Fundação Palmares lança nota de repúdio a ataque ao terreiro Ylê Axé Oyá Bagan


Hoje (27), por volta das 05h da manhã, o terreiro Ylê Axé Oyá Bagan, dirigido por Mãe Baiana, sofreu um ataque motivado pela intolerância religiosa. A Casa, que fica ao fundo de uma chácara no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá (Paranoá-DF), foi incendiada e as chamas destruíram toda sua estrutura, além dos objetos nela contida, como os igbás (representações dos Orixás).

O Ògan Luiz Alves, bastante emocionado, assim relatou: “Às cinco da manhã, Mãe Baiana acordou com o barracão em chamas. Não sobrou nada, nada. Perda total.”

Imediatamente, foram acionadas a procuradora federal, Lígia Maria da Silva Azevedo Nogueira, e a chefe de gabinete, Márcia Teresinha da Cruz Fernandes, ambas da Fundação Cultural Palmares (FCP), para acompanhar a perícia da polícia civil e prestar as primeiras assistências.

A procuradora Lígia Nogueira comunicou que após o registro junto à polícia civil, irá lavrar a ocorrência na Procuradoria e, em seguida, encaminhá-la para o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, para o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), para a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal e para comissões de direitos humanos do Congresso Nacional e da Câmara Legislativa.

Este é o quinto atentado a templos de religiões afro-brasileiras na região do Distrito Federal e Entorno (GO) num intervalo de três meses. Em setembro, foram registradas ocorrências no Ilê Axé Queiroz, em Santo Antônio do Descoberto; no Ilê de Babá Djair de Logun Edé, em Águas Lindas de Goiás; no Ilê Onibo Aráiko, no Novo Gama; e no Ilê de Pai Ricardo de Omolú, em Valparaíso de Goiás.

De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), entre 2011 e 2014, o Disque 100 – canal de denúncias de violações aos direitos humanos – registrou 462 queixas de casos de intolerância religiosa contra o povo de santo.

Nós, da Fundação Cultural Palmares, demonstramos profunda preocupação perante a recorrência dos casos de intolerância contra as religiões de matriz afro-brasileira e convocamos as autoridades e a sociedade a encarar o problema com a devida atenção e noção de sua gravidade, pois expressa a presença e expansão, em nosso país, do fundamentalismo religioso, que se manifesta, muitas das vezes, sob a forma de atos genuinamente terroristas, pois quando um espaço sagrado é apedrejado, saqueado ou incendiado, seus únicos objetivos são amedrontar, oprimir, discriminar, violentar.

Por meio desta nota, viemos ratificar nosso compromisso irrevogável com o enfrentamento à intolerância religiosa e exigir o respeito às religiões de matriz afro-brasileira. É preciso que se entenda, de uma vez por todas, que o preconceito, discriminação e violência contra os espaços e os adeptos dessas religiões é crime (Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997), e que esses tipos de episódios não são aceitáveis nem condizentes com uma democracia.

Por fim, vale ressaltar uma última coisa em relação à intolerância religiosa: não passará impune!

Mãe Baiana

Mãe Baiana, figura respeitada pelo movimento negro e grande representante da luta contra a intolerância religiosa, assumiu, recentemente, a Coordenação de Comunidades de Matriz Africana de Terreiros, na FCP.

Para ter-se a dimensão do prestígio e importância do Ylê Axé Oyá Bagan, fundado em 2010, no último dia 22, este terreiro sediou a abertura do Festival Internacional de Percussão São Batuque, recebendo apresentações de grupos de maracatu, tambor de crioula, capoeira, afoxé, dentre outros.

Maria Aparecida da Silva Abreu
Presidenta da Fundação Cultural Palmares
Ministério da Cultura

Iphan tomba terreiro Omo Ilê Agbôula como patrimônio cultural



O terreiro Omo Ilê Agbôula, de culto a Egungun, na Ilha de Itaparica (BA), recebeu nesta quarta-feira (25/11) o reconhecimento do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com a certificação, o terreiro passa a ser patrimônio cultural brasileiro, protegido pelo governo federal.


O Conselho que avalia os processos de tombamento é composto por 23 especialistas e aprovou por unanimidade o reconhecimento do terreiro Omo Ilê Agbôula, fundado em 1940 e o primeiro no país a cultuar os Egunguns (ancestrais masculinos).

Para a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, o reconhecimento é significativo para toda a sociedade.

É uma ação importante para superar a intolerância religiosa. O terreiro faz parte da cultura brasileira e é positivo para que todos conheçam a história daqueles que lutaram por liberdade”.

Nilma afirmou que o momento é propício para se pensar no povo do Axé, que luta para preservar a sua história. Ela destacou o simbolismo da ação.

Este processo diz respeito a três coisas: terra, identidade e resistência. O terreiro guarda a ancestralidade de um povo e contribui para a preservação da memória terrena”.

O conselheiro Luiz Philippe Peres Torelly, relator do processo, disse que o tombamento serve também como uma medida cautelar contra a especulação imobiliária na região.

Atualmente o acesso é difícil, mas após a construção de uma ponte que vai ligar o continente à Ilha, o acesso será facilitado. Com o tombamento, o terreiro já está protegido contra a especulação imobiliária da região, garantindo que ninguém irá destruí-lo”, concluiu.

Nilma lembrou da importância do trabalho em conjunto entre o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e o Iphan, e disse que o tombamento do terreiro faz parte de uma meta estabelecida no Plano Nacional para Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (2013-2015).

O Iphan publicou no dia 19 de novembro de 2015 uma portaria que atualiza o Grupo de Trabalho Interdepartamental para Preservação do Patrimônio Cultural de Terreiro (GTIT), responsável por conduzir os processos de reconhecimento e tombamento dos terreiros.

Negros ainda não ocupam o lugar que lhes é devido na sociedade, diz Nilma Lino Gomes



O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, é uma data para ser lembrada não apenas pela população negra, mas por todos que acreditam ser possível construir um país mais justo e democrático, o que passa, necessariamente, pela redução das desigualdades e pelo combate do preconceito racial e de todas as formas de discriminação.

A data foi pensada em 1971, em plena ditadura militar brasileira, por um grupo de militantes negros que costumava se reunir em Porto Alegre para discutir a situação dos descendentes de africanos no Brasil. Entre eles estava o escritor, professor e poeta Oliveira Silveira (1941-2009) que propôs o 20 de novembro por ser o provável dia da morte do líder Zumbi dos Palmares, ocorrido em 1695. A proposta foi acolhida por aqueles que lutavam contra a discriminação racial no país e posteriormente foi instituída pelo Movimento Negro Unificado, no final dos anos 1970.


Desde então, a data ganhou um número maior de adeptos, extrapolou os limites da militância negra e conquistou outros movimentos até chegar às escolas, passando a fazer parte do calendário escolar em 2003. Oito anos depois, em 2011, a presidente Dilma Rousseff, por meio da lei 12.519, estabeleceu o 20 de novembro como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que hoje é celebrado como feriado local em algumas cidades brasileiras.

A data cívica representa um registro na história da resistência negra à escravidão, à falta de liberdade e de cidadania, além de nos lembrar que, apesar dos avanços já conquistados, ainda estamos longe de superar o abismo da desigualdade racial no Brasil.

Ao longo dos últimos anos, avanços significativos vieram com a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, coordenada pela Seppir (Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial), por meio de ações afirmativas que visam reduzir as desigualdades associadas à raça e a etnia, como a Lei de Cotas nas universidades e nos concursos públicos, e, em 2010, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, um documento que norteia a garantia e defesa dos direitos individuais e coletivos da população negra, o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica, racial e religiosa.

Mas, ainda é preciso fazer muito mais para garantir maior participação e cidadania às cidadãs e cidadãos negros do nosso país que majoritariamente vivem abaixo da linha de pobreza, enfrentam dificuldades no acesso a bens e serviços e convivem cotidianamente com situações perversas decorrentes do preconceito e da discriminação racial.

Que este 20 de novembro, celebrado em plena Década Internacional dos Afrodescendentes, seja um momento de reflexão sobre o papel histórico da população negra na formação do país, revigorando e fortalecendo a luta do movimento pela garantia de direitos iguais para que a população negra ocupe o lugar que lhe é devido na sociedade brasileira, ou seja, qualquer lugar em que almeje estar.





Roda de Conversa, Palestras, Documentários, Danças, Peças e Poesias marcam II Mostra Afro-brasileira


A Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-Ce, promoveu durante todo o dia de sexta-feira, 20, em suas dependências, a II Mostra Cultural Afro-brasileira e a I Mostra Cultural Indígena, parte integrante de um conjunto de ações e temáticas trabalhadas durante todo o ano letivo, com destaque para as disciplinas de História, Filosofia, Geografia e Sociologia e que corroboram para a aplicabilidade de forma constante das Leis 10.639/03 e 11.645/08.

Alunos, professores, núcleo gestor e demais membros da comunidade escolar por ocasião da II Mostra Cultural Afro-brasileira e I Mostra Cultural Indígenas na EEEP Wellington Belém de Figueiredo. 
Segundo Nicolau Neto, professor de História e um dos coordenadores do ato, o evento corrobora para a efetivação das Lei nº 10. 639/2003 e nº 11.645/2008 no ambiente escolar, tendo, portanto, a finalidade de quebrar paradigmas e os estereótipos quanto a inserção desses grupos sociais nos livros didáticos, quando são discutidos e, ou lembrados somente nos período colonial, regencial e imperial brasileiro, época em que o pais esteve sob o julgo português. Intenciona-se ainda trabalhar temáticas referentes aos grupos supracitados pelo viés dos que foram oprimidos, além de promover debates junto ao corpo discente e docente sobre as dificuldades em se trabalhar o que já é de cunho obrigatório diante de um processo ensino-aprendizagem que insiste em trilhar pelo caminho europeizante.

Professora Valéria Rodrigues em palestra sobre a importância
da interdisciplinaridade da aplicação da leis 10.639/03 e
11.645/08 no espaço escolar.
“Por isso”, disse ele, “buscamos trazer contribuições não só do nosso quadro de docentes, como a professora de Biologia Valéria Rodrigues que em uma roda de conversa com os alunos e demais membros da comunidade escolar trabalhou de forma didática como as demais disciplinas podem trabalhar temáticas pertinentes às leis supracitadas sem deixar de lado conteúdos que fazem parte de sua essência, mas também outros profissionais do ensino para trocar experiências e contribuir na valorização da cultura africana e indígena há muito relegadas”.

Valéria Rodrigues discorreu acerca da Importância da Interdisciplinaridade na Aplicabilidade dos Conteúdos Referentes a História Africana, Afro-brasileira e Indígena e fez menção ainda ao falso cumprimento das leis, quando os temas são trabalhados apenas esporadicamente e, ou, em momentos específicos – o 19 de abril e o 20 de novembro. 

Professora Maria Firmino fala sobre Intolerância
Religiosa. 
A professora Maria Firmino, do município de Juazeiro do Norte, discutiu sobre “A Intolerância Religiosa contra as Religiões de Matrizes Africanas”, temática recorrente mas que pouco se discute nos espaços escolares e até mesmo nas universidades. Firmino fez um histórico das perseguições sofridas pela Umbanda, Candomblé e suas variantes, inicialmente pelo catolicismo até chegar a atualidade onde não somente este mas também as praticadas pelas linhagens protestantes. Ela fez referência a IV Caminhada Contra a Intolerância Religiosa realizada em Juazeiro do Norte em 2013 sob a coordenação dos povos de terreiros. Para ela “não se pode falar em tolerância religiosa, uma vez que esse termo nos leva para significados como ‘aturar’ e ‘suportar’. Devemos falar em respeito. Respeitar as crenças e as nãos crenças alheias. O meu direito é o seu dever. Cumpra-se", complementou.

Professora Maria Firmino em roda de conversa
com alunos depois da palestra.
A fala de Maria Firmino não acabou no auditório da escola, mas ecoava nos corredores quando diversos alunos a cercavam cheio de indagações e curiosidades. Em comentários nas fotos do evento na rede social facebook ela frisou “momentos ímpares pra todos nós educadores e educandos ... inesquecíveis .. que esse seja o primeiro de muitos. Ainda há muito o que pensar, falar, questionamentos a suscitar ....a semente já está lançada em fértil solo”. E teceu agradecimentos: “parabéns Nicolau Neto, obrigada pelo convite ... e aos grandes educadores que tive o prazer de conhecer na escola profissional de Nova Olinda ... aos alunos, pelos quais me apaixonei, desejo-lhes que continuem protagonizando a história”.

Professora Dayze Vidal, do Pretas Simoa aborda temática
da Identidade Negra.
À tarde, Dayze Vidal, educadora do Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa em uma conversa descontraída trabalhou a temática “Identidade Negra” como uma das principais formas do empoderamento de negros e negras. O cabelo foi um dos principais pontos de discussão enveredando pelo sentimento de pertencimento. “Eu preciso me reconhecer e gostar do meu cabelo”, disse. Porém, sabe-se que essa não é uma tarefa fácil, pois a mídia e a sociedade como um todo coloca um padrão de beleza em que o corpo bonito é o branco; o cabelo bom é o liso. Mas felizmente já há um conglomerado de meninas negras, meninos negros que rompem com esses estereótipos e não mais alisam seus cabelos e reconhecem a beleza escultural dos seus corpos e a escola precisa suscitar isso nos alunos, complementou.

Professor e blogueiro Nicolau Neto (Centro) ao lado do aluno Rodrigo Mourão e das professoras Yane Moura, Maria Firmino
Fabiana Bera Cruz e Valéria Rodrigues. Foto: Matheus.
Um Balanço Histórico das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 e os Movimentos Sociais foi tocado pelo professor Nicolau Neto. Aqui foram mencionados pontos como a contradição que existe a partir do quantitativo populacional. O Brasil, segundo dados do IBGE é o país mais negro fora da África, mas é pífia a participação de negros e negras nos espaços de poder, fruto de um racismo velado e estrutural. Para tanto, discorreu tendo como base as indagações “em 12 anos da Lei 10.639 e 07 anos da Lei 11.645 o que mudou? O que permaneceu? Quais as principais dificuldades para a aplicação delas na educação?” Para ele, “o fato das leis não ter ‘pegado’ é reflexo da própria sociedade brasileira, que é, antes de tudo, europeia e racista”.

Dentre uma seleta lista de personalidade negras que foram trabalhadas e expostas aos visitantes pelos alunos, foram homenageados Luisa Mahin e Oliveira Silveira. Suas biografias foram mencionadas também por Nicolau. 

Alunos em encenação do poema "Gritaram-me Negra".
Houve espaço ainda para apresentações artísticas e culturais, além de documentários protagonizados pelo corpo discente em exaustivas pesquisas e entrevistas com alunos, professores e demais pessoas de outros dois municípios – Altaneira e Santana do Cariri. Os alunos do curso Técnico em Finanças, do primeiro ano, encenaram uma peça intitulada “Racismo Reverso”. A intenção deles não era demonstrar que o negro pratica racismo contra os brancos, pois isso não existe, mas permitir que os opressores e racistas sintam na pele o que os oprimidos sofrem cotidianamente, caminhando para o despertar nos alunos do sentimento de ALTERIDADE.

Poesias foram entoadas, com destaque para o “Guerreiro”, de Luiz de Jesus, recitada pela aluna Sheilyany Alves, do Curso Técnico em Edificações (2º Ano) e o discurso de Marthin Luther Kink proferido por Matheus Santos do mesmo curso.

As apresentações foram cercadas de muitas danças acompanhadas de músicas. O poema “Gritaram-me Negra” foi encenado pelos alunos de vários cursos. 


A mostra deu ênfase ainda a capoeira. O mestre Cesar Rodrigues, do grupo CultArt, promoveu junto com seus alunos/instrutores um roda de capoeira com o corpo discente e docente da escola. 

O evento foi organizado e coordenado pelos professores da área de Ciências Humanas - Edisângela Araújo (Geografia), Nicolau Neto (História) e Yane Moura (Sociologia/Filosofia) e contou com o apoio dos demais professores, núcleo gestor e de funcionários da escola.






Alunos trabalham sentimento de ALTERIDADE durante II Mostra Cultural Afro-brasileira com “Racismo Reverso”


Os alunos do Curso Técnico em Finanças, do primeiro ano B da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda – Ceará, desenvolveram durante a II Mostra Cultural Afro-brasileira uma peça intitulada “Racismo Reverso”.

Alunos do Curso Técnico em Finanças (1º Ano B) desenvolvem o sentimento de Alteridade em Peça intitulada
"Racismo Reverso" durante a II Mostra Cultural Afro-brasileira na EEEP Wellington Belém de Figueiredo.

Há que se notar, porém, que o racismo ao contrário, aquele do negro para com o branco inexiste. Segundo os alunos a intenção da peça era, no entanto, trabalhar o sentimento de alteridade, tão raro nos dias hoje. Aquela capacidade que todos deveriam ter em se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, reconhecendo-o como sujeito de direitos.

Larissa Miranda (a esquerda) e Débora Gregório 
(a direita) ambas do 1º Ano B.
A peça bem dinâmica envolveu a todos com situações de preconceitos, discriminação e racismo vivenciados pelo negro todos os dias nas ruas, em festas, nas escolas e nos demais espaços de poder  mas interpretado por alunos e alunas de pele branca. O objetivo, disseram os alunos “não era demonstrar que o negro pratica racismo contra os brancos, pois isso não existe, mas permitir que os opressores e racistas sintam na pele o que os oprimidos sofrem cotidianamente, caminhando para o despertar na comunidade escolar do sentimento de ALTERIDADE”.

O racismo reverso se configura como uma ideologia da classe dominante, da elite que tenta a todo custo mascarar e inverter a lógica perversa que pendura desde que o Brasil foi invadido no século XVI. Afinal, como um grupo que lota as penitenciárias podem oprimir os brancos? Como um grupo que sempre ocupa papel de coadjuvante na mídia pode praticar racismo? Como um grupo que precisa de políticas públicas para adentrar em universidades particulares pode cometer preconceito? Como os negros, mesmo sendo a maioria da população neste país e que tem uma representatividade pífia nos demais espaços de poder pode ser  racista? Como se eles não dominam os meios de comunicação? Como? Como? Como?


Poesia “Guerreiro” de Luiz de Jesus, por Sheilyany Alves na II Mostra Cultural Afro-brasileira


Sheilyany Alves - Aluna do Cursos Técnico
em Edificações (2º Ano).
A aluna Sheilyany Alves o Curso Técnico em Edificações, segundo ano do ensino médio integrado a educação profissional, da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-Ce, leu de forma interpretativa durante a II Mostra Cultural Afro-brasileira realizada nesta sexta-feira, 20, a poesia de Luiz de Jesus.

Entendida como uma das mais belas e emocionantes formas de expressar sentimentos, a poesia faz parte também de atitudes de indignação e revolta, assim como de luta, de resistência. Foi como esse tom que Sheilyany Alves leu a poesia “Guerreiro”, do autor supracitado buscando demonstrar que temas como o preconceito, a discriminação e o racismo é uma tarefa que deve ser combatida todos os dias.

Confira abaixo

Luta negro, negro luta!
Negro não se abate
O preconceito te insulta
Incitando-te ao combate
Nesta luta não há trégua
Cada dia é um novo desafio
Sê forte e não se entrega
Não deixe que roubem o teu brio

Não permitas guerreiro
Que te lancem em neocativeiro
Hoje livre das correntes
Tentam aprisionar tua mente.

Trechos do Discurso de Martin Luther King, Por Matheus Santos na II Mostra Cultural Afro-brasileira


O Aluno Matheus Santos, do Curso Técnico em Edificações, segundo ano do ensino médio integrado a educação profissional, da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-Ce, leu de forma interpretativa durante a II Mostra Cultural Afro-brasileira realizada nesta sexta-feira, 20, trechos do discurso de um dos maiores ativistas pela igualdade racial Marthin Luther King, proferido há 52 anos nos Estados Unidos.

O discurso mesmo completado meio século ainda é uma utopia e mexe com o imaginário daqueles que como Luther King lutam todos os dias para uma educação voltada para as relações étnico-raciais.  

Matheus Santos - Curso Técnico em
Edificações (2º Ano) e presidente do
Grêmio Estudantil.
Matheus que também é presidente do Grêmio Estudantil, fez uma leitura dinâmica de parte do discurso “Eu Tenho um Sonho”, selecionado por este blogueiro, professor e um dos coordenadores da Mostra.

Confira abaixo

...Há cem anos, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um grande raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para pôr fim à longa noite de cativeiro.

...Mas, cem anos mais tarde, devemos encarar a trágica realidade de que o negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro está ainda infelizmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação.

...Porém recusamo-nos a acreditar que o banco da justiça abriu falência. Recusamo-nos a acreditar que não haja dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidade desse país. Então viemos para descontar esse cheque, um cheque que nos dará à vista as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.

... Não haverá nem descanso nem tranquilidade na América até o negro adquirir seus direitos como cidadão. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir os alicerces do nosso país até que o resplandecente dia da justiça desponte.

... Esta nova militância maravilhosa que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos irmãos brancos, como se vê pela presença deles aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino.

... Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: “Quando é que ficarão satisfeitos?” Não estaremos satisfeitos enquanto o negro for vítima dos indescritíveis horrores da brutalidade policial. Jamais poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados com as fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso aos hotéis de beira de estrada e das cidades.

... Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade básica do negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Não podemos estar satisfeitos enquanto nossas crianças forem destituídas de sua individualidade e privadas de sua dignidade por placas onde se lê “somente para brancos”.

... Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: “Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.”

... Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.

... Com essa fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que um dia haveremos de ser livres. Esse será o dia, esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado:

... Meu país é teu, doce terra da liberdade, de ti eu canto.

... E quando isso acontecer, quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada lugar, de cada estado e cada cidade, seremos capazes de fazer chegar mais rápido o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção espiritual negra:

Finalmente livres! Finalmente livres!...