Mostrando postagens com marcador manifestação do dia 13. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador manifestação do dia 13. Mostrar todas as postagens

Seria bom se os milhares que foram às ruas fossem contra a corrupção, diz Eliane Brum


Não se constrói um projeto político com crentes. Mas a angústia, no Brasil de hoje, se dá também pela vontade de acreditar que algo é verdadeiro num cotidiano marcado por falsificações. O perigo é que, quando o roteiro dos dias parece ter sido escrito por marqueteiros, não cabe razão nesse acreditar. Exige-se fé. Quando a política demanda adesão pela fé, é preciso ter muito cuidado. Os partidos que estão aí, puxando para um ou outro credo, podem acreditar que lhes é favorável ter uma população de crentes legitimando seus projetos de poder. Mas a adoração, rapidamente, pode se deslocar para outro lugar, como alguns já devem ter começado a perceber depois das manifestações do domingo, 13 de março. Ou pior, para um ídolo de barro qualquer. Rebaixar a política nunca é uma boa ideia para o futuro. Quem acha que controla crentes, com suas espirais de amor e de ódio, não aprendeu com a história nem entende o demasiado humano das massas que gritam.


Há uma enorme descrença nos políticos e nos partidos tradicionais, este já é um lugar comum. Mas é importante perceber que a esta descrença se contrapõe não mais razão, mas uma vontade feroz de crença. Quando os dias, as vozes e as imagens soam falsas, e a isso ainda se soma um cotidiano corroído, há que se agarrar em algo. Quando se elege um culpado, um que simboliza todo o mal, também se elege um salvador, um que simboliza todo o bem. A adesão pela fé, manifeste-se ela pelo ódio ou pelo amor, elimina complexidade e nuances, reduz tudo a uma luta do bem contra o mal. E isso, que me parece ser o que o Brasil vive hoje, pode ser perigoso. Não só para uma ditadura, como é o medo de alguns, mas para que se instale uma democracia de fachada, como já vivemos em alguns aspectos.

Uma democracia demanda cidadãos autônomos, adultos emancipados, capazes de se responsabilizar pelas suas escolhas e se mover pela razão. O que se vê hoje é uma vontade de destruição que atravessa a sociedade e assinala mesmo pequenos atos do cotidiano. O linchamento, que marca a história do país e a perpassa, é um ato de fé. Não passa pela lei nem pela razão. Ao contrário, elimina-as, ao substituí-las pelo ódio. É o ódio que justifica a destruição daquele que naquele momento encarna o mal. Isso está sendo exercido no Brasil atual não apenas na guerra das redes sociais, mas de formas bem mais sofisticadas. Isso tem sido estimulado. Quem acha que controla linchadores, não sabe nada.

Talvez o mais importante, neste momento tão delicado, seja resistir. Resistir a aderir pela fé ao que pertence ao mundo da política. Fincar-se na razão, no pensamento, no conhecimento que se revela pelo exercício persistente da dúvida. É mais difícil, é mais lento, é menos certo e sem garantias. Mas é o que pode permitir a construção de um projeto para o Brasil que não seja o da destruição. Quem sofre primeiro e sofre mais com a dissolução em curso são os mais pobres e os mais frágeis. É preciso resistir também como um imperativo ético.

Na política, mesmo os crentes precisam ser ateus.

Mas nunca, desde a redemocratização, pelo menos, foi tão difícil vencer esse paradoxo: à enorme descrença se contrapõe uma enorme vontade de crença. Uma vontade desesperada de fé. E isso vale para todos os lados.

Seria bom se a gente pudesse acreditar que as centenas de milhares que foram às ruas neste domingo querem o fim da corrupção no Brasil. A beleza de um país unido contra aquilo que o arrasta para o esgoto é uma imagem forte, poderosa. Mas a massa verde-amarela, vista de perto, delata a si mesma. Quem quer o fim da corrupção no Brasil não levanta bonecos de Lula (PT) e de Dilma (PT) e esquece todos os outros que não pertencem ao partido que quer arrancar do Governo. Quem quer o fim da corrupção no Brasil jamais teria negociado com Eduardo Cunha (PMDB), como lideranças que organizaram as manifestações negociaram há pouco tempo atrás. Nem usa camiseta da CBF, mais corrupta impossível. Nem tira selfies com uma polícia que sistematicamente viola a lei.

A corrupção é uma bandeira conveniente para quem nada quer mudar mas precisa fazer de conta que quer. Ela sempre cabe, porque, ao mesmo tempo que é consenso – ou alguém vai se declarar a favor da corrupção? –, é difusa. Elege-se os corruptos a destruir, que viram bonecos, rostos a ser eliminados. E nada se muda da estrutura que provoca as desigualdades e permite a corrupção de fundo. É interessante perceber, quando não se adere pela fé, que os alvos nas ruas são os políticos – majoritariamente Lula e Dilma, contra quem até agora nada foi ainda provado. Há indícios, há delações, há investigações em curso. Mas nada ainda foi provado. Mas o que importam os fatos quando o que vale é a propaganda? O que importa a verdade quando a demanda é por crença?

O rosto dos corruptos nas ruas, aqueles que simbolizam a corrupção que se diz combater, é o rosto de governantes, um ex-presidente e sua sucessora. É um único partido, quando há vários outros envolvidos. Os alvos nas ruas são aqueles identificados com o Estado. Não há bonecos de expoentes do empresariado nacional, alguns deles já presos, julgados e condenados. As entidades de classe empresarial que conclamaram seus associados à adesão aos protestos deste domingo não bradaram contra seus pares na prisão. A cara do Mercado, a outra face dessa história, não está as ruas como ré, apesar de também ser protagonista do esquema que está sendo desvendado pela Operação Lava Jato.

O perfil dos manifestantes do dia 13 era formado por parcelas privilegiadas da população



A quantidade de presentes cresceu mas, assim como nos outros protestos em São Paulo pela deposição da presidenta Dilma Rousseff, o perfil dos manifestantes que foram ontem (13) à avenida Paulista se manteve etilizado, com renda e escolaridade acima da média da população do município. Os dados são de uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, que ouviu 2.262 pessoas durante o ato.

Perfil dos manifestantes paulistano contra o governo Dilma permanece inalterado: elite social e econômica.
A maioria dos participantes era formada por homens (57%), com mais de 36 anos (73%). Deles, 77% tinham ensino superior,enquanto a média no município é de 28%. De acordo com o Datafolha, 500 mil pessoas participaram do protesto ontem, mais que o dobro do primeiro protesto contra Dilma, que ocorreu em março do ano passado.

Quando questionados sobre renda, 12% dos participantes da manifestação afirmaram ser empresários, como divulgou a Folha de S. Paulo. Em todo o município, apenas 2% exercem a atividade. A proporção de desempregados também foi menor que a média de São Paulo.

Sobre a renda familiar, metade dos entrevistados está na faixa entre cinco e 20 salários mínimos. Na cidade de São Paulo esse percentual é de 23%. A maioria dos entrevistados se autodeclarou branco (77%) e quase todos (94%) afirmaram que não integram os movimentos que convocaram os protestos.

Questionados sobre quem foi o melhor presidente do Brasil, 60% responderam Fernando Henrique Cardoso (que governou pelo PSDB entre 1994 e 2002). Na população brasileira, esse índice foi de 15% em fevereiro.

Apesar disso, a preferência dos participantes pelo PSDB teve declínio, passando de 37% no primeiro ato para 21% ontem. Lideranças tucanas que foram à Paulista, como o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves, acabaram sendo xingadas por manifestantes. A maioria afirmou que não tem um partido de preferência.

Os participantes foram quase unânimes (96%) em apoiar a cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e em avaliar o governo Dilma como ruim ou péssimo (98%).

Sobre as manifestações: Dia 13 NÃO, dia 18 SIM. Entenda


Publicado originalmente na Rede Brasil Atual sob o título “Movimentos sociais reafirmam que não realizarão atos no dia 13”.

A rede Frente Brasil Popular, que congrega 65 movimentos sociais e sindicais, reforçou hoje (11), em entrevista coletiva, que as organizações não realizarão atos em São Paulo neste domingo (13), quando está marcada uma manifestação pela destituição da presidenta Dilma Rousseff, na Avenida Paulista.

Ato do dia 18 defenderá a democracia, programas sociais e não ao golpe.
Lideranças desmentiram a informação de que haviam pedido autorização para realizar um ato no mesmo local e nos mesmos dia e horário. O governador Geraldo Alckmin chegou a proibir manifestações pró-Dilma na Avenida Paulista, por questões de segurança.

"Nós não vamos estar na rua domingo porque propomos um projeto para o país diferente de quem estará. Eles pedem o Estado mínimo, a volta da ditadura, a privatização da Petrobras e a subordinação do Brasil frente ao FMI. Nós defendemos a ampliação de direitos, os projetos socais, a reforma agrária e a Petrobras", disse o presidente da CUT-SP, Douglaso Izzo.

"Aqui em São Paulo sabemos que o governo de Geraldo Alckmin está envolvido no desvio da merenda, no cartel do Metrô, no sigilo da Polícia Militar, mas não estamos pedindo o impeachment dele. Respeitamos a democracia e a decisão popular", afirmou a presidenta da União Estadual dos Estudantes (UEE), Flávia Oliveira.

Participaram da coletiva representantes da CUT, da Central de Movimentos Populares (CMP), da CTB, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da UEE e do Levante Popular da Juventude. Os movimentos reforçaram a convocatória para um ato em defesa da democracia na próxima sexta-feira (18), também na Avenida Paulista.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve pedido de prisão preventiva solicitado pelo Ministério Público de São Paulo na quinta-feira (10), participará do ato. Douglas Izzo afirmou que Lula vai iniciar uma série de viagens pelo país para mostrar sua narrativa da atual conjuntura política.

"A intenção foi criar, com a condução coercitiva de Lula e com o pedido de prisão preventiva, um fato político que justifique o avanço da onda conservadora no Brasil", disse o representante do MST Mateus Gringo. "Nós fazemos a crítica ao governo também, porque não temos um compromisso com ele. Temos um compromisso com os direitos dos trabalhadores."

O ato do dia 18 terá concentração a partir das 15h, no vão livre do Masp, e seguirá pela Consolação até a Praça da República. Está marcada uma segunda manifestação, com a Frente Povo Sem Medo, para o dia 31.