sem acompanhamento médico e produtos curativos, muitos sucumbiam sem descobrir “o florão da América”.

Ao promover a Revolução Industrial, a Inglaterra compreendeu a necessidade do trabalho assalariado como meio de proporcionar o escoamento da produção, porque necessária a ampliação da massa consumidora. A força de trabalho não remunerado constituía-se entrave às pretensões daquela potência naval. Tal o dilema daqueles tempos e que produziu fatos impactantes: a utilização de mão-de-obra sem remuneração, controlada pela violência e subjugada pela vontade do senhor; e em outro plano, a exploração do operário em períodos escorchantes, com ínfima compensação financeira, sem leis sociais que abrandassem o injusto proceder patronal.

Rainha dos Mares, a Inglaterra, conforme exposto, passou a empreender ferrenha perseguição ao comércio escravagista. Qualquer embarcação suspeita era perseguida e dominada até que tudo se esclarecesse e ficasse resolvido. Para não serem flagrados em delito, os contrabandistas lançavam às águas profundas todos os cativos, em um brutal e ominoso extermínio.

Já em chão firme, os negros se tornavam vulneráveis aos humores e procedimentos de seus amos, que em mor porção os tratavam como trastes usáveis e descartáveis.

Neste ponto são demonstradas algumas situações vivenciadas pelos africanos:

a. Meninas serviam de pasto aos senhores e a quem mais eles indicassem, sujeitas a toda sorte de sevícias e vícios. Algumas eram negociadas para prostíbulos; mas não só de fêmeas se saciavam os patrões: alguns deles se encantavam com garotos e homens formados, que lhes saciavam sexualmente.

b. Para aumentar a população escrava, determinados amos elegiam um ou mais cativo para ser reprodutor, mas sem oficializar sua paternidade, isto visando incrementar o comércio da compra e venda da dignidade humana.

c. Um que outro proprietário infértil, homossexual ou indecoroso obrigava sua própria mulher a manter relações com escravo em sua presença. Como o charme feminino não lhe proporcionasse qualquer incentivo, essa atitude torpe estimulava-lhe a libido e ele se satisfazia usufruindo daquele que fora destinado a saciar sua desonrada esposa. Por trás de tamanha felonia, intencionava aquele homem acolher futuro rebento, se de pele clara, como se fora seu. Se escuro, e inapelavelmente a criancinha seria sacrificada.

d. Se os instintos carnais aflorassem impetuosamente e a senhora ou a sinhazinha se entregassem a um negro, e mais, se ficasse prenha, o autor da façanha seria emasculado e sofreria morte lenta e insidiosa para servir de exemplo. Se o preto não aceitasse proposta indecorosa, a mulher rejeitada reverteria o fato e tudo faria para que seu pai ou o seu marido exterminasse o ser desprezível.

e. Simples nódoa em roupa, palavra ou silêncio em momento errado, motivos suficientes para gerar ira incontida da Casa Grande, manifestada através de açoite, amarração no tronco, sob quaisquer condições climáticas, tratamento à base de sal grosso e frio assassinato, se de repente a paciência do senhor faltasse.

Ao imiscuir-se o explorador com pretos e índios e do consórcio destes com os negros surgiu o povo brasileiro com suas diversidades de cores, temperamentos e culturas, crescendo no dia-a-dia em conhecimento e impondo-se como nação altaneira, cultivando seus próprios mecanismos de sobrevivência e defesa.

Conforme já mencionado, pavorosos foram os incidentes que tingiram de sangue a alma nacional durante a escravatura, cobrindo-a de vergonha e ignomínia. Revoltante o negro ter sido consumido como sumo e como bagaço ter sido descartado.

No interregno entre o final do sistema escravagista e a libertação, os escravos deveriam ter sido orientados e treinados para o exercício de uma profissão. A nação deveria ter se empenhado para que não lhes faltasse um teto para morar ou um chão para plantar. Nos moldes estabelecidos, abrindo-se as porteiras para que eles vagassem a esmo, quantos enveredaram pela senda do crime, tonando-se párias sociais, e de vítimas, facínoras ferozes?

Ainda que se acreditasse na existência de cordialidade racial, em nossos dias compreende-se que os alvos desprezavam os de pele escura, e que as condições financeiras e sociais destes últimos reforçaram a desconfiança e o preconceito quanto à conveniência da libertação. O negror e a pobreza intrinsicamente ligados tornaram se economicamente sinônimos, apartando-se timidamente no decorrer dos tempos.

A negritude influiu sobremaneira na dança, na música, na culinária, na religiosidade e nos esportes, elevando nosso país além-fronteiras.

O que de sinistro passou figura nos anais da história e não possível modifica-la; pode-se, contudo, pavimentar o futuro com a força e a coragem dos bravos, o estoicismo e a resistência dos mártires, a sabedoria pacificadora dos santos e o empreendedorismo dos líderes; que os homens, mesmo sendo práticos, também sejam sensíveis às dores da alma, e artistas, que embelezam de tons, de sons, de versos e paisagens essas “terras garridas onde canta o sabiá” e a natureza se faz encanto e luz.


Neste século onde se empreende um repensar social, todos devem ser inclusos na sociedade de consumo, devendo ser abolidas as discriminações e revanchismos, buscando-se o equilíbrio, a fraternidade e a harmonia, com a humanidade saturada de compreensão, solidariedade e amor, porque nosso destino é a felicidade.


Falta divã e sobra sociologia no debate político, diz historiador Leandro Karnal em entrevista


Leandro Karnal avisa que corrupção não é de esquerda nem de direita.  E que há gente demais que fala muito, ouve pouco e acredita que quem  tem opinião diferente da sua é idiota.

O final do ano chegou e, com ele, as temidas reuniões em família – quando a intolerância política vista nas redes se condensa em torno da mesa de jantar. Sobre os ânimos acirrados dos últimos anos, Leandro Karnal, professor, historiador e colunista do Estado, sentencia: “estamos precisando mais de divã do que de análises sociológicas”.


Para Karnal, em pessoas entusiasmadas em torno de boas bandeiras, como ética e redenção da política, esconde-se muito mais Freud do que sociologia. “É muito mais um sentimento pequeno burguês de reformar o mundo para ele ser digno de mim e de rejeição à própria ideia de país que um sentimento político de renovação”, afirmou em entrevista à repórter Julianna Granjeia. A seguir, trechos da conversa.

Estamos vivendo um momento de intolerância política, principalmente nas redes sociais. Como o senhor avalia isso? Por que na internet essa intolerância é tão visível?

A internet tem duas questões importantes: a facilidade da expressão da sua opinião ao custo de um clique. Mas a internet também tem a omissão do sujeito, que facilita muito porque você expressa a sua opinião e não tem um custo a esse respeito. Quem é o João da Silva que escreveu entre 700 mil na minha fanpage? Não sei. Talvez exista, talvez não, mas a internet dilui o eu e ao diluir o sujeito ela tem um poder enorme de deixar diluir todos fantasmas, todos os demônios interiores, todos os medos das pessoas, tudo aquilo que elas desejam e temem pode fluir melhor.

Por isso todos acham que podem opinar sobre tudo?

Sim, faz parte da nossa estrutura democrática desse momento que todos interpretem que a sua opinião é válida. O que está precisando realmente nesse momento é a capacidade de ler, interpretar e o desenvolvimento de uma arte de escutar. Todos querem dizer o que pensam e poucos querem aprender algo novo. Então, eu leio o autor X e eu acho que ele diz exatamente o que eu penso. Eu digo, então, que ele é ótimo. Eu leio o autor Y e ele diz o contrário do que eu penso, então, ele é péssimo, é um babaca, é um idiota. Eu julgo a capacidade argumentativa a partir do meu espelho e da minha identidade. É lógico que isso sempre ocorreu, mas hoje isso está muito a flor da pele. O debate não está inteligente e há poucas pessoas que de fato leem e interpretam. A frase que eu mais detesto nesse momento é o “ele me representa”.

Por quê?

Porque significa “ele é igual a mim”. É sempre um exercício narcísico de projeção de espelho, de especular. Eu acho que nós temos com os políticos essa relação. Os brasileiros odeiam em alguns políticos o que são e amam em alguns juízes e políticos o que gostariam de ser. Por isso que o ódio é tão intenso. Porque são exatamente a cara do Brasil, eles se comportam como todos os brasileiros. E como é tão insuportável essa visão da medusa, eu petrifico e digo que luto por um Brasil melhor, e canto o hino nacional dizendo que é uma luta pela ética, quando é uma recusa do que eu venho fazendo há anos como personagem, como cidadão, mas sem ter tanto poder como o político. Isso não quer dizer que não seja interessante protestar contra a falta de ética, mas quando você vê alguém berrando na TV com passionalidade, pensando com o fígado, como a gente diz, você entende que ali precisaria mais de divã do que de análise sociológica. E a política pública é um espaço que conduz às dores individuais. E as pessoas transferem para o palco tudo aquilo que as incomoda.

Como chegamos a esse estágio tão narcísico e individualista?

Tem coisas que são mundiais, não são brasileiras. Eu acho que tem a ver com o crescimento de uma determinada noção de infância que não pode mais ser contraditada. Tem a ver com o crescimento da noção de criança, a noção de criança que Rousseau, no Emilio, disse que é o pai do adulto, logo não posso contrariar, traumatizar. Tenho que agradar sempre, especialmente jovens de classe média e alta, que passam a infância sendo tratados como pessoas que não podem ter momentos dolorosos. A ideia de que o mundo seja um lugar bom, que ninguém seja punido, é uma grande fantasia que segundo um autor que é muito caro, o (Contardo) Calligaris, que é meu terapeuta, diz em um texto que como nós não temos mais crença na eternidade, nós transferimos para os filhos essa crença. Como eu não vou viver no paraíso, quem vai viver é o meu filho, contrariando a teoria freudiana que cultura é trauma. Quanto mais civilizado maior a negação do prazer e essa pulsão de morte.

O senhor costuma dizer que estamos condenado ao diálogo. Como conseguir dialogar em tempos de intolerância?

A condenação que eu digo é uma metáfora para que seria imperioso que nós ouvíssemos. Porque uma parte da população brasileira está convencida por A mais B e com provas evidentes que houve um golpe conservador que derrubou uma presidente inocente para se colocar no poder uma pessoa que tem um projeto conservador. E outra parte está convencida com evidências que derrubamos uma presidente Dilma corrupta e o PT e colocamos um outro projeto, e assim por diante. Vejam, é impossível viver se nós não fizermos as duas partes conversarem. É impossível, por exemplo, não levar em conta que a corrupção é ambidestra: ela não é de esquerda nem de direita. E isso dá para ser demonstrado com números. Nós temos em São Paulo uma inédita aprovação em primeiro turno de um prefeito ligado mais ao mercado do que à carreira política. Provavelmente no mundo inteiro nós teremos, durante os próximos anos, uma ênfase maior em candidatos conservadores.

Por que o conservadorismo aumentou?

Isso é fruto da crise econômica e também é fruto, no caso específico do Brasil, de um fracasso de manipulação de imagem da esquerda e de uma questão administrativa. Logo, cabe aos conservadores, ou à direita, mostrar se tem mais competência para levar adiante um projeto complexo.

Qual o seu palpite?

Eu acredito, pela tradição histórica, sem fazer profecia, que depois de quatro, cinco, seis ou mais anos, a direita estará com a mesma fama que a esquerda está hoje. Isso porque os problemas que nós temos são maiores que a posição política. Ou do que um mandato. Então veja, mal o prefeito eleito em São Paulo anuncia mudanças na Virada Cultural e já há uma chuva de artigos e de críticas a isso. Se ele cortar a Virada Cultural, haverá quem elogie a contenção de gastos, imperiosa nesse momento; se ele mantiver, haverá quem diga que isso é desperdício. Não há uma maneira de agradar a todo mundo, mas há uma maneira de ouvir mais as pessoas.

]É o que pressupões a democracia…

Sim, quando é eleito um prefeito, quando é eleito um governador ou um presidente, ele pode não ser o meu voto, mas ele é o eleito e isso significa que, a partir de primeiro de janeiro, o meu prefeito é o prefeito Dória. No caso, não posso nem dizer se votei ou não nele porque eu estava fora do Brasil quando ocorreu a eleição, mas ele é o meu prefeito e nós temos que aprender esse jogo democrático. É preciso aceitar que a minha vitória não é permanente, que o meu voto não é sempre o vencedor e que há outras posturas e que na nossa superstição numérica na democracia acreditamos que uma quantidade de votos corresponde à vontade da maioria e que essa vontade é soberana para isso. É um critério pavoroso e não achamos nenhum melhor até hoje. É um critério horroroso, é literalmente uma superstição numérica. O primeiro grande plebiscito da história tinha como um candidato Jesus, o filho de Deus, e o outro Barrabás. E o povo preferiu Barrabás e crucificaram Jesus. Esse foi o primeiro grande plebiscito que as massas se manifestarem livre e democraticamente sobre a política. As massas mantiveram essa tradição, de indicar o pior, mas o que você faria? Deixaria Pilatos decidir? Ou faria uma votação entre os 11 discípulos sobreviventes à Sexta-Feira Santa, já que Judas tinha se enforcado naquela madrugada? Como diz Churchill, o pior dos sistemas: a democracia. A democracia é um horror e não temos nada melhor. É uma coisa interessante isso, é uma escolha de Adão, Eva ou nada.

O STF vem sendo chamado a decidir cada vez mais questões da nossa democracia. O que o senhor acha dessa judicialização?

É um horror. O fato de nós termos no STF debates sobre problemas de trânsito é um absurdo. Isso tem que terminar. A Suprema Corte nos Estados Unidos é uma instituição que decide a interpretação de uma Constituição muito vaga, que é a Constituição de 1787. A nossa Constituição é muito mais precisa que a americana e a Suprema Corte dos Estados Unidos tem menos processos que o nosso STF. Os ministros do Supremo, independente da opinião que eu possa ter sobre eles, estão submetidos a uma pressão enorme, à uma quantidade desumana de processos, e não é possível dar uma opinião válida sobre tantos processos.

O senhor acha que está havendo uma confusão entre os poderes?

Sim, nós precisamos reler Montesquieu. Os poderes estão divididos. O Ministério Público propôs as dez medidas contra a corrupção, e tem plena liberdade legal para fazer o que todo cidadão pode fazer, que é propor leis para o Congresso. Mas quem vota as leis é o Congresso, não o Ministério Público. Não concordei (com esse processo), como eu também não concordei com algumas medidas que foram feitas na calada da noite pelo Congresso, mas isso faz parte da democracia.

O que o senhor acha do descrédito da população com a política?

Me preocupa muito. O Legislativo é sempre a alma e o coração da democracia. Quando as pessoas falam “fecha o Congresso, intervenção militar”, elas estão combatendo o incêndio com querosene. Elas precisam reforçar o Congresso e não podem jogar fora a criança com a água do banho. O fato de haver congressistas podres, corruptos e ineptos – muitos – não invalida nem a ideia do Legislativo, nem da democracia e nem as funções que cada um dos poderes tem. O Executivo está lançando projetos de lei em excesso, a Suprema Corte está decidindo sobre leis que deveriam ser decididas pelo Congresso e o Congresso está não reconhecendo medidas da Suprema Corte. Ou seja, é preciso que todos releiam Montesquieu. Uma das almas da democracia são os três poderes mutuamente dependentes e soberanos. Mutuamente separados e dependentes um do outro.

Como o senhor vê quando a população lança um juiz à presidência ou trata como super herói?

O sebastianismo é uma característica da nossa política, que vem ao lado de um messianismo. É preciso que os militares venham para acabar com tudo que os outros não acabaram, é preciso que a democracia venha, é preciso que Lula volte para colocar o Brasil nos eixos, outros propõe que é Fernando Henrique e, admire você, na minha página, tem campanha Leandro Karnal para presidente. Ou seja, nós estamos em um momento muito escasso de heróis. O que aparecer no mercado e não babar verde está indo. É o sinal mais evidente de que nós estamos descrentes do processo democrático e que queremos xerifes que pareçam éticos para impor a vontade daquilo que eu considero o correto.

Por que isso ocorre?

A nossa corrupção está fazendo as pessoas imaginarem que virá do horizonte alguém que irá nos salvar. E não virá. Não virá. Um juiz Moro, usando como fantasia distópica, assumindo o poder sem o controle de uma máquina partidária, não terá nenhuma base no Congresso. Resultado: ele repetirá um pouco Collor com seu partido surgindo do nada, incapaz de dialogar com o Congresso. As soluções têm que ser coletivas e é preciso se dar conta que não depende de uma pessoa só, mesmo que ela seja honesta e competente. Depende de uma transformação do sistema. Não existe nenhum obstáculo e nenhuma antipatia na candidatura do Moro. A minha antipatia é com o sebastianismo. O que tornou Portugal um país subdesenvolvido durante tanto tempo é a crença de que a força viria de fora, de uma salvação externa, de um Dom Sebastião.

Herdamos o sebastianismo dos nossos colonizadores?


Sim. Herdamos a ideia de que vai chegar um salvador, que ora pode encarnar em Collor, ora pode encarnar em Lula, ora pode encarnar nos militares, ora em um juiz. A minha resistência não é onde encarna, mas se as pessoas de fato se dão conta que nem o homem mais brilhante do Brasil, o mais probo, o mais ético, o menos venal seria capaz de sozinho resolver essa questão. Aí, a democracia tem que corresponder à concepção política atual, porque se não eu estaria impondo a minha vontade pretensamente mais esclarecida, pretensamente mais ilustrada que a dos outros para importar a ideia de um governo de filósofos. Foi tentada por Platão e foi um desastre. Porque ser um administrador não é exatamente alguém que conheça grego, alemão ou Platão. Infelizmente, com muita frequência, as pessoas notadamente honestas são absolutamente incompetentes. E, algumas vezes, o mal, muito mais carismático.

Leandro Karnal. Foto: Iara Morselli/Estadão.

Questões de Classe, direitos ameaçados e a trincheira dos trabalhadores




O Brasil começou a se democratizar com a Consolidação das Leis de Trabalho. No período que antecedeu a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o presidente até hoje venerado pela elite paulista, Washington Luis (1926-1930), se notabilizou por frequentemente afirmar que "a questão social é questão de polícia".
Por Emir Sader, na RBA

A passagem para o período sob gestão de Getúlio foi notável, não apenas pelo começo do reconhecimento dos direitos da classe trabalhadora, mas também na forma de se dirigir aos brasileiros, chamando-os de "trabalhadores do Brasil".

Concomitantemente o Estado foi assumindo responsabilidades para garantir os direitos da classe trabalhadora, como a criação de ministérios como o do Trabalho e da Saúde, além de instituir a Previdência Social e a Justiça do Trabalho.

Naquele momento, o mercado deixava de ser o encarregado, junto com a polícia, de tratar das questões sociais.

Getúlio nunca foi perdoado por isso. Mesmo desenvolvendo uma política que promoveu a projeção da burguesia industrial como setor hegemônico na economia, nunca foi aceito por esta.

Um líder que encontrava sua legitimidade e as sucessivas vitórias eleitorais no apoio dos trabalhadores organizados em sindicatos, era visto por essa elite como seu maior adversário, a quem sempre combateu, desde o seu surgimento, em 1930, até sua morte, em 1954.

E essa elite seguiu combatendo o getulismo até o golpe de 1964, que interveio e destruiu a estrutura sindical para promover o arrocho salarial, o santo do "milagre econômico" da ditadura.

Mas a Consolidação das Leis do Trabalho sobreviveu a tudo isso, como conjunto de leis que garantem um mínimo de respeito e observância dos direitos da classe trabalhadora.

FHC pregou fortemente contra a CLT, estigmatizada como responsável por níveis de investimento empresarial abaixo do potencial, que se daria pelo suposto alto custo da força de trabalho.

O governo Lula e os que o seguiram até este ano provaram que nada disso é verdade. Que é perfeitamente possível promover um ritmo alto de crescimento economico com garantia dos direitos dos trabalhadores, a criação de dezenas de milhões de empregos com carteira assinada e a elevação do salario mínimo com ganhos reais em torno de 70% acima da inflação. Desmoralização cabal das mentiras sobre a CLT.

Atualmente porém, o governo Temer, surgido do golpe e pautado pela revanche contra os direitos adquiridos e consolidados nos governos do PT, retoma a mesma cantilena para criminalizar a CLT, os sindicatos e a luta dos trabalhadores. Como se os gastos com salário tivessem algum peso importante no preço final das mercadorias.

Volta-se aos tempos do ícone da elite paulista, Washington Luis – "a questão social é questão de polícia" –, de desreconhecimento dos direitos dos trabalhadores, de tentativa de enfraquecer a CLT, de promover semanalmente novas iniciativas que atentam contra as condições mínimas de dignidade das jornadas de trabalho. Diminuir a hora de trabalho de almoço, sob a alegação de que seria excessiva e dizendo que os trabalhadores podem comer um sanduíche com uma mão, enquanto operam a máquina com a outra.

Enquanto isso, na região da Avenida Paulista, nas proximidades da Fiesp, de onde é diretor o autor dessa barbaridade, eles almoçam lautamente, todos os dias, por duas horas e meia.

Como em todo regime que rompe com a democracia, os direitos dos trabalhadores são vítimas preferenciais. Busca-se criar as condições mais favoráveis à super exploração do trabalhador e à degradação das condições de trabalho. Expulsam milhões de trabalhadores da esfera dos contratos formais, protegidos pela CLT, para que sobrevivam em condições precárias, na informalidade e sem direitos. Formas cada vez mais selvagens do tal banco de horas, em que o trabalhador ficaria totalmente à disposição dos empresários, para trabalhar jornadas extenuantes, se o capital precisar, para depois ficar tempo longo sem trabalho.

Em torno da defesa da CLT, das condições básicas de trabalho, da luta contra o desemprego, se joga, em grande parte, o sucesso ou o fracasso do governo do golpe e do próprio golpe.

É hora de convencer setores cada vez mais amplos de trabalhadores de que sua trincheira indispensável de luta é o sindicato, para se defender da ofensiva diária contra a sua dignidade, para derrotar o governo golpista e sua tentativa de vingança contra o direito dos trabalhadores.

Precarização e informalidade são os resultados das ofensivas do governo
Temer sobre a proteção aos direitos dos trabalhadores e demanda união
para a luta por sua defesa.

A história real do natal que se tornou a maior festa religiosa dos cristãos


Origens pagãs

Quando buscamos a verdadeira história do Natal, acabamos diante de rituais e deuses pagãos. Sabemos que Jesus Cristo foi colocado numa festa que nada tinha haver com Ele. O verdadeiro simbolismo de Natal oculta transcendentes mistérios. Esta festividade tem sua origem fixada no paganismo. Era um dia consagrado à celebração do “Sol Invicto”. O Sol tem sua representação no deus greco-romano Apolo e, seus equivalentes entre outros povos pagãos são diversos: Ra, o deus egípcio, Utudos na Babilônia, Surya da Índia e também Baal e Mitra.

Por Lealcy B. Júnior, no Ceticismo

Mitra era muito apreciado pelos romanos, seus rituais eram apenas homens que participavam. Era uma religião de iniciação secreta, semelhante aos existes na Maçonaria. Aureliano (227-275 d.C), Imperador da Roma, estabeleceu no ano de 273 d.C., o dia do nascimento do Sol em 25 de dezembro “Natalis Solis Invcti”, que significava o nascimento do Sol invencível. Todo O Império passou a comemorar neste dia o nascimento de Mitra-Menino, Deus Indo-Persa da Luz, que também foi visitado por magos que lhe ofertaram mirra, incenso e ouro. Era também nesta noite o início do Solstício de Inverno, segundo o Calendário Juliano, que seguia a “Saturnalia” (17 a 24 de dezembro), festa em homenagem à Saturno. Era portanto, solenizado o dia mais curto do ano no Hemisfério Norte e o nascimento de um Novo Sol. Este fenômeno astronômico é exatamente o oposto em nosso Hemisfério Sul.

Estas festividades pagãs estavam muito arraigadas nos costumes populares desde os tempos imemoráveis para serem suprimidas com a advento do Cristianismo, incluso como religião oficial por Decreto por Constantino (317-337 d.C), então Imperador de Roma. Como antigo adorador do Sol, sua influência foi configurada quando ele fez do dia 25 de dezembro uma Festa Cristã. Ele transformou as celebrações de homenagens à Mitra, Baal, Apolo e outros deuses, na festa de nascimento de Jesus Cristo. Uma forma de sincretismo religioso. Assim, rituais, crenças, costumes e mitos pagãos passam a ser patrimônio da “Nova Fé”, convertendo-se deuses locais em santos, virgens em anjos e transformando ancestrais santuários em Igrejas de culto cristão. Deve-se levar em consideração que o universo romano foi educado com os costumes pagãos, portanto não poderia ocorrer nada diferente.

Todavia, o povo cristão do Oriente, adaptou esta celebração para 6 de janeiro, possivelmente por uma reminiscência pagã também, pois esta é a data da aparição de Osíris entre os egípcios e de Dionísio entre os gregos.

Jesus, o “Filho do Sol”

No quociente Mitraísmo/Cristianismo se observa surpreendentes analogias. Mitra era o mediador entre Deus e os homens. Assegurava salvação mediante sacrifício. Seu culto compreendia batismo, comunhão e sacerdotes. A Igreja Católica Romana, simplesmente “paganizou” Jesus. Modificou-se somente o significado, mantendo-se idêntico o culto. Cristo, substituiu Mitra, o “Filho do Sol”, constituindo assim um “Mito” solar equivalente, circundado por 12 Apóstolos. Aliás, curiosa e sugestivamente, 12 (n. de apóstolos), coincide com o número de constelações. Complementando as analogias astronômicas: a estrela de Belém seria a conjunção de Júpiter com Saturno na constelação do ano 7 a.C, com aparência de uma grande estrela.

Nova Ordem

Uma nova ordem foi estabelecida quando o decreto de Constantino oficializa o Cristianismo. Logo, livres de toda opressão, os que então eram perseguidos se convertem em perseguidores. Todos os pagãos que se atrevessem a se opor as doutrinas da Igreja Oficial eram tidos como hereges e dignos de severo castigo.

Culto às “Mães Virgens”

No Antigo Egito, sempre existiu a crença de que o filho de Ísis (Rainha dos Céus), nasceu precisamente em 25 de dezembro. Ísis algumas vezes é “Mãe”, outras vezes é “Virgem” que é fecundada de maneira sobrenatural e engravida do “Deus Filho”.

Tal culto à “Virgem” é encontrado entre os Celtas, cujo a civilização, os druídas (sacerdotes), praticam o culto baseado em um “Deus Único”, “Una Trindade”, a ressurreição, a imortalidade da alma e uma divindade feminina: uma “Deusa-Mãe”, uma “Terra-Mãe” e uma “Deusa Terra” também virgem, que se destinava a dar à luz a um “Filho de Deus”.

Este culto as “Deusas Virgens-Mães” está reiterado em muitas religiões e mitologias, inclusive civilizações pré-colombianas, como em numerosas mitologias africanas e em todas as seitas iniciáticas orientais.

A reconfortante imagem do arquétipo “MÃE” é primordial para existência humana. Este arquétipo pode assumir diversas formas: deusas, uma mãe gentil, uma avó ou uma igreja. Associadas a essas imagens surgem a solicitude e simpatia maternas, o crescimento, a nutrição e a fertilidade.

Culto ao “Deus-Herói”

Como afirmei, a concepção de uma “Rainha dos Céus” que dá à luz a um “Menino-Deus” e “Salvador” corresponde a um arquétipo básico do psiquismo humano e tem sua origem nos fenômenos astronômicos. Enviado por um “Ser Supremo”, que é o PAI, o FILHO assume suprimindo o PAI, como acontece em todas as sagas gregas, indo-européias e diversas culturas. Coincidentemente, existe um padrão constante que quase sempre expressa o mesmo propósito: fazer do FILHO um HERÓI, que cumpre o mandato do PAI, sucedendo-o. Este HERÓI se faz causa de um ideal primeiro que se move ao longo da História como MODELADOR de uma cultura.

A versão do nascimento e infância de Jesus é uma repetição da história de muitos outros Salvadores e Deuses da humanidade. Ilustra bem a figura do “Arquétipo Herói”, comuns em qualquer cultura e que seguem sempre a mesma fórmula. Nascidos em circunstâncias misteriosas, logo exibe força ou capacidade de super-homem, triunfa na luta contra o mal e, quase sempre, morre algum tempo depois.

Este arquétipo reflete o tipo de amadurecimento sugerido pelos mitos: nos alerta para ficarmos atentos as nossas forças e fraquezas internas e nos aponta o conhecimento como caminho para se desenvolver uma personalidade saudável.

“Anexo a nossa consciência imediata”, escreveu Carl Jung, “existe um segundo sistema psíquico de natureza coletiva, universal e impessoal, que se revela idêntico em todos os indivíduos”. Povoando este inconsciente coletivo, afirmava, havia o que chamava de “arquétipos”, imagens primordiais ou símbolos, impressos na psique desde o começo dos tempos e, a partir de então, transmitidos à humanidade inteira. A MÃE, o PAI e o HERÓI com seus temas associados, são exemplos de tais arquétipos, representados em mitos, histórias e sonhos.

Eis que nasce Papai Noel

Com o passar do tempo, de gerações que foram sucedendo-se, veio o esquecimento e nem Mitra, nem Apolo ou Baal faziam mais parte do panteão de algum povo. Acabou restando somente símbolos: a árvore, a guirlanda, as velas, os sinos e os enfeites. Até que no séc. IV, mais exatamente no ano de 371, uma nova estrela brilha em nosso céu e na Terra nasce Nicolau de Bari ou Nicolau de Mira. A generosidade a ele atribuída granjeou-lhe s reputação de mágico milagreiro e distribuidor de presentes. Filho de família abastada, doou seus bens para os pobres e desamparados. Entretanto, tecia um grande amor pelas crianças e foi através delas que sua lenda se popularizou e que Nicolau acabou canonizado no coração de todas as pessoas.

No fim da Idade Média, ainda “espiritualmente vivo”, sua história alcançou os colonos holandeses da América do Norte onde o “bom velhinho” toma o nome de “Santa Claus”. Ao atravessar os Portais do Admirável Mundo, muito sobre o que ele foi escrito lhe rendeu vários apelidos, como: “Sanct Merr Cholas”, “Sinter Claes” ou “Sint Nocoloses”, e é considerado sempre como padroeiro das crianças.

O Papai Noel Ocidental

Até aproximadamente 65 anos atrás o Papai Noel era, literalmente, uma figura de muitas dimensões. Na pintura de vários artistas ele era caracterizado ora como um “elfo”, ora como um “duende”. O Noel-gnomo era gorducho e alegre, além de ter cabelos e barbas brancas.

No final do século XIX, Papai Noel já era capa de revistas, livros e jornais, aparecendo em propagandas do mundo todo. Cartões de Natal o retrataram vestido de vermelho, talvez para acentuar o “espírito de natal”. A partir daí o personagem Papai Noel foi adquirindo várias nuances até que em 1931 a The Coca-Cola Company, contrata um artista e transforma Papai Noel numa figura totalmente humana e universalizada. Sua imagem foi definitivamente adotada como o principal símbolo do Natal.

A imagem do Noel continuou evoluindo com o passar dos anos e muitos países contribuíram para sua aparência atual. O trenó e as renas acredita-se que sejam originárias da Escandinávia. Outros países de clima frio adicionaram as peles e modificaram sua vestimenta e atribuíram seu endereço como sendo o Pólo Norte. A imagem da chaminé por onde o Papai Noel escorrega para deixar os presentes vieram da Holanda.


Hoje, com bem mais de 1700 anos de idade, continua mais vivo e presente do que nunca. Alcançou a passarela da fama e as telas da tecnologia. Hoje o vemos em filmes, shoppings, cinemas, no estacionamento e na rua. Ao longo desses dezessete séculos de existência, mudou várias vezes de nome, trocou inúmeras de roupa, de idioma e hábitos, mas permaneceu sempre a mesma pessoa caridosa e devotada às suas crianças. E, embora diversas vezes acusado de representar um veículo que deu origem ao crescente consumismo das Festas Natalinas, é preciso reconhecer que ele encerra valores que despertam, revivem e fortalecem os nossos sentimentos mais profundos. Sua bondade é tão contagiante que atinge tipo “flecha de cupido”, qualquer pessoa, independente de crença ou raça, o que evidencia a sua magia e seu grande poder de penetração no mundo.