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Novo governo ou governo novo?


Desde que se agravou a crise política no Brasil nas duas últimas semanas, crise esta criada, sustentada por setores conservadores, elitistas e destituídos do poder institucionalizado e, ainda alimentada por uma mídia representante dos grandes empresários que tem uma carga histórica profundamente negativa por apoiar o golpe civil-militar de 1964, o que mais tem povoado a mente dos brasileiros é a possibilidade de eleições gerais.

Mas, como falar em eleições gerais sem consultar o povo? Aliás, este é o que menos tem sido consultado. Muitos foram levados às ruas simplesmente afogados em mágoas adquiridas ao longo de décadas. Vários tomaram ruas e avenidas levados por uma causa que sequer entenderam na sua amplitude. Foram corroídos por uma carga ideológica que não é a sua, mas a de um sistema político e econômico que serve apenas  para lhe manipular. Foram convencidos de que o país está desgovernado e que a solução é sua imediata destituição.

Tanto foram convencidos que, se se perguntar porque o governo federal deve ser afastado do cargo que 54 milhões de pessoas lhe outorgou, 90% (pode ser mais) não saberão responder. As repostas são as mais estapafúrdias possíveis. São aquelas vendidas por aqueles que querem chegar ao poder a qualquer custo – nem que para isso utilize o povo como massa de manobra; nem que para isso seja necessário construir todos os dias fatos que não precisem de provas. Aliás que eles  não precisam provar. Basta acusar e jogar no ar. Essas acusações inclusive são seletivas. Outros (cito aqui Eduardo Cunha - presidente da Câmara Federal -, Paulinho da Força) são réus, fatos comprovam seus envolvimentos com corrupção, mas não merecem destaque nos noticiários. Porque os que foram às ruas bater panelas para uns não vão para outros? Seria a corrupção mais de um grupo mais destruidora para o pais do que a de outros? Por que os veículos de comunicação (aqueles que mais são vistos pela população) não povoam suas manchetes com fatos e opiniões dos réus acima referidos?

As respostas são inúmeras, mais vale deixar nítido o seu real interesse em destituir um governo que apesar dos infinitos erros, foi aquele que ainda deu visibilidade aos jogados para escanteio em gestões anteriores que eles defendiam e faziam parte. Gestões passadas que para que a economia vivesse o povo tinha que morrer e, no sentido lato do termo. Muitos morreram de fome porque não tinham sequer o lanche da manhã, que dirá das demais refeições. Muitos estavam desabrigados, por que casa não se construíam. O que se construía era mansões para os investidos no poder com dinheiro público. E são esses mesmos que estão à frente de um impeachment que se vingar passará para os anais da história como golpe, pois não tem sustentação jurídica e nem política. O impeachment da forma como está desenhado nada mais é do que um projeto conservador e elitista daqueles que não se conformaram em perder as eleições que achavam que estava ganha porque foram convencidos por pesquisas que consultavam só os seus.

Por outro lado, é sabido que a presidenta cometeu vários erros - saiu da linha de frente dos movimentos sociais, fez pactos com setores ultraconservadores e corroeu a base ideológica do Partido dos Trabalhadores (PT). Tudo isso não podia ter outro fim se não arruinar a gestão (me refiro ao 13 anos sob o comando desta agremiação)  que vinha, a priori, ao menos dando visibilidade aos setores populares. Dilma perdeu a capacidade de mobilização com as bases ao passo que foi necessário se apegar ao cargo, ao poder. Mas, a solução para a crise política no Brasil não passa pelo seu afastamento, até porque ela não cometeu crime de responsabilidade fiscal e, isso já foi explicitado em outras oportunidades. E principalmente porque as rédeas seriam tomadas pelo PMDB que, como os demais setores que o acompanham não tem projetos sociais que reestruture o Brasil e vão governar puramente para os grandes empresários.

Passa por onde então? Por novas eleições? Não acredito nessa possibilidade por duas razões. A primeira é a mais óbvia possível. Os deputados e senadores não estariam dispostos a se desfazerem de seus cargos correndo o risco de não mais se elegerem. A segunda - esta mais pragmática – é que o Brasil não apresenta um sistema político sadio que permita falar que, assim como o Impeachment, os problemas estariam resolvidos.

Vamos aos fatos. O sistema político brasileiro é totalmente dependente do econômico. Tanto é que nunca se fez uma reforma agrária, por que para fazê-la teria que mexer com os grandes latifundiários. Nunca se fez uma reforma tributária por que para fazê-la teria do mesmo modo mexer com industriais e banqueiros. Nunca se levou a sério a reforma política, inclusive quando chegou ao congresso foi deixado de lado os pontos mais progressistas como o financiamento de campanha. Então, mesmo que se tenha eleições gerais o cenário continuará o mesmo ou piorar dependendo de quem ocupe o palácio do planalto. Mas porque continuará o mesmo ou piorar? Porque infelizmente o eleitor brasileiro tem memória curta e vai eleger figuras que não tem preocupação com as causas sociais. Porque o sistema político não mudou. Sistema Político e Sistema Capitalista andam de mãos dadas.


Por fim, acredito que a saída para superar esse cenário avassalador que ora nos encontramos passa momentaneamente pela derrota ao impeachment e deixar Dilma governar até o fim do mandato e pela continuidade das investigações da lava-jato sem seletividade. Defendo ainda que o governo somente deve continuar a gestão, mas como continuidade da solução da crise, faz-se necessário e urgente uma mudança no sistema político que atendam aos setores populares vindo acompanhado em 2018 com eleições novas e um (a) governo(a) novo(a) e não simplesmente novas eleições e um novo governo, por que isso o Brasil já passa de dois em dois anos.


Eleição nova e governos novos subentende-se que a participação do povo mudou, a consciência popular mudou. Portanto, deve-se pensar em nova relação do representado com seus representantes tendo como eixo norteador uma sociedade onde quem ganha mais pague mais, seja taxado mais, contribua mais com setor público e onde quem ganha menos lhe seja criado as condições para que se tenha uma vida digna. Sem mudar os alicerces da desigualdade, nenhuma ação é válida. 

Concluo afirmando que o brasileiro já experimentou os dois lados da moeda. Já testemunhou as duas formas de gestão. Tá na ora de oportunizar quem ainda não chegou lá ( mas não pode ser qualquer um – pense bem antes de depositar confiança em oportunistas e que mudam mais de opinião do que de roupa (Marina, Pastor Everaldo, Jair Bolsonaro, Levy Fidelix, etc...).