Com
base no livro “Discurso sobre a servidão
voluntária”, o professor Leandro Karnal traçou um paralelo entre os
ensinamentos de Étienne la Boétie e o período atual.
Hitler
não teve acesso à quantidade de informações que hoje qualquer central de
telefonia tem hoje. Somos o que Étienne temeu: uma sociedade feliz com tiranos
no controle.
Publicado no
Portal Raízes
A
violência não garante o controle. Segundo a vontade do estado, é preciso que as
pessoas concordem e gostem de ser controladas.
O
exemplo da servidão voluntária contemporânea é informar ao mundo o que
consumimos pelas redes sociais. “Ninguém me obrigou a dar essa informação, mas
eu dou”. Francis Bacon dizia que conhecimento é poder.
Ser
livre nos torna responsáveis por nossas escolhas. Por isso, casamentos
arranjados raramente dão errado: nada espera-se deles.
A
liberdade é responsabilidade: quanto mais ofereço chance de as pessoas
escolherem, mais angustiadas elas ficam. As escolhas nos tornam sujeitos, mas
também objetos. O impulso de ser um sujeito por uma escolha nos tornam também
objetos do consumo.
A
servidão, por sua vez, pode ser uma zona mais confortável que a liberdade.
Boétie falou sobre o incômodo da liberdade séculos antes de Sartre. Os tiranos
precisam de assessores. Precisam de um grupo que os apoie. Quanto mais sou
oprimido, mais eu tiranizo também. Assim os tiranos se multiplicam. Cada um
pisa naqueles que é possível. O mais subserviente dos gerentes é aquele que pisa
no faxineiro.
Sejam
resolutos em não servir e vocês serão livres. A função do estado é ser tirano.
Precisamos pensar na nossa liberdade diante deste estado e parar de seguir
gurus de moda, de comportamento, de gastronomia.