‘É como se o homem tivesse decidido parar de evoluir', diz menino Gustavo sobre preconceito



Depois de aparecer na TVT, no ano passado, dando um depoimento que foi considerado uma aula contra o preconceito, a vida do menino Gustavo Gomes mudou. O garoto participou de vários programas de TV, foi colunista da Folha de S. Paulo por um mês e acaba de lançar o seu primeiro livro, a coletânea de poemas Meu Universo. Gustavo foi reconhecido como uma criança que faz a diferença, e recebeu o prêmio Cidadão São Paulo, na categoria infantil, promovido pelo portal Catraca Livre. O que não mudou é a capacidade de se indignar: "O racismo tem que ser combatido sempre", afirma Gustavo, em entrevista ontem (3) ao Seu Jornal.

"Ainda não conseguem entender que as pessoas são iguais
por dentro. Não tem porque discriminar".
"Eu era um garoto baixinho, negro, com o cabelo duro. Era muito zoado", conta Gustavo, que sofria com piadas e apelidos mas, hoje, diz não mais se abalar. O garoto, que quer escrever mais livros e que sonha em ser psicólogo, vai direto ao ponto e diz que o racismo é uma atitude "estúpida".

"É como se (o homem) tivesse decidido parar de evoluir. Porque (a humanidade) foi descobrindo várias coisas, diversas tecnologias, descobriu como é que se faz o avião, como se faz uma televisão, como se faz praticamente tudo, como se cura doenças, e ainda não consegue entender que as pessoas são iguais por dentro. Então, não tem por que discriminar", ensina o menino – mais uma vez –, falando à repórter Caroline Campos.

A mãe, Cícera, surpreendida pela fama repentina do garoto, aconselha: "Eu falo para ele colocar os dois pés no chão, subir degrau por degrau e nunca atropelar os outros". As conversas com a mãe fizeram com que o menino aprendesse a reconhecer e a lidar com o racismo desde cedo.

Gustavo conta ainda que passa a maior parte do tempo lendo. "É uma coisa maravilhosa", afirma, ao dizer que com a leitura consegue se transportar para "outros mundos".

          

Quando a Rede Globo irá reparar o país pelo seu apoio à ditadura militar?



Um dos dirigentes da montadora alemã Volkswagen se reuniu recentemente com o Ministério Público Federal em São Paulo para negociar uma reparação judicial ao país e ao povo brasileiro pelo fato da empresa ter participado ativamente no golpe de Estado que culminou em mais de 20 anos de ditadura militar no Brasil e as milhares de torturas e mortes de perseguidos políticos que decorreram desse ato.

As acusações são frutos do relatório da CNV – Comissão Nacional da Verdade, tendo como base os inúmeros depoimentos e documentos reunidos através das Centrais Sindicais, Associações, pesquisadores e por próprios ex-funcionários da matriz brasileira que foram vítimas das atrocidades cometidas pelo regime militar. Segundo informações, existem fortes indícios de que a fábrica da Volkswagen foi utilizada para a prática de interrogatórios e torturas pelos militares.


A voz da Ditadura.
Trata-se da primeira empresa que teve estreitos vínculos com o regime ditatorial a assumir a sua participação e buscar de forma concreta, se não quitar sua dívida histórica, pelo menos tentar contribuir para que algo dessa natureza jamais volte a acontecer no país. Uma das propostas que estão em análise seria construir um memorial em conjunto com outras instituições para que aquele período não seja esquecido pelas gerações futuras. Outra proposta seria uma cobrança financeira a ser depositado no Fundo de Interesses Difusos.

É um passo extremamente importante para a responsabilização das corporações que de uma forma ou de outra contribuíram para a época mais obscura dessa nação. Com essa atitude a Volkswagen, que já se encontra às voltas com mais um escândalo internacional, tenta demonstrar um mínimo de dignidade para com os cidadãos brasileiros e para com a democracia, que entre tantos percalços, ainda estamos tentando fortalecer e consolidar não só no Brasil, mas como em toda a América Latina.

O problema é que ainda é pouco, muito pouco. Várias foram as empresas nacionais e multinacionais dos mais variados ramos de atividade que apoiaram o regime ditatorial brasileiro e que em troca de seu apoio, conseguiram fazer fortuna às custas de vidas de milhares de inocentes, da dor de seus familiares e da suspensão dos direitos civis de toda uma nação. É imprescindível que cada uma delas também seja responsabilizada e pague, da melhor forma possível, pelo terrível mal que fizeram motivados pela mais pura ganância.

A Rede Globo de Comunicações é um caso à parte em toda essa história e uma das mais notórias empresas da velha mídia nacional a alavancar os seus negócios e a tirar bastante proveito da interrupção na democracia brasileira. É bem verdade que não foi a única do ramo jornalístico. Os barões da mídia familiar nacional, sem exceção, se viram diante de uma grande oportunidade de negócio para os seus empreendimentos. Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, todos tiraram a sua parcela no acordo preestabelecido.

Mas nada foi tão escandaloso quanto a nossa velha conhecida Rede Globo. O absurdo de sua atuação na ditadura militar foi tão gritante que a própria empresa resolveu fazer, em 2013, uma meia culpa, muito aquém do necessário, pelo seu apoio aos generais. No documento intitulado “Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”, as organizações Globo afirmaram, entre outras coisas que, “à luz da história, o apoio se constituiu um equívoco”.

Não. Definitivamente não estamos tratando de um simples “equívoco”. Nem mesmo de um “erro” despropositado. Se tinha uma coisa que Roberto Marinho, o então presidente das Organizações Globo, não era, é ser uma pessoa “equivocada”. Mal-intencionada com certeza, mas nunca equivocada. Até hoje a poderosa Rede Globo e todo o seu império construído em muita parte sobre o sangue de brasileiros tombados na ditadura militar, mede meticulasamente os seus passos para conseguirem tudo o que lhes convém. Os custos que os seus interesses podem ter para o Brasil não é e nunca foi exatamente a sua principal preocupação. Não foi na Ditadura e não é agora.

É incrível que uma empresa com tamanho histórico de desserviços ao país, inclusive com práticas criminosas de sonegação fiscal, jamais tenha sido cobrada pela sua postura anti-ética e anti-democrática. Pelo contrário, continua livremente fazendo uso das mais escancaradas formas de manipular a opinião pública para que a democracia brasileira mais uma vez esteja subjugada aos seus interesses econômicos e financeiros, tal qual fizeram ao estampar nas páginas de O Globo, em 02 de Abril de 1964, um dia após a instalação do golpe, o seu nefasto editorial onde proclamava cinicamente o “ressurgimento da democracia”. Segue um trecho:

Vive a nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opiniões sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.”.

Sabemos os “dias gloriosos” que se seguiram a partir daí. O mais incrível é que novamente a Rede Globo tenta desestabilizar um governo democraticamente eleito para que seus interesses particulares sejam mais uma vez atendidos. Sob o mesmo discurso de “Governo irresponsável”, os Marinhos, eles sim, tentam arrastar o país para o que consideram sua “vocação e tradições”, ou seja, a subserviência ao capital internacional, a desigualdade social em níveis alarmantes e a concentração de toda a renda nacional nas mãos de uns poucos privilegiados.

Já está mais do que na hora das Organizações Globo pagarem pelos crimes de lesa-pátria que cometeram e continuam a cometer no Brasil. É simplesmente inadmissível que uma empresa que se ancora numa concessão pública, atente contra os interesses nacionais, contra a soberania de uma nação e contra a vontade declarada e irrestrita da maioria dos brasileiros sem sequer ser incomodada. Já está mais do que na hora do Governo brasileiro e principalmente os cidadãos brasileiros dizerem em alto e bom som às Organizações Globo, que não iremos mais admitir as suas interferências no processo democrático e no futuro da nação.

E a primeira coisa a fazer é cobrar-lhes um alto preço pelo seu apoio à ditadura militar.

Sobre Negros e Pardos: O passado que insiste em bater a nossa porta e de cara LISA


Qual a forma mais correta (se é que há) de se classificar à população pela cor ou raça? Por que muitos, em pleno século XXI possuem ainda grandes dificuldades de se identificarem como preto (prefiro me expressar e me identificar enquanto NEGRO)?

Segundo o padrão de classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) há cinco grupos, a saber – indígenas, Preto (Negro), pardos, brancos e amarelos. Discutir, debater, analisar e refletir sobre as relações étnicos-raciais no Brasil não é simplesmente algo esporádico, mas uma necessidade constante visto que a cor da pele ainda se configura (infelizmente), com raríssimas exceções, como aquela que definirá o seu lugar de ocupação nos espaços de poder. Se for branco ou amarelo as condições de acesso são as mais variadas possíveis. Do contrário.....


Mas, voltando a indagação inicial - Por que muitos, em pleno século XXI possuem ainda grandes dificuldades de se identificarem como preto (prefiro me expressar e me identificar enquanto NEGRO)? As respostas que tenho obtido não me surpreende, pois elas retratam fielmente o processo de humilhação e o holocausto pelo qual a população NEGRA passou e ainda passa. Um passado que insiste em bater em nossa porta e de cara LISA, diga-se de passagem – reporto-me a frase outrora dita pelo jornalista Alexandre Garcia, que não nos deixa mentir. “O país não era racista até criarem as cotas”, afirmou ele. Claro que ele deve ter faltado as aulas de História, Filosofia e Sociologia, o que me permite afirmar também que ele não teve e não tem nenhuma base de Direitos Humanos.

Logo, muitos me dizem – Quem quer ser Negro e Negra em um pais onde ele e ela são taxadas como pessoas sem espaços? Onde o papel que exerciam antes de escravos e hoje não são reconhecidos como construtores dessa nação? Quem quer ser negro e negra em um pais onde não se ver na TV, no rádio, nos mais variados espaços de poder essas pessoas exercendo papel de protagonista? Quem quer ser negro e negra em ambiente onde se vai comprar brinquedos para sua filha, seu filho e não encontra bonecos negros, bonecas negras?

Mas há uma luz negra no fim do túnel. Ainda há um fio de esperança quando vemos jovens rompendo com essa visão europeizante e questionando um estereótipo que com certeza nos foi outorgado, mas que não nos serve, não nos simboliza, não nos representa. Jovens que insistem em se autoafirmar e se autorreconhecer como negro, como negra, pois ao contrário dos muitos que afirmei na indagação inicial, buscaram conhecer a história contada pelo viés daqueles que foram oprimidos e ousaram lutar para sair dessa condição. São pessoas que se inspiraram na trajetória de Luisa Mahin, Tereza de Benguela, Dandara, Antonieta de Barros, Carolina de Jesus, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento, Oliveira Silveira, Nelson Mandela, Martin Luther King, Zumbi, dentre outros.

Temas como Preconceito, Discriminação, Racismo e a pouca representatividade do negro e do indígena nos espaços de poder ainda persistem porque não há o engajamento da RAÇA HUMANA em promover o debate. O grilhão parece que deixou de existir como objeto material físico de tortura, mas permanece como objeto mental do branco porque insiste em pensar e agir como superior e em muitos casos o negro quando insiste em permanecer calado.

Não se elimina os temas acima elencados com a falácia constitucional “de que todos somos iguais perante a lei” e muito menos com o falso discurso de que somos uma democracia racial. Isso é balela. Essa luta tem que ser DIÁRIA. 

Para entender o dia de finados no calendário católico: Os rituais fúnebres na Grécia Antiga




As honras aos mortos na Antiguidade foram forte influência para a instituição do Dia dos Fiéis Defuntos no calendário católico. Este dia tem como objetivo relembrar os fiéis falecidos, com uma série de homenagens e ritos religiosos. Na Grécia Antiga, a morte também era alvo de rituais fúnebres, trazendo o pesar da perda e a memória do falecido.

1. Era obrigação dos filhos providenciar os funerais dos pais, seguindo toda a tradição. O morto era preparado com muito cuidado, sendo lavado e untado com óleo perfumado e envolto em vestes brancas para ser exposto em um leito solene. Ao seu redor, vasos com perfume. Na boca do morto, era comum colocar uma moeda, que serviria de pagamento ao barqueiro do Mundo Inferior, Caronte.

2. O velório (exposição do morto, em grego, "próthesis") costumava durar um ou dois dias, nos quais mulheres e homens lamentavam pela perda do falecido. Era comum as mulheres arrancarem seus cabelos em mostra de pesar. Havia uma prescrição legal para o cortejo: ele deveria ser realizado antes do nascer do sol. Os sepulcros ficavam fora da cidade, alinhados à estrada.

3. A cremação foi mais comum durante a época homérica. Na época clássica, era vista como exceção, sendo aplicada aos soldados mortos em batalha. O enterro era realizado colocando o defunto diretamente na cova ou dentro de um sarcófago. Juntamente com o morto eram enterrados objetos que lhe serviram quando vivo, como por exemplo, armas, estatuetas, ânforas, entre outros.


4. Ao fim da cerimônia, era necessário purificar a casa onde se deu o óbito. Como homenagem, eram realizados banquetes e sacrifícios que se repetiam no terceiro e no trigésimo dia após o enterro.

Na imagem abaixo, a cena de uma próthesis (velório). Esta placa funerária (c. 520-510 a.C.) feita em terracota era usualmente encontrada nas paredes das tumbas. As almofadas embaixo da cabeça do morto evitavam que o mesmo ficasse com a boca aberta durante a exposição. Na parte debaixo da placa, uma corrida de bigas, tema recorrente na arte funerária da Ática. A corrida evoca os jogos funerários em honra dos heróis lendários, tal como descrito no livro 23 da "Ilíada", quando Aquiles homenageia Pátroclo, seu amigo morto em batalha. Atualmente esta placa se encontra no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.


Mais de um século depois, OAB reconhece jornalista NEGRO Luiz Gama como advogado


Cento e trinta e três anos após sua morte, Luiz Gama, ex-escravo, jornalista, poeta, ativista político e líder abolicionista, que com sua oratória brilhante e inflamada, ajudou a libertar mais de 500 negros nos Tribunais, será finalmente reconhecido oficialmente como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A cerimônia vai acontecer na próxima terça-feira (03/11) na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho “no atual modelo de advocacia é a primeira vez que isso ocorre”.

Gama nasceu em 1.830 e morreu em 1.882 e, além da sua história (filho de um português com uma escrava liberta foi vendido pelo pai quando tinha apenas 10 anos), foi um ativista de enorme prestígio não apenas entre os negros, mas também entre setores liberais da sociedade da época. Ele estudou Direito por conta própria e passou a exercer a função de advogado (rábula) após conseguir a alforria aos 17 anos.

É dele uma frase que o colocaria hoje como um militante radical:

O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”.

Embora não fosse advogado, Gama era um grande defensor da abolição e sua atuação como rábula livrou inúmeras pessoas dos grilhões escravistas”, acrescenta o presidente da OAB.

Tataraneto

Na cerimônia, Luiz Gama será representado por um tataraneto, o empresário Benemar França, 68 anos, um de seus 20 e tantos descendentes vivos, o engenheiro e empresário Benemar França, 68. “Tomei contato com a biografia desse meu antepassado quando estava no 2º ano ginasial e um professor de história pediu que pesquisássemos, cada um, sobre as nossas famílias, a nossa genealogia”, conta o empresário. “O que descobri encheu-me de orgulho”, acrescenta.

Além da condecoração póstuma, o evento Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista prevê dois dias de palestras e debates no Mackenzie.

Morte e enterro

O enterro do líder abolicionista no Cemitério da Consolação foi um dos maiores já registrados em S. Paulo à época com 40 mil habitantes: 10% da população paulistana compareceu. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, não houve transporte oficial para o cortejo fúnebre. Do Brás, onde morava, o caixão foi passando de mão em mão até chegar à sepultura.