ABA iniciará Campanha de Logomarca da Rádio Comunitária Altaneira FM


Stúdio da Rádio Comunitária Altaneira FM.
Foto: João Alves.
A Associação Beneficente de Altaneira – ABA, entidade mantenedora da Rádio Comunitária Altaneira FM iniciará na próxima segunda-feira, 29 de setembro, campanha junto às instituições de ensino desta municipalidade com o propósito de escolher a logomarca que represente o único veículo de comunicação que atende a todos os altaneirenses.

Segundo Cláudio Gonçalves, Secretário de Atividades Sociais da ABA, em uma reunião nesta quinta-feira, 25, ficou acordado que a campanha será desenvolvida junto aos alunos dos ensinos fundamental e médio. Uma comissão foi formada para acompanhar todo o processo. Acordou-se ainda que haverá uma premiação (ainda a ser definido) para aquele/aquela que se sair vencedor.

A Comissão ficou composta por Alexandre Silva, Claudio Gonçalves, Cristiano Lima e Elenice Pereira.

Está programado ainda para este ano a II seleção de novos comunicadores, bem como uma formação com os que já são do quadro.



Abordagens sobre políticas patrimoniais no Enem


Neste texto apresentamos algumas dicas sobre políticas patrimoniais, assunto que pode ser tema de abordagens das provas do Enem. Trazemos, também, a análise de uma questão do Enem de 2012 especificamente sobre esse conteúdo.

As igrejas barrocas do interior de Minas Gerais são
consideradas Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O tema das políticas patrimoniais é, por definição, interdisciplinar, já que interessa, de um lado, às disciplinas de humanidades, como a Museologia, História, Geografia, Sociologia e Filosofia – haja vista que um patrimônio histórico consiste naquele que foi produzido pela humanidade no passado –, e, de outro lado, às disciplinas da área de Ciências da Natureza, como a Biologia, Química e a Física, pois as técnicas de preservação e conservação dos bens patrimoniais implicam a participação dessas áreas do conhecimento.

Grosso modo, entende-se por política patrimonial o tipo de legislação que se refere à preservação de bens considerados importantes para a história de uma nação, de uma civilização ou da humanidade como um todo. Esses bens podem ser construções arquiteturais, como igrejas, palácios, templos e muralhas, como a Muralha da China ou o Muro de Berlim, ou, mesmo, cidades inteiras (como Brasília – DF e Ouro Preto – MG). Podem ser também obras de arte (pinturas, esculturas etc.) e projetos paisagísticos, como jardins, parques, entre outros.

As políticas patrimoniais têm o intuito de gerir os “lugares de memória” (segundo denominação do historiador francês Pierre Nora), isto é, aqueles lugares – como os mencionados no parágrafo anterior – que “testemunham” a ação humana passada, que guardam em suas estruturas os rastros da atmosfera do passado histórico. O patrimônio, segundo opinião do historiador François Hartog, em seu ensaio “Tempo e Patrimônio”, “se apresenta então como um convite à anamnese (rememoração) coletiva. Ao 'dever' da memória [...] se teria acrescentado alguma coisa como a 'ardente obrigação' do patrimônio, com suas exigências de conservação, de reabilitação e de comemoração.”

Sendo assim, o patrimônio é importante na medida em que articula nossas lembranças com a experiência histórica passada. É uma forma muito especial de documento histórico, exatamente em razão de seu caráter coletivo e agregador que se interpõe na vida de diferentes pessoas através de gerações. Instituições internacionais, como a UNESCO (Organização das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura), fomentam desde a segunda metade do século XX legislações que visam à proteção e preservação de patrimônios do mundo todo, atentando sempre para o valor monumental que eles apresentam.

No caso específico de nações, como o Brasil, há desde muito tempo o cuidado com a guarda de patrimônio. Na época do Estado Novo, em 1937, Getúlio Vargas autorizou a criação de um serviço para o patrimônio histórico e artístico nacional, o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), cuja denominação atual é IPHAN, mudando-se o termo “Serviço” para “Instituto”. A questão do Enem que trouxemos para análise aborda exatamente a criação desse órgão. Leia, a seguir, o texto da questão 13 do Enem de 2012 (caderno Azul):

O Enem 2012 abordou as políticas patrimoniais a partir de um
texto de um dos idealizadores do SPHAN, Rodrigo Andrade.
Esse texto foi escrito pelo historiador e jornalista Rodrigo Mello Franco de Andrade, um dos idealizadores do SPHAN, que depois se tornaria IPHAN. Inclusive o dia do patrimônio histórico, no Brasil, é comemorado no dia do nascimento de Rodrigo, em 17 de agosto. Veja agora como a questão se estruturou a partir do texto apresentado. A resposta correta está marcada na cor verde.

Alternativas relacionadas ao texto de  Rodrigo Andrade.
A questão exige que o candidato assinale a alternativa que corresponda ao tipo de ideias motivadoras da criação do SPHAN. Pois bem, percebe-se, no texto de Rodrigo Andrade, uma defesa da preservação do patrimônio artístico e histórico brasileiro com o objetivo de “livrá-lo do perecimento” para assim não prejudicar indescritivelmente a memória e a história do Brasil.

Das cinco alternativas apresentadas, apenas as duas últimas, D e E, mencionaram diretamente aquilo que Rodrigo deixou explícito no seu texto: a preocupação com o perecimento e a destruição do patrimônio histórico e artístico nacional. Entretanto, apenas a letra D, que está correta, mencionou o fator das políticas públicas como forma de proteger e resguardar esses bens culturais.

Fiquem atentos, portanto, a criação do SPHAN (IPHAN) no contexto da Era Vargas, bem como à importância que órgãos internacionais, como a mencionada UNESCO, dão às políticas patrimoniais. Além disso, leiam com atenção as questões do Enem. Uma boa interpretação é decisiva para um bom desempenho.


Via Vestibular.brasilescola

Conheça o Grupo de Estudo em Filosofia Social da Fundação ARCA


A fundação Educativa e Cultural ARCA, entidade sem fins lucrativos e que há mais de uma década vem desempenhando importantes trabalho no município de Altaneira, na região do cariri, está retomando mais um relevante projeto que de forma direta e indireta contribui na formação de opinião dos jovens desta municipalidade, gerando consciência crítica com vista a um posicionamento consciente frente à realidade nacional, estadual e municipal – o Grupo de Estudo em Filosofia Social.

Membros do Grupo de Estudo em Filosofia Social em roda de
conversa sobre o texto "Sexo e as Negas: Ei Globo, não sou
tuas negas" no último dia 20/09.
Tendo iniciado há cerca de dois anos e com adesão de jovens engajados nos projeto Inclusão Digital, Biblioteca ARCA da Leitura e Melodia sob a coordenação do professor da Universidade Regional do Cariri – URCA, Carlos Alberto Tolovi, o grupo ficou por mais de um ano sem ter continuidade em virtude da falta de disponibilidade de tempo de muitos dos seus integrantes. No mês de julho deste ano este blogueiro em reunião com membros da Fundação ARCA quando em visita do professor Tolovi a Altaneira apresentou a proposta da continuidade do grupo, além da Formação de um Movimento Negro sob a denominação de “Frente Negra Altaneirense”, o que foi aceito.

Em uma reunião preliminar entre os integrantes do Projeto ARCA foi exposta a importância da continuidade do grupo, levando a Rádio Comunitária Altaneira FM, a partir do programa Juventude em Debate (que vai ao ar as 09 horas da manhã) às temáticas a serem abordadas durante as rodas de conversas do grupo. Inicialmente a equipe está contando com cerca de 14 membros, a saber, Cláudio Gonçalves, Cristiano Lima, Cícero Herlândio, Elenice Pereira, Everton Amorim, Flávia Cícera, Flávia Regina, Francilene Oliveira, Fábio Barbosa, Givanildo Gonçalves, João Paulo Silva, Océlia Alves, Rafaela Chavier e este signatário.

Ainda nesta oportunidade ficou acordado que cada componente do grupo ficaria responsável por desenvolver durante as rodas de conversas uma temática visando gerar reflexão e debate. Para tanto, foi realizado um sorteio com 8 (oito) temas considerados primordiais para um bom entendimento das relações socais.  O primeiro encontro se deu no último dia 06 (seis) de setembro abordando Ética e Moral.

As reuniões ocorrem de 15 em 15 dias durante os sábado a partir das 16 horas na sede da Fundação ARCA localizada a Rua Padre Agamenon Coelho e é aberta ao público.

Confira listagem a abaixo
Negritude - Nicolau - 20/09
Religião - Everton - 04/10
Poder - Rafaela - 18/10
Política - Claudim - 01/11
Liberdade - Océlia - 15/11
Solidariedade - Flávia Cícera - 29/11
Educação - Gigi - 13/12
Capitalismo - Fábio - 27/12

MPF move ação contra SBT e declarações de Sheherazade


O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública contra o SBT por conta de declarações dadas por Rachel Sheherazade, apresentadora de telejornal na emissora, a favor de um grupo de “justiceiros” que agrediu, despiu e acorrentou a um poste um jovem de 15 anos, acusado de praticar pequenos furtos no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro (RJ).

O MPF pediu que a Justiça, antes da sentença, determine que o SBT veicule um quadro com retratação do comentário da jornalista, sob pena de multa de R$ 500 mil por dia. A ideia é que a emissora diga aos telespectadores que a postura de violência em questão não tem legitimidade no ordenamento jurídico e configura atividade criminosa ainda mais grave do que os crimes de furto atribuídos ao adolescente agredido.

SBT é processado por declarações de Rachel Sheherazade
em apoio a "justiceiros". (divulgação).
Na ação, o MPF pediu que o SBT seja condenado a pagar indenização de R$ 532,1 mil por dano moral coletivo. A quantia, segundo o órgão, foi calculada com base nos valores de inserção comercial praticados pelo canal de TV.

Após reportagem que mostrou a violência contra o jovem, exibida no telejornal “SBT Brasil” em fevereiro deste ano, a apresentadora fez o seguinte comentário: “(…) o que resta ao cidadão de bem que ainda por cima foi desarmado? defender-se, é claro! o contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite (…)”.

Para o procurador Pedro Machado, Sheherazade defendeu a tortura praticada, que é proibida pela Constituição, e violou o princípio da dignidade humana. Além disso, segundo o MPF, a âncora considerou o jovem culpado e condenado, ignorando a presunção de inocência prevista na legislação.

Gravidade

O MPF destaca ainda a idade da vítima da barbárie e que a Constituição prevê que é dever prioritário do Estado, das famílias e da sociedade assegurar às crianças e adolescentes o direito à vida, dignidade, respeito e liberdade, além de protegê-los de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Na avaliação do órgão, a obrigação de preservar esse direito foi negligenciada nas declarações de Rachel Sheherazade.

A procuradoria também considerou que o tipo de comentário feito pela jornalista tende a estimular a prática de crimes, como os de tortura, e de se fazer justiça com as próprias mãos, ainda mais em canal de TV aberta.

As declarações da apresentadora, por possuírem forte poder de influência e repercussão social, são inspiração para inúmeras pessoas que assistiram ao programa – dentre as quais grupos radicais de perseguição e extermínio, conhecidos como ‘justiceiros/ vingadores’, que também formam sua opinião a partir do que é veiculado na mídia, o que pode aumentar de modo exponencial a violência contra jovens pela mera suspeita de cometimento de crimes de menor potencial ofensivo”, escreveu Pedro Machado.

Concessão pública

Na ação, o MPF diz que o SBT abusou do direito à liberdade de expressão e violou também as diretrizes da comunicação social. De acordo com a Constituição, a produção e a programação de rádio e TV devem dar preferência a conteúdo educativo, artístico, cultural e informativo. Também diz que Sheherazade contrariou o código de ética dos jornalistas porque o jornalismo não pode ser usado para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime.

O procurador Pedro Machado ressaltou que não se trata de censura, que o direito à liberdade de manifestação jornalística não é absoluto e que os veículos de comunicação devem ser responsabilizados caso violem outros direitos. A pedido do MPF, a Justiça poderá determinar que a União, responsável pelas concessões de radiodifusão, fiscalize o “SBT Brasil”. A ação foi divulgada nesta quarta (24).


Com Congresso em Foco/Pragmatismo Político

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Chico Preto


Chico Preto, ou “Seu Chico Preto” como passou ao imaginário popular altaneirense, foi um dos poucos homens a fixarem residência no município de Altaneira a ultrapassar as barreiras dos cem anos.  Negro e trabalhador rural teve como ambiente do seu nascedouro a zona rural de Crato, em Serra Grande e na década de 60 do século passado encontrou na recém emancipada politicamente Altaneira o seu recanto, o seu lar.

Foi neste município que “Seu Chico Preto” viria a encontrar a sua companheira de vida, a Dona Maria, a “Maria do Café” em alusão a comércio montado que servia lanches e demais refeições. 

Há duas versões quanto à data do seu nascimento. Conflitos religiosos dão conta que a data de Chico Preto teria sido alterado, haja vista a grande diferença de idade entre ele e sua pretensa conjugue. A Igreja, na pessoa de um bispo (na fonte pesquisada não há menção quanto ao nome do sacerdote) não aceitou a união dos dois com essa diferença. Ele com 47 anos e Dona Maria tinha no período do enlace apenas 15 anos. O homem para quem seu Chico trabalhava sugeriu que fosse feito novos documentos objetivando reduzir a sua idade.

Seu Chico e a História

Chico Preto, homem negro e de características sociais a margem da sociedade altaneirense, viveu no mínimo cinco períodos da história política brasileira. Tendo nascido em 1887 esse cidadão simples e humilde acompanhou o fim do segundo império brasileiro ainda de fraudas e sendo amamentado. Toda via, toda a sua adolescência e a fase adulta foi vivenciada nos grilhões dos insurgentes modelos republicanos que perpassou pela República Velha, subdivida em dois momentos (República da Espada e República do “Café – com – Leite”). Ele experienciou ainda a Revolução de 30 que instaurou a “Era Vargas”.  É digno de registro ainda que “Seu Chico Preto” presenciou de longe o período assombroso que o Brasil passou entre os anos de 1964 a 1985 (Ditadura Civil-Militar) e acompanhou também a redemocratização e o nascimento da Constituição  Cidadã promulgada em 1988.


Ele, porém, não chegou a acompanhar um dos momentos mais emblemáticos e inusitados da recente história política de Altaneira – a eleição suplementar ocorrida em outubro de 2010 em face da anulação do processo eleitoral de 2008. Fato esse surgido em virtude dos gestores Antonio Dorival e Francisco Fenelon terem sido cassados por abuso de poder político. 

A borracharia localizada na Rua Apolônio de Oliveira, no centro do município, o café de sua esposa – ora no comercio, ora em um prédio na Rua Padre Agamenon Coelho e o Bar de Daice eram seus pontos de referência e de lazer.

De uma saúde admirável ele viveu um século e uma década, mais precisamente 119 anos. Não se tem notícias de que alguma doença grave tenha sido a causa da sua morte ocorrida em 2006.



Do Fato e a História: “Hipocrisias e suas violências”


Muitas vezes, quando queremos nos referir a alguém que é fingido ou sacana, dizemos que fulano é um "artista". Se pensarmos na raiz etimológica da palavra hipocrisia, não estamos de todo errados, ela vem do grego hypokrisis, que designava, na antiga Grécia, os atores de teatro, pois durante as apresentações eles fingiam ser outras pessoas. Com o tempo, a partir principalmente da idade média, hipócrita passou a indicar qualquer pessoa falsa ou fingida, e foi com esse sentido que entrou em nossa língua.

Retomo sua etimologia porque quero falar de duas hipocrisias diferentes, relativas a suas violências correspondentes.

A primeira hipocrisia é a que muitas pessoas (uns ingênuos e outros conscientes) demonstram diante de fenômenos como o racismo e a homofobia, violências que atentam contra a dignidade das pessoas. Registros de racismo e homofobia parecem estar crescendo nos dias de hoje, em função dos inúmeros casos que se tornam público. Não penso que se trata apenas disso, hoje vivemos uma clara transição civilizatória que é cultural e institucional. A vigília de uma massa crítica cada vez maior de ativistas anti-racistas e anti-homofobia é um fato, bem como a ampliação dos canais de denúncia e um maior encorajamento para fazê-lo. A tolerância com atos de racismo e homofobia está cada vez menor, entretanto, posturas que visam diminuir a importância desses atos e demonstram dificuldade em aceitá-los como habitus (Bourdieu) estrutural da nossa sociedade também são muitas.

Essas posturas que relativizam os preconceitos podem ser facilmente identificadas entre humoristas, jornalistas e formadores de opinião da grande mídia. Com todo esse espaço, essas opiniões mesquinhas que minimizam discriminações reivindicando um "direito de ser preconceituoso" se espalham como vírus em comentários pelas redes sociais. É só ter estômago para ler comentários, por exemplo, em postagens sobre o caso de racismo com o goleiro Aranha e sobre o caso do incêndio do CTG em Livramento onde um casal gay casaria.

Vamos ver alguns exemplo dessas vozes: "agora tudo é racismo", "é uma neura de perseguição", "que chatice esse politicamente correto", "eles saem com camisa com 100% negro e eu não posso sair com uma 100% branco", "vamos fazer o dia do hétero também", "racismo está na cabeça dos negros", "raças não existem".

Desde já, preciso sugerir o documentário "O riso dos outros" de Pedro Arantes para encurtar caminho e não precisar falar muito sobre essa onda de "humoristas" que visam perpetuar piadas racistas, homofóbicas, classistas  e que pra se defender denunciam uma suposta "ditadura do politicamente correto". Esse humor atrasado, quer se apresentar como transgressor ao reproduzir piadas que exalam preconceitos contra minorias e ainda reclamar de uma suposta "censura" advinda de militantes e ativistas sociais e da judicialização. Na verdade, como não criam nada novo e perceberem que ao se utilizar da "liberdade de ser preconceituoso" se promovem na mídia, eles seguem tendo os esteriótipos, o riso das desigualdades e a aceitação acrítica do status quo como matéria prima para o humor.

Qualquer pessoa esclarecida ao ver esse excelente documentário entenderá de onde vem esse discurso, de que lado ele está e o que representa dos dias de hoje. Na fala de um dos entrevistados da película, o professor Idelber Avelar, aprendemos que: "temos ainda uma situação de brutal desigualdade na qual as pequenas conquistas dos grupos historicamente excluídos não podem ser apresentadas como uma espécie de nova ditadura ou nova ortodoxia. Politicamente correto é um termo que designa uma relação fantasmática de uma camada social dominante com uma suposta opressão vinda de baixo que na verdade nunca teve realidade nenhuma".

Portanto, essa grita contra o politicamente correto é substrato de um discurso conservador e de direita que promove uma disputa contra setores sociais discriminados que, em função dessa transição que vivemos, passam a ter algumas conquistas e incomodam os que sempre naturalizaram preconceitos e discriminações. Se esse é seu lado, reproduza todas essas simplificações que são feitas, pelo menos agora tens consciência disso.

O caso Aranha e do CTG em Livramento nos proporcionaram aprendizados importantes. Além de um clubismo e folclorismo gauchescos fanáticos, muitas pessoas sensatas caíram no "canto da sereia" que relativiza o preconceito recorrendo ao discurso da diferença. O quê? Como assim?

"No futebol racismo é normal, sempre foi assim, e as vaias ao goleiro negro que denunciou racismo é um direito da torcida", "se eu quiser tenho direito de não gostar de negros e gays, é um direito meu". "Nos lugares do tradicionalismo gaúcho temos direitos de preservar nossa homofobia, aqui é um lugar privado e não vamos casar gays".

Todos sofismas retóricos desprezíveis. Ninguém tem direito ao preconceito. A tolerância termina quando ocorre a intolerância, como muito bem refletiu Juremir Machado em três textos fundamentais com links no final deste. "Há um jogo retórico no ar: a tolerância teria de ser total, abarcando inclusive a intolerância, para não ser intolerante" diz ele.

Ninguém está acima da lei, se alguém não gosta de negros e gays deve se tratar, fazer terapia, e guardar isso, porque se expressar isso cometerá um crime que atacará a dignidade de milhares de pessoas.

Portanto, não há lógica plausível em reivindicar o direito à diferença para ser preconceituoso, pelo simples fato de que sê-lo não configura uma diferença, mas sim um crime. Racismo e homofobia não se tratam de opiniões, mas crimes que a civilização e o processo de desenvolvimento humano não toleram mais.

O preconceito não é um escolha individual, é uma crença (doença) coletiva assimilada por muitos em seus hábitos e pensamentos, essa crença nega o direito de ser feliz a muitas pessoas. Uma morte LGBT acontece, em média, a cada 28 horas motivada por homofobia no Brasil. Dados sobre a morte de jovens negros circulam nas estatísticas diariamente, sem comentar o perfil da população carcerária. Mas podemos pensar em casos individuais em que o preconceito exerce papel definitivo na vida afetiva das pessoas, nas famílias. Quantos gays sofrem além do medo da violência, o medo da rejeição, da exclusão e por isso abdicam de seguir suas vidas plenamente com quem gostam? A bela série de Selton Mello, "Sessão de Terapia" no GNT, tratou de um caso desses nessa sua terceira temporada, Felipe, personagem das quartas-feiras.

A segunda hipocrisia que destaco não tem apenas pessoas como portadoras, mas os meios de comunicação hegemônicos, ou em uma clave mais genérica, a indústria cultural (Adorno e Horkheimer). Os canais de Tv noticiam alarmados os casos de violência que ocorrem em todas esferas da sociedade, os portais da internet exploram violências domésticas, nas escolas, nos grandes centros urbanos, bradam pela ineficácia da segurança pública.

Não vou entrar aqui no mérito de que a segurança pública vista como guerra contra o crime e as drogas está falida. Vou comentar sobre a violência mais gratuita, aquela que é indicativo do grau de brutalidade e violência que crianças e jovens estão expostos hoje em dia.

Se pegarmos os trinta últimos filmes que passaram da Tela Quente ou Supercine, que perfil de filme teremos? Isso vale para as outras emissoras. Vamos pensar agora sobre jogos eletrônicos que adolescentes jogam na internet ou no vídeo game. Grande maioria tem como personagem matadores letais, se dão em cenários de guerras e outros eventos violentos. E o esporte que mais cresce em termos de exposição midiática e lucros? Ganhou inclusive reality show, é o MMA, que deixa de lado os melhores aspectos das artes marciais e traz em sua superfície a lógica da "luta livre" bizarra, impossível de dissociar da promoção da agressividade.

Poderia ficar dando outros exemplo, mas diante desse leque básico de violência que nos acessa, é evidente a hipocrisia dos meios de comunicação que cegamente priorizam a lógica da audiência/lucro sem levar em conta nenhum aspecto educativo. Inclusive deixando de cumprir seu papel por ter uma concessão pública de mídia, que deveria atender a um conjunto amplo de exigências formativas para cidadania que nunca foram levadas a sério.

E quando se pensa em tocar no assunto, democratizar e regulamentar os meios de comunicação, as poucas famílias que comandam a indústria cultural brasileira, gritam desesperadas que sua liberdade está sendo atacada. As mesmas argumentações que desconstroem o grito contra o politicamente correto valem para esse discurso da elite midiática. Com objetivo de reproduzir privilégios e garantir seus mecanismos de manipulação eles tentam nos convencer que os "ditadores" são aqueles que querem mexer no seu monopólio e no seu poder.

Gente, toda essa hipocrisia não está em uma nuvem, ela tem nome e endereço: Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Roger (Ultraje), Rodrigo Constantino, Luiz Felipe Pondé, Reinaldo Azevedo, David Coimbra, Percival Puggina, Marcelo Taz, Demétrio Magnoli, Ali Kamel  e muitos outros. Esses são representantes desse pensamento que confunde licenciosidade com liberdade, direito à diferença com direito ao preconceito.

Para eles, rir, brincar com a condição de outro ser, com a desigualdade, a identidade, a orientação sexual, a cor e a religião de alguém pode ser considerado apenas uma brincadeira. É só uma piada? Ou insulto, alienação, ignorância, discriminação, preconceito e falta de compromisso ético com uma sociedade mais humanizada, mais respeitosa?

Pessoas que não sofrem diuturnamente com o preconceito e com violência, caso não se disponham a entender o mundo em que vivem, estão suscetíveis a reproduzir valores e pensamentos (em formato de piada ou não) que corroboram com injustiças inaceitáveis.  No Rio Grande do Sul, infelizmente, temos uma formação cultural preconceituosa na sua espinha dorsal, os lugares sociais dos negros e dos homossexuais estão historicamente demarcados no imaginário coletivo, mesmo a elite intelectual, aquela que acessa o ensino superior, reproduz pensamentos antiquados.
Isso é visivelmente enraizado, principalmente, nas gerações que estão acima dos 50 anos, viveram quase toda sua vida imersos em ambientes que fazer piada de preto e bicha eram coisas normais, em que gay era ligado a promiscuidade e Aids, em que negros não frequentavam clubes sociais por todo o estado. Essa geração retroalimentou ignorâncias e passou para seus filhos e netos, haja vista, o quão normal é ouvirmos comentários e opiniões extremamente preconceituosas nos nossos meios familiares e sociais.

Desnecessário dizer que essa análise não pretende generalizar, mas mostrar como estamos diante de confusões sérias, que induzem pessoas bem intencionadas a repetir mantras que não os representam. A internet abriu a possibilidade de lermos mais, todavia, intensificou o que chamo de "opinismo instantâneo", as pessoas opinam e compartilham conteúdo mais rapidamente que os leem com acuro.
Vamos ficar atentos ao fato de que muitas pessoas estão incomodadas com a transição civilizatória e institucional que estamos vivendo, elas querem manter "aquele tipo de gente no seu lugar", elas estão acostumadas com pobres, negros e gays em determinada posição social que não é na parte de cima da pirâmide, essa "cobertura" é delas. Quando alguém se levanta, exige respeito e mudanças, gera desconforto e então entra em ação o grupo supracitado das "pessoas de bem" e "defensores das liberdades de expressão". Esse grupo formula esse tecido argumentativo conservador e demagógico para anestesiar as mentes que poderiam aderir a um projeto ético e político de sociedade que promova rupturas radicais com a moralidade e as condições sociais atuais.

Hipócritas são atores como vimos, buscam convencer os outros de algo que não é real, por isso são demagogos, palavra que também vem do grego, demos = povo e agogos = conduzir, demagogia seria a arte ou poder de conduzir o povo. É uma forma de atuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar todos, visando apenas a conquista do poder político ou ideológico.

Não vamos cair nesse conto atrasado, que justifica violências de todos os tipos.







O pensamento aberto de Michel Foucault


Não é exagero afirmar que, em Michel Foucault (1926-1984), vida e obra aparecem interligadas, numa demonstração de que a busca pelo saber caminha lado a lado com o prazer. E foi assim que o autor de "Vigiar e Punir" construir seu pensamento, cuja abrangência alcança diversas áreas do conhecimento. Celebrada em vida, sua produção intelectual mostra-se cada vez mais atual. Seu principal mérito talvez tenha sido o de ousar e pensar de outra maneira. A constatação aparece no discurso do filósofo argentino Edgardo Castro, reconhecido como um dos maiores estudiosos do pensador francês, no fim do último dos quatro capítulos que compõe o livro "Introdução a Foucault".

A obra acaba de ser lançada pela série FilôMargens, da mineira Autêntica. Do mesmo autor, a editora já havia um volume intitulado "Vocabulário de Foucault", reunindo em verbetes os principais conceitos e temas do autor; e um complexo estudo de apresentação à filosofia fo italiano Giorgio Agamben. A obra sobre Foucault chega ao mercado no ano que marca três décadas da morte do pensador francês, cujos conceitos tem por base as suas investigações sobre temas como poder, sexualidade, saber e loucura, e servem de pistas para a compreensão da sociedade contemporânea.

Foucault: principais conceitos do filósofo são
abordados em livro introdutório de Edgardo
Castro.
Na apresentação do livro, Castro acena com uma boa notícia: "o ciclo das publicações dos textos de Foucault não está fechado". O autor analisa, comenta e traz à luz dos dias atuais o pensamento foucaultiano, desde as concepções sobre poder, passando pelo surgimento da sociedade vigiada (a exemplo da contemporânea).

A ideia de uma sociedade vigiada tem como base a concepção do olho de Deus que tudo enxerga, passa pelo conceito do pan-óptico - sistema de vigilância criado para supervisionar as atividades em fábricas, prisões, hospitais, escolas, dentre outras instituições. O estudo de Castro estende-se aos conceitos de biopoder e biopolítica, aparecem nos últimos cursos do pensador, que deixa uma obra em aberto.

A afirmação de Castro não fica apenas no campo metafórico, ou seja, fazendo alusão ao pensamento do autor que continua sendo revisitado. "Não só porque não apareceram senão dois de seus 13 cursos no Collège de France, mas por que o arquivo Foucault, agora, depositado na Bibliothèque Nationale de France, compreende aproximadamente 40 mil folhas inéditas, entre as quais se encontram o quarto tomo de 'História da Sexualidade', 'As confissões da carne', e três dezenas de cadernos, diário intelectual no qual Foucault registrou suas leituras e reflexões desde 1961 até sua morte". Vale lembrar que não chegou a corrigir a versão final do quarto volume da "História da Sexualidade", como este, outros trabalhos ficaram sem terminar, sublinha Castro.

Panorâmica

Em "Introdução a Foucault", o filósofo argentino projeta uma panorâmica sobre a obra e a vida do mestre francês, que defendia ser a vida concebida como uma obra de arte. E foi assim que traçou a sua trajetória, elegendo o prazer pelo saber como ponto de partida para construir a sua vida-obra.

Castro aborda desde as primeiras publicações, passando por temas centrais de sua tese de doutorado, considerações sobre o nascimento das ciências humanas, o pensamento sobre a política moderna a partir da relação Estado/mercado/empresa no liberalismo e no neoliberalismo. Destaca, ainda, o campo da subjetividade, entrando na seara do discurso, enfatizando tanto o que é dito quanto o silêncio.

Para Foucault, aquilo que não foi dito também faz parte do discurso. Muitas vezes, o não-dito, materializado no silêncio, acontece devido à relação de poder que permeia os atores do discurso. Produção múltipla, a obra foucaultiana perpassa a filosofia, a linguística, o direito, as artes e a comunicação social. Sua escrita chega a se confundir com a própria vida, daí alguns estudiosos defenderem que sua obra é autobiográfica também.

Foucault conheceu os altos e baixos de uma vida ordinária, até se tornar célebre, mas sem fazer disso uma meta. Aconteceu em função da sua busca pelo saber, o que significou, muitas vezes, remar contra a corrente. Daí a beleza e a autenticidade de sua teoria. Nunca tentou descobrir o que é poder, preferindo enveredar pelas entrelinhas, na tentativa de descobrir como as relações são construídas e permeadas por essa força, que se enraíza em toda a malha social. Com produção teórica construída ao longo de três décadas, Foucault continua surpreendendo pelas ideias atuais, conquistando as novas gerações.

Obra de arte

A comparação da vida à obra de arte se encaixa perfeitamente no sujeito Foucault, que foi um dos estudiosos que dosou obra e engajamento político. O que significa dizer que, em alguns momentos, o intelectual deve ter uma participação ativa, como aconteceu no Maio de 1968, na França, ao lado de outros intelectuais, quando apontou um novo campo de atuação dos pensadores. Hoje, com o recrudescimento dos movimentos sociais, mais uma vez, intelectuais são chamados a tomar uma posição, mostrando, também, a atualidade do seu pensamento.

Ao passar em revista a obra de um clássico contemporâneo, Edgardo Castro mostra que a obra do pesquisador francês é uma demonstração da sua forma de estar no mundo, além de ser carregada de subjetividade. É possível perceber, ainda, que toma como ponto de partida para a construção de suas teorias, resultado de quase três décadas de estudo, inquietações que marcaram a sua trajetória de vida, perseguindo a compreensão da sociedade ocidental.

Os estudos foucaultianos começam a partir de análises de fenômenos da modernidade, para depois desembocar nos períodos medieval e antigo, fazendo trajetória cronológica inversa. A religião, em especial o cristianismo, é outro objeto de estudo, sobretudo as confissões.

Normas

Os campos de investigações servem de indícios para a construção de uma sociedade normatizada e disciplinada, tema que aparece com insistência em sua narrativa teórica. Assim como governamentalidade, ética, repressão e vigilância. Em cada um dos capítulos, o autor detalha os eixos temáticos que aparecem na obra foucaultiana. No primeiro, aborda a problemática das ciências humanas e suas relações com a filosofia. No segundo, trata "da linguagem da literatura e o discurso dos saberes".

Enquanto no terceiro, enfatiza questões como normatização da sociedade e "governamentalidade", tratando de verdade e ética, no quarto e último capítulo. "Não nos surpreende, por isso, que o autor pôde dizer que, finalmente, não é o poder, mas o sujeito o tema geral das investigações". Para Foucault, o saber, o poder ou o sujeito só existem no plural e sem nenhuma identidade que transcenda suas múltiplas formas históricas.


Via Diário do Nordeste