Reproduzimos
abaixo um texto, no mínimo, provocador publicado no site Observatório da
Imprensa.
O
governo federal está encurralado no cenário político nacional em matéria de
estratégias de comunicação e informação, numa situação que pode ter reflexos
diretos na campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2014.
A
imagem pública da presidente Dilma Rousseff foi desconstruída ao longo de um
processo em que a imprensa teve um papel relevante, e que começou já há
bastante tempo. Trata-se de um processo onde a construção ou desconstrução da
forma como o público vê um político tem mais a ver com percepções do que com
evidências. É como no famoso dito de que, em política, as versões são mais
importantes do que os fatos.
Dilma
hoje está sendo julgada mais pela imagem que a imprensa, a oposição partidária
e os desafetos presidenciais no Poder Judiciário construíram em torno da
presidente do que pelos feitos de seu governo. Entre a imagem e os feitos há
uma considerável diferença – e os eventuais benefícios factuais capazes de ser
capitalizados por Dilma estão sendo pulverizados pelos efeitos devastadores do
encurralamento comunicacional e informativo.
O
governo federal está claramente na defensiva porque a estratégia comunicacional
dos adversários de Dilma logrou associar sua gestão à incerteza econômica ao
supervalorizar processos como a inflação, queda do PIB, declínio da atividade
econômica e redução do superávit na balança comercial. São todos fenômenos
muito condicionados pela situação econômica internacional, mas foram
apresentados como exclusivamente domésticos para associá-los a uma imagem de má
gestão.
A
onda de protestos de rua, em junho, confundiu o panorama político e ameaçou
tirar Dilma do clinch político-partidário. [Clinch é o jargão usado no boxe
para definir uma situação em que um lutador se abraça ao adversário para
impedi-lo de continuar atacando.] Ela até que tentou retomar a iniciativa com a
proposta de plebiscito, da reforma política, aumento das verbas para a educação
e o envio de médicos para o interior. Mas faltou ousadia para romper com o
fantasma da governabilidade. Para concretizar a sua estratégia destinada a
encampar o clamor das ruas, a presidente tentou ganhar apoio parlamentar – e
foi aí que ela se perdeu.
Negociar
com políticos e candidatos em véspera de eleições é a forma mais segura de
emascular uma proposta política que altere o status quo, especialmente quando
se trata de acabar com privilégios e aberrações da atividade parlamentar.
Surgiu uma aliança informal entre políticos e magistrados do Supremo Tribunal
Federal com o apoio corporativista dos médicos que transformou em fumaça o
projeto emergencial do governo.
Para
romper o cerco, a presidente tem as redes sociais na internet como
provavelmente a única alternativa para desenvolver uma nova estratégia de
comunicação política. Mas essa opção exige uma considerável ousadia porque
implica meter-se num ambiente informativo com regras e procedimentos bem
diferentes dos usados habitualmente pelos altos escalões do governo.
Uma
aposta nas redes sociais virtuais permitiria ao governo prescindir da imprensa
como mediadora na relação com os cidadãos. Mas para tentar essa estratégia, a
presidente teria que abrir mão da busca da tal governabilidade e da barganha de
ministérios com partidos políticos. Poderia governar como pediam os
participantes dos protestos de rua, em junho. Seria uma jogada de altíssimo
risco.
Os
desafetos da presidente não têm muita intimidade com o uso dos mecanismos
digitais. Deputados federais, senadores, magistrados e até mesmo a imprensa
preferem os métodos tradicionais de comunicação, embora eles se distanciem cada
vez mais das ferramentas virtuais adotadas pelos jovens que saíram às ruas para
exigir um país diferente.
Os
riscos da opção estratégica pelas redes sociais são consideráveis. Primeiro,
porque o governo teria que conviver com um forte criticismo de um segmento
importante da blogosfera. A internet é muito mais transparente que a imprensa
convencional e isso faz com que o debate político siga caminhos bem diferentes
dos usuais. A convivência com xingamentos e acusações passa a ser uma necessidade
porque o objetivo é o conjunto das opiniões e não a de um indivíduo isolado.
Nem
pensar em controlar os comentários porque isso seria imediatamente associado à
censura, o que anula qualquer eventual efeito positivo da presença online do
governo federal. Além disso, uma estratégia online do Planalto exigiria uma
profunda reciclagem comunicacional da cúpula do governo, que é tão conservadora
em relação à internet quanto a oposição.
A
aposta é arriscadíssima, mas a presidente está na posição de se correr o bicho
pega, se ficar o bicho come.