Leonardo Boff: "Todos saímos diminuídos como nação e envergonhados dos representantes do povo”



Observando o comportamento dos parlamentares nos três dias em que discutiram a admissibilidade do impedimento da presidenta Dilma Rousseff, parecia-nos ver criançolas se divertindo em um jardim da infância. Gritarias por todo canto. Coros recitando seus mantras contra ou a favor do impedimento. Alguns vinham fantasiados com os símbolos de suas causas. Pessoas vestidas com a bandeira nacional como se estivessem em um dia de carnaval. Placas com seus slogans repetitivos. Enfim, um espetáculo indigno de pessoas decentes de quem se esperaria um mínimo de seriedade. Chegou-se a fazer até um bolão de apostas como se fora um jogo do bicho ou de futebol.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.
Mas o que mais causou estranheza foi a figura do presidente da Câmara que presidiu a sessão, o deputado federal Eduardo Cunha. Ele vem sendo acusado de muitos crimes e é réu pelo Supremo Tribunal Federal (STF). É um gangster julgando uma mulher decente, contra a qual ninguém ousou lhe atribuir qualquer crime. Isso teve repercussão nacional e internacional, a ponto de o New York Times de 15 de abril escrever: "Ela não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões".

Que interesse secreto alimenta a Suprema corte, face a tão escandalosa omissão? Recusamos a ideia de que esteja participando de alguma conspiração, mas precisamos questionar a responsabilidade do STF por ter permitido esse ato que nos envergonhou.

O que ocorreu na declaração de voto foi algo absolutamente desviante. Tratava-se de julgar se a presidenta havia cometido um crime de irresponsabilidade fiscal junto a outros manejos administrativos das finanças, base jurídica para um processo político de impedimento que implica destituir a presidenta de seu cargo, conseguido pelo voto popular majoritário. Grande parte dos deputados sequer se referiu a essa base jurídica, as famosas pedaladas fiscais etc.. Em vez de se ater juridicamente ao eventual crime, deram asas à politização da insatisfação generalizada que corre pela sociedade em razão da crise econômica, do desemprego e da corrupção na Petrobras. Essa insatisfação pode representar um erro político da presidenta, mas não configura um crime.

Como em um ritornello, a grande maioria se concentrou na corrupção e nos efeitos negativos da crise. Apostrofaram hipocritamente o governo de corrupto quando sabemos que um grande número de deputados está indiciado em crimes de corrupção. Boa parte deles se elegeu com dinheiro da corrupção política, sustentada pelas empresas. Generalizando, com honrosas exceções, os deputados não representam os interesses coletivos, mas das empresas que financiaram suas campanhas.

Importa notar um fato preocupante: emergiu novamente (como um espantalho) a velha campanha que reforçou o golpe militar de 1964: as marchas da religião, da família, de Deus e contra a corrupção. Dezenas de parlamentares da bancada evangélica claramente fizeram discursos de tom religioso e invocando o nome de Deus. E todos, sem exceção, votaram pelo impedimento.

Poucas vezes se ofendeu tanto o segundo mandamento da lei de Deus que proíbe usar o santo nome de Deus em vão. Grande parte dos parlamentares, de forma pueril, dedicavam seu voto à família, à esposa, à avó, aos filhos e aos netos, citando seus nomes, em uma espetacularização da política de reles banalidade. Ao contrário, aqueles que votaram contra o impedimento argumentavam e mostravam um comportamento decente.

Fez-se um julgamento apenas político sem embasamento jurídico convicente, o que fere o preceito constitucional. O que ocorreu foi um golpe parlamentar inaceitável.

Os votos contra o impedimento não foram suficientes. Todos saimos diminuídos como nação e envergonhados dos representantes do povo que, na verdade, não nos representam nem pretendem mudar as regras do jogo político.

Agora nos resta esperar a racionalidade do Senado, que irá analisar a validade ou não dos argumentos jurídicos, base para um julgamento político acerca de um eventual crime de responsabilidade, negado por notáveis juristas do país.

Talvez não tenhamos ainda amadurecido como povo para poder realizar uma democracia digna deste nome: a tradução para o campo da política da soberania popular.

Luiza Erundina fala que democratização das comunicações é prioritária (vídeo)


A deputada Luiza Erundina com mandato pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL/SP) participou na noite desta quinta-feira, 21, da XIX Plenária Nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Luiza Erundina em fala durante a XIX plenária do FNDC.
Imagem capturada do vídeo.
Ao discursar sobre as principais reformas políticas e estruturais pelo qual o Brasil precisa fazer, como a Tributária, Política e Agrária, Erundina foi taxativa ao frisar que sem a democratização da comunicação nada flui, haja vista o poder extraordinária da mídia sobre a sociedade. 

“A prioridade não é a reforma agrária. A prioridade é a reforma das comunicações. E no dia em que a gente conseguir democratizar os meios de comunicação de massa em que o povo não tenha direito só de assistir, mas também de informar, de se manifestar, de transmitir ideias, valores, concepções, cultura, ai sim todas as outras reformas se farão por força da sociedade, sobretudo as classes populares”, ressaltou a psolista.

Confira a fala da deputada no vídeo abaixo

           

Ustra: Um retrato do torturador comandante, segundo as suas vítimas




Adriano Diogo acabava de sair do banho quando seu apartamento, em São Paulo, foi invadido por militares com metralhadoras. Era março de 1973, auge de ditadura. Diogo só teve tempo de vestir uma cueca e assim foi levado pelos agentes. Encapuzado, o colocaram dentro de um carro e fizeram-no segurar nas mãos o que ele deduziu ser uma bomba. Chegando ao destino, atravessou um corredor polonês, onde apanhou de guardas enfileirados até chegar em alguém que começou a lhe bater com uma metralhadora: “Você é amigo do Minhoca [apelido de Alexandre Vanuchi, amigo de Diogo], acabei de mandar ele para a Vanguarda Popular celestial e é pra lá que vou te mandar também, seu filho da puta”, gritava seu algoz.


Aos 67 anos, Diogo se lembra de cada palavra que saiu da boca do comandante Carlos Alberto Brilhante Ustra. Até então, não sabia de quem havia apanhado, mas descobriria rapidamente. Quando Ustra o deixou, Diogo perguntou a outro guarda que estava por perto. “Onde é que eu tô?” “Aqui é a antessala do inferno”, avisou o agente, de modo sarcástico, antes de mandá-lo sentar numa cadeira de dragão. Nu, colocaram eletrodos nas suas genitálias, boca, ouvidos, e com choques elétricos ordenavam suas confissões para entregar companheiros.

Depois das torturas diárias que o aguardavam durante os meses que ficou na prisão, Diogo viria a concluir que Ustra era o líder demoníaco daquele inferno. O comandante, homenageado neste domingo por Jair Bolsonaro para dar o “sim” ao impeachment da presidenta Dilma, foi chefe de um centro de sequestro, tortura e morte na ditadura militar (1964-1985), conhecido oficialmente por DOI-CODI, que funcionou no bairro da Vila Mariana, em São Paulo.

Apelidado de Casa da Vovó entre seus comandados, o Destacamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesas Internas tinha em Ustra o cérebro da repressão quando a Governo militar resolveu endurecer com integrantes dos movimentos que resistiam à ditadura nos anos 70. Em geral, jovens universitários que acreditavam na utopia de poder combater um Estado militar para restabelecer a democracia, usurpada em 1964 pelo golpe. Diogo era um deles. Integrava a Ação Libertadora Nacional, de inspiração socialista, o que no meio de uma Guerra Fria, significava ser classificado como terrorista.

A sigla DOI-CODI, assim como o sobrenome Ustra, têm um efeito cáustico nos ouvidos das vítimas da sua tortura e das famílias que perderam de maneira cruel seus pais, mães, filhos ou simplesmente amigos. Pelo menos 50 pessoas morreram enquanto Ustra comandou o DOI (1970-1973), e há registro de mais de 300 pessoas torturadas sob suas ordens.

Quem saiu vivo, ou foi mutilado ou saiu com uma cicatriz eterna pela sádica violência aplicada sob comando de Ustra. Diogo, hoje geólogo, e presidente da Comissão da Verdade, em São Paulo, foi um dos poucos a ser torturado diretamente por Ustra, que na maior parte do tempo, se dedicava à inteligência dos processos de tortura. Dava ordens, mapeava os movimentos de militantes, estabelecia as táticas para que sua equipe de pudesse capturá-los e chegar aos líderes. “A especialidade deles era violentar e torturar mulheres”, lembra Diogo, que presenciou inúmeras violações enquanto esteve ali, inclusive a tortura de sua mulher à época. Grávida e nua, passou por choques elétricos na sua frente. O bebê que carregava não resistiu. Arlete sofreu hemorragias e não pôde recorrer a apoio médico.

Crianças na sala de tortura
Amélia Teles, ou Amelinha, também caiu nas garras de Ustra. Foi presa junto com o marido Cesar, e o amigo Carlos Danielli. Viveram todo o roteiro do inferno no DOI CODI, conforme conta num vídeo disponível no Youtube. Militantes do PCdoB, sentiram bem mais que surras e choques elétricos. O casal de jovens de pouco mais de 20 anos, foi preso em dezembro de 1972, e apanhou seguidamente sem ter noção do tempo. Certo dia, Amelinha estava nua, sentada na cadeira de dragão, urinada e vomitada, quando viu entrar na sala de tortura seus dois filhos, Janaína de 5 anos, e Edson, 4. Ustra havia mandado buscar as duas crianças porque queria que eles testemunhassem de seus pais. “Mamãe, por que você está azul e a papai verde?”, perguntou sua filha, enquanto queria abraçar a mãe, paralisada de dor e pelos fios elétricos. A cor era fruto das torturas que desfiguraram sua tez.

As duas crianças foram levadas para a casa de um militar enquanto os pais continuaram apanhando nas mãos de agentes da ditadura comandados por Ustra. Os arquivos da ditadura mostram crianças de colo fichadas como filhos de terroristas. “Vamos matar seus filhos, menos comunistas vivos”, ouviam seus pais enquanto eram torturados. Amelinha foi espancada por Ustra enquanto ouvia: “sua terrorista!”. Viu a morte do amigo Carlos enquanto estava presa. Seu marido Cesar faleceu no ano passado.

Mortos

Diogo e a família Teles conseguiram sobreviver àqueles anos para contar os horrores que aconteciam durante a ditadura brasileira. Mas muitos não tiveram essa sorte. O jornalista Vladimir Herzog, que em 1975 era diretor da TV Cultura, foi assassinado no interior do prédio do DOI-CODI, depois de ter sido intimado a prestar depoimentos por supostas ligações com o Partido Comunista. No Instituto Vladimir Herzog é possível ler o que se passou no final de outubro de 1975, depois que Vlado, como era conhecido, se apresentou para depor. Encapuzado, foi sufocado com amoníaco e submetido a seguidas sessões de tortura.

Naquela cela solitária, com o ouvido na janelinha, eu podia ouvir os gritos: ‘Quem são os jornalistas? Quem são os jornalistas?’ Pelo tipo de grito, pelo tipo de porrada, sabia que estava sendo feito com alguém exatamente aquilo pelo que eu tinha passado", recordaria anos depois o jornalista Sérgio Gomes, que estava preso no mesmo local em que Vlado se encontrava. “Lá pela hora do almoço há uma azáfama, uma correria. Ele foi torturado durante toda a manhã e se dá o tal silêncio. A pessoa para de ser torturada e em seguida há uma azáfama, uma correria… A gente percebe que tem alguma coisa estranha acontecendo. Tinham acabado de matar o Vlado.

No livro “A Casa da Vovó”, o jornalista Marcelo Godoy faz um minucioso relato sobre o DOI-CODI a partir de relatos de ex-agentes que trabalharam com Ustra. Levou dez anos para concluir a obra (2004 a 2014), e viu o antigo comandante tentar interferir em sua apuração em alguns momentos. O velho torturador ligou para seus ex-subalternos pedindo silêncio. Muitos, no entanto, contrariaram a ordem do antigo chefe. Um deles relatou a Godoy: “Você não tem ideia do que é passar uma noite inteira vendo um homem e sabendo que no dia seguinte ele vai morrer... Todos nós carregamos um fantasma que te acompanha a vida inteira. Esse é o meu.”

Ustra contava com o apoio silencioso dos presidentes militares que mantinham um discurso de que torturas eram casos pontuais. Em 2008, a Justiça o reconheceu como torturador e, em 2012, condená-lo em primeira instância pela morte de apenas uma vítima, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, morto em 19 de julho de 1971. “Nunca cometi torturas”, disse ele em depoimento à Comissão Nacional da Verdade em 2013. No ano seguinte, foi declarado um dos 377 agentes da repressão pela Comissão. Ustra morreu em julho de 2015 de câncer.

Conheça o Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC


Por Jack Correia, no Overmundo

Respeito e cidadania no Brasil, e porque não dizer, no mundo, são agora sinônimos de luta. A luta por consciência, igualdade e dignidade hoje é fundamental para garantir uma sociedade civil justa e democrática amanhã, pois, uma transformação só é possível quando não somos inertes aos acontecimentos em nossa volta.

É preciso “arregaçar as mangas” para buscar essa mudança necessária e para enfrentar com dignidade as dificuldades que surgem! Uma política linear, capaz de construir uma sociedade equilibrada, onde as diferenças naturais, como as características físicas, também não sejam motivos capazes de gerar conflitos. É preciso criar forças... A união de um grupo formado por pessoas que tenham um mesmo propósito, que “plantem juntos a mesma semente que germinará” no dia seguinte, gerando os “bons frutos” tão desejados.


Assim é o Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC, entidade sem fins lucrativos, formado em Crato-CE no ano de 2001 com o objetivo primordial de promover a igualdade étnica/racial e a auto-estima da população de cor negra na Região Caririense, além de propagar a consciência sobre nossa afrodescendência, valorizando a nossa história e cultura. Ele conta com o apoio de entidades governamentais e não governamentais, profissionais liberais, autoridades religiosas, empresários e de qualquer pessoa da própria população que pretenda se engajar num propósito político-social consistente.



O GRUNEC foi idealizado de uma forma inusitada. Depois de uma aula de natação, 5 pessoas que conversavam sempre sobre injustiças sociais resolveram criar algo maior e sair dos meros discursos individuais. Depois de uma reunião na garagem da casa de um deles, surge o GRUNEC, que agora com 7 anos de formação, já conta com o apoio de cerca de mais de 30 indivíduos qualificados para capacitações pedagógicas e para diversos eventos como seminários, oficinas e reuniões, sempre com embasamentos técnicos, legais e jurídicos de tudo o que diz respeito às questões políticas e sociais no País. Dentre eles, alguns nomes: Verônica, Valéria, Adriano, Antônia, Eliane, Reginaldo, Ridalvo, Ronald, João, Josefa, Prof. Mota, Cícero, Diego, Cleone e muitos outros...

Todas as pessoas do Grupo, acima de tudo, têm comprometimento. Elas não “levantam a bandeira” por simples paixão momentânea ou “modismos de causas”, não estão na “estrada” vinculadas a nenhum partido político ou outra classe qualquer. A questão é consciência e vontade! A vontade, sem comodismo, de ver um verdadeiro Estado Democrático.

A Implantação das Idéias

O GRUNEC trabalha com diversas metodologias, especialmente no ensino profissionalizante e no desenvolvimento de atividades artísticas, fertilizando um terreno para aflorar a auto-estima do povo de pele negra no Cariri que se encontra em exclusão social, promovendo encenações de danças, desfiles, músicas e outras manifestações ligadas à arte. Atua de forma efetiva na Semana da Consciência Negra e em ações realizadas junto às Secretarias Municipal e Estadual de Educação para garantir o cumprimento das normas reguladoras como um dos patamares que levarão a uma conscientização mais sólida sobre nossa afrodescendência, levando até mesmo a um contexto nacional.

Esse trabalho, não é feito apenas em auditórios universitários ou escolares, nem tão somente nas salas de aula. Ele não se dá unicamente de forma teórica onde alguns dos integrantes do Grupo pegam um microfone e fazem explanações científicas sobre o assunto com seus notáveis dons de oratória. Ele é feito essencialmente junto às comunidades pobres da região, onde a população de cor negra atinge índice mais elevado e onde a marginalização, e tudo o que ela gera, estão concentrados em um percentual preocupante.

A trajetória na causa já traz um relevante histórico. O GRUNEC: promoveu a 1ª Audiência Pública Federal no ano de 2007, para discutir a implementação da Lei nº 10.639/03 conseguindo reunir representantes de 42 municípios da Região do Cariri; em 2005 realizou o 1º Seminário no Crato para discutir a Igualdade Racial; é responsável pela Semana da Consciência Negra todos os anos, desde sua formação em 2001; efetiva cursos para geração de emprego e renda; junto ao governo municipal do Crato articulou a sua adesão ao Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial, coordenado pela SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial) como forma de afirmar o compromisso do município cratense no combate ao racismo e de garantir à população o aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas para promoção da igualdade; desempenha um excepcional trabalho junto às mulheres do Alto da Penha, que é um dos bairros mais pobres da cidade, etc., etc., etc.,

Um trabalho social moldado em conscientização política, obviamente, deve ter como principal caminho o contato direto com a comunidade, porque, é neste contato que está toda a essência do resultado. Ele é o principal desafio, porque é no calor humano que as coisas acontecem, e, para melhor! É olhando nos olhos das pessoas de cor negra, marginalizadas, que a transformação tão almejada pelo GRUNEC tem o seu início. Simplesmente olhar e enxergar aquelas pessoas e plantando nelas, aquela, semente de mudança começando a germinar com frases simples como “hei, se olhe... sua cor é linda!”, que, a princípio, podem até parecer piegas para alguns, mas com certeza, fazem uma considerável diferença.

Outro grande desafio é trazer à discussão aqueles inclusos nas classes privilegiadas da população, muitos deles com pele branca, alheios até mesmo aos significados dos termos afrodescendência e inclusão social, e que não se sentem parte integrante de todo esse seguimento e metamorfose que a sociedade necessita de um modo geral. Como maneira de se chegar a eles, os meios de comunicação também são usados, até para debater acerca das Normas Reguladoras pertinentes, dos princípios básicos dos Direitos Humanos, etc., o que, evidentemente, somente isso não é o suficiente, porque, respeito, como pilar dessa sociedade idealizada, não deve vir através, simplesmente, de uma imposição legal.

O respeito no seu mais amplo significado, deve vir naturalmente, de dentro de cada um, de uma consciência moral e por valorização das nossas raízes e conservação do nosso patrimônio histórico e cultural, deixando-as vivas para as próximas gerações.

As palavras podem ter um papel fundamental nesses processos revolucionários de transformações sociais e políticas, mas elas não são nada se não vêm integradas com as ações. Assim pensa e age o GRUNEC em toda a sua busca.

O GRUNEC segue na sua caminhada... Com “idas e vindas”, cujos obstáculos mais parecem “muros de Berlim”... Mas seguindo adiante, se aliando a outros grupos que têm propósitos de transformações sociais também como meta... De mãos dadas, olhando pra frente e sonhando juntos, para que esse sonho vire realidade num futuro próximo, como diria Carlos Drumont de Andrade.

Contato com o GRUNEC: grunec_cariri@yahoo.com.br

Alunas Daiane e Kézia serão colunistas do Informações em Foco


Ás vésperas de completar cinco anos na rede mundial de computadores no próximo dia 27 de abril, o blog Informações em Foco contará na sua linha de edição com as contribuições das alunas do ensino médio integrado a educação profissional Ana Daiane e Kézia Adjane que atuarão como colunistas.

Ana Daiane e Kézia Adjane (da esquerda para a direita). Montagem: Informações em Foco.
O convite foi lançado e prontamente aceito pelas duas alunas que estudam na Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo no curso técnico em Redes de Computadores, 3º e 2º ano respectivamente. A coluna será mensal e elas versarão em seus textos sobre diversos temas, dentre eles Homofobia, Racismo, Feminismo, Protagonismo Negro e Indígena, Sentimento de Pertencimento - áreas em que ambas se dedicam diariamente em suas análises e que eram enfocado durante os grupos de debates coordenado por este professor signatário nos anos de 2014 e 2015.

Com 15 anos Kézia é uma das alunas mais atuantes do colégio e ocupa a função de presidente do Grêmio Estudantil e junto com Daiane lideram um grupo de jovens que tem como principal finalidade o desenvolvimento da capacidade crítica e atuação de forma efetiva na sociedade.

A coluna se configura como uma das formas de estimular o protagonismo juvenil e democratizar ainda mais o portal.

Kézia demonstrou entusiasmo e satisfação com o convite. “Se eu fiquei feliz com o convite? Imagina. Vai ser um prazer”, afirmou. "Obrigado pelo convite Nicolau", complementou.

Para Daiane a ideia permite maior interatividade e dinamismo e disse que aceita o convite recheada de alegria. 

Intelectuais se manifestam contra aprovação de pedido de impeachment de Dilma Rousseff



Após a Câmara dos Deputados do Brasil aprovar a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no último domingo (17/04), intelectuais brasileiros e estrangeiros têm se manifestado contra o que classificam como golpe de Estado e contra a democracia no país.

Em entrevista à rádio France Inter nesta terça-feira (19/04), o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado disse acreditar que o processo de impeachment se trata de um "golpe de Estado imoral" e uma "revanche política". "Estão tentando destituir um governo legítimo e democrático, é a primeira etapa de uma grande luta", afirmou Salgado. “Além disso, a classe que quer voltar ao poder é a classe mais corrupta que podemos imaginar”.

Psicanalista Maria Rita Kehi afirmou que Dilma é uma "personagem fundamental no Brasil". CPFL Cultura/Flickr CC
 Há [atualmente] políticas sociais muito mais interessantes que antes, mas a elite que perdeu o poder tenta voltar de todas as maneiras. Temos uma imprensa de direita que combate o PT. Não sou filiado ao partido, mas não concordo que se elimine a democracia no Brasil através de um golpe de Estado imoral”, disse o fotógrafo.

Temos também que cobrar o PT, mas o balanço é o mais positivo que o Brasil já teve”, afirmou Salgado ao ser perguntado sobre as mudanças e políticas sociais dos governos do PT.

O filósofo mexicano Fernando Buen Abad Domínguez publicou, na noite do último domingo, uma mensagem em seu Twitter na qual afirmou que “se cometeu uma monstruosidade contra a democracia no Brasil”. “Isso só se repara com o povo mobilizado contra os golpistas e na rua”, disse o filósofo.

Em carta aberta dirigida a Dilma e publicada na última segunda-feira (18/04) no jornal Folha de S.Paulo, a psicanalista e integrante da Comissão Nacional da Verdade Maria Rita Kehl voltou a se posicionar contra o impedimento. Kehl classificou Dilma como uma “personagem fundamental na história do Brasil” e destacou a criação, em seu governo, da Comissão Nacional da Verdade.

“Nos vemos na iminência de uma nova catástrofe: a cassação de uma presidente séria, comprometida com o combate à corrupção, por uma Câmara comandada por um deputado [Eduardo Cunha, PMDB-RJ] acusado de vários crimes e repudiado pela população”, afirmou a psicanalista. “Talvez o Brasil acorde durante o julgamento no Senado e perceba a gravidade do que está por vir. Ou então assistiremos, estarrecidos, à repetição de um golpe em nome da moralidade pública”, disse.

Para o analista político argentino Atilio Boron, a votação na Câmara foi um “espetáculo lamentável e vergonhoso da direita”. “Poucas vezes em minha vida vi, como analista político, um espetáculo tão repugnante como o que hoje deram os deputados da direita no Brasil”, disse Boron em seu perfil no Twitter na segunda-feira. Ele chamou de “demagogos e corruptos até a medula” parte dos deputados que votaram a favor da admissibilidade do processo de impeachment.

O escritor paulista Raduan Nassar escreveu um artigo publicado nesta terça-feira no qual disse que o STF (Supremo Tribunal Federal) “está adormecido, dorminhoco, maculado por sinal pelo seu passado com o regime militar” e que, por isso, o impeachment de Dilma foi instaurado.

Segundo o escritor, “o processo deveria sobretudo ter se detido no exame da tipificação do suposto crime de responsabilidade”. “Por que o mesmo tribunal não julgou até agora o presidente da Câmara dos Deputados?”, questionou Nassar.

O tradutor, escritor e jornalista Eric Nepomuceno, em entrevista à revista Calle2 publicada nesta terça, classificou a votação da Câmara como “um circo de horrores”. “Nós temos no Brasil a pior legislatura dos últimos 36 anos. Desde a volta da democracia não havia nada parecido”, afirmou. De acordo com ele, “a direita saiu do armário, havia um ódio reprimido e esse ódio foi desatado”.

Agora não precisamos mais das Forças Armadas para derrubar um governo legítimo e constitucional. Contamos com setores da Polícia Federal, setores do Poder Judiciário absolutamente parciais e facciosos e, como em 1964, você conta com a unanimidade da grande mídia hegemônica, principalmente a Rede Globo”, disse Nepomuceno.

Com a decisão da Câmara, cabe agora ao Senado formar uma comissão para analisar o pedido de impeachment, que depois deve seguir para o plenário, onde a aprovação por maioria simples afastaria Dilma do cargo por até 180 dias e alçaria Michel Temer à Presidência interina. Nesse caso, ocorrerá um julgamento no Senado sob o comando do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Ricardo Lewandowski, em que é necessária a maioria de dois terços dos senadores para que Dilma sofra o impeachment.

A estética dos corpos negros pela lente de um jovem fotógrafo



Nascido em Recanto, cidade satélite de Brasília, o jovem Luiz H. Ferreira de 20 anos é apaixonado por fotografia e desde cedo nutre o sonho de clicar a cultura e estética dos corpos negros. O estudante de comunicação visual é parte de uma geração de brasileiros e brasileiras que hoje podem enxergar o acesso à universidade uma realidade mais próxima, pois nos últimos 10 anos o número de negros no ensino superior aumentou 230% em comparação entre 2000 e 2010.

Desde criança me interesso por fotografia e arte, mas nunca soube bem o que eram, pois não tinha acesso. A primeira relação que tive com fotografia foi em família, quando todos se reuniam para ver os álbuns e assim ficavam mais próximos, relembrando memórias afetivas. Eu vi a importância de registrar. Era apaixonado por fundo desfocado e a história que cada papel fotográfico trazia,” comenta em entrevista ao Afreaka.

Desiludido e certo de que a fotografia era um meio elitizado e fora do alcance de um menino nascido na periferia, Luiz quase desistiu de estudar e viver de arte. Entretanto, encontrou em um curso a possibilidade de dar o pontapé inicial para realização do sonho.

"Acho que política e estética negra nunca se desvinculam,
porque isso serve de referência para outras pessoas
se afirmarem". Foto: Luiz H.Ferreira/Divulgação.
 “Como fotografia é uma área bem elitizada, eu já tinha perdido a esperança de estudar, por terem cursos e equipamentos bem caros, tudo bem fora do orçamento da minha família, eu pensava que arte era coisa de rico, nunca que um menino pobre, do Recanto, conseguiria estudar e viver de arte. Com 17 anos tive a oportunidade de fazer uma oficina de fotografia gratuita de 3 meses com a Tatiana Reis, esse foi o pontapé inicial. A partir dessa base fui estudando e me encontrando na fotografia, conheci o mundo fotográfico, ocupei espaços que nunca imaginei, fui em festivais de música, exposições e comecei a estudar mais sobre a arte fotográfica. Entendi a minha história e colaborei para o protagonismo da juventude negra,” ressalta.

O interesse em retratar a estética negra e das periferias surgiu quando Luiz se reconheceu enquanto negro e partir daí descobriu as histórias de resistência de seus ancestrais. O exemplo ressalta a necessidade de um currículo escolar que exponha a realidade da cultura afro-brasileira e o laço que a conecta com a ancestralidade africana. Mesmo com a criação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de África e da cultura negra do Brasil nas escolas, o afrodescendente e o continente africano ainda são tratados de forma estereotipada e sua trajetória se limita apenas ao período da escravidão, onde mesmo assim são analisados como figuras passivas.

No caminho contrário, Luiz expandiu seus objetivos profissionais e pessoais conhecendo outras versões de seu passado. Ao saber das histórias de negros e negras atuantes no campo da educação, política, literatura e artes, o jovem foi tomado por um orgulho de ser negro, combustível necessário para ensaios fotográficos repletos de homens e mulheres que em comum possuem o mesmo sentimento sobre sua cor e ancestralidade. “Eu me interessei por fotografia quando me afirmei enquanto negro e conheci a história de resistência dos meus ancestrais. Comecei a estudar mais sobre minha história e vi a ferida que a gente carrega desde a escravidão, sempre invisível e repleta de estereótipos negativos sobre nossa cor. Por isso, pra mim fotografar a cultura negra é continuar a nossa própria história. É para representar nossa geração. Com turbantes, tranças e resistência por meio da cultura periférica, que muitas vezes ficou invisível e vista como exótica, mostro os vínculos com África e a história de resistência. A fotografia é minha voz, nela posso criar personagens, mostrar lutas e histórias, posso representar e ser representado,” conclui.

Mas, Luiz não está sozinho, pois nos últimos anos assuntos relacionados com a cultura negra ganharam bastante visibilidade, penetrando em ambientes outrora inóspitos. Isso graças ao trabalho atuante de coletivos como o Manifesto Crespo, que alia educação e estética para falar sobre cabelo crespo e o Desabafo Social, espaço de discussão racial, de gênero, baseado nos direitos humanos, entre outros frutos do levante contra os padrões estabelecidos há séculos por aqui. Como era esperado, a visibilidade de assuntos e movimentos negros chamou a atenção dos veículos de comunicação e hoje em dia não é difícil acompanhar programas de TV ensinando amarrações de turbantes, expondo cantores e cantoras e jovens com seus cabelos black power. Mas onde fica a discussão sobre o racismo?

Muitos negros e negras enxergam o interesse dos grandes conglomerados de comunicação e da indústria, ambos em sua maioria dominados pela elite branca brasileira, apenas uma tentativa de gerar lucro e não de debater o cerne da questão: o racismo e a violência contra a população negra. Para Luiz, quando um adorno ou prática cultural dos afrodescendentes é embranquecido, suas chances de aceitação social aumentam. “Quando se trata de um negro usando os itens de sua própria cultura, ele é visto com um estereótipo negativo, como feio. Mas quando uma modelo não negra estampa a capa de uma revista de moda com os mesmos itens, é tendência. Eles não se preocupam com o contexto histórico, para eles o turbante, por exemplo, é parte da moda 2016 e logo vai passar. Pra nós é história, tem luta. Não passamos anos lutando para um estilista ditar moda se apropriando da nossa cultura,” enfatiza.

O fotógrafo brasiliense ressalta a importância de unir estética com política para que o negro possa decidir os rumos de sua história. “É preciso ter autonomia e um discurso sobre si. Acho que política e estética negra nunca se desvinculam, porque isso serve de referência para outras pessoas se afirmarem. Falamos de uma estética pouco aceita pela sociedade.”

Orgulhoso de sua negritude, Luiz H. Ferreira mostra que moda e consciência política e social podem sim andar juntas. Com seu olhar, o brasiliense questiona padrões de uma sociedade ainda dominada pelo racismo, ao mesmo tempo em que inspira a juventude negra do Brasil. Que exemplos como este sejam como dentes-de-leão e espalhem suas pétalas.

Vergonha alheia: ‘A primeira dama perfeita’ diz veja sobre Marcela Temer


Por Nathali Macedo, no DCM
A revista Veja perdeu mais uma oportunidade de ficar calada.

Numa tentativa óbvia – quase desconcertante, tamanha a vergonha alheia – de colocar Marcela Temer, esposa de Michel Temer, como a primeira-dama perfeita, a revista deu mais um show de machismo e atraso.

Vice-presidente do Brasil, Michel Temer e sua esposa Marcela Temer. (reprodução).
Na matéria, Marcela é colocada como “bela, recatada e do lar” – nada mais conveniente para a sociedade patriarcal. Afinal, uma mulher bela, recatada e do lar – tal qual a mulher idealizada da literatura romântica do século XIX – não pisa no calo do machismo.

Ela se contenta com o lugar de inferioridade que lhe foi imposto com uma consciência de subalternidade preocupante.

Como Marcela, ela se satisfaz em ser “o braço direito do seu homem” – porque os seus braços, o seu corpo e a sua mente estão, de fato, unicamente direcionados aos interesses do homem que “a assumiu”. Eis o papel que o patriarcado lhe conferiu.

O tom de admiração e satisfação diante de uma mulher subalterna empregado na matéria é repugnante. Marcela, a mulher linda, elegante, discreta e subserviente é o sonho de consumo da Veja e dos golpistas conservadores.

É a mulher que encontra conforto num casamento tradicional, que precisa de um homem que a proteja e dê significado à sua vida pública – e quando falo em vida pública, refiro-me a tudo aquilo que extrapola os limites do papel de “mulher do lar”.

A Veja quer mulheres que não sustentem, sozinhas, suas próprias vidas, suas próprias lutas, sua própria existência. Que estejam – e se contentem em estar – à sombra de seus homens. Que dependem deles para existirem socialmente e que mantenham a fragilidade que só eles podem alimentar: as princesas perfeitas a espera de um homem forte e corajoso que, finalmente, legitime a sua existência (talvez os editores da Veja estejam lendo muitas histórias da Disney).

Essa mulher – agora representada pela aspirante a primeira-dama do Brasil – é justamente a figura idealizada do Brasil do século XIX (ao ler a matéria, sinto-me em 1850): a mulher pudica, que sempre pede “luzes finíssimas”, que não se atreve a ascender intelectualmente (segundo a matéria, Marcela é bacharél em direito, mas trabalhou pouco e tem um currículo lattes sucinto), que se casa com o primeiro namorado e jamais expressa uma postura libertária.

Marcela Temer é a figura do retrocesso feminista e a Veja parece ter orgasmos com sua mera existência.

A matéria serve para que tenhamos uma noção clara – embora já o saibamos há algum tempo – do que, de fato, tanto incomoda a direita ao ver uma mulher como Dilma Roussef na presidência.

Ao contrário de Marcela, Dilma é tudo que o patriarcado não quer: não obedece aos padrões de beleza estabelecidos, não se curva diante da exigência de subserviência feminina que ainda persiste, não cultiva a delicadeza tradicionalmente feminina (afinal, não somos obrigadas!), luta com as próprias mãos, derrama o próprio suor, e o que é pior: é a mulher mais poderosa do país.

No bom e velho nordestinês: uma mulher de grelo duro.

A Veja, a direita e os golpistas (agora sendo redundante, já que se resumem à mesma coisa) não querem as mulheres poderosas.

Eles querem mais Marcelas e menos Dilmas. Mas continuarão só querendo.