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A olimpíada acabou, os problemas voltaram

A imprensa brasileira, principalmente a televisiva é de chorar e rir ao mesmo tempo. Ela percebe seus telespectadores e telespectadoras como marionetes, incapazes de ver, interpretar e ter um olhar crítico sobre fatos e opiniões acerca do que se passa a sua volta. Muitos desses fatos e opiniões por ela – mídia – formulados.

O Brasil passa por uma avalanche de problemas – muitos, repito, por ela mesmo divulgados e até criados para atender e ganhar uns potinhos a mais na audiência – como, crise econômica, crise política, crise social e, as mais em evidências, porém nunca divulgadas, crise de ética, crise moral ou, simplesmente, crise de valores. Mas, como que de repente, não mais que de repente, todos esses problemas acabaram.

Em nome de quem? Para atender a quem? Com qual interesse? São tantas perguntas... Mas, vou me contentar em ficar com esses três questionamentos. São suficientes por ora. O Brasil precisa se mostrar ao mundo. E para isso, não é bom que o mundo conheça um país à beira de um colapso. Não é animador para os holofotes mundiais perceberem que os brasileiros e brasileiras estão sofrendo pela terceira vez uma ditadura. A primeira foi com o Estado Novo em 1937 sob o comando de Getúlio Vargas e a segunda – mais longa – entre os anos de 1964 e 1985 tendo como comandantes os militares.

Mas porque tudo isso? Os jogos olímpicos do Rio de Janeiro chegaram e com ele uma infinidade de narrativas. Menos os problemas que relatei acima. Eles não aparecerem na Globo, na Band, na Record, no SBT, na Rede TV.... Não, não aparecerem. O que vimos foi uma infinidade de jogos e mais jogos. Competições e mais competições. Medalhas e mais medalhas.

As do Brasil bem menos. Poderia ter sido mais se investimentos em outros esportes e outras atletas fossem dados. O futebol feminino é um triste exemplo. Mas, deixe-me retomar o foco da questão.

Quem viu e ouvi falar durante as olimpíadas sobre a chikungunya? Sobre os altos índices de desemprego que continua a crescer em ritmo avassalador, pelo menos no ritmo e na intensidade que vinha sendo propagado no início do ano? O processo de afastamento da presidenta que todos os dias e o dia todo se ouvia e via falar? Quem viu essa informação com a intensidade de meses atrás? Não amigos. De forma nenhuma amigas. Essas informações, pelo menos durante esses últimos 17 dias de jogos olímpicos, não era interessante veicular. Nem pela mídia conservadora, tão pouco para o grupo político que ora administra o Brasil. Esses dois que arrancaram dos brasileiros o direito de escolha, o poder de decisão.

O problema maior é que grande parte dos brasileiros acabaram por comprar esses discursos. Não só isso. Revenderam ao compartilhar imagens e textos sem que se fizesse o devido questionamentos. Outros se mantiveram e se mantém inerte ante aos fatos.

Felizmente, um grupo de pessoas – em menor quantidade é verdade, souberam fazer as devidas correções. Não compraram essa narrativa enfadonha que envergonha aqueles e aquelas que possuem rigor crítico. Não foram convencidos por essa mídia que não informa, mas desinforma, aliena.

Os jogos acabaram e o que se verá? A volta daqueles problemas relatados acima. Menos, repito, a crise de valores. Todos eles tendo como único culpado um partido e uma pessoa. A semana toda será dedicada ao processo de afastamento da presidenta e com a construção de uma narrativa que fortalece o golpe. Assistam e tire suas conclusões. 

Imagem puramente ilustrativa (nem tanto assim). Divulgação.

Formiga: a gigante quase invisível do nosso futebol



Imagine o seguinte cenário: você está com 16 anos, iniciando sua carreira como jogador profissional (com todos os anseios e dúvidas que essa escolha acarretará para a sua vida), joga muita bola e é convocado de primeira para representar o seu país numa Copa do Mundo. Se trataria com certeza de um fenômeno no meio do futebol, não? Haveria milhares de times grandes e empresários interessados em saber quem seria esse “raio”.

Publicado originalmente no Cenas Lamentáveis

No mercado atual, tal atleta valeria milhões, talvez seria uma daquelas transferências de deixar todos boquiabertos por envolver tanto dinheiro. E se eu te dissesse que tal atleta ajudou um país sem expressão na modalidade a chegar na quarta colocação de uma Olimpíada, depois foi medalha de prata duas vezes nas Olimpíadas seguintes, alcançou vários títulos com a seleção, foi Campeão Mundial Interclubes, Tricampeão de Libertadores… Cracaço, não? Exaltado pela mídia, com espaço garantido em toda e qualquer memória de um torcedor.

E tem mais: esse jogador disputou seis Copas do Mundo, e o mesmo número de Olimpíadas. Também é o atleta que mais vezes vestiu a camisa da Seleção (151 vezes) e está a 21 anos como titular do time. E se você soubesse que existe uma pessoa com todas essas credenciais, e que mesmo assim não é tão reconhecida quanto deveria ser, o que você diria? Talvez que é impossível. O que justificaria a invisibilidade diante do público de um currículo tão vitorioso, de tanto destaque?

Mas ela é real. Essa atleta é brasileira, mulher, negra e enfrentou desde sempre o preconceito de querer jogar e fazer crescer esse esporte “que é de homem” em nosso país: Miraildes Maciel Mota. Mas talvez você a conheça mais por Formiga, seu apelido que veio pela baixa estatura. Formiga nasceu em Salvador no ano de 1978, cresceu no subúrbio de Lobato se enfiando no meio dos meninos pra jogar, apanhava dos irmãos por isso e ganha apenas R$ 9.000 por fazer parte da seleção feminina permanente de futebol do nosso país. Em comparação às cifras do mercado masculino da modalidade, ela ganha muito pouco mas não se incomoda com isso. Luta para que o futebol feminino vire profissional no Brasil, para que outras meninas possam ter a oportunidade e a comodidade de não passar por todas as dificuldades que passou para chegar ao imenso currículo.

Formiga representa o futebol que nos recusamos a ainda enxergar, que o brasileiro só exalta quando chegam às Olimpíadas ou à Copa do Mundo da modalidade, mas vira as costas para essas mulheres que buscam o seu lugar ao sol através da bola.  Ela é também a imagem da atleta que venceu, mas que alerta para olharmos a tantas outras garotas que seguem buscando condições mínimas para realizarem o seu sonho: serem jogadoras de futebol. Por isso, o Cenas Lamentáveis publicamente agradece: Formiga, obrigado por tudo que você representa e já conquistou para o nosso esporte.

O futebol feminino precisa ser visto. Precisa ser profissionalizado.

Uma das maiores representantes do nosso futebol. Foto: reprodução/Daniel Kfouri/Istoé2016

‘O macaco que tinha que estar na jaula hoje é campeão’, diz Rafaela Silva


Após conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016, nesta segunda-feira (8), a judoca Rafaela Silva fez um desabafo ao sair do tatame.

"Treinei muito depois de Londres porque não queria repetir o sofrimento. Depois da minha derrota, muita gente me criticou, disse que eu era uma vergonha para minha família, para meu país. E agora sou campeã olímpica", disse a atleta ao SporTV depois de derrotar a mongol Sumiya Dorjsuren.

Publicado originalmente no Brasil 247

Rafaela relembrou os ataques racistas que sofreu no Twitter após ser desclassificada na olimpíada de Londres em 2012, por aplicar um golpe proibido. "Já passou, tem quatro anos. Eu só posso falar: o macaco que tinha que estar na jaula em Londres hoje é campeão olímpico em casa. Hoje eu não sou a vergonha para a minha família", afirmou a judoca.

Carioca, Rafaela saiu da periferia para crescer no esporte até conquistar a primeira medalha dourada do Brasil na Rio-2016.

"É muito bom para as crianças que estiverem agora assistindo o judô. Se eu pude ajudá-las com esse resultado. Mostrar que uma criança que começou no judô por brincadeira hoje é campeã mundial e campeã olímpica. É inexplicável. Se elas tiverem um sonho, têm que acreditar, porque ele pode se realizar".







Olimpíadas 2016: O aplauso é belo, a vaia foi linda


Não deu nada certo a cuidadosa blindagem com que os organizadores da Olimpíada tentaram proteger o presidente ilegítimo Michel Temer na abertura oficial dos Jogos, na noite desta sexta-feira 5.

As vaias que iam fatalmente acontecer... aconteceram. O usurpador estava visivelmente constrangido.
Publicado originalmente na Carta Capital

O zelo chegou ao requinte. O telão evitou imagens da triste figura e o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, agradeceu genericamente às “autoridades brasileiras”. Nenhum nome pronunciado.

A Folha de S.Paulo, sempre solícita na defesa de Temer e do golpe, tinha previamente tentado dizer que vaias, no Maracanã, são genéricas, não específicas. Ou seja, vaia-se por vaiar, não porque as Olimpíadas do Rio nascem à sombra de um governo sombrio.
O Maracanã aplaudiu perigosamente a delegação de Cuba, do Uruguai e da Palestina. Devia ter muito bolivariano infiltrado por lá.

A ovação à delegação dos atletas olímpicos refugiados reitera o tom de toda a abertura: solidariedade e boas intenções.

O espetáculo surpreendeu. Foi de uma beleza sutil, sem folclorização excessiva, na medida do bom gosto – tudo aquilo que se desconfia que o Brasil é incapaz de fazer. Aquela coisa do carnaval – um excesso de improvisação e voluntarismo que acaba dando certo.

Um comovente show produzido por artistas brasileiros com a participação de artistas brasileiros. Essa gente sempre acusada pela elite ignóbil e ignorante de ser parasita, de viver das migalhas das benesses oficiais, das leis de incentivo etc. Artistas capazes de espargir talento e produzir beleza.

No cenário de indigência moral, política, estética de um Brasil que perdeu o rumo, ainda bem que há momentos como este. O aplauso é belo; e a vaia foi linda.


As vaias que iam fatalmente acontecer... Aconteceram. O usurpador estava visivelmente constrangido. Foto; Beto Barata/PR.