Grupo Bongar preserva através da música as tradições afro


Bongar leva a cultura dos terreiros para palcos mundo a fora.

Criado em Olinda, dentro do Terreiro de Xambá, o Bongar é um dos grupos que tenta preservar e levar para as pessoas as tradições afro, pernambucanas e da Festa do Coco de Xambá através da música – unindo ritmos como maracatu, coco e ritmos do candomblé. Formado por seis integrantes, todos olindeses, o Bongar surgiu em 2001, tem dois discos lançados e parcerias musicais bem inusitadas – em 2013, o grupo gravou com a banda de metal pernambucana Desalma.

A musicalidade, o canto, a dança e a originalidade do Bongar tem chamado tanta atenção que, também em 2013, eles se apresentaram no País de Gales durante a Womex - feira referência de música no mercado mundial. Nesse sábado (6), todo o ritmo e cultura do Grupo Bongar tomará conta da Praça do Carmo, em Olinda, durante sua primeira apresentação no MIMO.


Sobre a série “Sexo e as Negas”: “Ei Globo, não sou tuas nêgas”


O sentimento de indignação me fez refletir sobre essa constante e secular sexualização que é imputada a nós mulheres negras. Uma imagem que há décadas é sustentada pela literatura brasileira, pela mídia e pelas músicas da indústria cultural responsáveis pela construção no imaginário popular dos estereótipos como a negra fogosa, a moreninha da cor do pecado, da mulata tipo exportação entre outros. Quase caí pra trás ao saber da mais nova obra de arte global, mais um duro golpe da mídia racista, a produção do seriado criado por Miguel Falabella, “Sexo e As Negas” parodiando o famoso “Sex and City”.

A série ainda não tem data de estreia, e segundo o autor, a versão acontecerá em Cordovil, no Rio de Janeiro. Consistirá em um quarteto de amigas cariocas composto por uma camareira, uma cozinheira, uma operária e uma costureira, que viverão dilemas e obstáculos para alcançar o seu verdadeiro objetivo que é a conquista de um parceiro sexual.

Mas o que é pior do que ridicularizar a população pobre e negra numa versão tosca de um seriado de mulheres brancas e burguesas, é acreditar que está fazendo a diferença na vida dos negros e negras relegadas ou submetidas a papéis de subalternidade, ao afirmar que através dessa produção a autoestima da população negra vai aumentar, e quem sabe agora haverá uma mudança na televisão brasileira, após 46 anos de existência, onde a trajetória das personagens negras eram as cozinhas e as favelas nos frios cenários das telenovelas.

A questão racial na mídia ainda nos é muito cara, já que segundo Joel Zito, pesquisador e cineasta, em um terço das telenovelas produzidas pela Rede Globo até o final da década de 90 não haviam personagens negros, contrastando com a realidade brasileira, que à época chegava a 50% da população, atualmente os dados apontam que somos maioria mas continuamos invisibilizados nas esferas de poder, nas instituições de ensino, de saúde e no [não] democrático universo midiático.

Se nessa longa trajetória percorrida por Rute de Souza, Léa Garcia, Neusa Borges e tantas outras atrizes renomadas e oriundas do Teatro Experimental do Negro, a emissora nunca abriu espaço para uma ficção seriada apenas protagonizadas por negras, qual será o interesse? Qual é o jogo?

Miguel Falabella já é um velho conhecido das produções que fazem chacota de pobres, mulheres, negrxs, e nordestinxs. Se voltarmos no tempo vamos lembrar de personagens e frases celebres do diretor e produtor. Uma de suas produções ficou muito famosa pelas frases de violência e intolerância como “Cale a boca Magda!” e “Eu tenho horror a pobre”. Será que realmente ele está preocupado em contribuir para uma mudança de olhar diante da população negra e pobre? Acredito que não.

Solange Couceiro de Lima já alertava em seu artigo Reflexo do Racismo à Brasileira “a existência de uma identidade negra deformada e estereotipada presente em diversos produtos da comunicação social”. E se a mídia contribui para uma cultura nacional que fortalece uma imagem que nos estigmatiza, que nos mantêm em um lugar inferiorizado perpetuando o racismo velado no país, é preciso negar esse lugar, esse papel não é nosso.

Não aceitaremos, nem fortaleceremos a herança escravagista onde o nosso corpo negro não tem voz e não tem vez, cabendo apenas a satisfação sexual dos senhores brancos. Lélia Gonzales(1984), refletia sobre o grau de violência simbólica sofrida pela mulher negra, ao mesmo tempo em que é endeusada no período carnavalesco, exerce em seu cotidiano a atividade de empregada doméstica para seu sustento. “É por aí também que se constata que os termos mulata e doméstica são atribuições de um mesmo sujeito”.

Exigimos mais respeito com a nossa vida, com os nossos corpos e nossas escolhas. Enquanto se fantasia e ridiculariza a afetividade de mulheres negras do subúrbio, continuamos morrendo nas maternidades públicas, exterminadas pela polícia racista ou sofrendo com a ausência de direitos que deveriam ser garantidos, e isso não tem graça.

Continuaremos lutando e resistindo para sufocar toda e qualquer produção que contribua para a perpetuação de uma sociedade racista, denunciando e cobrando responsabilidade das emissoras, mesmo as privadas, pois possuem concessões públicas e portanto, deveriam respeitar a população brasileira e a sua diversidade. O horizonte aponta para a urgência da democratização dos meios de comunicação, onde a gente possa não apenas nos enxergar com orgulho, mas onde possamos ver nossas demandas pautadas pela mídia.


A análise é de Laila Oliveira e foi publicado originalmente no Portal Geledés

Plebiscito pela reforma política recebe votos na Semana da Pátria em Altaneira


Teve início na última segunda-feira, 1º de setembro, o plebiscito popular objetivando decidir se a população brasileira é ou não favorável a uma reforma política no país.  O processo de votação está ocorrendo durante toda a Semana da Pátria, culminando em 7 de setembro, data em que o pais conquistou pelas vias da elite dominante e sem a presença e ou participação popular a “independência política” (grifo meu) de Portugal, nas urnas espalhadas por todo o território nacional, assim como também via internet.  A consulta denominada como "Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva pela Reforma Política" é uma luta e faz parte de iniciativa da Plenária Nacional dos Movimentos Populares.

O professor Fabrício Ferraz foi o primeiro votante na
Escola Estadual de Ensino Médio Santa Tereza.
No município de Altaneira, na região do cariri cearense, há três pontos de apoio para as urnas, a saber, a Fundação Educativa e Cultural ARCA, o Sindicato dos Servidores Municipais de Altaneira – SINSEMA e a Escola Estadual de Ensino Médio Santa Tereza.  Aqui, já foi verificado os primeiros votantes, a começar pelo professor de Filosofia Fabrício Ferraz, conforme fotos compartilhadas pela também professora Laelba Batista, que ministra aulas de sociologia na referida instituição de ensino, na rede social facebook e vem que ilustrando esse artigo. Na oportunidade eles responderam a apenas uma questão - "Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?". Os participantes respondem sim ou não, vindo a demonstrar se comunga com a convocação de uma assembleia nacional constituinte para fazer a reforma política.

Note-se que os representantes dessa assembleia seriam parlamentares eleitos com novas regras com a única responsabilidade de debater  as mudanças possíveis  relacionadas ao sistema político por meio de novas leis e emendas na atual Constituição.

A população altaneirense interessada na temática e que ainda não votou tem até o domingo, 07, para votar. Exerça sua cidadania e seja um cidadão politizado.


Livro de papel sintético preserva conhecimentos indígenas sobre plantas medicinais


Um papel sintético feito de plástico reciclado - resultado de pesquisa desenvolvida com apoio da FAPESP - está ajudando a preservar o conhecimento sobre plantas medicinais transmitido oralmente há séculos pelos pajés do povo Huni Kuĩ do rio Jordão, no Acre.

Foto/divulgação/Gustava Miranda
Descrições de 109 espécies usadas na terapêutica indígena, bem como informações sobre a região de ocorrência e as formas de tratamento, foram reunidas no livro Una Isĩ Kayawa, Livro da Cura, produzido pelo Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IJBRJ) e pela Editora Dantes.

A obra teve uma tiragem de 3 mil exemplares em papel comum, cuchê, voltada ao grande público e lançada recentemente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Outros mil exemplares, destinados exclusivamente aos índios, foram feitos com papel sintético, que é impermeável e tem a textura de papel cuchê, com o intuito de aumentar a durabilidade no ambiente úmido da floresta. O lançamento foi realizado com uma grande festa em uma das aldeias dos Huni Kuĩ do rio Jordão.

O trabalho de pesquisa e organização das informações durou dois anos e meio e foi coordenado pelo botânico Alexandre Quinet, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O grande idealizador do projeto, porém, foi o pajé Agostinho Manduca Mateus Ĩka Muru, que morreu pouco tempo antes de a obra ser concluída.

"O pajé Ĩka Muru era um cientista da floresta, observador das plantas. Há mais de 20 anos ele vinha reunindo esse conhecimento até então oral em seus caderninhos. Buscando informações com os mais antigos e transmitindo para os aprendizes de pajé. Ele tinha o sonho de registrar tudo em um livro impresso, como os brancos fazem, e deixar disponível para as gerações futuras", contou Quinet.

Também conhecidos pelos nomes de "Kaxinawá" - termo que os índios não gostam - , "gente verdadeira" ou "gente do cipó", os Huni Kuĩ formam o grupo indígena mais numeroso do Acre. Sua presença vai até parte do Peru. No Brasil, somam mais de 7 mil indivíduos, divididos em 12 diferentes terras. O "livro da cura" retrata a terapêutica praticada nas 33 aldeias de uma dessas terras indígenas que se estende pelo rio Jordão.

Além das informações sobre as plantas, a obra apresenta, por meio de relatos e desenhos, um pouco da cultura do povo Huni Kuĩ, como seus hábitos alimentares, suas músicas e suas concepções sobre doença e espiritualidade. Todo o conteúdo está escrito em "hatxa kuĩ" - língua falada nas aldeias do rio Jordão - e traduzido para o português.

De acordo com Quinet, foram feitas cinco viagens à região acreana para a realização da pesquisa, além de quatro períodos de residência de tradutores Huni Kuĩ no Rio de Janeiro.

"Realizamos uma oficina que durou 15 dias e reuniu os 22 pajés das aldeias do rio Jordão. Os capítulos do livro são, na verdade, transcrições literais dos temas abordados por eles, organizados dentro da sistemática indígena. Apenas sofreram revisões para facilitar a compreensão", contou Quinet.

Das 351 espécies elencadas pelos pajés como medicinais, os pesquisadores coletaram 196 amostras - resultando na seleção das 109 plantas que integram o livro. O material botânico foi identificado de acordo com as técnicas taxonômicas e depositado no herbário do Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.


Via Planeta Sustentável

Mudanças e Permanências: “A longa transição de escrava a empregada domestica”


A despeito de vários estudos realizados nas últimas décadas, a transição da escravidão para o trabalho assalariado no Brasil é um tema que ainda precisa ser esmiuçado. Que destinos tiveram os ex-escravos? Que novas relações de trabalho lhes foi possível estabelecer? Que profissões exerceram? Como conviveram com a chegada maciça de imigrantes europeus? Onde habitavam e em que condições?

Um jantar brasileiro, 1927. Imagem de J. Baptiste Debred.
Um novo livro, recém-publicado com apoio da FAPESP, ajuda a responder a perguntas como essas. Trata-se de Libertas entre sobrados: mulheres negras e trabalho doméstico em São Paulo (1880-1920), de Lorena Féres da Silva Telles.

Graduada em História pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Université Paris IV-Sorbonne, Lorena é atualmente doutoranda, com bolsa da Fapesp. Seu livro resultou de dissertação de mestrado orientada pela historiadora Maria Odila Leite da Silva Dias, professora titular aposentada da USP.

O sujeito desse estudo foi constituído por mulheres, trabalhadoras domésticas na cidade de São Paulo, algumas escravas, outras libertas, outras já nascidas livres”, disse Lorena à Agência Fapesp.

Fiz o trabalho com base em documentos policiais: um livro de inscrições e um livro de contratos de trabalho. Esses livros foram produzidos em função de uma lei, posta em prática em 1886 em São Paulo, que obrigava os trabalhadores domésticos a se inscreverem na polícia”, disse.

Nessa época, dois anos antes do fim da escravidão, quase não havia mais escravos na cidade de São Paulo. A maioria deles estava nas fazendas de café do Sudeste do país. Essa lei, obrigando os registros, tinha o propósito de controlar os trabalhadores livres.

As inscrições eram fichas de polícia, com nome, filiação, sinais característicos, profissão, nome do patrão, estado civil etc. Enfim, uma documentação de controle, estritamente policialesca”, explicou a historiadora.

Com base em dados tão ralos, Lorena procurou entender quem eram essas trabalhadoras domésticas. “Eu dispunha de uma amostragem com cerca de mil inscritos e 1,3 mil contratos. Dos inscritos, pouco mais de 600 eram mulheres e 490 eram mulheres negras”, contou.

O estudo exigiu uma boa dose de imaginação. Foi preciso ler nas entrelinhas e fazer várias suposições a partir das poucas informações disponíveis.

Por exemplo, quando a filiação era desconhecida, eu podia supor que provavelmente se tratava de uma escrava. Se o pai tinha um nome como ‘José Congo’, eu podia supor que ela era filha de um africano. Dessa forma, fui juntando os fios para tecer histórias de vidas. E, com base nesse levantamento, busquei as origens escravistas do trabalho doméstico”, disse.

Um dos recursos utilizados foi cruzar dados do livro de inscrições com dados do livro de contratos. “Desse modo, pude rastrear, a partir de contratos sucessivos, as trajetórias de algumas daquelas mulheres”, disse.

Ao preencher os contratos, muitos patrões simplesmente seguiam a fórmula estabelecida pela Câmara Municipal. Outros, porém, acrescentavam informações, o que ajudou muito o trabalho da pesquisadora.

Encontrei, por exemplo, o caso de uma cozinheira denominada pelo patrão de ‘Preta Felicidade’. O simples fato de ele chamá-la de ‘Preta’ já indicava que, provavelmente, se tratava de uma ex-escrava. Outro caso foi de uma africana, de 60 anos, que escandalizou sua patroa ao dizer: ‘Não sou sua escrava’. Isso foi anotado no livro. E me trouxe a imagem de uma altiva africana, destemida e zelosa por sua liberdade”, disse.

Em 1872, por ocasião do primeiro censo realizado no Brasil, havia no país pouco mais de 10,1 milhões de habitantes. Destes, cerca de 1,5 milhão eram escravos. O recenseamento de 1890 revelou que a população havia crescido para aproximadamente 14,3 milhões.

Três anos antes, em 1887, a apenas alguns meses do dia 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil, o contingente escravo somava 723.419 pessoas, menos da metade daquele do início da década anterior.

Essa curva descendente da população escrava, que não mudou de inflexão desde o fechamento dos portos africanos, em 1850, estimulou o tráfico interno, direcionando a mão de obra cativa para as regiões de maior dinamismo econômico, como o oeste paulista, fronteira da expansão da cafeicultura. Como consequência, na última década do período escravista, a cidade de São Paulo tornou-se notavelmente desprovida de escravos.

O censo de 1886 computou na cidade aproximadamente 48 mil habitantes, dos quais pouco mais de 10 mil foram classificados como negros ou mulatos. Desse segmento de ascendência africana, mais de 95% eram constituídos por homens e mulheres livres. O recenseamento apontou 268 escravas e 225 escravos”, disse Lorena.

A forma predominante de moradia desses “negros” e “mulatos” livres eram as habitações coletivas de aluguel. Com cômodos subdivididos, de forma a abrigar um número cada vez maior de pessoas, essas habitações se multiplicavam nos bairros do Bixiga e do Brás, bem como naquele bairro que, à época, constituía ainda uma área periférica, com características rurais: a Penha.

Havia escravas que negociavam com suas donas e donos moradia em pequenos cômodos, fora da casa senhorial. Por outro lado, no caso de muitas mulheres livres ou libertas, empregadas domésticas, a moradia, a roupa e a alimentação eram a única forma de pagamento. Ou, então, seus salários eram tão baixos que frequentemente inviabilizavam o pagamento de um cômodo de aluguel, razão pela qual os cômodos e seus custos eram compartilhados”, disse a historiadora.

O salário de uma trabalhadora doméstica responsável por todo o serviço da casa variava de 12 mil réis a 20 mil réis. E o aluguel de um cômodo custava, às vezes, 15 mil réis. Assim, era praticamente impossível, para essas empregadas, morarem sozinhas. “Se não moravam com os patrões, era muito provável que morassem com parentes, companheiros, filhas e filhos”, conjecturou Lorena.

Um capítulo especialmente interessante do livro é aquele que a autora dedicou às trabalhadoras que já possuíam uma certa especialização: cozinheiras, quitandeiras, lavadeiras, engomadeiras, amas de leite. Sua atividade profissional e sua vida cotidiana são descritas de forma muito vívida, como neste parágrafo dedicado às lavadeiras:

Enfrentando a lida diária de longas caminhadas, expostas ao frio, à chuva e ao sol a pino, equilibristas de trouxas pesadas e prazos de entrega, as lavadeiras foram fundamentais à sociedade da higiene, com seus lençóis e roupas brancas. Circulando nas imediações urbanas, em direção às beiras de rios e chafarizes, à procura de emprego, eram impelidas às ruas pela necessidade do ofício, dependentes de si mesmas e dos parcos ganhos auferidos do exercício desse trabalho desqualificado”, disse Lorena.

Para compor sua narrativa, uma das fontes documentais utilizadas pela pesquisadora foram processos criminais de mulheres presas por vadiagem. “Muitas dessas mulheres eram lavadeiras, que tinham uma mobilidade maior pela cidade, pois iam às casas para buscar ou entregar roupas. E foram presas por estarem desempregadas ou bêbadas. Percebemos, assim, como havia um forte controle social e policial sobre os negros, pobres e mendigos nas ruas”, comentou.

A introdução das redes de abastecimento de água e dos tanques domésticos, iniciada na década de 1880, enclausurou esse trabalho, antes exercido extramuros. Posteriormente, os próprios rios seriam enclausurados, em dutos subterrâneos, invisíveis aos olhos dos habitantes, cada vez mais ignorantes acerca da topografia e dos recursos naturais de sua cidade.

Amas de leite

Outra mudança fundamental, constituída pela entrada maciça de imigrantes europeus, foi destacada pela historiadora no subcapítulo dedicado às amas de leite, agora tema central de seu doutorado.

Desde 1870, com a Lei do Ventre Livre e a perspectiva de que não nasceriam mais escravos no Brasil, a solução da imigração começou a ser levada a sério pelas elites econômicas e políticas. E as consequências práticas logo se fizeram notar.

As brasileiras negras continuaram a ser maioria entre as amas de leite, mas surgiu uma competição entre elas e as imigrantes – portuguesas, italianas e alemãs. Isso aparece de forma bem clara no livro de inscrições”, afirmou.

Como uma das conclusões de sua pesquisa, a historiadora enfatizou o quanto o trabalho doméstico ficou marcado, no país, pela herança escravista.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada em 1943, ignorou a categoria, sob a alegação de que as trabalhadoras domésticas desempenhavam atividades de caráter não econômico. E a Constituição Federal de 1988 limitou o acesso delas a somente 9 dos 34 direitos garantidos aos demais trabalhadores”, afirmou.

Apenas em 26 de março de 2013, quase 125 anos depois do fim da escravidão, a aprovação do projeto de emenda constitucional conhecido como ‘PEC das Domésticas’ estendeu à categoria direitos básicos, como jornada de trabalho de 8 horas diárias e 44 horas semanais, pagamento de horas extras e adicional noturno, fundo de garantia por tempo de serviço e seguro-desemprego. Benefícios como auxílio-creche, seguro para acidentes de trabalho e salário-família carecem ainda de regulamentação”, disse.


Entidades e Escola de Altaneira viram espaços para urnas do Plebiscito Popular


Durante a semana da pátria (1 a 7 de setembro), urnas estarão espalhadas pelo Brasil coletando votos para o Plebiscito Popular por uma Assembleia Constituinte. Com uma única pergunta, o plebiscito quer saber se a população brasileira é a favor da convocação de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Uma constituinte, cujos representantes serão exclusivamente eleitos para este fim.

Francilene Oliveira e o representante do Levante Popular
da Juventude no Cariri durante entrega das urnas na
Fundação ARCA. Foto: João Alves.
O plebiscito faz parte da ação concreta e articulada da sociedade civil organizada diante de um quadro pós-manifestações de 2013, quando melhorias em diversas áreas (transporte, saúde, educação, etc.) foram objeto de reivindicação nas ruas de todo o país. Passado aquele momento de manifestações populares massivas, algumas reivindicações foram atendidas, em certa medida, pelo poder público, principalmente no que tange à pauta que unificou a maioria dos grupos que foram às ruas: o preço da tarifa de ônibus. No entanto, a falta de mecanismos de participação efetiva da sociedade nas principais decisões do país e o sentimento de não-representação diante da estrutura do sistema político permanecem presentes.

É por esta análise que movimentos sociais, entidades sindicais, organizações populares, partidos políticos de esquerda, coletivos e associações identificaram a reforma do sistema político como uma pauta organizativa desta insatisfação popular. Reforma que se baseia em três questões fundamentais: acabar com a influência determinante do poder econômico no processo eleitoral, pondo fim ao financiamento empresarial das campanhas eleitorais e da atividade política em geral; ampliar os instrumentos, mecanismos e espaços de controle social e de participação direta da população; e garantir mecanismos de participação de mulheres, negros/as, indígenas, jovens, LGBTs e setores populares no sistema político.

Os dados ajudam nesta compreensão. A cada eleição, cresce a participação empresarial no financiamento dos candidatos e partidos. Em 2008, as empresas “doaram” 86% dos recursos totais das campanhas. Em 2010, o montante representou 91% e, em 2012, 95%. No que diz respeito à composição, o Congresso Nacional condensa o que há de mais conservador da política e não dá conta da diversidade e do pluralismo da sociedade brasileira. Mais de 70% dos parlamentares federais são ruralistas ou empresários (de diversas áreas, como saúde, educação, comunicação, indústria, etc.). E mais: apenas 9% da Câmara dos Deputados e 12% do Senado é ocupado por mulheres (ainda que sejam mais da metade da população do país); somente 8,5 dos deputados federais e senadores se declaram negros; nenhum é indígena e menos de 3% são jovens.

Mas engana-se quem acredita que o “não me representa” tão presente nas manifestações era direcionado exclusivamente para o sistema político. Os meios de comunicação também foram colocados em xeque durante os protestos de junho e julho de 2013. Após o comportamento da grande mídia diante dos atos de rua, marcado pela manipulação das informações veiculadas, a Rede Globo tornou-se também um alvo da insatisfação popular. Por isso, não era raro ouvir os manifestantes gritando palavras de ordem como “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a Ditadura”, ou “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

Fundação Educativa e Cultural ARCA, em Altaneira.
Neste sentido, as manifestações de junho e julho de 2013 abriram uma oportunidade de massificarmos de forma mais contundente a pauta da democratização da comunicação, em articulação com a reforma do sistema político.

O diálogo entre as duas pautas não encerra por aí. O oligopólio midiático é parte do que se resume como poder econômico brasileiro. Só a família Marinho, com as organizações Globo, somam a fortuna de US$ 28,9 bilhões, configurando-se como a família mais rica do Brasil, segundo dados recentes da revista Forbes. A mesma família – assim como outras famílias detentoras de concessões de rádio e televisão – tem forte influência nas discussões e decisões do Congresso Nacional. Congresso que, é preciso ressaltar, tem em sua composição uma presença ativa de políticos concessionários de veículos de radiodifusão, ferindo inclusive a Constituição Federal de 1988, que são usados para benefício próprio, o que também contribui para gerar privilégios, desigualdades e distorções no sistema político.

Por esses motivos, a democratização das comunicações, especialmente a partir da luta por um novo marco regulatório para o setor (tendo como estratégia a coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular) e a reforma do sistema político, por meio da realização de uma Constituinte Exclusiva e Soberana, apresentam-se como duas demandas essenciais no processo de radicalização da democracia brasileira.

A organização do Plebiscito Popular já possui esta compreensão de que a democratização dos meios de comunicação é pauta fundamental. A campanha Para Expressar a Liberdade, que busca recolher mais de um milhão de assinaturas em apoio ao Projeto de Lei da Mídia Democrática,  também faz parte da mobilização por reforma política. Nesse sentido, em muitas urnas, também será possível manifestar apoio a esse projeto.

Professora Laelba, alunas do Grêmio Estudantil da Escola
Santa Tereza e o Representante do Levante no Cariri.
Além das urnas espalhadas em todos os estados, também é possível votar pela Internet. Basta acessar o seguinte link: http://bitbitbit.com.br/plebiscito/

Nós apoiamos essas iniciativas e vamos votar sim por mudanças reais no sistema político. Sim à democratização dos meios de comunicação. (via Carta Capital).

No município de Altaneira, na região do cariri, três são os postos que estão recebendo os cidadãos altaneirenses que almejam uma mudança no sistema político brasileiro, a saber, Fundação Educativa e Cultural ARCA, Sindicato dos Servidores Municipais de Altaneira – SINSEMA, além da Escola Estadual de Ensino Médio Santa Tereza. 


Aqui, professores(as) e alunos amparados pelo Grêmio Estudantil da referida instituição de ensino fizeram uma breve exposição da importância do plebiscito da constituinte conforme foto publicada via rede social facebook e que ilustra esse artigo 

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo


Neste espaço, você encontrará informações sobre algumas das personalidades negras que marcaram a história do Brasil e do mundo. É, portanto, um espaço inacabado e que estará em contínua construção, porque a luta em favor da cultura negra e contra o racismo produziu e irá produzir, por tempo indeterminado, um grande número de lideranças que precisarão ser resgatadas. Veja, abaixo, a listagem de algumas delas.


A
Abdias do Nascimento
Albert Luthuli
Antonieta de Barros
B
Benedita da Silva
C
Carolina de Jesus
Cartola
Clementina de Jesus
Conceição Evaristo
Cruz e Sousa


D
Dandara
E
Ernesto Carneiro
F
Francisco José do Nascimento – Dragão do Mar
G
Geraldo Filme
Givânia Maria da Silva
Grande Otelo
J
Jair Rodrigues
Janete Rocha Pietá
João Cândido (Almirante Negro)
José Correia Leite
Jovelina Pérola Negra
Juliano Moreira
Jurema da Silva
L
Léa Garcia
Leci Brandão
Lélia Gonzales
Lima Barreto
Luís Gama
Luísa Mahin
Luislinda Valois
Luiza Bairros
M
Machado de Assis
Mãe Aninha
Mãe Beata de Iemanjá
Mãe Menininha
Mãe Stella
Marina Silva
Martin Luther King
Mercedes Baptista
Mestre Bimba
Milton Santos
Miriam Makeba
Mãe Biu do Xambá
N
Nelson Mandela
O
Oliveira Silveira
P
Paulo Paim
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
R
Ruth de Souza
S
Sandra de Sá
Severina Paraíso da Silva
Solano Trindade
Sueli Carneir
T
Tia Ciata
U
Ubirajara Fidalgo
V
Veridiano Farias
Vovô do Ilê
Z
Zezé Motta
Zózimo Bulbul
Zumbi dos Palmares

Via Palmares 
Confira abaixo o vídeo do prêmio Curta Histórias que discorre sobre as personalidades negras que mudaram o mundo